Subi pro meu quarto, havia algumas coisas mudadas, o quarto pedia por SOL, e eu pedia pela minha cama, com meu leãozinho de cabeceira, pra dormir abraçadinho comigo e esquecer, esquecer do mundo cruel que eu havia criado.
Dormi até, nem sei ao certo até que horas, mas lembro que acordei com meu telefone tocando..
-Oi amor!
-Oi bebê – me recompuz
-Já resolveu o que fazer?
-Acabei de acordar, você sabe que quando eu acordo eu não consigo nem pensar direito (E isso era causa pra muitas transas matinais)
-Ahh sim, vai dormir por ai hoje?
-Não sei, =/.
-Dorme sim, depois a gente conversa, sem neuras.
-te amo
-Te amo também, não esqueça de mim viu.
-Nunca esquecerei. NEoQEAV.
(Nunca esqueça o quanto eu amo você)
Desliguei o telefone, fiquei sentado por um momento, meio grogue. Não queria acordar, mas não queria dormir. Tomei coragem, levantei, fui pro quarto dos meus pais, entrei no banheiro, tomei uma ducha e me joguei dentro da banheira. Que saudades daquilo! Fiquei ali deitado um bom tempo, esfriando a cabeça, eu estava morrendo de dor, doía, latejava.. Pra que pensar nos problemas? Mergulhei, senti aquele cheiro de morango misturado com baunilha, era a essência do sais de banho. Peguei a esponja, comecei a me lavar, lembrei de uma vez que fui pro motel com o Lipe, que estávamos em uma situação parecida..
Tudo lembrava aquele carinha, os lugares, os cheiros, as sensações, a praia.. Mas eu não queria mais, queria dar um basta. Não me pergunte o porquê, só sei que tinha que terminar. Tava sentindo alguma coisa, eu queria muito ficar com o Lipe, só que eu não queria as conseqüências. Não queria ir pra um lugar e não poder beijá-lo em público, não poder beijá-lo quando uma garota linda olhasse pra ele, não queria mentir que o anel que eu usava era só pra afastar gente chata, que ele não significava nada. Queria parar de alugar filmes e ir pro cinema, pra ficar abraçadinho, passar a mão por debaixo da mesa...
Eu queria ser livre, com o Lipe. A situação toda já tinha me saturado. Era 10 ficar com o Lipe, mas o preconceito da sociedade me atrapalhava. E eu deixei-me contaminar por esse preconceito, ele conseguiu estragar tudo que eu tinha conquistado em 1 ano, à base de muito sofrimento, muita dor.
-FERNANDO
-Oi – saí do estado de transe que eu me encontrava- Oi mãe!
-Morreu? Estou te chamando a um tempão.
-Acho que eu peguei no sono, o que que foi?
-O Rafa está aí em baixo
-O RAFA?
-É, vou fazer cachorro quente pra vocês, vai demorar?
-Não, não, manda ele subir, pode ser?
-Pro seu quarto?
-Não, pra cá.
Minha mãe nem meu pai não se preocupavam, embora minha mãe soubesse que eu sou gay, ela nunca pensaria nada entre eu e o Rafa. Abri a porta, e o Rafa entrou.
-Po mlk liguei pra tua casa, o Lipe atendeu, falou que você ia dormir aqui. Vocês brigaram?
-Não, eu acho, nada demais..
-Vai fazer alguma coisa hoje?
-Vou, com certeza.
-O que?
-Rolar na cama, chorar e dormir, não necessariamente nessa ordem.
-Sai daí, vamos fazer algo
-Eu to tomando banho, quer entrar?
-Posso?
-Tá doido porra, hushusah, não viaja Rafa, eu posso não agüentar.
-assim que é bom.
Aquilo me deu um frio no estomago, ele tinha que estar brincando, e como eu adoro brincar com os outros..
-Pago pra ver!
-Olha, ta falando sério.
-Você esta?
-Estou?
-Você quer?
Rafa ficou só de cueca, e entrou na banheira. Meo deos, ele era louco.
-Rafa, isso não ta certo.
-O que não ta certo? Você pode gostar e eu não?
-Pára, sai da banheira.
-Sai você, acabei de entrar..
-Eu estou nu em pêlo.
-Melhor.
-Aff Rafael, o que deu em ti.
-To aproveitando minha chance, meu caminho livre.
Te manda, me estiquei, peguei a toalha, me cobri e saí da banheira, lógico que antes de eu sair eu tirei a rosca pra ela esvaziar.
-Melhor você saí logo, minha mãe ta fazendo cachorro quente, aliás, viu que não tem toalha né? To indo pro meu quarto. Atravessei o corredor entrei no meu quarto, me enchuguei, pus uma cueca e o Rafa entrou.
-Como você faz isso comigo?
-Você atravessou o corredor de cueca? Você está louco? E se minha mãe te visse? O que ela ia pensar?
-Tabom..descula.
