A manhã estava fria e nublada. O vento espalhava as folhas pelo estacionamento e os estudantes caminhavam em grupinhos sorridentes. Derick entrou pelos portões da instituição desconhecida, admirou por alguns instantes os pinheiros verdes balançando ao longe.
Ele caminhou dando lentos passos, sentindo a brisa tocar seus cabelos penteados com gel. Aconchegou-se ao agasalho e com uma lista em mãos aproximou-se de duas garotas paradas próximas a uma pilastra do prédio.
- Ele é um gato – Dizia a magricela de trancinhas e sardas, respirando fundo.
- Uma perdição para os olhos – Suspirava a companheira de cachecol.
- Uma pena já ter namorada – Retrucou a magricela antes de ser interrompida.
- Oi – O garoto chegou timidamente – Vocês sabem onde fica o primeiro ano turma B.
- Primeiro ano, B... – A magricela procurou em sua mente.
- Larga de ser sonsa garota. Primeiro B é nossa turma – O cachecol fazia um belo contraste com os olhinhos verdes da garota que sorriu ao estender a mão – Acho que somos colegas de turma – ela prosseguiu – Eu sou a Carol e ela é a Shirley.
O garoto abriu um sorriso encantador e grato por já ter começado bem. Parece que tinha feito as primeiras amigas no colegial.
- Derick. Meu nome é Derick Brant.
- Gostei do seu nome Derick – Disse a garota magrela – Acho que nunca o vimos no Lyceu. Você é novo na cidade?
O olhar do garoto perdeu-se por um instante observando o estacionamento, então enfim respondeu:
- Sim, Acabamos de nos mudar.
- Ai que legal. É sempre bom conhecer pessoas novas. – Carol respondeu amigavelmente e depois completou – Vem – pegou o garoto pela mão – Vamos te mostrar o colégio.
Eles subiram pela escadaria de acesso ao primeiro andar, os olhos de Derick moviam-se lentamente parecendo reconhecer aquele ambiente, mas, era impossível, só estavam na cidade a menos de um mês, pensava.
Seguiram pelo corredor passando por um cruzamento e pelo bebedouro,
- Me deixa ver sua guia. – Derick entregou nas mãos de Carol um papel que continham informações importantes, entre elas a senha do seu novo armário. Carol procurou o local, enfim encontrou. – É esse aqui – disse passando a frente para abrir a porta retangular de aço.
- Parece sujinho – Observou Shirley após dar um espirro – sujinho nada – Espirrou novamente – Sujasso – completou.
- Espera ai, eu tenho um pano aqui – Carol seguiu até alguns armários mais a esquerda, abriu a porta e pegou a flanela laranjada. Em seguida auxiliou o garoto na limpeza – Nossa, parece fazer anos que ninguém utiliza esse armário – murmurou ao apoiar-se nos pés para alcançar a divisão mais alta.
- Deixa que eu ajudo – Derick sorriu e entregou a mochila a nova colega. Ele era mais alto por isso foi mais fácil colocar a mão por cima da prateleira e passar o pano de um lado para o outro. E então o sinal tocou.
- Vem – A garota o pegou novamente pela mão – Vamos arrumar um lugar para você, de preferência perto da gente.
Carol era uma garota meio doidinha e impulsiva. Tudo que fazia era as pressas, inclusive falar. Às vezes Derick precisava pedir para que ela repetisse as frases, pois não havia entendido nada, isso foi motivo de vários risinhos entre os três.
Ao fechar a porta do armário e ser puxado por Carol, um pequeno envelope azul caiu lentamente fazendo um trajeto em círculos até o chão. Shirley que vinha logo atrás pegou o objeto e trouxe consigo até o local onde sentariam: frente à mesa do professor, próximo a janela.
- Isso caiu do seu armário – Shirley entregou o envelope.
- Tem certeza? – Ele perguntou desconfiado do objeto.
- O que é? – Carol ficou curiosa enquanto observava os outros alunos entrarem em sala.
Derick abriu o envelope, também curioso, mas, dentro não havia nada. Limitou-se a amassar o papel e caminhar até a porta para lançá-lo ao lixo. Foi então que viu alguns garotos passarem fazendo bagunça e sentiu uma nova sensação estranha.
- O time de futebol – O garoto assustou-se quando sem esperar a voz de Carol sussurrou ao seu ouvido. Teria a garota percebido a forma como ele reparara nos garotos? Melhor disfarçar, pensou. Não podia dar bandeira. Então ela prosseguiu – Eles terão um treinamento hoje, depois do intervalo. Podíamos faltar os últimos horários para ver.
