Só nós conhecemos (3° temporada) - Parte I

Um conto erótico de Cesar Neto
Categoria: Homossexual
Contém 5411 palavras
Data: 03/03/2015 16:29:09

E aí pessoal do CDC! Beleza?? Então cá estou eu para postar a terceira temporada que eu (por motivos de descuido e burrice) só postei no Romance Gay. Se você acompanhava por aqui, peço mil desculpas do fundo do coração <3... se você nunca leu essa série, bem agora é a uma hora oportuna para começar a lê-la. Sem mais delongas eu estarei postando para vocês... Aproveitem!!I - Quando você estiver pronto

- Vou sentir sua falta. – eu disse para a versão de 14 anos do Felipe

Ele estava terminando de arrumar as malas. Seus pais estavam de mudança arrumada e eles só estavam esperando os homens da mudança carregarem o caminhão com as últimas caixas que faltavam.

- Eu também vou sentir a sua – ele respondeu olhando para o chão.

Eu nem sabia o que falar. O meu melhor amigo estava indo embora para uma cidade longe e eu provavelmente jamais iria vê-lo. As nossas brincadeiras, nossos planos, tudo estava desmoronando de uma vez só.

- Amigos até o fim ? – eu perguntei.

- Até o fim – ele respondeu.

Seu pai o chamou e a hora de ir embora tinha chegado. Ele virou as costas e quando estava a uma certa distância de mim ele gritou:

- Ei Cesinha, adivinha quem deu uns pega naquela Giovana que você tanto gostava.

Lembrei da menina que era a minha paixão de infância e fiquei puto com aquele corno. Mostrei o dedo do meio e mandei um “vai tomar no seu cu” que ele quase nem escutou.

Depois disso ele desapareceu, mas eu sabia que a nossa amizade jamais iria acabar ali.

...

Acordei seis horas da manhã.

Eu não queria abrir os olhos, eu não queria sair da cama, eu não queria fazer absolutamente nada mas um novo dia nasceu e com ele veio a responsabilidade e os deveres da vida. Que por si só estava sendo uma bela bosta.

Para a minha infelicidade as aulas voltavam hoje. Minhas férias não foram nada empolgantes e muito menos divertida mas eu preferia viver isolado do que ter que enfrentar o mundo lá fora. Comecei a pensar seriamente em faltar a primeira semana inteira de aula. "Quem sabe eles não se preocupem comigo e sintam a minha falta", mas depois de tudo o que tinha acontecido seria muito impossível eles se preocupassem comigo.

Meu celular vibrou e eu acordei para a vida. Um aperto no coração tomou conta do meu peito pensando que pudesse ser uma mensagem dele, mas não era. Era somente o Igor mandando eu não me atrasar pois hoje o dia ia "prometer".

Igor e Denis tinham voltado a serem os meus melhores amigos. Na verdade agora eles eram os meus únicos amigos. Igor tinha feito 18 anos e tirado carta por isso agora ele atravessava a cidade com o escort da sua mãe nos dando carona para aula.

Passei as férias inteira ajudando dia e noite meu pai no serviço. Nos fins de semana vez ou outra eu saia jogar bola com o Igor, ou jogar videogame na casa do Denis. Fora isso eu estava completamente isolado em meu casulo chamado de quarto.

Apesar de ter me prometido que ainda seríamos amigos, Rodrigo nem se quer apareceu ou deu sinal de vida. Passei semanas tentando escrever alguma mensagem para ele, todas as vezes eu chorava e sentia sua falta, no final quando eu consegui escrever algo que fosse digno de ser enviado resolvi deixar quieto e com os olhos cheio de lágrimas exclui ele de todas as redes sociais, apaguei seu número e decidi esquece-lo para sempre.

Bia também não me respondia e pelo menos eu sabia o motivo. Se ela estava puta com o Felipe que tinha sacaneado com ela, imagina comigo que sabia de tudo e fiquei de boca calada. Ela não confiava mais em mim e tão pouco na minha amizade. E também tinha o Felipe...

