Capítulo 05
Pra sempre Bortolozzo.
Eu, minha família e meu mais novo irmão de sangue, passamos mais três dias dentro daquele belo hospital. De fato, a presença do Murilo e os constantes paparicos da minha mãe e do meu irmão, fizeram meus dias mais fáceis. Eu recebia injeções de hora em hora, 24 horas por dia, o que dificultava minhas madrugadas naquele lugar. Diariamente, às 04 da manhã, os enfermeiros vinham até o quarto e coletavam sangue para fazer exames. Às 06 da manhã, o Doutor vinha até o quarto contando e explicando meu resultado aos meninos. Com base nos resultados, ele dizia a dosagem de medicamentos e quando eu poderia ter a possível alta. Tudo, sempre nas primeiras horas da manhã, o que me deixava cada dia mais estressado. Por sorte, o Arthur e o Murilo, sempre demonstraram ter paciência e bom humor. Até aquela raiva que meu irmão estava do Murilo, passava ao longo que ambos adquiriam mais intimidade. Por algum motivo, o médico não liberara nada para eu comer, até o dia que eu recebi alta.
“Não que eu tenha ficado com fome, pelo contrário, o excesso de remédio até me deixava com a sensação de estar sempre estufado e me enojava sentir o cheiro da comida que as enfermeiras traziam aos acompanhantes.”
No 8º dia, logo pela manhã, o médico passou com um sorriso largo dizendo que ia me dar alta.
- É menino Alan! Tá na hora de ir embora, não acha? – disse o doutor bem humorado.
- Acho muito bom doutor! – disse tampando a boca para ele não sentir meu mau hálito.
- Então tá bom! Liberei a dieta leve para você e, logo após comer, tomar seu banho e cuidar desse curativo, você pode ir – disse ele assinando os papéis na prancheta.
Todo mundo começou a bater palmas e rir de alegria.
- Valeu Doutor! – disse o Arthur dando um forte aperto de mão.
- Na verdade, tem uma coisa a ser feita antes – disse ele.
Os meninos se entreolharam e depois me encararam.
- Alguma coisa errada Doutor? – perguntou o Arthur chegando mais perto.
- A Assistente Social liberou os policiais para fazer o Boletim de Ocorrência – disse o médico sem nos olhar – O certo seria você ir até a delegacia. Mas como a Assistente Social fez um bom trabalho, dizendo que você estava debilitado, eles acabaram concordando em vir até aqui.
- Mas por quê? – perguntei indignado.
- Porque, no dia do acidente, alguém fez um Boletim de Ocorrência contra o Murilo. Agora, eles estão vindo até aqui para tirar a sua versão.
- Mas quem iria fazer um Boletim de Ocorrência contra o Murilo?– perguntei sentindo meu perto arder de raiva – Eu não quero fazer nada. Nem adiante eles virem aqui.
“Quem foi o filha da mãe que fez isso?”
- Entendo.Isso já é algo que eu não posso fazer meu rapaz! – disse ele dando um sorriso de consolo – Bom, minha parte está feita. Você vai comer algo agora, tomar um banho, limpar bem e trocar esse curativo, esperar pelos policiais e depois está “livre” – disse ele dando um tapinha sobre meu joelho.
- Muito obrigado Doutor! – agradeci apertando forte a sua mão.
- Obrigado meninos por ajudar o Alan. Em especial a você Murilo – disse ele dando as mãos e depois saindo do quarto.
Esperamos que ele saísse e logo o Arthur fechou a porta.
- Quem foi o idiota que fez o Boletim de Ocorrência? – perguntei irritado aos dois.
- Fui eu Alan – disse meu irmão dando um passo à frente.
- Por que você fez essa babaquice? – brandei contra ele.
- Alan, não se exalte. Esse assunto já fora resolvido entre nós – disse o Murilo dando um sorriso.
- Não era para ter feito nada contra ninguém. Os dois estavam errados e não é certo culpa o Murilo de tudo.
- Tudo bem Alan. Já disse que eu e o Arthur resolvemos nossas diferenças, não é? – perguntou o Murilo encarando o Arthur.