O garoto concordou e em seguida um professor gordinho entrou na sala.
- Matemática – Ele disse enquanto caminhava para seu lugar – Todos peguem seus cadernos e... – mas então interrompeu com um grande sorriso de empolgação. – Pequeno Derick, Bem-Vindo – e então continuou.
Derick estranhou o jeito como o homem o recepcionou. Por um instante pareceu que já o conhecia há tempos, mas foi apenas uma impressão boba, apenas uma impressão.
***
Após o intervalo, o trio seguiu para o local onde aconteceria o treino do time de futebol. Era uma quadra coberta e bem grande. Derick, Carol e Shirley ficaram em um local onde não conseguiriam os ver. Lateral da quadra junto à arquibancada. Se fossem pegos levariam uma grande bronca por faltar aos últimos períodos.
O professor de educação física apitou e os dois grupos de jogadores se separam, foi então que os olhinhos de Derick brilharam ao enxergar ao longe, aquele rapaz branquinho, loiro de olhos azuis que corria em direção à trave no lado oposto. Todos estavam vestidos da mesma forma, mas havia algo diferente naquele garoto.
- Quem é aquele? – Perguntou para Shirley.
- Aquele? – ela abriu um sorrisinho, respirou fundo e prosseguiu – Aquele é o líder do time de futebol. – ambas as amigas se encararam com um sorrisinho e juntas gritaram – KAIOOOOO – e se esconderam atrás da arquibancada para que não as vissem. Derick ficou vermelhinho pelo que fizeram, o garoto olhou para o rumo de onde vieram os gritos, mas não conseguiu ver ninguém.
- Estão malucas? – Derick abriu um sorrisinho. No fundo quis participar da brincadeirinha, mas, ficaria estranho e elas poderiam desconfiar dele.
- O Kaio é o garoto mais perfeito do terceiro ano – Shirley começou a contar enquanto o espiavam jogando. – A Carol é apaixonada por ele – sorriu e cutucou a garota que completou – E você também – então as duas voltaram a dar risinhos enquanto faziam cócegas. Derick apenas as observava, mas já gostara bastante das companheiras de colegial.
- Vocês já falaram com ele? Tipo, alguma vez ele já conversou com vocês? – Derick perguntou enquanto segurava um sorrisinho ao ver os dribles do garoto.
- Não – elas responderam juntas com um ar de decepção.
- E porque não chegam nele? – Derick percebeu que falava empolgado e então tentou disfarçar melhor o interesse – Tipo, talvez alguma das duas tenham chance.
Derick temia que as garotas percebessem que ele era gay.
- Não ia dá. Ele é namorado da perua de pied de poule. – Por um instante aquela frase latejou em sua mente. “perua de pied de poule”, aquilo era conhecido, era comodejavu.
- O que fazem escondidas? – Derick gelou ao ouvir a voz que vinha por trás. Foram pegos.
- Aff. É você Ralf. – Carol virou-se – Estávamos só mostrando o colégio pro aluno novo – Então ela virou-se para o garoto – Derick esse aqui é o Ralf, irmão da Shirley...
- E seu ex-namorado, não se esqueça desta parte – Ralf interrompeu a garota abrindo um sorriso para Derick.
- Não precisa viver me recordando isso. – Carol continuou – E esse aqui é o Derick. Não liga para ele Derick, meu EX-NAMORADO é um pateta.
- Legal te conhecer Derick – sorriu – Vai participar do time de futebol? – perguntou, mas não deu tempo para o garoto responder – Se for participar, prazer – estendeu a mão enluvada por uma garra de pelúcia – sou conhecido como o pantera – em seguida encaixou a cabeça do mascote e saiu correndo para o meio da quadra.
“Pied de poule Kaio, Pantera, Mascote,” - Aquelas palavras queriam fazer sentido, pareciam lembra-lhe algo.
Na manhã seguinte o sol havia aquecido o campus. Já não eram necessárias as blusas de frio. O trio caminhava lentamente conversando e sorrindo e acabaram por sentar-se em um elevado abaixo dos pinheiros.
Ao longe avistaram Kaio andando de mãos dadas com uma garota baixinha e muito elegante.
- Aquela é a namorada do Kaio – Carol apontou.
- O nome dela é Tatiane. Ninguém gosta dela. Dizem que depois que começaram a namorar ficou muito antipática...