As coisas ficaram realmente estranhas. Tipo mega estranhas mesmo. Eu ainda fechava os olhos e lembrava do Felipe se agarrando em mim com tanta força que eu chegava a ficar sem ar. Ele me beijava desesperadamente como se fosse a última coisa que ele iria beijar no mundo, ficamos nisso por uns dez minutos até que ele me deu um último beijo e começou a chorar. Eu tentava dizer alguma coisa mas nada saia, aos poucos o choro foi diminuindo, Felipe repousou sua cabeça em meu peito e adormeceu. Eu o envolvi em meus braços e nós dois adormecemos profundamente. Quando eu acordei Felipe ainda estava dormindo em meu peito, com cuidado me levantei da cama e sai de sua casa o mais rápido possível. Naquele dia eu fiquei nas ruas andando por aí sem entender nada do que tinha acontecido, quando cheguei em casa levei um baita fumo do meu pai, da minha madrasta, do mundo inteiro... mas não tive nenhuma notícia do Felipe.

Deitado na cama eu tentei pensar em parar de ir para escola. Ajudar meu pai no serviço não era tão divertido mas me rendeu uma grana legal em apenas dois meses. Eu poderia estudar no período noturno, finalizar os meus estudos, trabalhar como eletricista pelo resto da vida e o melhor de tudo: esquecer de todo mundo e apagar toda essa fase da minha vida.

Mas infelizmente aquele não era eu. Por mais que eu tentasse jamais iria deixar as coisas em aberto daquele jeito. Cesar Frederico (sim esse é meu segundo nome, lide com isso) Neto iria voltar naquela escola e com amigos ou sem amigos faria o último ano ser o mais foda de sua vida.

Pulei da cama, e me olhei no espelho do guarda-roupa. Meu cabelo estava cumprido e horroroso, minha pele tinha perdido todo o bronzeado e estava quase amarela, apesar de estar um pouco mais musculoso pelos esforços do trabalho e ter ganhado mais uns cinco centímetros de altura, eu me sentia completamente travado e sem movimentos. Uma pseudo-barba ridícula na cara e um bigode medonho ilustravam meu rosto. Mas apesar de tudo isso eu pude ver um brilho diferente em meus olhos. Um sorriso se formou em meus lábios, o mesmo sorriso de moleque travesso que estava pronto para enfrentar a tudo e a todos, o garoto que ria dos próprios problemas ressurgiu e agora ele tinha vários motivos para dar imensas gargalhadas.

Um carro buzinou em frente de casa. Igor tinha chegado e eu nem sequer tinha limpado o rosto ainda. Me aprontei em cinco minutos o mais rápido que eu pude e sai as pressas de casa.

- Pensei que você não iria sair de casa hoje - Igor disse reclamando - entra aí logo que hoje promete.

Entrei no carro, coloquei o cinto de segurança e respondi:

- É cara, eu estou de voltaPessoal, bom dia. Eu sou o professor Tadeu!

Toda a sala ficou me observando, aquilo iria ser demais.

- Eu leciono a disciplina de biologia e como tema da nossa primeira aula vamos falar de reprodução. Esse assunto é muito sério, ainda mais se contarmos o quanto de vocês são um bando de ninfos e ninfas no assunto.

Eu tive que me segurar para não rir. Os alunos do primeiro ano estavam pensando que eu era um professor de verdade. Devo o mérito da ideia ao Igor que mostrava a cada dia que estava se tornando um belo filho da mãe.

- Essa é uma camisinha - eu tirei uma camisinha de um pote a mostrei para a sala inteira - ela serve para vocês não trazerem crianças feias ao mundo e previne também algumas doenças. Você aí !!! - eu apontei para um menino dos cabelos castanhos e branquelo que me encarava sério - você sabe vestir uma camisinha ?

Ele ficou vermelho feito um pimentão e se embaralhou todo para falar:

- Não... Eu acho ... Talvez... Não sei não.

- Como assim você não sabe? - eu respondi fingindo que estava bravo - Você não usa camisinha então seu safado? Ou você não tem um pipi ?

