Lago dos Cisnes

Um conto erótico de escritor da noite
Categoria: Homossexual
Contém 2619 palavras
Data: 30/03/2015 05:36:50

-Para de correr, me deixa explicar. Por favor! -disse parando de correr e olhando pra ela que se afastava.

Ela, não tão convencida, mas já cansada, parou de correr, dando-lhe oportunidade para caminhar a si. Estavam os dois numa praia, as ondas do mar quebravam cada vez mais forte na costa, avisando a entardecer. O sol brilhava sem tanta intensidade e misturado as nuvens dava um colorido todo especial ao cenário. Apenas as ondas fortes e algumas gaivotas quebravam o silêncio existente no local, uma vez que o casal estava cansado e não se falavam.

A moça sentou-se na areia e observou o início do mágico espetáculo que estava prestes a acontecer, o pôr-do-sol. Ela não queria desculpá-lo pelo ato cometido a minutos atrás. Como ele teve a capacidade de traí-la de tal forma? Era seu único pensamento no momento. Era muita cara de pau do desgraçado ficar com uma das funcionárias do hotel na frente dela. Aliás, aquele final de semana tinha sido organizado por ele, por que diabos ele a trairia ali? Não poderia ter esperado nem mais um dia, já que estavam no sábado e na noite de domingo casal não estaria junto?

Era perturbadora a cena, devido ao fato de o traíra estar rindo da situação e tentando abraçá-la ao chão. Ela deu-lhe um "chega pra lá" que o fez cair ao seu lado com o rosto no chão, quase engolindo um pouco de areia. Ele decidiu ficar deitado no local, esperando, talvez, que ela se acalmasse e pôs-se a reparar a tela viva a sua frente.

Como era lindo o pôr-do-sol. Seria mais fantástico se ele a beijasse ali agora. Mas havia um empecilho, ele tinha de se explicar. Com a mão direita, ele passeou levemente pelas costas da amada, que o repreendeu. Insistente como era, ele voltou a acariciar suas costas e ainda tentou um beijo em sua cintura, já que ele estava num nível mais baixo que o dela. Ela o reprimiu. Ainda com um sorriso no rosto, ele levou sua mão até a nuca da amada, pressionando levemente e fazendo seus dedos se perderem nos cabelos lisos-ondulados dela.

-Eu te amo -disse ele com a voz meiga, ainda a massageando. Ela tremia o queixo, enrugava a testa, apertava o nariz: começava a chorar- Eu te amo. - repetiu ele , enquanto algumas lágrimas caíam do rosto dela.

-Só me diz... por quê? -já soluçava baixinho.

-Eu jamais trairia você. -ele disse sorrindo.

-E o que foi aquilo? -disse ela se referindo a cena do quarto do hotel. Ela flagrou-o beijando o rosto e abraçando bem forte uma das funcionárias do hotel. Imaginou que se chegasse segundos antes veria os dois aos amassos.

-Amor, você quer mesmo saber? Vai se arrepender. -falou ele rindo. Como podia ser tão sínico? Ela, não aguentando a confirmação, levantou-se e voltou a caminhar na beira da água. Sem se mover ele disse rindo- Eu estava combinando com ela o jantar em que iria te pedir em casamento. Pronto, estragou a surpresa. Feliz? -indagou ele rindo.

A vergonha tomou conta do corpo dela, que ficou estático, nem o movimento forte da água do mar o tirava do lugar. O cavalheiro levantou-se e a abraçou pelas costas, cruzando seus braços em sua barriga e dando-lhe um beijo no pescoço e no rosto. Ele ria e percebia o quanto ela estava arrependida da cena que a pouco havia feito. Ainda grudado a ela, ele sussurrou em seu ouvido:

-Quer casar comigo?

Ela se virou para o parceiro chorando. Em sua face, ela estampava uma expressão de arrependimento misturado à vergonha, que só não era maior que a alegria de receber esse tão esperado pedido.

-Acho que eu devo desculpas à gerente.

-Acho que você deve uma resposta a mim.

-Pois é.

