“Não posso ficar nem mais um minuto com você” – Trem das 11, Adoniran Barbosa
Na hora que ele me olhou ele exclamou:
- Samuel? Samuel Barbosa, é você mesmo?
Seu Marco me olhou assustado. Olhou também para Alan.
- Vocês se conhecem? – Ele perguntou, curioso e assutado.
- Claro! Samuel era um grande amigo do meu filho Gean, mas sumiu do mapa do nada. O que você arrumou menino? Gean ficou muito mal por você sumir sem falar nada pra ninguém.
- Muita coisa aconteceu ao mesmo tempo, Alan. Um delas foi Gean. Eu não tive outra escolha... Mas, e Gean, como ele está? E o Gabriel? Eles namoram ainda?
- Não. Eles terminaram logo depois de você sumir do mapa. Gean ficou muito mal mesmo. Ele foi morar na Europa, com o tio dele. “Raul” Pensei.
- Você tem noticias do Gabriel? – Perguntei, curioso.
- A ultima vez que eu ouvi falar dele, ele estava em Belo Horizonte, não sei estudando o que, mas estava lá.
- Deve ser medicina.
- Bom, não estamos aqui para discutir a vida alheia, certo? Marcos me contou sobre você. Ele me falou que nesses quase 5 anos você foi, apesar de todos os problemas, o funcionário mais confiável e esforçado que ele já vira. Eu preciso de um cara assim na minha empresa. Meu engenheiro responsável pela fábrica em Varginha vai se aposentar. Você estaria disposto a trabalhar lá, Samuel?
- Não sei não, Alan... Eu não tenho boas lembranças de Varginha... – Alan respirou fundo, ele preparou para falar algo, mas quem se pronunciou foi Seu Marcos.
- Sabe, Samuel. Eu já te contei alguma vez minha história?
- Não, Seu Marcos.
- Meu pai era um bêbado. Ele chegava embriagado todos os dias em casa e batia em mim, na minha mãe e na minha irmã. Quando eu fiz 17 anos, eu não aguentava ver, todos os dias minha mãe apanhando... Seu choro era como uma tortura para mim. Um dia, eu saí com uma menina, fui ao cinema e depois para casa dela. Cheguei em casa tarde. Quando eu cheguei, meu pai estava na poltrona da sala. Quando ele me viu, ele levantou e falou ‘Você demorou, Marcos’. Foi quando eu percebi... Minha mãe estava no chão, junto com minha irmã, as duas desacordadas. Me enchi de fúria e fui para cima do meu pai. Ele era mais forte que eu. Ele ia me matar também. Por sorte um vizinho chamou a policia. Ele foi preso e morreu no primeiro dia na cadeia.
- Nossa, eu não sabia disso, Seu Marcos... – Me senti incomodado. Existiam pessoas piores que meus pais. Pelo menos eles ainda estavam vivos.
- Quase ninguém sabe. Quem me ajudou muito, foi Alan. Desde então nós somos amigos. Mas o que eu quero dizer, é que dê valor aos seus pais antes que seja tarde. É só uma dica que eu te dou...
- E então, Samuel, você aceita? – Alan tinha um sorriso esperançoso no rosto. Esse era uma oportunidade impar. As oportunidades de crescimento seriam infinitas em uma empresa como a de Alan.
- Tudo bem. Eu aceito. Quando eu começo? – Ele me olhou sorrindo.
- Assim que quiser! Se você quiser voltar comigo hoje...
- Bom, eu tenho que arrumar algumas coisas aqui ainda. Há algumas pessoas que eu tenho que me despedir... Em no máximo dois ou três dias eu me comprometo a estar lá!
- Tudo bem, assim que chegar lá, me ligue. Eu te busco na rodoviária.
Depois de nossa conversa, eu fui para casa. Alan me deixou lá. Nesse dia mesmo empacotei minhas coisas.
No outro dia logo cedo fui até a Unicamp resolver várias burocracias e tudo mais. Fiquei lá até de tarde. Depois disso, liguei para o Marcelo. Marquei de ir na casa dele para fuder uma última vez.
Fui pra casa, tomei um banho, me aprontei e fui para a casa dele.
Cheguei lá e Marcelo estava comendo uma pizza, só de cueca. Eu comi junto com ele. Depois disso fomos para o sofá, onde a gente fodia quando eu ia para lá.
Ele começou tirando minha camiseta, mas eu me senti estranho. Fuder e depois dizer “Tchau, até nunca mais”. Resolvi contar antes de fude, pois se ele não quisesse mais, eu não me sentiria culpado.