A sala inteira deu risada e por um momento eu fiquei com dó do moleque. Ele era bonitinho, seu cabelo era bem penteado, ele usava óculos bem de nerd mesmo, tinha uma boquinha bem rosinha e me encarava com muita vergonha. Para dar um desconto eu gritei com a sala inteira.

- Fiquem quieto que eu garanto para vocês que esse moleque vai traçar mais meninas nessa escola do que todos vocês juntos. Fala aí garotas quem não iria querer ficar com um raparigo gostosinho como esse?

O garoto me olhou e ficou mais vermelho ainda. Dessa vez só as meninas da sala riram.

- Mas o que está acontecendo aqui??? - o verdadeiro professor de biologia apareceu para estragar a brincadeira.

- Isso é um trabalho professor - Denis se intrometeu e disse - é de sociologia, se chama conscientização sobre os riscos das DSTs.

- Mas ... - o professor ainda não entendia - esse é o primeiro dia de aula, como vocês já tem trabalho??

Eu ignorei a pergunta dele e voltei a falar:

- Pessoal, como um presentinho vamos estar aí distribuindo alguns preservativos para vocês. - Igor e Denis me ajudaram a distribuir as camisinhas para a sala inteira, peguei uma e entreguei para o menino nerd e ele começou a entender que era brincadeira - Toma aqui filho, usa com carinho tá garotão.

- Ok - ele disse e pela primeira vez me deu um sorriso.

- Pessoal - eu voltei a falar com a sala inteira - muito obrigado pela atenção e se vocês quiserem utilizar essas camisinhas... bem, eu conheço alguém que ficaria muito contente em ensinar mais coisas para vocês.

Saímos da sala ao sons de aplausos e gritaria. O professor não fez nada então estávamos livres de problemas e prontos para a próxima:

- O que temos para aprontar com os novatos ainda Igor? - eu perguntei.

- Eu tenho uma puta fita isolante na minha bolsa, vamos enrolar os coitados em fita, o que acha? Só tenho que passar na sala pegar a mochila.

Passar na sala não estava nos meus planos. Fomos os primeiros a entrar na sala então eu não vi ninguém de lá. Saímos e matamos as duas primeiras aulas e eu ainda não estava muito entusiasmado para encontrar ninguém.

Mas não teve jeito. Pela primeira vez eu teria que rever meus “amigos”. Primeiro passamos em frente da sala do Rodrigo e eu senti um calafrio. Subi o mais rápido possível para a sala mas quando chegamos na porta eu exitei. Ao contrário de mim, Igor já foi batendo na porta e pedindo licença ele e Denis entraram.

A aula era de História, reconheci a professora boazinha e ela nos deixou entrar. Tinha um texto gigante na lousa que ninguém fazia questão de copiar. Meus olhos foram parar no fundo da sala e pela primeira vez eu os vi. Felipe estava sentado em seu lugar e Bia se encontrava na fileira do seu lado. Eu sempre me sentei atrás deles, de vez em quando atrás da Bia, de vez em quando do Felipe, e agora eu queria sumir de qualquer lugar de perto deles. Para a minha tristeza eu tinha posto meu material atrás da carteira do Felipe

Meu coração começou a acelerar e eu comecei a ficar sem saber o que fazer. Pensei em sentar lá com o Igor e com Denis mas além de não ter lugar o clima ia ficar apenas mais pesado e chato. Apelei um pouco e fui conversar com a professora:

- Nossa professora, eu achei muito louco aquele documentário sobre a Revolução Francesa.

Ela me olhou com orgulho e ficou me fazendo perguntas sobre o que eu tinha achado e tal. Para a minha sorte eu assisti esse documentário (graças a falta do que fazer nas férias) e então eu poderia ficar lá conversando com ela até o Igor pegar a maldita fita.

De repente a porta da sala se abriu e um homem estranho ia entrando

- Licença professora, o aluno Cesar Neto está aí?

- Sou eu – eu disse enquanto a sala inteira fazia silêncio para escutar.

- Então é você o engraçadinho que anda aprontando pelos corredores? – Eu concordei com a cabeça me perguntando quem era aquele cara – Quero você na sala da direção agora!