- Ela não é antipática – interrompeu de supetão. Mas, porque reagiria assim?
- Oxe. Você já conheceu a guria? – Shirley perguntou e ouviu um tímido não – E então porque está defendendo? – Completou, mas o garoto apenas permaneceu calado.
- Pois bem. O que a Carol disse é verdade. Dizem que ela tinha uma amiga chamada Eliza... –Lizi, o nome dela é Lizi. A recordação veio aos poucos, mas nada falou – ...No segundo ano deixou de falar com a menina só porque virou a maior vida louca.
- Como assim vida louca? – queria entender melhor.
- Tipo, a Elisa – Lizi – passou a andar com umas maloqueiras. Colocou vários piercings, boné, roupas frouxas, ficou doidona. Ai com o tempo deixaram de andar juntas. Dizem que é porque a Tatiane se acha muito bonita para ficar andando com gente “daquele tipo”.
- Mas – Carol entrou no diálogo – Não foi só a Tatiane que cortou amizade com ela. O tal de Michael pôs fim ao namoro de um ano. Dizem que agora está com uma patricinha.
Aquela conversa começava a incomodar o garoto. De repente sentiu uma vontade de chorar e seguiu para o banheiro. Quando o sinal tocou voltou para a sala a passos apressados, sentia que algo estava errado, que algo faltava, mas não sabia dizer o que era. No caminho quando passou pelo cruzamento dos corredores acabou por derrapar e se esbarrar com um casalzinho que estava por ali.
- Ai. Você é cego garoto – A voz estrondou no corredor.
- Calma Caroline. É só um novato do primeiro ano.
Não conseguiu ver o rosto do rapaz que falou, mas a voz pareceu-lhe conhecida. Derick seguiu para sala e sentou-se. Era aula de literatura. Quando entrou, já estavam fazendo as lições. Ele sentou-se e sentiu um arrepio como se pressentisse que alguém o observava. Disfarçadamente virou-se para o fundão e se deparou com um carinha tatuado o encarando.
- Lucas – a professora o chamou – Vá até a secretaria e pegue alguns livros que deixei sobre a mesa e você – ela apontou para Derick – ajude-o.
Ajude-o... Ajude-o... Ajude-o
Aquelas palavras ficaram repetindo-se em sua cabeça como um grande eco. Ajude-o – Ele observava o garoto vindo em sua direção em câmera lenta – Ajude-o – Seu sorriso era tão encantador e cretino ao mesmo tempo – Ajude-o.
- “Derick” – a voz o despertou do momento de transe – você ouviu a professora?
***
Trouxeram os livros como solicitado. Não conversaram durante o trajeto de ida e nem de volta. Apenas trouxeram os livros.
- Quem é aquele cara? – Perguntou para Carol.
- Quer um conselho – estavam sentados em trio fazendo um trabalho. Ela se aproximou – Não fala com ele. Dizem que ele é traficante. Por isso não tem amigos.
Não tem amigos... Não tem amigos... – As palavras ecoaram em sua mente.
Folheou o caderno para encontrar a lição que precisariam responder, acabou por encontrar entre as páginas um desenho seminu. Um rapaz. Lucas.
Começou a tremer. Não se sentia bem. Um sentimento de culpa fez seus olhos lacrimejarem, seu coração acelerou e sua boca começou a aguar. Desejo? Como assim? Esta com pena do garoto que não tinha amigos e também desejava beijá-lo, amá-lo?
- Eu, eu preciso sair – Derick levantou-se apressado e saiu da sala. No caminho olhando para trás acabou por esbarrar novamente com o casalzinho na curva do corredor.
- Cara. Você está de sacanagem?! – A garota gritou, mas o namorado limitou-se a sorrir e olhar para ele com seus olhos cor de mel e cachinhos encaracolados como... como os de um anjo. “Ian” – a lembrança veio de súbito e seu coração apertou-se.
Derick acelerou os passos, desceu a escadaria que parecia não ter fim, atravessou o estacionamento, a escadinha de concreto, os pinheiros e por fim caiu...
- O que está acontecendo? – pensou e escorou-se a uma árvore – Porque estou me sentindo vazio? – Ele observou o céu começar a nublar e finas gotinhas de chuva cair – Porque me sinto tão sozinho? – Aconchegou-se ao pinheiro e foi deslizando a mão lentamente pelo galho envelhecido e então sentiu uma diferente elevação.