Enfim, ela o beijou, ainda aproveitando aquele majestoso pôr-do-sol.

-CORTA. -disse o diretor- Maravilhoso. Perfeito. Danielle e Jack, vocês andam se pegando? A química de vocês é perfeita.

-Depois da sexta vez fazendo dá certo, não é Dani? -brincou Jack.

-Se fizeram seis vezes, não vão ligar pra uma sétima, não é?

-Fala série, Gut -disse Danielle se referindo ao diretor Joseph Gutenberg.

-Vamos lá meninos, três minutos pra vocês se hidratarem e depois voltamos. Quero que essa cena seja mais famosa que a do Titanic. -brincou.

Aquele era o terceiro filme desse ano do jovem e talentoso ator Jack Blown, o terceiro de romance. E não era à toa que seu sucesso estava cada vez maior. No ano anterior, ele havia protagonizado um filme em que era dono de um prostíbulo que havia se apaixonado por uma jovem universitária. O filme lhe rendeu elogios de várias academias, jornais e revistas. O filme lhe rendeu fama por ter aparecido nu e por ter um belo corpo, ainda mais por ter se entregado ao papel e fazer milhões de pré e adolescentes acreditarem no amor impossível.

Jack era o galã da vez, o colírio. Teve o luxo de rejeitar alguns papéis, enquanto vários outros estavam se arrastando para ser um mero coadjuvante. Seu físico bem formado, sem músculos exagerados, mas definido; seu rosto afilado, angelical; seus olhos azuis-esverdeados; sua boca desenhada, com o lábio superior fino e o inferior pouco mais carnudo; seu cabelo liso, loiro, levemente aparado dos lados e com o meio bagunçado; seu nariz afilado, pequeno e levemente erguido; seu queixo detalhado, que formavam seu rosto quadrado o ajudavam na escolha dos autores e diretores. Porém, seu talento aparecia quando entrava em cena. Jack agia como se estivesse namorando a pessoa a anos. Seu toque deixava as atrizes tranquilas, era suave, era prazeroso, ele tinha pegada. Jack sabia como conduzir uma dama perfeitamente. Algumas atrizes diziam que se não se controlassem, a cena não terminaria, tamanha era a fofura e a sensualidade que ele impunha nas cenas.

Outro fato era marcante para o sucesso crescente de Jack, ele era solteiro. Os papparazzi nunca o viram com qualquer pessoa na rua. Melhor, os papparazzi pouco o viam. Ele era muito reservado. Detinha um simples apartamento em sua cidade natal, onde pouco ficava e pouco saía. Seus hobbies preferidos eram videogame, praia aos fins de semana, um passeio ao shopping ou a um bar com uns amigos e filmes.

Lindo, talentoso, reservado, carinhoso, sensual. Jack era o sonho de consumo de qualquer uma, ou de qualquer um, por que não. Os rumores de que ele era gay vieram no ano anterior devido a sua "falta de mulher". Coisa de quem não tinha o que fazer, aliás, de gente que ganhava dinheiro fazendo especulações da vida dos outros. No entanto, ser falado não era tão ruim, pelo menos era visto e a oferta de trabalho, às vezes era maior. E nessa temporada estava surpreendentemente melhor.

-JJ, recebi uma nova proposta pra você. -disse animado o empresário e amigo de Jack, Stanley Phillips.

-Opa! Tô precisando de um trabalho mesmo, dez minutos atrás eu estava fazendo um filme e não aguento mais ficar parado. -ironizou o ator enquanto o amigo dirigia o carro.

-Cara, esse você não pode perder, a grana é boa, o texto é interessante...

-Grana Stan, sério? Fiz três filmes esse ano e você tá pensando em grana? Caralho.

-Você acha que eu só penso em dinheiro?

-Não, mas tá parecendo. Me deixa dormir um pouco.

-Eu só tô penando em sua carreira.

-Eu sei, eu sei. Mas vamos pensar nisso semana que vem.

-O diretor falou que era pra entrar em contato até amanhã.

-Foda-se ele.

-Ok então, fode George B. .