Pensei em retrucar mas sair da sala era uma boa naquele momento. Olhei para o Denis e para o Igor e me perguntei do porque eles não serem chamados também mas como eu não sou cagueta e principalmente por eles serem meus únicos amigos no momento, resolvi ir sozinho enfrentar o diretor.

Eu ia andando na frente e o homem vinha atrás como se eu fosse fugir ou alguma coisa do tipo. Reparei mais nele e percebi o quanto ele era gato. Tinha mais ou menos um metro e oitenta de altura, aparentava ter uns 25 anos, usava um shortinho azul que deixava as pernas bem definidas a mostra e uma camiseta regata agarradinha no seu peitoral definido. Seus braços davam uns dois dos meus de tão musculoso. Sua pele morena era perfeita e combinavam com o castanho claro do seus olhos. Sua testa franzida mais seus grandes lábios contraídos formavam uma expressão de raiva em seu rosto. Desejei que eu não fosse o motivo dessa braveza toda pois ele metia medo em qualquer um.

Cheguei na sala do diretor e esperava o meu bom e velho amigo sentado na sua cadeira. Com certeza ele iria me defender dizendo que eu só estava tentando ajudar a escola e até iria me pedir uma camisinha. Mas não foi o que aconteceu. Entrei na sala e me surpreendi com quem estava ocupando a cadeira do diretor.

- Val-Val ? – eu disse perplexo.

- Eu prefiro Diretora Valéria – ela disse.

A minha velha professora de química agora era diretora. Aquilo soou estranho mas tudo na minha vida estava estranho, não me importei e já fui dar um bom abraço nela.

- Você sabe que para mim você não é uma diretora e sim uma rainha – ela me abraçou com aquela cara de bunda e me mandou sentar na cadeira.

Ela me encarou com a mesma cara de sempre e começou a falar:

- Ouvi dizer que você já começou o ano aprontando, já era de se esperar mas eu quero que você saiba: essas palhaçadas vão ter que acabar, ou pelo menos parte delas. Eu aceitei esse cargo para por juízo nessa escola que a cada ano só piora, os alunos não querem saber de nada com nada e isso não é o que passamos.

- Mas calma – eu disse – o que eu tenho haver com isso mesmo?

- Escuta aqui garoto – o tal homem que me acompanhou até a sala enfiou o seu dedo na minha cara – ninguém mais vai tolerar as suas brincadeiras aqui nessa escola, está me ouvindo? E trate de respeitar as pessoas seu delinquente.

Eu caguei de medo, mas mesmo assim eu não ia deixar ele aumentar o tom de voz para cima de mim:

- Você quer ensinar respeito apontando esse dedo na minha cara??? Meu Deus, você é professor do que por acaso ? Hipocrisia?

Ele me olhou com mais raiva ainda, mas por sorte a (ex)professora Val-Val falou apaziguando a discussão:

- Cesar esse é o novo professor de Ed. Física, Guilherme.

Ele veio com o braço mais perto para um aperto de mão mas eu me levantei da cadeira fugindo:

- É um prazer e tudo mais – dei uns dois tapinhas na sua costa e fui saindo – Val-Val, pode deixar que eu não vou aprontar mais nenhuma nessa escola e vou respeitar a todos, agora com sua permissão eu tenho mais alguns minutos de aprendizagem me esperando, até mais.

- Cesar espera aí – ela disse quando eu já atravessava a porta – eu tenho que te dar mais uma notícia.

- Estou ouvindo – falei.

- O professor Guilherme vai dar aulas no primeiro e segundo ano e infelizmente não será seu professor. – Ela disse como se eu fosse ficar triste por causa disso.

- É uma pena – eu disse rindo ironicamente para ele – creio que estamos perdendo um ótimo professor.

- Sim – Val-val falou – mas por outro lado vocês vão ganhar um grande técnico e treinador para o time de vôlei.

Minha boca abriu mas nenhuma palavra saia de lá. Após perder os amigos eu também estava perdendo a única coisa que eu gostava de fazer. O vôlei não seria mais o mesmo com ele tomando conta do time.

O professor/técnico deveria saber disso, pois dessa vez quem riu ironicamente foi ele.

...