Foi circundando o desenho com o dedo indicador e o relevo sobre a árvore formava um coração. Secou as lágrimas para ver melhor e com o dedo sentiu as iniciais gravadas. A letra “D” era uma delas, seguida de um traço que poderia ser um “I” ou um “L”. A mão escorregou lentamente e tocou a terra molhada. Ele ficou a choramingar e então começou a ouvir uma canção surgir ao longe.
“Sentia mesmo que era mesmo diferente, Sentia que aquilo ali não era o seu lugar...”
A letra do legião urbana soava com estrofes desalinhadas,
“De escolha própria escolheu a solidão...”
A melodia continuou e então ouviu um sussurro ao seu ouvido...
- Até o João se deu mal nessa de se apaixonar.
E uma nova parte da música agitou-lhe o coração:
“Foi quando conheceu uma menina e de todos os seus pecados ele se arrependeu”
AMOR. Somente o amor pode mudar uma pessoa. O AMOR é a forma de ajudá-lo. – Derick entendeu.
E então estava de volta a roda gigante que subia e subia. Sentiu uma mão repousar sobre a sua. Virou-se com os olhinhos brilhantes e deparou-se com os olhos dele ao seu lado. Os olhos do garoto pelo qual todas as confusões no colegial começaram, os olhos do garoto que tinha sido seu primeiro amante, os olhos do garoto que precisava de sua ajuda, que precisava ser amado.
Lucas se aproximou lentamente, lentamente... e sussurrou ao seu ouvido...
- Me perdoa. Eu... Eu... fui um idiota
Derick viu-se novamente naquela última noite de acampamento, no quarto escuro:
- Chiuuu... – chiou para que Lucas não falasse nada – vem comigo... – Tomou a mão do rapaz e o conduziu para fora da escuridão.
Num lampejo de flashbacks retornaram à roda-gigante e os lábios se encontraram, quentes e desejosos. Uma sensação que não havia sentido com nenhum outro. Sentia-se amado, sentia que devia amá-lo. Abriu os olhos lentamente e seu coração pulsou mais forte e confuso, já não era Lucas quem o beijava e sim... Ian.
Sua mente ficou confusa. Tudo era tão estranho. Tatiane tornara-se uma garota malvada, Lizi uma maloqueira. Ian ou Lucas? Não sabia por qual estava apaixonado.
E então Acordou. Adormecera no primeiro dia de acampamento, deitado no sofá, fora dos dormitórios. Tudo fora um longo pesadelo, mas, até que ponto?
SURPRESAS SENTIMENTAIS
Seu coração batia forte quase saindo pela boca e ele suava frio. Gelado. Então finalmente enxergou os amigos preocupados. Ainda estava deitado no sofá na área externa do acampamento. Sobre sua cabeça o teto de telha colonial. Deitara-se ali quando saiu naquela madrugada fria em que não conseguia dormir. A madrugada antes de ele fundar seu acampamento particular.
- Você está bem? – Tatiane perguntou.
- Porque dormiu aqui fora cara? – Kaio parecia preocupado.
- Nossa magrelo, você nos deu o maior susto – Lizi estava sonolenta.
- Da próxima vez que resolver sumir, avisa – Lucas estava sentado no braço do sofá.
Derick levantou-se. Não entendia o que havia acontecido. Olhou ao redor conferindo rosto por rosto. Kaio, Tatiane, Lizi, Lucas, mas...
- E o Ian? Onde está?
- Ian?!? – Tatiane encarou o amigo sem entender sobre o que falava.
- Ian. Vocês sabem. Da minha altura, intrometido, olhos cor de mel, cachinhos. Ian.
Todos se entreolharam com um grande ponto de interrogação sobre a cabeça.
- Derick. Não conhecemos nenhum IAN – Lizi olhou para o garoto e desviou o olhar para Tatiane.
Aquilo só podia ser uma piada de mau gosto. Derick seguiu ao dormitório. Sua mochila estava no beliche inferior como na noite em que chegou. Na parte superior estavam às coisas de Kaio, do outro lado as coisas de Lucas e logo acima, NADA. Como assim, nada?
- Derick, você tem certeza que está bem? – Tatiane não tirava os olhos do rapaz.
- Mas gente. Eu tenho certeza. O Ian veio conosco. Ele ficou no beliche de cima – tentou explicar.
- Derick. Só estávamos nós três neste quarto. Eu, você e o Lucas – Kaio parecia espantado com a tamanha certeza do colega.