Começou a tirar a cueca, chegou perto de mim, pegou a toalha, ele estava me provocando.
-Me empresta uma cueca sua.
-Você sabe onde tem Rafael.
Ele foi pegou uma cueca, pôs o short dele, e sentou comigo do lado da minha cama.
-Cadê seu Xbox?
-Tá lá em casa.
-E quando você vai fazer sua mudança.
Puts, voltei a pensar em tudo de novo. Tudo culpa do Rafael.
-To descendo pra comer, ele disse.
-To indo.
-Nando
-Hãn?
-Vou dormir aqui hoje – falou isso e fechou a porta.
Ai meu deus, liguei pro Lipe, lógico né. O que ele ia pensar se descobrisse?
-Ei amor, o Lipe chegou aqui, ele não ta batendo muito bem, vai dormir aqui.
-Ele está bêbado?
-Não, não.
-Ah ta, já ia ficar preocupado.
-HSAUHAUSA deixa de ser assim amor. Ele não sabia o que estava fazendo. To com saudades.
-Eu também.
O que eu faria da minha vida? Queria pensar, meu estômago deu uma cambalhota, me reuni junto ao pessoal pra comer.
O papo parecia estar animado, todo mundo rindo, meu pai bebendo cerveja..eitaa bagaceira!
Cheguei rindo..
-Qual é o motivo da festa?
-Você - respondeu o Rafael
-Eu?
-Sim nandinho, estávamos lembrando as coisas que você fazia quando era criança.
-Por favor né, ja estou com dor de cabeça, nauseas não.
-Sim nandinho, estávamos lembrando as coisas que você fazia quando era criança.
-Por favor né, ja estou com dor de cabeça, nauseas não.
Comemos, subi, tomei outra ducha, fui dormir.
-Boa noite pra você também, falou o Rafa.
-Foi mal leke, pensei que você estava dormindo.
-Posso dormir com você?
-Não fode Rafa! Qual é a tua?
-Cara, eu sou muito ligado a você, queria experimentar, e acho que ninguém melhor que você.
-não viaja, nunca faria nada com você, tenho namorado, estou com a cabeça a mil..
-Você que sabe.
Pronto só me faltava aquilo, nem dei bola pro que o Rafa tava dizendo, quando eu quis conversar ele não queria, agora quem não queria era eu.
No outro dia de manha fui em casa pegar um livro pra ir pra facul, Lipe estava lá.
-Oi amor - ele veio e me deu um beijo- dormiu bem?
-Dormi, pensei um pouco e cheguei a uma decisão.
-Tomou?
-Sim, é difícil, mas acho melhor a gente dar um tempo, pensar melhor, recomeçar, foi tudo muito intenso, vivemos tudo muito rápido, parece que não tem mais nada a fazer.
-Não Nando, não faz assim.
-Lipe, vai ser melhor, eu não consigo mais, eu tentei eu juro, transpareci que estava tudo bem, mas nada era como antes.
-Mas eu te amo.
-Também te amo, não sei se vou conseguir viver sem ter você..
-Então porque?
-Porque eu preciso confirmar, eu preciso saber se é ilusório ou se é real.
-Você sabe que se a gente se separar não voltamos mais!
-Se não voltarmos então eu saberei, não era pra ser.
-Você que sabe! Eu te amo absurdamente.
-Não dificulta lipe, se for pra ser, será.
Como dizia a Xuxa ou ainda como o provérbio “O que é do homem o bixo não come”. Peguei meu livro, dei um beijo na testa dele, ele estava cabisbaixo no sofá, dei tchau, ele não respondeu e então eu fui.
De casa até a faculdade eu pensei que tinha errado, mas depois tive certeza que eu acertei. Se for pra ser, será. Se não, era somente uma aventura gostosa.
Estava na sala mas ao mesmo tempo não estava, voei a aula toda.
Como eu tinha uns exercícios da monitoria pra corrigir, fiquei até mais tarde. Quando era umas 17h saí da faculdade, e fui pra casa. Encarar o Lipe de novo!
Acontece que quando eu cheguei em casa ele já não estava, pensei de imediato, ele foi do trabalho para faculdade, nem passou por aqui. Entrei, tomei um banho, fui no outro quarto pra pegar roupa, e quando eu vejo, nenhuma roupa do Lipe está lá. Liguei pra ele, será que ele já havia aceitado e ido embora?
Chamou, chamou, caixa postal. Puts, pensei que já tinha acabado mesmo, ele tinha feito o melhor pra ele, e talvez seria o melhor pra mim. Lamentei, não pela situação que eu estava vivendo. Mas sim por tudo que eu tinha feito acontecer. Se eu tivesse lutado por não me apaixonar pelo Lipe, nada disso teria acontecido.