- Marcelo, a gente precisa conversar antes...
- Aham, fala – Ele falava beijando meu peito, indo em direção a minha cueca.
- Para um instante – Eu levantei a cabeça dele.
- O que foi? – Ele me olhou, assustado e curioso.
- É que... Eu vou me mudar de Campinas. Talvez amanhã mesmo. Essa é a última vez que eu venho aqui, provavelmente...
- Como assim? – Marcelo me olhou assustado e até meio nervoso.
- Eu arranjei um emprego. Em Varginha, começo imediato. Eu só fiquei para arrumar uns documentos e bem... Te contar isso.
Marcelo levantou do sofá puto e foi para o seu quarto. Fiquei olhando fixo para frente sentado no sofá do Marcelo. Levantei e me dirigi a saída. Quando eu abri a porta, Marcelo apareceu no corredor, chorando.
- Você não pode ir – Ele me falou, chorando muito.
- Marcelo...
- Eu te amo, Samuel. Eu não queria isso! Mas eu amo. Eu tenho tentado negar isso, mas eu te amo. Por favor, não vá. Fica comigo... – Ele me olhava chorando.
Eu não sabia o que sentir. Nem o que pensar. Muito menos o que falar. Mas uma coisa era verdade. Eu estava bem mais abatido por ir embora e deixar Marcelo. Boa parte de mim me falava para não ir. Mas a maioria dizia para eu ir.
- Marcelo, eu...
Ele chegou perto de mim e me beijou. Não foi um beijo de sexo. Foi um beijo diferente, de um jeito que ele nunca tinha feito antes. Foi diferente. Foi bom.
- Fica comigo? Por favor? Eu não vou suportar viver sem você. Os únicos momentos que eu me sentia vivo era com você. Eu ficava o dia inteiro esperando sua ligação para vir pra cá. Eu não quero que você vá.
Marcelo, desculpa, mas eu não posso ficar. Campinas já deu o que tinha que dar para mim...
- O que eu preciso dizer para você ficar? O que eu preciso fazer? Por favor, diga e eu o farei! – Ele chorava muito. Eu acenei com a cabeça.
- Desculpa. Mas eu tenho que ir.
Marcelo não se opôs. Ele simplesmente sentou e chorou. Sai dali, inexplicavelmente, chorando também.
Cheguei em casa, peguei minhas poucas coisas e fui direto para a rodoviária. Cheguei lá, comprei o primeiro ônibus para Varginha. Esperei por meia hora a saída do ônibus. Eu chorava muito.
No ônibus já de saída, olhei pela janela e vi Marcelo. Ele chorava muito. Ele deu um leve sorriso e acenou um tchau triste. Eu comecei a chorar muito. Eu me sentia ruim por deixar Marcelo.
Durante muito tempo somente ele me fez feliz. Somente ele me dava forças para continuar. De um jeito silencioso e imperceptível ele estava sempre ali. Sempre que eu me sentia ruim, triste, perdido... Ela para ele que eu corria e ele sempre me recebia.
“Deus, por que isso agora?” eu me perguntava. A imagem de Marcelo ali parado, chorando, me acompanhou até Varginha.
Chorei silenciosamente até chegar em Varginha. Olhei meu celular. Tinha milhões de mensagens de Marcelo. Não li todas. Mas chorei muito vendo elas.
Em Varginha, já decidi o que ia fazer. Cheguei lá, fui no banheiro sujo da rodoviária, lavei o rosto. Saí do banheiro e peguei um taxi.
Durante toda o percurso eu passei por alguns pontos que tinham sido palco de muitas alegrias e tristezas. Olhei saudosista para tudo aquilo.
Finalmente, parei onde tinha sido o palco principal da minha vida. Paguei o táxi, peguei minha coisas e fui em direção a porta.
Toquei a campainha. Ninguém atendeu. Toquei de novo. Escutei barulho de passos. Escutei a chave rodando. Um homem abriu a porta.
- Oi pai – Eu falei olhando para o olhar incrédulo do homem que me expulsara de casa alguns anos antes.
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Olá amigos e amigas que leem me conto! Desculpe não postar ontem a noite, mas eu fiquei jogando e acabei me esquecendo de postar rsrs. Mas eu prometo que o cap 18 será postado ainda hoje ou no máximo amanhã pela manhã! Um beijão a todos!
Att Leo" Vitt