Pela demora da resposta, eu sabia que ele não havia perdoado e se quer perdoaria. Mas ele se contentou em responder com um singelo “sim”.
As enfermeiras vieram até o meu quarto e tiraram o soro da minha veia, me deixando livre pra poder movimentar meu braço para onde eu quisesse. Tomei meu primeiro café da manhã desde o dia do acidente. Estranhei o gosto da comida. Talvez por não usar meu paladar há tantos dias. Mesmo assim, me sentia sempre estufado. Tomei meu banho sozinho, me troquei e fiquei deitado, esperandopelas enfermeiras para fazer meu curativo. No primeiro horário de visitas, meu pai aparecera para me dar os parabéns pela alta. Tivemos uma longa e animada conversa junto aos garotos, até as enfermeiras vir me fazer o curativo. Os meninos fizeram as minhas malas e ficaram jogando conversa fora. No final do horário de visitas, ele se despedira com um beijo na bochecha e foi embora para trabalhar.
Às 10 horas em ponto, dois policiais entraram no quarto, com uma prancheta surrada nas mãos. Primeiro eles cumprimentaram a mim, depois, sem estampar qualquer sinal de gentiliza, deras as mãos aos meninos. Meu irmão estava visivelmente nervoso. Fitei-o por uns instantes, tentando entender o que se passava na sua cabeça e, ao perceber que eu o encarava, fez um carinho tentando me confortar.
- Você é irmão dele? – perguntou sério o Capitão da polícia ao Arthur.
- Sou sim! – respondeu ele seco.
- Teria como você nos acompanhar até o lado de fora da sala? – ordenou o policial.
Ele balançou a cabeça positivamente e saiu olhando nos meus olhos.
- O que vai acontecer com ele? – perguntei ao Murilo que viera correndo até minha cama.
- Fica frio que só vai sobrar para mim – disse ele me abraçando pelos ombros.
- Eu não vou deixar você se ferrar sozinho! – eu disse
- É algo que você nem pode escolher – disse ele com cara de dó.
Minutos depois, os policiais retornaram ao quarto, sem o meu irmão. Fiz cara de não entender.
- Ele não precisará ficar aqui, já que a conversa é com vocês dois – disse ele exibindo o primeiro sorriso.
- Acho que está havendo um mal entendido – disse fazendo os policiais me olharem com deboche – Não quero fazer Boletim nenhum contra o Murilo.
- E quem disse que viemos fazer um Boletim de Ocorrência? – perguntou o Cabo que não tinha se pronunciado até agora – Deram queixa do senhor... – disse ele abrindo a prancheta e procurando pelo nome – ...senhor Murilo R. Garcia.
- E qual a diferença disso? – perguntei sem entender.
- Que no caso da queixa, como é o seu, precisei chamá-lo a dar uma declaração sobre o ocorrido. Ele foi até a Delegacia, incluiu o senhor no depoimento e constituímos um arguido.
- Que isso? - perguntei.
- Uma pessoa que comete um delito. Entre outras palavras, ele será julgado penalmente – disse o Capitãofriamente.
- Penalmente? – repeti para tentar fazer minha ficha cair.
- Não sabe o que é “penalmente”? – gozou o Cabo.
- Eu sei! Mas a questão é que não quero prestar nada contra o Murilo – disse começando me irritar com tudo aquilo.
- Senhor Bortolozzo, se fosse fácil dessa maneira, você acha que eu perderia meu tempo a vir aqui para tirar declarações de dois garotos, sendo que meu dia está abarrotado de serviços? – Perguntou o impaciente o Capitão.
Fiquei sem responder. Eles fizeram perguntas básicas, como: nome, endereço, telefone, documentos, etc. O Murilo não mexia um musculo se quer. Estava rígido e de cabeça erguida, na verdade, estava com a cabeça literalmente empinada. Ele acompanhava o movimento dos policias apenas com os olhos.
- O que vocês dois estavam fazendo antes do acidente? – perguntou o Capitão.
- Passeando – respondi imediatamente.
- Filhinho de papai que nem o outro aí – disse ele apontando com a cabeça o Murilo.
- Murilo, você tem ideia como pode estar encrencado? – perguntou o Cabo.