Esperei do lado de fora da sala até o sinal do intervalo bater e todos saírem. Entrei na sala vazia e fui até a minha bolsa pegar o dinheiro para comer um lanche e aproveitar para arranjar um lugar novo para sentar.

Eu estava espremendo mais uma carteira na fileira do Igor e do Denis quando eu escuto alguém atrás de mim falando:

- O que você está fazendo?

Me virei e dei de cara com Felipe.

- Só estou arrumando um jeito de trollar o Igor – eu disse inventando as mentiras da vida – ele vai se sentar aqui só que as pernas da cadeira estão...

- Corta essa – Felipe disse – Bia me ensinou que quando as suas sobrancelhas franzem é sinal de que você está mentindo.

- Você e a Bia voltaram? – eu perguntei louco para trocar de assunto.

- Não – ele respondeu seco – A gente só sentou para conversar como adultos, e não ficamos se evitando como uma criança de dez anos.

Suas palavras só me deixaram com raiva:

- Parabéns , de garoto que trai a namorada você evoluiu para garoto que conversa com ela. Só deixa eu perguntar, quantas vezes você chorou que nem um bebezão? Por que isso é super adulto de se fazer também.

- Cala a sua boca Cesar – Ele disse bravo.

- Ou o que ? – Eu o insultei – Vai chorar de novo?

- Cala essa boca – ele disse de novo

- Vai chorar ?? Chora que eu paro.

- Já mandei você calar a boca – Felipe se contorcia de raiva.

- Vem calar então seu merda !

E foi o que ele fez. Em um movimento só ele se aproximou de mim se agarrou no meu corpo e começou a me beijar. Sua língua tentava invadir a minha boca mas a única coisa que eu pensava era “de novo não, de novo não”.

Com força eu o empurrei para longe de mim.

Mil coisas passavam pela minha cabeça. Antes de eu conseguir selecionar qualquer coisa para falar, Felipe me olhou com cara de paisagem, murmurou um “desculpa” e foi embora me deixando sozinho novamente na sala.

Terminei de fazer a minha mudança, respirei fundo e me lembrei “Vamos rir para não chorar”, desci para o pátio pois eu também já estava disposto a tratar de outro assunto.

Procurei o intervalo todo mas não consegui achar o Rodrigo em lugar algum. Apelei um pouco e fui até Tiago, melhor amiguinho que o Rodrigo tinha na sua sala, e perguntei do paradeiro daquele filha da mãe:

- Ele avisou no grupo da sala que tinha ido viajar e que talvez perderia alguns dias de aula. Então não sei quando ele volta.

“Ótimo”, me arrependi de também não ter faltado a semana inteira também. Agora só faltava ir até Bia. Dessa vez seria adulto como o Felipe tinha sugerido e fui conversar com ela dentro da sala de aula.

Felipe me olhou estranho quando eu sentei atrás de Bia mas ficou calado. Bia entrou e fingiu não notar a minha presença. Ela odiava conversar no meio da explicação por isso eu tive que mandar bilhetes em folha de papel para ela começar a me dar bola.

Mandei o primeiro e ela rasgou.

O segundo ela guardou no meio do caderno, já era um progresso.

O terceiro ela não resistiu e leu a minha linda caligrafia dizendo:

“PORQUE VOCÊ ESTÁ BRAVA COMIGO? NÃO FIZ NADA”

Ela demorou uns dez minutos para responder, mas acabou me devolvendo o pedaço de papel escrito.

“EU SEMPRE TE CONTEI TUDO E VOCÊ SÓ ESCONDEU AS COISAS DE MIM, QUER MELHOR MOTIVO DO QUE ESSE?”

Eu peguei o papel e escrevi.

“VOCÊ QUERIA QUE EU FIZESSE O QUE??? O FELIPE ERA O MEU MELHOR AMIGO!

Quando eu estava passando o bilhete, a professora de Geografia cansou de falar sobre blocos econômicos e me pegou trocando bilhetinho. Ela era a típica professora que eu assistia somente uma aula ou outra no mês pois ela era um cu de pessoa.

