- Conversar o que Nat? – Perguntei, já sabendo que ela iria falar.
- Sobre como você roubou meu namorado! – Eu nunca tinha visto Nat tão brava assim. Ela estava com ódio no olhar.
- Ah é? Eu roubei né? Foi totalmente culpa minha ele aparecer, chorando, de madrugada na minha porta. Foi totalmente minha culpa ele ficar de cueca e deitar na minha cama! Foi totalmente minha culpa ele me arrastar para a casa dele hoje! Realmente, a culpa é toda minha. – Nat me olhava assustada. Acho que ela não sabia esse lado da minha história. E pelo visto nem conhecia o namorado dela. Mesmo assim ela me olhou nervosa e falou:
- O que um não quer, dois não fazem! – Olhei, até que calmo para ela e falei:
- Nat. Faremos uma pausa na nossa discussão e vamos há alguns fatos. Primeiro: sou gay e acho que você já descobriu isso. Segundo: Matheus é um cara extremamente gostoso e bonito. Além de ter pegada. E cheiroso. Discorda? – Nat me olhou e falou:
- Nesse ponto é verdade. Mas mesmo assim, você não podia! Eu achei que você fosse meu amigo, Nando. Achei que podia confiar – Ela chorava muito. Eu estava até que calmo. Acho que era o costume de tomar no cu.
- Realmente Nat. Em nenhum momento eu disse que o que fiz foi certo. Mas eu não sou o único culpado dessa história toda! – Ela chorava, sentada na minha cama.
- É verdade. Matheus é um completo babaca...
Sentei do lado dela.
- Sim. Mas... Nat... Você pode me explicar o que aconteceu? Eu to meio perdido... – Ela me olhou sem saber o que falar.
- Matheus não te contou nada?
- Não... Ele apenas disse que a única coisa que importa, no meu caso, é o sexo... Sem mais. Simples assim – Ela me olhou meio estranha.
- A gente brigou antes, pouco antes de você ir embora. O motivo: você.
- Eu? Me explica isso aí! – Perguntei confuso.
- É, mais ou menos. Veja. Matheus conversava com uns amigos deles sobre as meninas gostosas da unifei. Ele sabe muito bem que eu não gosto disso. Nenhuma de nós mulheres gosta, na verdade. Eu fiquei brava com ele e saí da roda. Ele veio atrás de mim.
- E como eu entro no meio dessa briga? Eu não sou uma menina gostosa da efei – Nat riu.
- Fomos para a sala, que estava vazia. Entre brigas e discussões, eu falei “então por que você não vai atrás delas?” e ele me respondeu “talvez eu vá! Elas pelo menos não ficam brigando comigo”. Fiquei puta. E aí que entre você. Eu lembrei de você e falei “Se você vai com elas, eu vou lá com o Nando. Ele pelo menos é carinhoso comigo!”. Matheus riu muito alto nessa hora. “Inocente, o Nando é gay! Ele me falou isso”. Eu não sabia que você era gay até então. Sinceramente, até desconfiava um pouco, mas você definitivamente não dá pinta. Olhei para ele, no fundo dos olhos dele e falei “Eu acho que você que deveria ir atrás dele. Se você não sabe manter uma mulher do seu lado, talvez o seu negocio seja mesmo homens!”. Foi o fim. Ele nem falou nada e saiu pisando duro.
- Sérião que você falou isso? E depois veio pro meu AP falando que eu roubei seu namorado? Você que empurrou ele para mim! – Falei em tom de brincadeira. Nat me deu um soco fraco, me chamando de bobo.
- Eu fui atrás dele. Quando vi, ele estava saindo com o carro. Mas eu não vi só ele saindo. Eu vi ele te dando carona.
- Mas ele me dar carona não quer dizer nada. Como você que eu e ele...? – Não completei a pergunta, mas deixei subentendido.
- Eu voltei para casa mais tarde. Vi o carro dele na garagem, mas ele não estava na minha casa. Vim ver se você tinha noticias dele, mas na hora que eu fui bater na porta, eu escutei você e ele... – Fiquei vermelho nessa hora. Muito vermelho mesmo.
- Sorry – Foi a única coisa que eu consegui falar.
- E além do mais, hoje mais cedo, eu passava em frente ao 100 fim e você abraçando ele... Para mim foi o fim. Eu queria te matar. Mas pelo visto você também é vítima na história – Não respondi. Apenas fiquei em silencio processando toda a informação.