O Murilo não respondera.
- E o que fizeram? – perguntou sério o Capitão.
- Apenas bebemos umas cervejas e demos umas voltas – respondi.
Sentia-me extremamente nervoso em não saber se as respostas que eu dava, eram as corretas.
- Você ofereceu álcool ao senhor Bortolozzo? – perguntou o Capitão para o Murilo.
Mais uma vez o Murilo não respondera.
- Seu filhinho de papai infeliz! Você está surdo? – disse o Capitão.
Ele mais uma vez não respondeu.
- Você vai ficar com essa boca, fedida, calada? – provocava o Capitão.
Meu coração batia dentro da minha boca, me fazendo sufocar. Só agora, vendo os policiais extremamente irritados, que eu entendi situação.
- Quem constituiu um arguido foi o senhor. E como sou um arguido, tenho o direito a um advogado – disse rindo o Murilo.
- Vá à puta que te pariu – disse o Capitão se voltando a mim.
Pela porta do quarto, passaram duas pessoas que poderiam ferrar ainda mais a gente. Os pais do Murilo.
- O que esta acontecendo aqui? – perguntou sério o senhor Mauro para o Murilo.
“Agora fodeu de vez!”
- Bom diaCoronel Garcia!– estendeu a mão o Capitão.
- Bom dia Capitão Aguiar! – cumprimentou o pai do Murilo.
- O Garcia Filho dever ter um bom motivo para estar no meio dessa conversa, já que deram queixa dele e ele não precisa mais dar satisfações a Polícia? – disse o senhor Mauro parecendo muito desgostoso com o filho.
- Seu filho e o amigo foram sofreram um acidente, onde o seu filho estava dirigindo o seu carro, sem ter habilitação para isso e ainda por cima bebendo cerveja – disse o policial com ar irônico – Sem falar que ele estava induzindo, mesmo que inconscientemente, o jovem Alan a beber.
- O que está acontecendo aqui? – perguntou uma voz feminina, porém rígida.
- Bom dia Major Garcia! – cumprimentou o Capitão a dona Renata.
- Bom dia Capitão Aguiar! – disse a dona Renata totalmente fria.
O Policial explicou novamente os fatos à mãe do Murilo que, ao contrario do pai, estava prestes a explodir de raiva.
- Que mania é essa da policia achar que pode sair dizendo o que quer? – disse ela.
- Como minha senhora? – disse o Capitão ficando sem graça.
- O senhor já ouviu tudo do meu filho. Ele não precisa mais lhe dar satisfações como você mesmo estava pedindo.
- Algumas perguntas não vão fazer mal algum ou vão?
- O único mal aqui, é sua boca carregada de palavreados de baixo calão – disse o senhor Mauro prensando o Capitão.
- Que ele é um filhinho de papai? Qual é a novidade? – continuou a debochar o Capitão.
- Ouvi o senhor xingando o meu filho. Com um vocabulário totalmente ofensivo, onde o senhor me incluía nesse xingamento – disse a dona Renata.
- Nunca disse isso, minha senhora! – disse ele rindo da situação.
- Ouvi bem o senhor dizendo “Vá à puta que te pariu”! – disse o senhor Mauro – É disso que ele te chamou Renata? – perguntou seu Mauro virando-se para dona Renata.
- Isso é uma expressão popular, minha senhora! – disse o Capitão – Quem inventou isso nem sabia o que estava dizendo?
- Mas nós entendemos perfeitamente bem o que o senhor quis dizer – disse o senhor Mauro.
- Agora, vão querer mudar o foco da minha conversa com o senhor Bortolozzo, porque andei dizendo “palavras” ofensivas ao seu filho? – Ironizou o Capitão.
A dona Renata andou até mim, com sorriso bem confortante.
- Suas coisas estão prontas meu querido? – perguntou ela me cumprimentando com um beijo na bochecha.
- Estão sim! – disse sem entender.
- Então vamos embora? – disse animada.
- Vamos! – respondi dando uma risada gostosa de felicidade.
Ela, carinhosamente me abraçou pelos ombros, para que eu pudesse descer da cama e me guiou até ao lado do senhor Mauro.