- Cesar, deixa eu ver esse lindo bilhetinho na sua mão? – ela disse tomando o pedaço de papel sem eu dar a autorização e leu para a sala inteira até a parte – O FELIPE ERA O MEU MELHOR AMIGO!

Ela deu mais uma bronca enquanto a sala inteira fazia questão de rir e fazer piadinhas. Olhei para o Felipe e vi ele se levantando da carteira, me olhando e dizendo:

- Tem razão, eu ERA o seu melhor amigo mesmo – e sem ninguém perceber ele saiu da salaAgora você vai me explicar tudo direitinho, está me ouvindo?

Bia me olhou com uma cara de impaciência e eu fiz o favor de pensar em todas as palavras para não deixar nada passar dessa vez.

- Felipe me culpou por vocês dois terem terminado. Ele pensa que eu contei para você o lance com a menina lá e depois do baile a gente brigou também. – Fiz um esforço do caralho para não mexer em momento algum a minha sobrancelha. E não foi em vão, Bia acreditou em tudo.

Terminamos de almoçar e Bia voltou a falar normalmente comigo. Ficamos uma meia hora na lanchonete conversando sobre tudo e botando os assuntos em dia. Ela até me perdoou por não ter falado nada das artimanhas do Felipe e tudo estava uma bela maravilha.

Ela tinha que ir para a casa e eu ainda tinha que voltar para escola por causa do treino de vôlei. Por último quando estávamos nos despedindo ela me olha e fala:

- Cesar só me faz um favor?

- O que? – eu disse imaginado o que era.

- Conversa com o Felipe, eu sei que talvez ele esteja puto e tudo mais, mas você tem que entender, você é o único amigo que ele tem de verdade. Só conversa com ele numa boa. Eu sei que vocês dois vão se entender.

Prometi que iria tentar e fui correndo para a quadra pois já estava atrasado.

Cheguei na quadra e encontrei o time inteiro tocando a bola uns para os outros. Felipe não tinha chegado e eu não o esperava naquele treino. Peguei o apito e fiz um barulho para todos me ouvirem.

- Galera – eu comecei a falar – sejam muito bem-vindos de volta ao nosso querido time!

Todos gritaram em comemoração, esse ano eu teria certeza que nós conseguiríamos todos os títulos.

- Nunca, e nunca mesmo, eu tinha visto um time tão bom nessa escola e pode ter certeza que esse ano seremos os destruidores, ok? Mas antes a gente precisa começar a pensar no recrutamento dos novos jogadores...

Eu estava terminado de falar, quando eu me viro e escuto o assobio vindo atrás de mim. O professor Guilherme vinha entrando pela quadra e todo mundo olhava curioso para ele.

- Crianças, eu quero todos vocês fora da minha quadra agora! – ele disse como se tivesse pedido licença ou algo do tipo.

O time inteiro, uns 10 moleques, me olhavam esperando alguma reação.

- Pessoal esse é o nosso novo capitão o Professor Guilherme, e professor esse é o time de vôlei.

A galera fez um joia e tudo mais. O Treinador Guilherme apenas nos encarou, sorriu e voltou a falar:

- Vocês não são time nenhum, estão todos cortados. Se quiserem voltar a jogar para a escola terão que fazer os testes. Agora eu volto a dizer SAIM DA MINHA QUADRA!

Os moleques começaram a tirar o pé do chão para sair da quadra quando eu os impedi falando:

- Você pode ser o treinador, o mestre, a rainha ou o diabo que quiser mas se quiser que a gente faça qualquer coisa vai ter que pedir com educação.

Ele me olhou incrédulo por eu ter o desafiado novamente só que dessa vez ele sorriu e falou:

- Ótimo mudança de planos, o teste começa agora. Aquele que acertar uma bolada na cara desse pirralho aqui já está dentro do time. – O time inteiro ficou parado sem entender nada – ESTOU FALANDO SÉRIO, ANDA ACERTEM ELE.

