Eu passei a ajudá lo com tudo, com as dificuldades no colégio, pois ele ainda fazia o ensino médio no período noturno.
As dúvidas e as dificuldades que ele tinha, resolviamos todas em nosso horário de almoço.
As vezes eu o auxiliava por telefone mesmo a noite, quando chegava do colégio, me ligava e ficávamos até as duas da manhã conversando.
Eu via nele um pouco de mim, um rapaz jovem que almejava algo melhor para ele e sua mãe.
Mas tem um porem em tudo isso.
Ele é hétero!
E aos finais de semana ele saia com meninas, nas festas e nos barezinhos da cidade.
E depois ele vinha me contar de como tinha sido sua noite, das várias transas que teve, de cada uma das meninas, me contava detalhes que eu não queria ouvir ou imaginar.
Eu morria por dentro, engolia cada palavra que ele me dizia e me mordia de ciumes por dentro.
As vezes eu tentava desviar a conversa, mas era um garoto e precisava dividir as experiência com alguém e o único amigo era eu.
Também quem nutriu amor por ele foi eu isso não fazia dele culpado, ele tinha que seguir o curso natural da vida, é homem e precisa fazer coisas de homem.
Somos em um pouco mais de seis mil habitantes na minha cidade, costumam dizer que quando você entra na cidade e atravessa a rua, pronto você já saiu da cidade rs.
E todos aqui conhecem e sabem da vida de todos.
Traições, adultérios e escândalos amorosos são jogados aos quatro ventos e em minutos as coisas se espalham por todo o vilarejo.
É uma cidade rica também, de muitos fazendeiros, agricultores e donos de indústrias latifundiárias.
Para falar a verdade aqui no centro moram umas quatro mil pessoas e o restante é espalhado por fazendas e sítios.
Aqui também não tem lojas de roupas, mercados ou açougues essas coisas.
Tudo que você precisa para seu bem estar ou dia a dia, você precisa ir para as outras cidades vizinhas que são maiores e com outras opções de mercado.
Meu medo sempre foi o de me envolver com alguém e derepente meu nome estivesse flutuando pelas bocas venenosas da minha cidade.
E o fato de eu ser gay já me deixava a um passo à trás de todos os demais habitantes na cidade.
Eu me apaguei de uma maneira tão forte a ele que para mim era horrivelmente difícil passar o final de semana sem vê lo ou ouvir sua voz.
Eu tinha a necessidade de saber como ele estava, o que estava fazendo e em todas essas ocasiões ele parava tudo o que estava fazendo e me informava.
Eu não via a hora de voltar ao trabalho só para saciar a minha vontade, meu desejo de estar ao lado dele.
Ficava sentado na minha mesa esperando, olhando fixamente por entre as pessoas que passavam pelo corredor, ele sempre com o cabelo arrepiado e o sorriso no rosto.
Usava uma colônia muito forte!
Aí aquilo acabava comigo, me dava dor de cabeça e ânsia de vómito.
Um dia eu o presentiei com um lindo kit, colônia, pós barba, creme e várias outras coisas.
Foi aí que ele então percebeu que minha amizade estava tomando outro rumo, meu coração já não o via como amigo.
Ele me abraçou e no meu ouvido me disse:
Você se tornou muito especial para mim, obrigado!
Essas palavras escorregaram para dentro do meu ouvido, do meu coração e acho que da minha alma.
Palavras que numa outra ocasião eu levaria numa boa e a identificaria como prova de uma boa amizade.
Mas o fato de eu estar gostando muito dele, me fez entender que aquela frase solta em meu ouvido, era um sinal dele demonstrando o mesmo sentimento por mim.
Não era assim, ele me queria como amigo e somente isso.
Sua mãe teve uma crise e ficou algum tempo de cama, isso a impossibilitou de fazer os serviços domésticos ou de exercer qualquer outra atividade.
Eu não sabia de nada, porque como eu já mencionei: ele é orgulhoso e essas coisas ele evitava contar as outras pessoas inclusive eu.
Chegava no trabalho com as roupas amassadas, passadas, mas de qualquer forma, as vezes cheirando gordura de fritura rs.
Eu não aguentei e perguntei a ele oque tivera acontecido para o desmazelo da parte dele.
Ele não queria me contar, mas eu sou bom em persuadir as pessoas rs.
Sua mãe teve uma inflamação na coluna e os antibióticos não estavam fazendo efeito algum e seria preciso intervenção médica.
