-Dani... -ri, nervoso. -A quanto tempo está aí?
-Tempo o suficiente. -ele aproximou-se perigosamente devagar e sentou-se na cadeira à frente da minha mesa. -Então quer dizer que você quer me emprestar pra outro homem, Homero?
...
Fiquei olhando pra ele, chocado demais pra falar algo dado o tom frio e irritado que falou comigo.
-Dani... -limpei a garganta. -Não é isso que você está pensando!
-Não é? -ele tinha um sorriso malvado no rosto que me assustou. -Tem certeza? Eu ouvi você dizendo que vai me "emprestar"... -ele fez aspas.- ...pra outro homem. Não foi exatamente isso que você quis dizer, Homero?
Fechei os olhos, porque não conseguia mais olhá-lo nos olhos. Sentia meu coração disparado e um embrulho no estômago. Sabia que essa conversa iria dar merda.
-Eu jamais iria te forçar a algo. -disse baixinho.
-Nossa, que romântico! -ele debochou. -Ia me contar quando os seus planos sexuais? Quando eu estivesse amarrado em uma cama, indefeso, com outro homem me fodendo enquanto você assiste?
-Daniel! -exclamei, abrindo os olhos. Minha voz chegou vir um pouco mais fina com a incredulidade. -Eu jamais vou fazer isso com você! Meu Deus!
-Homero, não brinque comigo! -ele praguejou, olhando-me com uma raiva que eu jamais achei que ele direcionaria a mim.
-Não estou brincando com você! Eu iria conversar com você sobre isso! Mas não hoje, não agora!
-E iria dizer quando? Hoje à noite!?
-Não, Dani... você... por favor...
-Homero, estamos namorando de verdade faz umas duas horas e você já está planejando me dar pra outro homem?! O que você tem na cabeça? Acha que sou um boneco seu? Uma de suas propriedades?
-Dani, por favor... eu sei que você não é minha propriedade. Eu só... eu iria abordar esse assunto só mais tarde. Muito mais tarde. Você só ouviu o que não precisava ouvir nesse momento...
Ele fez um som que me fez parar de falar. Sus cabeça balançava-se para lá e para cá. E quando ele falou sua voz veio afiada feito faca:
-Você e meu pai são iguais!
Senti o oxigênio faltar pro meu cérebro assim que ele terminou de cuspir aquelas palavras pra cima de mim. Agarrei a mesa com tamanha força que sentia o sangue parar de circular nos dedos.
-Eu não sou igual ao seu pai. -minha voz veio num sussurro. Meu coração parecia que ia saltar do peito. Sentia uma queimação na garganta. Eu ficaria menos mal se ele tivesse me dado um chute no meio das pernas.
-São iguais sim! Iguaizinhos!
Levantei da cadeira e contornei a mesa. Abri a porta e saí caminhando enquanto me restava um pouco de sanidade. Queria evitar uma briga.
-Você e ele são iguais, Homero! -o Daniel veio atrás de mim. -Tarados e nojentos! Qual a diferença de vocês?!
Parei no último degrau da escada e esmurrei a parede. Depois esmurrei de novo e de novo até sentir minha mão esfolada e ensanguentada.
Me virei pra encará-lo e ele me olhava surpreso por meu surto. Havia um pouco de medo em seus olhos.
-A diferença é que eu te amo! -gritei em um tom grave e rouco. Senti meus olhos queimarem com a vontade de chorar de raiva ou de tristeza. -Eu te amo e me dói ouvir você me comparar com seu pai!
Vi claramente os olhos dele perderem aquele brilho raivoso.
-Eu não iria te falar sobre isso hoje! Nem amanhã nem no mês que vem! Talvez daqui a um ano! Nem eu sei! A conversa com o Fernando não era pra você ouvir justamente para evitar esse tipo de briga.
Ele ia falar algo, mas eu continuei.
-Sinto muito! Por fazer pensar que iria te dar pra outro homem! Eu não vou, jamais, te dar pra outro homem porque você é meu! Meu amor e você pertence a mim! Sou ciumento! Mas a pessoa com quem eu iria ver você transando seria meu melhor amigo, a pessoa que eu confio minha vida! Ele jamais iria te machucar. Jamais iria te diminuir de qualquer forma! Ele seria tão carinhoso quanto eu.
Sentia o sangue escorrendo da minha mão e pingando no chão. Eu nem conseguia mais olhar nos olhos do Dani. Me sentia sujo e nojento depois de tudo. Me sentia indigno dele, por querer expô-lo a essas coisas considerando tudo que ele passou.
-Não sou perfeito. -falei baixinho, sentando no degrau da escada. -Me desculpe, mas não sou. Eu erro e erro de novo. Me perdoe por isso. Você provavelmente nem vai querer olhar mais na minha cara. -levantei novamente, sentindo meu corpo pesando uns vinte quilos a mais. -Deixe apenas eu cuidar de você. Fique com a suíte. Eu vou dormir no quarto de hospedes.
Saí caminhando rapidamente pra fora de casa e só então me permiti chorar. Chorei, nem sei porque. Tristeza, talvez.
Tudo culpa minha.