- Onde os senhores pensam que vão? - perguntou Capitão coçando a cabeça de nervosismo.
- Liberá-los – disse o senhor Mauro com um sorriso provocador.
- O seu filho está mais que liberado, mas o senhor Bortolozzo, esse não! – disse o Capitão chegando ao meu lado.
- Estão os dois liberados. Ainda mais agora que o irmão dele foi à Delegacia retirar a queixa - disse ele segurando na mão do Murilo
- Estou cumprindo meu serviço e digo que o senhor Bortolozzo não sai daqui até ele dizer tudinho.
- “Tudinho” que o senhor Bortolozzo irá dizer, será na Delegacia. Isso, lógico, se der tempo. Enquanto isso, todo mundo pra casa – disse ele apontando o dedo para nós.
- O senhor acha que pode sair aí falando da maneira que bem entender, apenas por ser do Exército? – disse o Capitão.
- Não é apenas por eu ser do “Exército”. É por eu ser o Coronel do Exército Brasileiro. Por eu ter um regimento. E por eu ter autoridade de defender o que eu bem entender – disse o senhor Mauro ficando vermelho.
- Não é bem o que o senhor quiser defender. Você está aqui pra defender algo maior, que é o nosso país e não seu filho e seu amigo – disse o Capitão.
À medida que ambos iam comparando poderes, todos da sala iam abaixando a cabeça, no sentido do mal estar que ambos estavam provocando. O Murilo esfregava seu braço ao meu, sempre que seu pai dava uma dura no policial.
- Como bem o senhor não pode ofender meu filho e minha esposa – disse ele friamente.
- Nunca ofendi a sua esposa! – bravejou o Capitão.
- Não foi o que eu, minha esposa, meu filho, o Bortolozzo e as enfermeiras ouviram – disse o senhor Mauro.
- O seu filho quis enfrentar uma autoridade – disse o Capitão.
- E desde abordá-lo de uma outra forma o senhor preferiu ofender ele e a minha esposa? – continuou o senhor Mauro.
- NUNCA OFENDI A SUA ESPOSA! – gritou o Capitão.
“Meu Deus! A Coisa está cada vez pior.”
- Por favor, querida chame as enfermeiras – disse ele para dona Renata.
- Faça-me o favor, né? – disse o Capitão colocando as mãos na cintura e dando uma volta no quarto.
Duas enfermeiras entraram no quarto acompanhada pela dona Renata.
- Minhas senhoras. Enquanto estávamos fora do quarto, conversando sobre a medicação que precisa ser comprada, o que é que vocês ouviram? – perguntou o senhor Mauro com um sorrido.
- Ouvi a voz de um senhor xingando um dos garotos – disse uma das enfermeiras.
A outra apenas concordou com a cabeça.
- E vocês se recordam das palavras? – perguntou novamente o senhor Mauro.
- Sim! – responderam as duas ao mesmo tempo.
- Quais eram, por favor? – continuou o senhor Mauro.
Ambas se entreolharam e não responderam.
- Não se acanhe minhas senhoras.
- Ele disse... Ele disse “Vá à puta que te pariu!” – disse ela muito envergonhada.
Até eu me sentia envergonhado por elas.
- E vocês saberiam identificar de quem seria a voz? – perguntou o senhor Mauro.
As duas confirmaram com um aceno de cabeça.
- Quem foi?
- O policial mais velho – disse uma das enfermeiras.
- Sem duvidas esse – disse a outra.
A voz do Capitão era tão grave e rouca – rouquidão característico de pessoas que fumam – que ficava impossível ele negar.
- Muito obrigado minhas senhoras – disse o senhor Mauro com um sorrido caridoso.
Esperaram até que as moças saíssem do quarto e retomaram as discussões.
- Então, o que faremos? – perguntou o senhor Mauro com um sorriso de fora-a-fora.
- Façam o que bem entender. Mas o senhor Bortolozzo vai pra Delegacia comigo – disse me puxando pelo braço.
- Todos aqui vão pra casa – disse o senhor Mauro.
O Capitão ficou vermelho e deu uma longa bufada.
- Podem ir – disse o Capitão encarando o senhor Mauro – Mas se o seu irmão não retirar a queixa, farei questão de ir pessoalmente entregar o mandato.
O senhor Mauro me segurou pelos ombros e me guiou para fora do quarto. Atrás de minha, vinha o Murilo abraçado à dona Renata, carregando as minhas malas.
À volta paracasa não fora nada fácil para eu e o Murilo.Osenhor Mauro castigou o Murilo por 02 meses. Isso incluía todos os esportes que ele praticava. Fez também a dona Renata me encaminhar até meu apartamento. Onde ela explicou tudo o que nós fizemos de errado aquela noite. Resultado? Minha mãe adotou o mesmo castigo imposto pelos pais do Murilo.
Se fossem dois meses normais, até que eu ficaria de boa, o problema era que esses dois meses pegavam metade de junho e terminaria só terminaria na metade de agosto, ou seja, não teria férias alguma. Era um dos melhores meses para se brincar com amigos. Eu estava preso dentro de casa. Como os pais do Murilo eram militares, e passavam vários dias fora, deixando sozinho, nossos pais concordaram em deixar o Murilo ficar conosco e usar meu irmão Arthur como “carcereiro”. Passado um mês, fomos liberados para fazer pequenas coisas, como: compras ao supermercado, padaria, vídeo locadoras, etc. O Murilo era o amigo perfeito para mim. Nós ficávamos confinados 24 horas por dia, durante 60 e poucos dias, conversando,assistindo TV, jogando vídeo game - quando meu irmão deixava -, a noite sempre fazia questão de conversar com minha mãe sobre sua vida. Mas, o mais impressionante desses dias, era que não brigamos uma vez se quer.
“Lembrando a vocês que o Murilo era o garoto mais invocado da face da Terra.”.
É o recorde para qualquer ser humano ficar 60 dias colado a alguém e nunca brigar. Tinha sim, vezes que ele ficava puto ou chateado com alguma coisa, mas nada que nos fizesse ficar bravos ou “ficar de mau” como costumava dizer.
Ficar trancado com Murilo me dava direito de vê-lo todos os dias sem camiseta e, durante a noite, apenas de cueca. Fora nesses 02 meses que pude ver quão musculoso ele era. Até meu irmão fanático por academia o invejava. Sempre dizia: “Também, com essa cara feia que ele tem, única coisa que ele deveria ter era corpo!”. E era verdade! A mulherada sempre pagava um pau gigantesco para ele. Mas nenhum comentário era referente à sua beleza e, sim, em relação ao corpo torneado do Murilo. O que deixava todos os outros garotos incomodados com sua popularidade.
O dia mais memorável do nosso castigo fora, sem dúvidas,uma semana antes do fim da nossa “condicional”. Como sempre, jantávamos e ficava papeando até tarde. Nesse dia, ele estava incomodado com o calor e decidiu tomar um banho. Enquanto isso, eu arrumava seu colchão no chão para ele dormir. Quando do nada ele abriu a porta do meu quarto e entrou apenas de toalha. Gelei em ver aquela cena. Como eu disse, estava acostumado apenas em vê-lo de cueca, mas nunca nu.
“Meu Deus, ele vai ficar pelado na minha frente?” – pensei.
- Maior loucura que fizemos aquele dia, heim Alan? – perguntou ele sorrindo para mim, me fazendo sair do transe.
- Nossa, nem me lembre! Estamos trancados aqui por isso.
Ele se virou, abriu meu armário e pegou uma das minhas cuecas.
- Posso? – perguntou ele segurando uma cueca branca minha.
- Você já usou todas! Nem sei porque se da ao luxo de perguntar?
- Pra ouvir você resmungando – disse ele abrindo um sorriso largo.
- Enfim... Ainda bem que temos os seus pais.
- Imagine só se eu fosse um qualquer? Não, não faça essa cara. Não estou desmerecendo ninguém aqui. E nem de longe eu desmereceria você. Sou três anos mais velho que você...
E o som da voz dele desapareceu quando ele tirou a toalha para colocar a cueca.
“Juro a vocês, aquele dia eu fiz as forças para não olhar para baixo e, só voltei a ouvi-lo quando estava vestido.”
