Não sabia muito o que aguardar dele, as últimas reações não haviam sido muito amistosas, mas tinha que encarar. Por se tratar de uma manhã de segunda feira haviam muitas atividades para os internos, das quais pedi aos médicos que liberassem ele para conversar.
- Primeiro antes de qualquer coisa tenho que te pedir desculpas, embora estivesse meio fora de mim por causa das porcarias que estava usando, eu estava muito confuso com tudo. De qualquer forma eu não poderia ter te tratado daquela forma nem ter te agredido, você se arriscou indo sozinho até aquele lugar só pra me salvar e meu pai também me contou de toda a sua preocupação comigo. Obrigado mesmo - disse Felipe com um belo sorriso.
O ambiente ao redor era muito bonito, a natureza de serra e aquele vento agradável apenas servia como complemento para aquele belo jardim florido por tulipas amarelas e brancas que contrastava com a grama verde.
Olhando para o jardim ele continuou
- Você tem visto a Emilly? - perguntou
- Não a vejo desde a sua festa - disse meio com raiva, pois não era dessa garota que eu queria conversar. Mas não resisti e alfinetei - Hoje você acha que fez a escolha certa?
Felipe apenas me olhou e acenou com a cabeça que não. Confesso que um certo espírito sádico me tomou e soltei um riso de leve, com isso ele me olhou novamente com a cara fechada.
- Desculpa, não to rindo de você, mas a situação é algo inimaginável. Como chegou a esse ponto cara, por que tem que ser tudo tão difícil.
Até aquele momento não havia surgido o assunto nós dois, tanto eu quanto ele estávamos sem saber o que falar. Resolvi jogar o assunto pra debate.
- E pensar que a um mês atrás era tudo tão normal, tudo tão na rotina, que eu até reclamava as vezes. Até que...
- Até que aparece um idiota pra te atropelar e acabar com seu final de ano. - disse Felipe me interrompendo ele estava tenso.
- Não diria com essas palavras - disse rindo e puxando ele para um abraço.
Encostei a cabeça dele em meu peito e fiquei fazendo carinho na cabeça dele.
- Cara, não sei explicar mas com você tudo é mais fácil. É como se eu não precisasse de mais nada. Lembra daquele dia no cruzeiro, se fosse com qualquer outro iria chingar até a quinta geração, por que me fazer subir aquele morro com uma luxação no tornozelo, só com você mesmo pra eu ir e ainda amar tudo aquilo.
Eu estava ali, com ele, meu coração estava num ritmo frenético, minhas mãos suavam e sentia todo meu corpo tremer. Estava me expondo para ele de uma maneira que poucas vezes na vida eu fiz.
- Eu queria te merecer. Tudo isso que você fez e faz, eu não sei o que dizer. Mas hoje eu não posso e nem mereço tudo isso. - disse Felipe saindo de perto de mim.
Ouvi aquilo num grande susto.
- Não estou entendo. - disse assustado.
- Preciso de um tempo. Não sei ao certo o que fazer daqui pra frente. Não quero cometer os mesmos erros. - disse se afastando ainda mais.
- Como assim os mesmos erros? Por acaso você se refere a Emilly quando ficou com ela mesmo não gostando dela? - perguntei afinal só poderia ser isso.
Ele não respondeu e pra mim cresci ouvindo que quem cala consente. Não havia mais o que ser feito ali, nem muito menos falado. Sai e ele se quer fez menção em ir atrás de mim ou falou algo, apenas sai.
Sai completamente desorientado, o resultado daquela visita não era o esperado. Imaginava sair de la na certeza que tudo iria dar certo e que teriamos um futuro juntos, mas não era essa a realidade.
Todo o caminho ao Rio foi pensando nisso, pior não tinha com quem falar. Não queria me expor mais, chegando em casa joguei as coisas e segui pra praia, precisava esvaziar a mente e único lugar seria lá.
O barulho das ondas, a briza leve carregada de maresia tudo aquilo me transportava para outro mundo, o que não parava de se repetir em cabeça era porque ele havia decido dar um tempo, aliás dar um tempo de que? Tantos anos afastados e ele ainda queria mais tempo? Eram muitas perguntas a serem respondidas, e, a única coisa que eu poderia fazer era dar o tempo que ele precisava. A garantia que eu tinha era que esse tempo nao seria maior que uma semana, afinal nao sou um produto pra ficar na prateleira à espera do melhor tempo ou oportunidade de uso.
Pensei em conversar com Vitor mas ele estava fisurado no Gabriel e só sabia falar disso. Alguns dias depois notei que havia deixado o cabo do meu tablet na casa da minha mãe e precisei retornar a casa dela, nem preciso dizer que Vitor foi junto, esse não perdia a chance de encontrar o Biel.
Já em casa estava apenas a minha mãe, meu pai estava no trabalho e só chegaria a tarde. Era incrível como a minha relação com a minha mãe não era a mesma de antes. Ela nunca foi um exemplo de apego mas sempre me cuidou bem.
Durante o almoço trocamos poucas palavras e tudo que eu perguntava a ela, era respondido em poucas palavras, não sabia o que tinha feito de errado mas fiquei na minha, a única pergunta que insisti em fazer foi a respeito do que ela lembrava quando Felipe ia visitar ela. Secamente ela respondeu
- Lembro dele me enchendo a paciência falando que ama você.
Ela se limitou a dizer isso, também não insisti no assunto. Após o almoço fui ao clube com o Vitor, passeamos pela cidade e pra concluir minha alegria Vitor sisma em querer conhecer o cruzeiro, pra mim voltar lá era relembrar o início de todo esse tormento que me perseguia nos últimos dias. Após muita insistência resolvi atender o pedido de Vitor que mais parecia uma criança, daquelas bem chatas.
Chegamos lá em cima a tempo de ver o pôr do sol, ficamos admirando aquela paisagem que mais parecia ter sido feita a mão. O alaranjado do céu ja margeado por algumas estrelas era lindo e bucólico.
- Vitor, você acha que vale me arriscar pelo Lipe? Já passei por tantas coisas que não sei mais o que fazer. Será que ele não me quer mais? - falava com a cabeça encostada no ombro de Vitor e com o olhar fixo naquela paisagem.
- Não sei Dan, acho que vale mais uma conversa de vocês dois. Abre o jogo e diz que não ta com essa de tempo, acho que os dois já são bem grandinhos. - dizia Vitor de uma forma paternal.
Todo aquele turbilhão passava como flashs na minha cabeça. Concentração passava a léguas de mim não conseguia focar em nada.
No retorno pra casa encontramos Nice, que na tentativa de uma conversa disse empolgada que Felipe sairia da clínica no próximo sábado, pois havia em pouco tempo se conscientizado da burrada que era usar drogas e que não corria riscos de recaída, devido o pouco tempo de uso dos intorpecentes. Mal sabia ela que eu já sabia de tudo aquilo e que estara com ele a dias atrás. Esbocei um breve sorriso e agradeci as notícias, encarar Nice pra mim e como ter que encarar o diabo em forma de gente. Toda essa gentileza e simpatia não me comovia em nada.
Já em casa tomei um banho e me joguei na cama, só um pensamento ecoava em minha mente.
Será que ainda vale lutar por Felipe?
Bem pessoal mais um capítulo, dando uma demorada pois isso ta quase um BBB ao vivo. Escrever aqui me alivia muito, pois ler o que voces comentam e quase uma terapia. Agradecer a todos que mantém contato e me animam com nossas conversas, próximo capítulo será o penúltimo. Beijos contato: contos.meninodorio@gmail.com