O garoto sentiu-se tonto e resolveu deitar. Logo uma enfermeira do acampamento veio vê-lo e receitou repouso, Derick está com um pequeno cansaço mental, ela disse.
As horas passaram e a noite começou a cair. O garoto sentiu a presença de alguém por perto e abriu os olhos. Lucas estava ao seu lado, observando-o preocupado.
- Você está melhor? – Perguntou.
- Acho que sim – Derick levantou e sentou-se escorado na cabeceira.
- Fiquei preocupado – Lucas segurou-lhe a mão e o garoto sentiu um arrepio.
- Eu tenho certeza que ele veio conosco – Fitou os olhos do colega e ficou surpreso ao observar que eram cor mel, como os de Ian.
- Não duvido de você – Disse tentando passar confiança ao garoto – Tem uma coisa que preciso falar... – Aquelas palavras, eram exatamente as últimas que Ian iria dizer em seu sonho na árvore, mas, não deu tempo porque precisou trancar a amiga Tatiane com o Kaio no carro e... O coração de Derick acelera ao reparar que a boca de Lucas tinha os exatos traços que a de Ian.
- Eu terminei com a Caroline... – Lucas prossegue sentindo Derick levar a mão à sua cabeça. Os cabelos estavam maiores e seus cabelos quando grandes ficavam... Encaracolados – E quero perguntar se você aceita namorar comigo? – A pergunta deveria causar uma reação eufórica, mas, ele só conseguia pensar nas semelhanças: Lucas X Ian... Ian X Lucas...
Derick deslizou sua mão pelo rosto do garoto e puxou-lhe para um longo beijo. Então a dúvida foi sanada. Lucas e Ian, Ian e Lucas, ambos eram a mesma pessoa.
Ian: a parte romântica e misteriosa
Lucas: a parte erótica, forte e problemática.
Nunca houve dois amores, apenas um único. Era Lucas visto por ângulos diferentes.
Derick abriu um sorriso. Não acreditava que o tempo todo amou somente uma pessoa. Não acreditava que tudo o que viu era apenas sua mente bagunçada tentando entender a dimensão do seu amor. Amava o lado bom, mas também o lado mal do amante. E os dois lados formavam um Lucas perfeito.
Ele levantou-se radiante, pegando o garoto pela mão.
- Chiuuu... vem comigo – Aquelas que deveriam ter sido as últimas palavras do acampamento, na realidade, foram as primeiras para o início de todo um semestre apaixonado.
Eles desceram de mãos dadas e apressados. Era horário do jantar. Da escada avistou ao longe um garoto baixinho de piercing e boné. Correu até ele.
- Oi Michael. Ainda não nos conhecemos – falou quase engasgando, pois já sabia tudo o que ia acontecer no futuro – Você está vendo aquela garota bem ali – apontou para Lizi – Você vai adorar conhecê-la – e retirou-se deixando o garoto de olhinhos brilhando observando a garota ao longe.
“Chiuuu.... vem comigo” – Continuou puxando Lucas que não continha um sorriso, sentia-se especial, fazendo parte de algo especial.
- Kaio – sentou-se ao lado do garoto que iria começar a jantar – Se você ama a Tati, a única forma de conquistá-la é deixando de ser esse babaca frouxo que você é, e chegar direto nela. Ela te ama cara, desde que se esbarraram no ensino fundamental. Olha pra mim – Derick fechou o rosto do garoto entre as mãos e este permaneceu encabulado e sem palavras – ELA TE AMA... VAI DEIXAR ESCAPAR SEU PANACA....
“Vem Lucas” – E correram para outra mesa, Lucas tropeçava pelo caminho mais estava radiante como nunca antes. As amigas sentadas com o jantar ainda não tocado observavam os garotos que vinham sorridentes e de mãos dadas. Derick sentou-se.
- Lizi, presta atenção. Aquele carinha bem ali – apontou – está apaixonado por você, ele vai ser o amor da sua vida e o apelido dele é Mickey – Derick puxou o celular das mãos da amiga, excluiu a música que ela ouvia e lhe deu um beliscão – Presta atenção – olhou no fundo dos olhos dela – NUNCA MAIS eu quero saber de você ouvindo música de maloqueiro. Ouviu? NUNCA MAIS e tornou a beliscá-la, virando-se em seguida para Tatiane que estava pasma.