Me lembro que na época a cirurgia custava dois mil, o anestesista mil e duzentos e as diárias do quarto cinqüenta.
Tudo ficou em torno de quatro mil reais.
Dinheiro que se juntasse o salário dele de quatro meses ainda seria inferior.
A empresa que eu trabalhava tinha quinhentos funcionários e a maioria eu tinha contato.
Minha idéia foi fazer uma rifa para arrecadar o dinheiro para ajudar na cirurgia.
Foi o que eu fiz!
Comprei uma cartela com cem nomes e cobrei cinco reais cada nome.
Em coisa de quatro dias eu já tinha levantado toda a grana e o ganhador do prêmio foi o meu diretor.
Um senhor muito correto e muito bom, ele pegou o valor do prêmio e dobrou, depois pediu que o setor de marketing fizesse uma festa para todos os funcionários com a grana.(todos ganharam).
Eu peguei todo aquele dinheiro e fui até a clínica, fiz o pagamento e agendei para que ela fosse internada no outro dia mesmo.
Sem avisar eu fui até a sua casa.
Chamei e nada, chamei novamente, mas ninguém saiu, apenas os latidos dos cães.
Esperei por algum tempo até que uma vizinha me informou que uma ambulância fora buscá la e a levaram para o pronto socorro.
Peguei meu carro e fui direto até o pronto socorro.
Ele estava chorando em pé na recepção, sem rumo e sem ninguém.
Eu segurei em seu braço e o puxei de encontro ao meu.
Ver um homem daquele tamanho chorar, desesperado e sentido, me cortou totalmente o coração.
Eu pedi a recepcionista que me indicasse o médico responsável e após uma longa conversa e o meu telefonema para a clinica dizendo que anteciparia a entrada dela lá.
Eles a removeram novamente e a levaram direto para a clinica onde enfim ocorreria a cirurgia.
Ele ficou bravo, me xingou todo, dizendo que não tinha grana para cirurgia particular e tal.
Depois de ouvir todo o desabafo dele eu respondi:
Sua mãe vai ser operada, não precisa se preocupar com a grana que o dinheiro da rifa deu para pagar tudo e ainda sobrou algum pra gente comemorar a saúde dela.
Ele me abraçou tão forte que eu fiquei sem ar rs.
Senti as lagrimas dele escorrerem por entre meu ombro direito.
Foi a melhor forma de agradecimento que eu poderia receber de alguém.
Ocorreu tudo bem e ela ficou internada por dez dias num quarto só dela, com TV a cabo e tudo mais.
No último dia ela me ligou, eu não reconheci o numero e atendi rapidamente pensando que poderia ser algo grave ou sei lá.
Ela queria falar comigo e eu pedi saída do trabalho e fui até a clínica.
Quando cheguei lá suas malas estavam prontas e uma enfermeira a ajudava com suas coisas.
Pediu que a enfermeira saísse, sentou se na cadeira de rodas e pediu que eu também o fizesse.
Sentei e esperei.
Ela disse:
Eu e meu filho estamos gratos a você por tudo que fez nesses poucos meses que nôs conhecemos.
Você é um rapaz maravilhoso, especial e eu não sei de que forma eu vou poder te pagar por tudo isso.
Eu só quero que saiba que já se tornou um filho para mim e daqui pra frente o que tiver que ser, será.
Sei da sua opção, sei do amor que carrega por meu filho e sei o peso de tanta responsabilidade perante os outros.
Assim como eu até agora prezei pela felicidade dele, desde que você entrou em nossas vidas eu passei a orar por você também.
E não importa o que você é, o que você gosta, o que faz da sua vida.
Eu quero que saiba que a minha casa esta de portas abertas para você.
Ela me disse aquelas coisas com os olhinhos cheios de lágrimas.
Eu fiquei desorientado com tanta informação, tudo bem dela saber da minha opção, mas que eu amava o filho?
Eu nunca falei nada daquilo para ninguém, que resolvi perguntar.
Ela sorriu e disse:
Seu olhar, seu sorriso, seu jeito de falar e o cuidado que tem com ele, não precisou que alguém viesse me dizer, você próprio me contou rs.
Fiquei extremamente sem jeito, envergonhado e sem saber o que fazer.
Levantei da poltrona e a levei para casa.
Aquele seria um dia para se comemorar.
Comentem por gentileza?