Confesso que me assustei. De repente comecei a ouvir risadas, me virei pra trás e adivinha quem tava lá? Todo o grupinho da Clara e do Nicolas, meu irmão nem a Betani estavam. E naquele momento todos já estavam rindo da minha cara, confesso que não pude conter a lágrimas, comecei a chorar alí mesmo. Como fui cair nessa? Nicolas foi se aproximando de mim.
- Acha mesmo que alguém um dia iria te querer moleque? - Nicolas ria sem parar. Clara foi se aproximando de Nicolas e abraçou o mesmo por trás.
- As pessoas tem nojo de você garoto, olha como você se veste, olha teu cabelo. - Dessa vez as lágrimas que escorriam sobre meu rosto já eram diversas. Abaixei a cabeça e endireitei meu óculos, por um lado eles tinham razão. Ninguém nunca vai gostar de mim. Pude ouvir uma voz vindo la do fundo, era um dos babacas que estavam com eles.
- O nerdizinho tá chorando, olha... Vai lá reclamar com o papai.
- Todo mundo começou a rir e gritar "CHORÃO". Dessa vez não deu pra aguentar, e nem segurar. Saí correndo dali sem pensar duas vezes, nunca fui tão humilhado em toda minha vida, não dava pra ficar mais naquele local. Fui correndo pra saída da escola, Betani e Rael estavam conversando na porta da escola, Betani tentou vir correndo atrás de mim.. Só que Rael a segurou impedindo-a de vir. Única coisa que eu queria naquela hora era sair correndo daquele lugar e ir direto pra minha casa, me isolar de tudo e de todos assim eu me sentia bem.. As pessoas ferem as outras. E dói, isso tudo dói. Pra minha sorte, tinha um táxi passando bem em frente a minha escola dei sinal e o taxista parou. Entrei no táxi e dei o endereço pra ele, sem conseguir falar muito por conta do nervosismo mas dei. Eu não parava de chorar, chorava de soluçar se eu pudesse nunca mais colocava o pé naquela escola. Não demorou muito e o taxista me deixou na porta de casa, paguei o mesmo.. Dessa vez eu já chorava menos, entrei pra casa com bastante pressa e fui direto pro quarto. Não tinha ninguém em casa mesmo. Taquei minhas coisas em cima do PUFF que tinha no canto e me joguei na cama. Aí sim eu desabei, nunca chorei tanto na minha vida, nunca passei por tanta humilhação como passei hoje. Eu nunca mais coloco o pé naquela escola. Nunca mais. Eu não sabia o que fazer, só chorar e chorar.. E no meio desse choro todo acabei pegando no sono. Dormi bastante, acordei já estava quase escurecendo. Foi meio que um modo de fugir da realidade, pena que acabou em poucas horas. Me levantei arrumei o meu óculos e fui direto em direção ao banheiro, tomei um banho bem demorado...
Aquele banho parecia que tava limpando minha alma. Depois de alguns minutos sai do banho e voltei pro quarto. Coloquei uma roupa de dormir e voltei pra minha cama, algumas vezes a empregada ia lá me oferecer algo pra comer, mas eu não queria. Tava sem fome, sem ânimo pra qualquer coisa. Passei o resto do dia assim, deitado... Algumas vezes mexi no meu notebook, mas foi só pra olhar o Tumblr, lá é onde eu desabafo todas as minhas dores. 22:00h minha mãe já chegou e provavelmente ela deve está cansada, por isso nem veio aqui no quarto. Me levantei pra tomar mais um banho pra dormir e fiquei alguns minutos em pé no banheiro me olhando no espelho. Tirei o óculos, bagunçei meu cabelo e fiquei me olhando ou tentando olhar né? Mesmo que fosse embaçado. Será que seria mais bonito se fosse assim? Fiquei alí por mais alguns segundos e atrapalhei meus pensamentos e fui direto pro banho, tomei um banho rápido em seguida escovei os meus dentes e novamente coloquei uma roupa de dormir. Voltei pro quarto e me deitei, peguei no sono novamente.. Dormi que é uma beleza, mas isso não impedia que eu ainda estivesse chateado com aquela história de mais cedo da biblioteca.