Jack deu um pulo quando Stanley disse aquele nome. Era nada menos que o vencedor do último Globo de Ouro e indicado quatro vezes ao Oscar. Jack não havia recebido um convite, era o convite, praticamente uma intimação. Trabalhar com aquele diretor seria um divisor de águas pra ele. Ele seria visto em escala nacional, ele poderia ser indicado pra alguma categoria de uma premiação, ele teria um ótimo texto, ótimas cenas, fora que aprenderia muito com George e receberia um belo cachê.

A hora de Jack havia chegado. Aos 27 anos, ele teria a grande chance de sua vida. Desde os 14 ele tentava vaga em peças de teatro aqui e acolá. Aos 18 mudou-se de sua pequena cidade no interior de Illinóis para a capital do estado em busca de melhoria em sua carreira. Foi então que conhceu Stan que estudava publicidade e, por acaso, conseguiu uma entrevista para ele num teatro de Springfield. Aos 21, Jack foi visto por um olheiro e teve a oportunidade de ser coadjuvante em alguns filmes, três anos mais tarde ele teria seu primeiro papel principal.

No dia seguinte, Jack amanheceu na casa de George B., ficou esperando até por volta de meio dia e depois foram tomar café. O ator deu graças aos céus quando o diretor desceu, não aguentava mais de fome. Tomaram o café em silêncio até o carrancudo diretor soltar:

-Você sabe patinar no gelo?

Jack tomou um susto com o questionamento e acabou deixando o pão cair.

-Não sei se o suficiente para o filme.

-Não é.

-Bom, eu jogava hóquei com os amigos a algum tempo.

-Hóquei? Pra jogar isso precisa de velocidade. Bom, muito bom. Pelo menos nesse quesito você está um tanto evoluído. Só não me diga que você era goleiro.

-Não, era goleador mesmo -tentou fazer a piada, mas sem sucesso.

-Vou te passar o contato do cara que vai te treinar. Eu pretendo gravar o filme dentro de cinco meses, então, você tem esse tempo pra aprender as músicas e as coreografias delas. Como as cenas serão cortadas, por que eu quero dar mais dramaticidade ao filme, vocês vão ter que fazer apenas os movimentos mais difíceis.

Este era George B., simplesmente o cara mais surpreendente que Jack havia conhecido. Estatura mediana, cabelos grisalhos, óculos estilosos, meio gordinho, algumas rugas no rosto e um olhar completamente intimidador. E foi esse olhar que ele temeu.

Depois de pegar uma folha em seu escritório, ele o encarou de cima a baixo e fez uma cara de algo não estava no lugar. Foi então que ele parou abaixo da cintura. Jack não fazia ideia do que ele estava pensando, mas aquela cena era um tanto constrangedora.

-Você tem que malhar coxa.

-O que?

-Jack, você ainda não percebeu? O filme é sobre um casal de patinadores que se apaixonam, ou seu empresário não te falou? Eu quero você como um patinador, não como um dono de um bordel. Aquele papel já era, pense nesse agora.

O artista não sabia se aquilo havia sido um esporro, ou se era um conselho. Preferiu o segundo. Os dois passaram a tarde conversando sobre o papel e a cada frase dita pelo diretor, Jack mais se animava. Ele se dedicaria de qualquer forma para obter sucesso com aquele papel. Além de ser bom pra sua carreira, a qualidade do que lhe era passado dava-lhe prazer só de ouvir. Ele teria que fazer uma dieta louca, emagrecer e depois engordar, em apenas cinco meses e meio. Mas valia a pena. Finalizado o papo, os dois se despediram com um aperto de mão e Jack foi para casa. Acabou sendo fotografado por um paparazzo e já imaginou a repercussão daquela foto, "Jack Blown vai à casa de George B. ... Será que o novo queridinho da América é o novo talento do atual detentor do Globo de Ouro?". Depois disso riu de sua capa mal feita e pensou: "É Jack, ainda bem que você é ator, por que pra roteirista é uma negação".