Apenas fiquei olhando na cara dele. Eu tinha absoluta certeza que ninguém iria tacar uma bola em mim. Eu ainda mandava e pelo jeito ninguém tinha curtido muito a cara do novo treinador. Mas tinha uma coisa errada, o sorriso na cara do treinador só ia aumentando cada vez mais. Senti uma bolada nas costas que me fez ficar sem ar. Olho para trás e vejo o Felipe pegando a bola que tinha quicado nas minhas costas e voltado para o seu lado.

- Parabéns garoto, chegue aqui mais perto. A partir de agora você é o novo capitão do time. Me lembro de você quando eu assisti o fiapo do jogo do ano passado. Você era o único lá que tinha algum talento. O resto está cortado ! Se quiserem entrar de volta os testes serão na semana que vem ! AGORA SAIAM DA MINHA QUADRA!

Saí daquela quadra marchando de tanta raiva. Eu queria dar um murro na primeira pessoa que eu encontrasse na minha frente. Andei o mais rápido que eu consegui para chegar até o ponto de ônibus e fiquei lá parado esperando aquela porcaria passar.

O ponto de ônibus me fez lembrar do Rodrigo e a raiva passou a se misturar com a tristeza. Eu estava mais perdido do que eu conseguia imaginar. Tudo estava dando errado e a ideia de desistir de tudo me parecia cada vez mais tentadora.

“VOCÊ NÃO DESISTE, FAÇA AQUILO O QUE VOCÊ SABE FAZER DE MELHOR, LIGA A PORCARIA DO FODA-SE”.

E então eu me peguei rindo que nem um idiota no ponto de ônibus. Rindo da minha própria cara, da minha própria vida, dos meus próprios erros.

- Você está bem? – olhei para o lado e vi o Felipe em minha frente.

- Acho que sim, talvez – continuei a rir que nem um babaca.

Ficamos lá parado até eu parar de rir.

- Foi aqui que vocês dois terminaram né ? – Felipe perguntou.

- É isso aí – eu respondi.

- Cesar eu sinto muito por hoje, eu perdi a cabeça eu não deveria ter feito isso com você.

- Você está falando de me acertar uma bolada nas costas, de ter me humilhado na frente do time inteiro, de ter me beijado? – eu sorri – seja mais específico.

- Do beijo, o resto foi consequência. – ele falou.

Fiquei em silêncio e esperei ele começar a falar.

- Você tem que me entender. Naquela noite quando eu te beijei eu... eu sei lá, senti algo diferente. Você é e sempre será meu melhor amigo e ver você me ignorando esses meses todos me fez ficar com muita raiva. Não raiva de você, mas raiva de mim mesmo. Por isso eu te dei outro beijo para descobrir se eu gostava mesmo ou se foi só aquela noite.

Ele estava desesperado tentando seguir uma linha de raciocínio que nem ele entendia.

- E você gostou de me beijar de novo? – eu perguntei.

- Acho que... eu não sei , não foi a mesma coisa eu...

Com toda a naturalidade do mundo eu encostei a minha boca na sua e o beijei. Ele retribuiu por alguns segundos até que paramos de nos pegar.

- E aí? – eu perguntei novamente.

- Acho que... – ele pensou mais um pouco como se estivesse degustando o sabor do meu beijo – é acho que somos apenas amigos mesmo.

- Foi só uma recaída? – perguntei para confirmar.

- Sim, só uma recaída – ele concordou.

E mais uma vez eu voltei a rir daquela estranheza toda. Só que dessa vez eu tinha o meu melhor amigo para rir junto comigo.

- Me desculpa por hoje – ele voltou a falar – eu vou conversar com o treinador e...

- Esquece – eu disse – estou fora do time. Aquele cara só vai me tirar do sério e por hora eu já tenho um monte de problemas para resolver.

- Eu sou um problema para você – ele me perguntou.

- Sim – eu fui sincero – mas é um problema já resolvido.

- Ótimo cara, então hoje, eu e você vamos em um bar encher a cara e conhecer umas gatinhas para mim e uns gatinhos para você?

Pensei em falar, “Opa demoro”. Mas aquele maldito ponto de ônibus ainda me fazia lembrar do Rodrigo:

- É cara, eu ainda gosto muito do Rodrigo. Eu acho que ainda não estou pronto para deixar tudo isso para trás.