- ...o torna o meu melhor amigo – completou ele dando um sorriso – Você não vai dizer nada? – perguntou ele arqueando uma das sobrancelhas.
- Desculpa Murilo, não te ouvi – disse sem graça.
- Ei senhor Bortolozzo? – disse ele imitando o policial daquela dia – onde você estava com a cabeça? – perguntou pulando em cima de mim no meu colchão.
- Sai de cima seu rinoceronte.
- Qual é? Tá muito menininha pro meu gosto, senhor Bortolozzo – disse ele novamente com a voz do policial, saindo de cima e rolando para o lado como uma criança.
Não sei se era impressão minha ou o quê? Mas a meu ver, a cueca dele estava bemrecheada. Mais recheada comparado a todos os outros dias que eu o vi. Com certeza ele se excitara por algo, mas pelo o quê?
“Será que o pau dele tá meia bomba por minha causa?” – pensei.
Mas como ele estava sempre curvado, era difícil de distinguir algo. Ele me encarava muito sério e, depois de longos segundos, começara a rir sozinho.
- Qual é a graça? – perguntei sem entender.
- Seu nome – respondeu ele com aquele sorriso lindo.
- Que há de errado nele? – perguntei invocado.
-Sei lá. Lembra-me nome de barão, sabe? Aqueles barões do café de antigamente? – perguntou ele num tom empolgado.
Ele se deitou de bruços ao meu lado, espreguiçando como um gato, deixando a mostra aquela bunda linda que ele tinha e com a cueca entre nas nádegas. Dando um contorno tentador aquela duas “pelotas”. Algo que me fazia soar frio.
“Santo Deus!” – engoli seco.
- Cala a boca Murilo, você tá precisando dormir, isso sim! – eu disse empurrando a cabeça dele de lado.
- Você até parece àquelas velhas que reclama de tudo. Tá precisando mudar um pouco – disse ele me empurrando para trás.
- Nem sei porque aquele policial me chamou de Bortolozzo – disse.
- Porque é seu sobrenome, oras – disse fazendo aquela famosa cara de “dã”.
- Jura? – ironizei-o – Aquele policial era muito cuzão e, você me chamando assim, pelo sobrenome, vai me fazer lembrar ele todos os dias.
- Fica frio, você vai ter o apelido mais da hora de todos.
- Para de falar besteira! – disse dando mais um tapa na cabeça dele.
Como eu sabia que ele sempre revidava os tapas, tratei logo de imobilizá-lo, sentando em cima de suas costas.
- Caramba Bortolozzo, não sabia que você era rápido assim? – disse ele assustado, contorcendo para sair debaixo de mim. O que fez meu corpo deslizar até sua tentadora bunda.
Foi quando caiu a minha ficha. Eu estava sentado em cima do meu melhor amigo, com meu membro encostado entre sua bunda e com minhas pernas o prendendo para ele não sair. Sentia-me um peão de rodeio montado num touro gigante. Meu coração começou a acelerar, na verdade, parecia até uma locomotiva prestes a explodir pelo meu peito. E, quanto mais ele se contorcia, mais suasnádegas se contrariam sob meu pênis e mais excitado eu ficava.
“Preciso fazer algo? Só que se eu sair de cima dele, ele vai me perseguir.” – pensei.
Cai de lado e me enrolei no edredom para que ele não pudesse ver o meu pênis duro. E como eu já havia previsto, o touro veio atrás de mim. Ele se levantou e agarrou a ponta do edredom e, num puxão só, me fez rolar fora dali. Ele realmente era forte. O Murilo correu até mim e me virou de bruços, sentando em cima da minha bunda. Do mesmo modo que eu havia feito nele. Dava para sentir seu pau e suas bolas prensados na minha bunda.
Por mais deliciosa que fosse senti-lo daquela maneira, eu não poderia deixar que ele percebesse algo.
“Mas, o que fazer se ele é mais forte que eu?”
- Não consegue sair Bortolozzo? – perguntava num tom de deboche, dando uma cravada em mim, apenas para me provocar.
Juntei todas as forças que tinha e o joguei para o lado.