De tão entusiasmado que estava, o ator leu e releu as cenas que lhe foram passadas, procurou vários vídeos de patinação na internet e já ligou para um persona trainer a fim de combinar a estratégia para conseguir o corpo que George queria. Algumas cenas Jack já havia decorado, outras ele tinha sugestão de como melhorar, mas ficava com receio de o diretor o repreender. Ele se encantava com os saltos e movimentos que os patinadores faziam cada vez que olhava. Tentava sentir sua expressão corporal, pausando o vídeo e imitando o movimento em sua casa. A cena seria interessante, se não fosse o fato de ele estar apenas de cueca em sua casa.

Acabara de anoitecer e Jack resolveu ir ao ginásio observar a pista de gelo. O rapaz estava dominado pela adrenalina, era a única explicação para ele estar indo àquele lugar depois de viajar de Miami-Flórida, até Los Angeles-Califórnia, nada menos que ter atravessado o país, depois conversado com o diretor e agora estava indo patinar. Era um milagre não ter batido com o carro em algum poste.

Seguiu as instruções dadas pelo seu GPS e chegou ao ginásio. Era enorme. Por sorte estava aberto, mas não havia ninguém. Era uma segunda feira, a cidade estava descansando do trabalho. Ele ouviu alguns ruídos, que pareciam ser feitos à lâmina e seguiu-os curiosamente. Apressou o passo até chegar numa arquibancada, onde se sentou para apreciar a apresentação logo a baixo. A pessoa dava movimentos tão precisos, que faziam o espectador ficar boquiaberto. Seu domínio sobre a pista era supremo, seu corpo parecia não ter peso, uma vez que ele dava piruetas e saltos cravados. Ele reconheceu alguns dos sites que havia pesquisado e se sentia lisonjeado pela aula que estava tendo. Ele ficou enlouquecido quando o patinador encaixou um salto no outro e começou a girar com uma perna parecendo estar rodando um bambolê e ir se abaixando, trocar de perna e voltar a se erguer, sem parar de girar, fazendo o público, no caso o ator, perder as contas de quantos giros ele havia dado, entretanto, isso não o importava, queria apenas ver aquela figura vislumbrante em ação. Jack foi obrigado a se levantar e ir até o local da patinação.

Encostado à grade, ele se perdia na dança do patinador. Percebeu a música que tocava e a sincronia com a dança. Percebeu os riscos deixados na quadra, que mostravam que o patinador a havia usado por completo. Percebeu o patinador, que mesmo na rapidez de seus movimentos, encantava por sua beleza. A música tinha um tom deprimente, era nada menos que 'Lago dos Cisnes', e a atitude do atleta quanto a ela, emocionavam e excitavam Jack. Os olhos do ator agora não queriam desvendar os movimentos, mas o que os fazia.

Seus cabelos eram negros e lisos, aparados, apenas um leve topete. A roupa que ele usava permitia ver o corpo que George queria. Jack queria esse corpo. Jack queria especificamente esse corpo. Ele não podia ver o rosto do dançarino, mas o que via lhe trazia admiração. Ele era lindo. Por que não parava para que Jack o analisasse mais de perto? Por que essa angústia dentro do peito de Jack? Por que aquele desejo tão intenso?

Para a felicidade do observador, o atleta parou. Na verdade, ele se assustou quando percebeu a presença de Jack e caiu na pista. Mais que depressa, o ator adentrou o local e, com cuidado para não cair, chegou ao patinador. Aquela visão era melhor do que ele esperava.

-Deixa eu te ajudar. -disse Jack estendendo a mão- Se machucou?

-Não foi nada demais -disse sorrindo o homem lindo a quem Jack não tirava os olhos.

-Desculpa, acho que te assustei. -falou sem graça.

-Tudo bem, eu quem não percebi você chegar. O ginásio é público, eu deveria me acostumar. -riram os dois.

-Vai me dar a mão ou não -brincou Jack.

-Se eu te der a mão nós vamos cair de novo.

-Você tem razão - coçou a cabeça.

-Posso saber o nome do meu herói?

-Jack Blown.

-Não acredito.

-É, sou eu mesmo. O queridinho americano, blablablá.

-Então é você que eu vou treinar?

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