- Tati. Não faz essa carinha de santa não minha filha. Eu sei que você é apaixonada pelo Kaio desde sempre – A garota arregalou os olhos, ficou vermelha e não sabia como reagir – Não adianta fazer birrinha, Não adianta ficar magoada, porque eu já contei tudo pra ele, e adivinha? Ele é apaixonado por você também – Derick deu um beliscão na amiga – Isso é para você deixar de ser difícil – depois puxou o cabelo dela – e isso é para que você NUNCA, NUNCA se ache melhor que ninguém – Tatiane não sabia como reagir. Quando se virou Kaio estava parado atrás dela. O que veio a seguir você pode imaginar.
Derick apertou a mão do namorado e saíram correndo em direção a alguns adultos que estavam conversando próximo à saída do refeitório. Ele cutucou o coordenador que não demorou a vira-se com um sorriso.
- Presta atenção. Você nunca mais vai vender aquelas “coisinhas” na escola – puxou-o pela manga da camiseta – Nunca mais vai coagir alunos a fazer seu trabalho sujo – e tornou a puxá-lo para mais próximo – e NUNCA MAIS, NUNCA MAIS vai se meter com o MEU NAMORADO. Em seguida deu um pisão no pé dele e saiu correndo com Lucas para longe. O coordenador ficou sem reação, não sabia onde enfiar a cara. Disfarçou o assunto para os outros e por sua reação nos meses seguintes, deve ter entendido o recado.
MOMENTOS FINAIS
Eles deitaram-se sobre a grama olhando o céu. A lua cheia seria em poucos dias e poderiam vê-la ali em seu ninho de amor. Lucas beijou Derick mostrando o quanto o amava e Derick o abraçou apertado para que soubesse que se importava com ele. Naquela noite permaneceram abraçadinhos treinando como se beijava, sentindo um suave gosto de café.
Lucas sentia-se extasiado com tudo, mal sabia que Derick já havia vivenciado aqueles momentos de amor em seus braços, quando em uma noite fria o lado romântico viera aquecê-lo com cobertores e uma garrafa de café.
•••••••explicações••••
Como vimos no último capítulo, Ian NUNCA existiu. Ele era a parte “romântica” que Derick visualizava de Lucas. Ou seja, o envolvimento de Derick sempre foi com o Lucas, do início ao fim da fic. Abaixo veremos algumas peculiaridades sobre esse “relacionamento”.
Só que Lucas revelou que tinha reatado com Caroline e Derick mais uma vez ficou na “fossa”. Agora eu pergunto, se o garoto servia apenas para “diversão”, porque Derick ficou chateado pelo fato dele ter se reconciliado com a ex? Respondo: Ele estava começando a se apaixonar por Lucas, entretanto não queria admitir. Não quando ainda sonhava com um príncipe encantado.
LUCAS X IAN
Personalidade
É interessante notar que Lucas e Ian eram diferentes, porque representavam o lado mal e bom de uma mesma pessoa. Lucas era o garoto perverso, inseguro, “picante” e sedutor. Ian ao contrário, era bonzinho, romântico, protetor (lembra-se que ele parecia observar todos os passos de Derick? isso possibilitou defendendo-lo da “quase” agressão de Kaio). Enfim, Ian era um verdadeiro “anjinho”.
no mesmo dia que Ian apareceu, Lucas chamou Derick para conversarem nos pinheiros e o garoto não foi?
Naquele dia Lucas iria revelar que pensou melhor e tinha terminado com Caroline, desejando ficar somente com ele. No “sonho revelador” estava com Ian nos pinheiros e houve um momento que o garoto queria falar-lhe algo, mas não conseguiu porque Derick precisou sair para “trancar Kaio e Tati no carro”. Era como se estivesse revivendo aquele momento em que Lucas o chamou para conversar, mas desta vez, vendo pelo lado romântico tudo o que iria acontecer se tivesse cedido desde a primeira temporada.
Ian revela que tomava remédios porque tinha um probleminha no coração. Ai eu pergunto, qual seria esse probleminha? Respondo: amor não correspondido. Isso nos leva a entender que Lucas se aprofundou no “uso” das drogas “remédio”, justamente para superar a rejeição de Derick. [lembre-se que a maior parte do acampamento fez parte do sonho premonitório de Derick e os acontecimentos são coisas do PASSADO, PRESENTE E FUTURO... Coisa que JÁ aconteceram, ESTÃO acontecendo e IRÃO acontecer].
Bom, esses são alguns pontos interessantes. Se você reler as fics novamente, vai ver cada capítulo com um olhar diferente e revelador.
FIM.