Lógico que eu chorei, não precisa nem ser esperto pra deduzir isso. Eu não conseguia aceitar o fato de eu ainda amar o Lipe e estar fazendo aquilo. Se eu tivesse motivos, até que ia, mas eu não tinha. Sabia que não tinha sido mais uma aventura qualquer. Liguei a televisão, me joguei no sofá, ele tinha visto nosso DVD, estava na tela de menu, uma foto eu e ele abraçados sorrindo. Ele com o braço por trás do meu pescoço...
Como era horrível aquilo, fui beber água, desliguei a televisão e quando passo por um porta retrato com uma foto nossa vejo um papel. Dobrado.
Uma carta..
Falava mais ou menos que a culpa foi dele, que ele nunca deu valor a mim, e que eu sempre estive na frente dele. E agora ele percebeu que a coisa mais importante da vida dele se foi. “Eu te amo Fernando. Talvez agora possamos começar, recomeçar.” Foram duas páginas lembrando de coisas que vivemos, de coisas que eu nem lembrava, já tinha esquecido. Foi triste, demais. Odeio machucar as pessoas, odeio me machucar. Não era pra ter sido daquele jeito..
Por um lado posso dizer que aprendi, aprendi a não me apaixonar rapidamente. As coisas intensas costumam se esgotar em menor tempo.
Liguei pra minha mãe, ela tava no supermercado depois ia passar comigo.
Incrível como nossos interesses mudam repentinamente. Em uma hora eu queria morar fora de casa, naquele momento queria colo. Colo materno. Pensei que não ia conseguir mais fazer nada, estudar, namorar, malhar, surfar...viver. Tudo havia perdido a graça. Entrar na net e compartilhar com vocês, ir pra faculdade...e o pior, eu estava entrando em provas.
Toda forma de amor é válida..
Peguei um copo de vodka coloquei gelo, sentei no sofá, e bebi, até minha mãe chegar.
Minha mãe tem esse dom, de saber as coisas mesmo que não seja dita uma palavra.
Chegou, leu a carta, tirou o copo da minha mão, e me pôs no seu colo. Não falou nada, me abraçou me beijou e eu fiquei ali. Feito uma criança, chorando, pedindo mais colo, e recebendo aquele cafuné.
Algumas coisas fogem do nosso controle, e esse ano de 2008 foi um deles, no meu caso. Mas eu tinha que falar com o Lipe, queria a amizade dele, ele era muito especial pra mim.
Ele não me atendia, então antes de ontem fui na casa do pai dele.
-Fala Fernando, tudo bom?
-Er..indo. Tio o Felipe ta por ai?
-Ele não te falou?
-Falou?
-Ele foi morar com a Mãe dele, em Floripa.
Foi mais forte que eu, rolou uma lágrima, cuidei em enxugar, virei de costas e fui embora.
-Fernando, você está bem? Quer entrar?
-Não, não, obrigado tio.
Tinha acabado, e a única coisa que eu tinha do Lipe era as lembranças. Como será que esle tava? Porque ele tinha que ser sempre assim, tão fechado.. que aperto no coração.
Tudo vai ficar bem certo?...tudo vai ficar bem.
Eu realmente queria que este conto tivesse um fim legal, animado, com um bom “felizes para frente”. Mas como eu disse, algumas coisas fogem do nosso controle.
Música transcrita da carta que o Lipe deixou.
Estou aqui pra dizer que eu jamais
Imaginei te ver sofrendo assim
Te ver chorar vai me fazer sofrer ainda mais
Estou aqui pra dizer que eu jamais
Quis te ver assim (quis te ver assim)
E escrever aqui (escrever aqui)
Tudo o que senti
Mas espero que daqui pra frente
Tudo se renove pra nós dois
Nossas vidas são tão diferentes
Viva agora tudo o que sonhou
Muita coisa ainda está por vir
Muita coisa ainda vai mudar
Eu espero que daqui pra frente
Estou aqui pra dizer seu coração
Vai te mostrar exatamente pra onde ir
Temos muito o que viver
Enganar o tempo não dá mais
Estou aqui pra dizer que eu jamais
Quis te ver assim (quis te ver assim)
E escrever aqui (escrever aqui)
Tudo o que senti
Mas espero que daqui pra frente
Tudo se renove pra nós dois
Nossas vidas são tão diferentes
Viva agora tudo o que sonhou
Muita coisa ainda está por vir
Muita coisa ainda vai mudar
Eu espero que daqui pra frente
Eu sigo o meu caminho
E você siga o seu
E acho que isso é mais forte que eu
Tive minha chance
E não sobrou mais nada
Que possa fazer você ficar
Mas espero que daqui pra frente
Tudo se renove pra nós dois
Nossas vidas são tão diferentes
Viva agora tudo o que sonhou
Muita coisa ainda está por vir
Muita coisa ainda vai mudar
Esse é meu preço pra deixar você ir...
Daqui pra frente – NXFIM
Eu disse que não ia avisar o fim hehe
Desculpem a demora
Até o proximo