- Entendo, mas você sabe quem procurar quando você estiver pronto, não é mesmo? A partir de agora somos melhores amigos até o fim? – ele falou.

- “Amigos até o fim” – eu repeti o que ele disse – tem certeza que você não é gay não.

Ele me deu um murro e voltamos a rir.

- Deixa eu ir lá que meu pai deve estar preocupado. Amanhã a gente se fala então ?

- Pode ter certeza capitão.

E lá foi ele andando todo contente pela calçada. No fundo eu sentia que faltava alguma coisa para ficarmos bem novamente e para minha sorte eu descobri a tempo.

- Ei Felipe – eu gritei seu nome para e ele olhou para trás – Adivinha quem deu uns pega no capitão do time de vôlei??

Ele mostrou o dedo do meio para mim e eu escutei um “vai tomar no cu” lá de longe.

Depois disso ele desapareceu e eu tive a certeza que a nossa amizade jamais iria acabar.

...

Bem, quase tudo tinha voltado ao normal, quase.

Era o segundo dia de aula e eu coloquei na minha cabeça que ele não poderia ser pior do que o primeiro.

Felipe e Bia estavam sentados comigo no banco do pátio esperando o sinal para o começo das aulas. Os dois tinham lidado bem com o negócio da separação. Bia jamais iria descobrir sobre o que aconteceu comigo e com Felipe e agora pelo menos cinquenta por cento dos meus problemas tinham ido embora.

- Sabe, eu ainda acho que nós três merecemos ir ao bar – Felipe recomeçou com essa ideia – sério, essa escola está muito para baixo e a gente quase nem se viu durante as férias.

- Olha, concordo com o adultero aí – Bia disse tirando um sorriso da minha cara – Eu levo umas amigas para vocês conhecerem e vocês levam uns amigos, o que acham?

- Estou dentro – Felipe se animou – só falta você Cesar.

- Sei lá cara, eu ainda... – eu disse mas ele me cortou.

- Eu sei Cesar, você ainda gosta do Rodrigo, mas já faz dois meses que vocês terminaram. Ele agora deve ter se assumido e quem vive de passado é museu. Não é mesmo Bia?

- Tá certinho. Mas calma lá sem pressão no nosso amigo – Bia falou rindo – Cesar, quando você estiver pronto é só nos avisar, tudo bem?

E quando ela terminou de falar eu vi algo que fez meu coração sair pela boca. Uma misto de alegria, felicidade, decepção e raiva tomou conta de mim.

Rodrigo vinha entrando pelo portão da escola. Senti as famosas borboletas no estômago quando eu o vi mais lindo do que ele já era. Ele também tinha crescido, tinha ficado mais forte, mais gostoso. Mas quando ele estava a uns 50 metros de distância meu mundo virou de cabeça para baixo.

Ele estava caminhando de mão dada com um outro menino. Me lembrei do detalhe de que agora ele era “assumido” e por isso ele não tinha a preocupação de se esconder de ninguém. A escola inteira parou para olha-lo mas ele parecia não se importar. Continuou caminhando até a nossa direção.

Levei uma segunda pontada no peito quando eu reconheci o garoto que estava com ele. Não podia nem levantar e dar um murro naquele garoto pois eu devia a minha vida a ele.

Ver Rodrigo e Otávio caminhando de mãos dadas, os dois com os olhos verdes brilhando, os dois que se assumiram e passaram por uma tremenda barra, os dois que tiveram coragem de fazer aquilo que eu não fiz. Tudo isso me deu vontade de levantar e bater na cara dos dois, me deu vontade de correr e chorar, me deu vontade de fazer muitas e várias coisas.

Mas eu me lembrei que agora o velho Cesar tinha voltado. O velho Cesar do “foda-se os problemas” e por isso eu me controlei e comecei a rir novamente. Bia e Felipe me olharam temendo alguma reação violenta mas se surpreenderam quando eu apenas falei com o maior entusiasmo no rosto:

- Bem, acho que agora eu estou pronto!É isso, aguardem pelos próximos. Comentem e avaliem se for do seu agrado :D Beijão meus amores <3<3

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