- Você quer um misto quente? – Foi a única coisa que eu perguntei. Eu estava com fome e queria comer um misto quente. Nat olhou para mim meio confusa. Pensou um instante e respondeu:
- Claro. Mas com duas fatias de queijo. Pode ser?
- Pode – Enquanto o misto estava na sanduicheira, eu fiz um suco.
Depois de comer, Nat foi embora e eu dormi. Afinal, eu tinha aula no outro dia logo cedo e precisava estar vivo e acordado. Não necessariamente nessa ordem.
No outro dia, por incrível que pareça, acordei bem para ir para a aula, mesmo estando confuso e até com um pouco de mal humor. O dia transcorreu normalmente.
Na hora do almoço, Nick me mandou uma mensagem:
“Hoje as 5, certo?”
“Correto. Estarei esperando por você!”
“hahahahahahaha blz”.
Não entendi essa risada dele só com o “Estarei esperando por você”... Mais uma coisa para me deixar um pouco mais confuso do que eu já estava.
Depois da aula, fui para casa. Dei uma ajeitada nas coisas, uma limpada e tudo mais. Pouca coisa. EU não deixava meu ap sujo nem bagunçado na maioria das vezes. Me dava agonia ver minhas coisas bagunçadas.
Nick chegou lindo e animado como sempre. Me deu um abraço amigável na hora que ele chegou.
Sentamos na mesa da cozinha para fazer as coisas, pois eram maiores. Eu nem toquei no assunto “Matheus”. Nem ele. Mesmo eu estando morrendo de curiosidade para falar com ele, não toquei nesse assunto. Não a princípio.
Enquanto ele me explicava algumas coisas sobre resistência dos materiais e estática, Nat bate na porta.
- Nando! Tudo bem? Desculpa, estou atrapalhando algo? – Ela falou animada, já entrando em casa, mas diminuindo o ritmo quando viu Nick sentado na mesa da cozinha. Nick deu um sorriso simples, sem emoção e falou:
- Oi Nat, tudo bem?
- Tudo sim! Nando, deixa eu perguntar? Você tem medo de barata?
- Não, por que? – Nat ficou vermelha.
- Tem uma no meu quarto. Ela é uma versão mutante que deve soltar veneno, de tão grande! Tira pra mim? – Eu ri. Nick deu um risinho.
- Tiro! Vamos lá! Nick, já volto. Cuida da casa – Falei brincando.
- Claro! A protegerei de todo mal – Eu ri. Nat também.
Subimos até a casa da Nat. Estava imunda. Pilhas de roupas. Sujeira. Restos de comida. Não parecia nada com a Nat organizada que eu tinha visto alguns dias antes. Não matei uma barata. Matei 3.
- Nat, o que está acontecendo?
- Nada! Eu só... estou ocupada demais!
- Nat... – Ela sentou chorando no chão. Sentei do lado dela.
- Eu to com saudade dele... – Ela me abraçou.
- Calma Nat. Existem outras pessoas tão legais quanto! Você precisa, primeiro, limpar essa casa. E tomar um banho... – Ela não respondeu, só ficou me abraçando e chorando.
Ela ficou me contando por quase 20 minutos sobre o namoro dos 2. E chorava. Falava das festas. E chorava. Falava das viagens. E chorava. Depois desse tempo, ela finalmente me deixou ir embora.
Mas eu tive uma surpresa.
Assim que eu cheguei na porta da minha casa. Matheus estava na porta. Ele e Nick. Eles se encaravam como se fossem brigar. Eu nunca vi tanto ódio nos olhos de Nick como nesse dia. Matheus me olhou nos olhos. Arrepiei com aquele tom de azul.
Ele não falou nada. Só virou e saiu.
Nick entrou na minha casa. Fui até ele. Deixei Matheus ir embora, foda-se ele. Não queria nem vê-lo pintado de ouro. Nick arrumava suas coisas para ir embora.
- Onde você vai?
- Embora – Falou seco e nervoso.
- Por que? A gente ainda tem que terminar essa parte da matéria! – Ele me olhou e continuou guardando suas coisas. Na hora que ele foi sair, eu barrei ele, fechando na porta e ficando na frente dele.
- Nick, você vai me contar o que está acontecendo! – Ele me olhou e foi chegando perto, me encarando com raiva. Seu rosto estava a poucos centímetros do meu.
- Vai me prender aqui se eu não contar? – Falou baixo e intimidador.
- Se for preciso, vou. Vai gritar? – Falei com ironia.
Nick nesse momento se aproximou mais. Ele encostou sua testa na minha.
- Você, Nando. Você aconteceu. Você está acontecendo.