- Para com esse lance de Bortolozzo. Parece até que está falando com minha avó – eu disse irritado.
- Larga a mão! Esse sobrenome é bonito pra caralho, sem falar que te deixa com cara de gente importante.
“Então era isso! Já que ele se considerava “importante”, com certeza ele queria ter alguém assim ao seu lado. Ainda mais sendo filho de militares, onde todos se tratam por sobrenomes.”.
- Sei lá, fico parecendo um velho – disse desviando o olhar dele.
- Faz assim, a partir de hoje, só eu te chamo assim e, se alguém o zoar, eu arranco os dentes? – disse ele puxando meu queixo de modo que eu pudesse olha-lo nos olhos.
- Nossa, que “anjinho” você é! Arrancar os dentes de alguém por me chamar pelo sobrenome? – disse fazendo-o rir.
- Estava dizendo agora pouco, quando você não prestou atenção alguma em mim, que você é meu melhor amigo, mesmo sendo 04 anos mais novos que eu. Não sei o motivo certo de gostar de você, mas sei que gosto muito. Você me traz uma paz de espírito, uma lembrançade um irmão que nunca tive. Quer dizer, agora somos! – disse ele abrindo um sorrisão.
- Agora eu tenho seu sangue. E querendo ou não, serei seu irmão pra sempre! – disse dando um soco nele.
Ele me fitou por uns segundos. Eu sabia que ele adorava essa mania de soca-lo como forma de carinho.
- Você é o cara que todos os dias eu acordo pensando em “O que fazer do nosso dia”, por apenas ter o prazer em estar ao seu lado. O legal também, é que você não é de agradar a todos, sabe? Você agrada apenas àqueles que você quer agradar e isso me atrai nas amizades. Não gosto de pessoas que diz ser amigas de todos, porque no fundo, nunca somos fiéis a todo mundo – disse ele sério.
- Verdade!
- E todos os guris aqui do condomínio sempre ficam dizendo uns aos outros que são melhores amigos. Mas quando viram às costas, todos falam mal de todos – disse ele sério – Isso não é amizade. Eu sim sou seu melhor amigo. Eu não falo mal de ti pelas costas e tenho certeza que você não fala mal de mim também.
Eu ia dizer algo, mas ele fez um sinal negativo com a cabeça, indicando que ele não tinha terminado o assunto. E sei que uma das coisas que o deixa bravo, é ser interrompido quando ele diz algo sério.
- Mas você não. Você é intrigante por ser assim – disse ele serrando os olhos - Você não é um cara que expõe tanto as suas emoções – continuava a dizer.
“Nossa, será que eu sou assim e nunca percebi?” – pensei.
- Você é misterioso e não é daquelas caras “dado”. Eu gosto disso – disse ele ainda com seriedade.
- “Dado”? – perguntei sem entender nada.
- Que nem um cão. Os cães não são seres que abana o rabo para todo mundo que faz graça a eles? – perguntou e eu assenti com a cabeça – então, a maioria dos garotos é assim. Mas você não, você precisa ser conquistado pra gostar de alguém.
- Nossa, de onde tirou tudo isso? – perguntei sem saber.
- Psicologia, meu amigo! Psicologia – disse ele se levantando indo à parede.
Não entendi o que ele estava querendo fazer. Acompanhei aquele monte de músculos indo até a parede para desligar a luz do quarto e ligar o abajur. Fiquei louco ao ver sua cueca enfiada entre suas nádegas. A forma como ela colava naqueles músculos rígidos. Formando um belo desenhoque fazia meu peito arder de vontade de agarrá-lo. E deitou-se novamente ao meu lado.
- Pode sim Murilo! – disse antes que fizesse uma besteira – Pode sim!
- Pode sim, o quê? O que você está falando? – perguntou se virando para mim com aquela cara de sono, mas mesmo sonolento não deixava de sorrir.
- Me chamar de Bortolozzo, O Barão– disse rindo.
- Tá vendo?! Disse que ia curtir – ele disse pulando em cima de mim novamente e me dando um abraço.
Ficamos papeando até não aguentarmos mais.
- Boa noite Murilo! – disse bocejando e subindo até a minha cama.
- Boa noite Bortolozzo!