Acordei no dia seguinte com alguém me cutucando, não conseguia enxergar pois tava sem óculos.
- Acorda filho, acho que você tá atrasado pra escola. - Disse minha mãe.
- Bom dia mamãe, que horas tem? - Eu disse enquanto pegava meu óculos em cima do criado-mudo e colocava.
- Vai dar oito horas da manhã já filho. - Nessa hora que veio tudo na minha cabeça novamente, não. Eu não posso ir na escola, mas minha mãe não vai me deixar faltar.. Não sei que desculpa inventar.. Que droga, ah já sei..
- Ah mãe. Não vou na aula hoje.
- Ah, mas vai sim. O que é isso agora?
- É que... - guaguejei - é que tô meio resfriado mamãe. - Forcei uma torcezinha - Não vai dar pra eu ir na aula hoje.
- Nossa Juan, você nunca foi de faltar aula. Mas já que não tá bem, tudo bem... Fica em casa, mas certeza que é só isso?
- Tenho mãe, tá tudo bem... Ou quase tudo bem tirando esse resfriado. - Forcei outra torce. Eu não ia contar aquilo tudo pra minha mãe.. Não mesmo. Mas mãe é mãe né? ela percebeu que eu não tava bem apenas pelos meus olhos. Minha mãe despediu-se de mim dizendo que tinha que ir pro trabalho e foi isso que ela fez, deu um beijo no meu rosto e foi. Continuei deitado mais um pouco alí, até cochilar por alguns minutos, não sei que sono é esse.. Mas de qualquer forma, tá sendo uma ótima coisa pra fugir da realidade. Fiquei o dia inteiro deitado, no computador. Mas um dia sem comer, eu sabia que aquilo me fazia mal.. Mas ainda tava sem ânimo pra nada. Fiquei a semana inteira sem ir pra escola, todos os dias era uma desculpa diferente pra mamãe. O fim de semana foi a mesma coisa, nunca tive programas mesmo. Domingo a tarde, não tinha nada pra fazer mesmo resolvi ir dar um mergulho na piscina daqui de casa, faz séculos que não faço isso, coloquei uma bermuda larga por cima da sunga e uma camiseta pra que ninguém pudesse me ver sem camisa. Coloquei meu óculos e peguei meu celular. Peguei um livro pra ler enquanto estivesse lá e desci parecia não ter ninguém em casa.
- Mãe? A senhora tá por aqui? - Queria confirmar, se ela tivesse iria chamar pra ir comigo, mas já que não tá. Vou ir sozinho mesmo. Fui saindo de casa e indo em direção a piscina que ficava bem atrás de casa. Tirei a bermuda e a camiseta revelando meu corpo pálido e a pele lisa e macia. Coloquei meu celular e o livro em cima da mesinha e me sentei na beirada da piscina, tirei meu óculos e minha visão tava bem menos embaçada.. Esses últimos dois dias minha visão tem amanhecido bem menos embaçada, de 2 em 2 meses tenho que ir no oftalmologista pra ver quanto tempo ainda preciso usar óculos. Já uso esse aqui a 10 anos. Esse é o mês de ir lá. Mas bom, aqui não é lugar de ficar pensando sobre isso. Apoiei minhas mãos na beirada onde estava sentada e fiz impulso fazendo com que caísse levemente dentro da piscina. Dei um mergulho e confesso que água tava bem gelada. Ouvi meu celular tocar, era som de mensagem. Saí da piscina e fui lá pra ver o que era, nunca recebi mensagens a num ser da minha mãe ou da operadora. Sequei minhas mãos na toalha que tava pendurada na cadeira. Ouvi barulho dentro da casa, quando virei Nicolas estava parado olhando pra mim. Meu corpo gelou, fiquei paralisado, mas ele não pareceu notar e seguiu seu caminho pro quarto de Rael. Quando me recuperei olhei meu celular e vi a mensagem de um número desconhecido: