Três Formas de Amar – Capítulo 38
- Você quer me matar do coração? – quase dei um grito.
Rodrigo gargalhava, segurando uma garrafa de vinho, enquanto eu ainda recobrava o fôlego:
- O que você tá fazendo aqui?
- Você achou mesmo que eu ia te deixar aqui sozinho depois do seu último dia de trabalho?
- Não precisava Rodrigo, sério...
- Shhh... – ele me interrompeu impaciente – Depois você tenta me convencer disso. Abre logo essa porta que tem horas que eu tô aqui sentado, quase mijando nas calças. Vai, pelo amor de Deus!
Destranquei a entrada do apartamento e ele saiu correndo para o banheiro, me fazendo rir.
- Que horas você chegou? – indaguei, sentando no sofá.
- Vim direto do aeroporto, queria fazer uma surpresa. Te prenderam lá na agência? – ele gritou do banheiro.
- Não, o pessoal fez uma despedida surpresa. Ficamos lá conversando.
- Hum, saquei... – ouvi um barulho de descarga e torneira abrindo – Então deu tudo certo, né?
- Sim, acho que sim. Foi tudo tranquilo.
- Marcelo comentou alguma coisa?
- Não me bati com ele em nenhum momento dessa semana, acredite. Acho que ele se sentiu um pouco traído.
- Hipócrita imbecil... – Rodrigo já estava de volta à sala, procurando duas taças para o vinho.
- Complementando, e seu cliente... – ri, apontando para o armário.
- O que não faz dele menos hipócrita.
- Concordo.
Rodrigo voltou, me entregou os copos, estourou o vinho e nos serviu, deixando a garrafa na pequena mesa de centro. Olhou pra mim com um sorriso encantador e levantou:
- Ao próximo passo!
Brindei, entrando na brincadeira e bebi um gole generoso do vinho tinto. Um pouco quente, mas delicioso, diga-se de passagem.
- E qual seria o próximo passo? – provoquei.
Rodrigo pensou no que dizer por um breve momento, e prosseguiu:
- Bom, já mandei o seu currículo pra um monte de gente. Agora a gente bebe para comemorar o fato de que não precisamos mais esconder porra nenhuma de ninguém, eu tiro a minha camisa, vou aí tirar a sua, te dou uns amassos, a gente dorme agarrado, e amanhã terminamos de montar o seu portfólio... E aí, é um bom plano?
- Hum, não sei... – ponderei – Acho um pouco injusto você tirar só a camisa.
- Seu sacana, vem cá!
Rodrigo deixou a taça ao lado da garrafa, e partiu para o ataque, me fazendo cócegas na barriga. Contorcia-me no sofá, sem querer me dar por vencido:
- Para, você vai derramar vinho no sofá, e não vai ser legal – clamava aos risos.
Pacientemente, ele tirou o vinho das minhas mãos, livrou-se da camisa, e sentou no meu colo. Olhou nos meus olhos e ficou me admirando, enquanto alisava os meus cabelos:
- Só faz três dias que a gente não se vê, mas parece uma eternidade, né?
Concordei com a cabeça, puxando-o para um beijo demorado. Sugava sua língua com vontade e mordia os seus lábios, roçando o meu queixo na sua barba que já ameaçava crescer. Senti minha camisa sendo puxada com urgência, deixando o meu peitoral nu. Minhas mãos moldavam a sua cintura e poderia passar a noite inteira daquele jeito, mas logo notei ele se afastar, ficando em pé. Mantinha o olhar fixo no dele, e lentamente segui os seus movimentos. Aquele caminho vermelho no seu abdome me levava a um único lugar, aguardando que eu chegasse para desabotoar a calça. O som do zíper se abrindo tinha um teor erótico para mim que aumentava os meus batimentos cardíacos. Inclinei-me para frente, puxando a sua calça de vez junto com a cueca, fazendo o seu membro balançar duro na minha frente. Suspirei, em silêncio. Voltei o meu olhar ao seu e repeti o processo, desabotoando a minha roupa e inclinando a minha pélvis para cima, à espera da sua ajuda. Rodrigo puxou com força, fazendo o meu pau bater na barriga, arrancando-lhe um sorriso sensual. Mantinha-me sentado no sofá, aguardando o seu próximo passo.
Terminei de me despir com os pés, enquanto Rodrigo bebia outro gole de vinho, direto da garrafa. Seguiu em minha direção e voltou a sentar no meu colo. Ávidos, voltamos ao beijo inicial, dessa vez sentindo todo o calor dos nossos corpos. Minhas mãos desceram para a sua cintura e enlaçaram-na até chegar à sua bunda. Puxei-o ainda mais para mim, fazendo nossos paus se encontrarem. A mão de Rodrigo os unia, apertando-os com força e elevando o meu tesão a outro nível. Não escondi um gemido, ainda acanhado.
- Você não tem ideia do quanto eu senti falta disso – ele sussurrou no meu ouvido.
- É? Então vem... – respondi de um jeito totalmente sem vergonha.
Rodrigo voltou a sorrir e suspendeu o corpo, deixando a sua rola na altura do meu peito. Era a minha deixa. Passei saliva na mão com a língua, e lubrifiquei o meu pau, posicionando-o para a sua descida. Rodrigo começou a se movimentar, mas pedi que ele esperasse. Abocanhei o seu pau, aproveitando a sua proximidade, e engoli até aonde conseguia, arrancando um gemido alto da sua boca. Voltei lentamente passeando com a língua por ele, também o deixando molhado.
- Agora sim... – sorri.
Rodrigo voltou a sentar e logo senti o contato com a abertura do seu cu.
- Tem certeza que não quer um lubrificante?
Rodrigo fechou os olhos, me deixando sem resposta. Repousei minhas mãos no sofá e aguardei paciente. Aos poucos, meu pau se moldava à sua entrada e era engolido pelo calor gostoso do seu interior. Fechei os olhos também em estado máximo de excitação, até sentir os meus pelos roçarem nas polpas da sua bunda. Seus joelhos alinharam-se às minhas coxas e ele soltou a respiração, voltando a abrir os olhos para mim. Fiquei parado por um instante, observando o quão carnal era aquela situação. Rodrigo voltou a me beijar e lentamente, começou a mexer o corpo, ora rebolando, ora me cavalgando.
- Caralho, que delícia... – suspirei.
Minhas mãos voltaram à sua cintura, tentando decifrar os seus atos cadenciados. Aquele espetáculo particular, o vaivém do meu pau totalmente controlado por ele, o ritmo perfeito daquela transa... Tudo parecia me levar a outra dimensão. Cacei a sua pica e comecei uma lenta punheta, fazendo-o inclinar o corpo um pouco para trás, facilitando o meu acesso. Cada vez que Rodrigo mordia o lábio e voltava a arfar com as investidas contra o meu corpo, eu acelerava a masturbação, o que lhe tirava do sério.
- Digo... – deixei escapar o apelido carinhoso – Goza comigo dentro de você – pedi com a respiração entrecortada pela penetração – Eu tô quase lá.
- Caralho Lu... acelera vai! – ele subia e descia freneticamente no meu colo.
Meu braço estava tensionado, dando total atenção à punheta, tão ritmada que fazia seu saco bater pesado próximo ao meu umbigo. Não demorou muito e seu abdome contraiu violentamente, expondo algumas costelas, e senti seu pau inchar na minha mão, ao som de gemidos intensos que anunciavam o seu gozo. Alguns jatos atingiram o meu peito, enquanto outros respingavam na minha barriga. O seu cu apertava a minha pica com tanta força que era impossível segurar o clímax. Gozei segurando ao máximo a sua cintura contra mim, urrando de prazer.
Mantinha minha respiração ofegante, com as mãos alisando a sua bunda:
- Se toda vez que a gente se reencontrar acontecer isso, serei o cara mais feliz do mundo!
Rodrigo riu e me deu um rápido beijo:
- Melhor ainda seria se a gente fizesse isso todos os dias.
- Então fica pra sempre – fiz uma cara de criança pequena querendo doce.
- Engraçadinho – ele me deu um tapinha no braço, ficando desconcertado com a brincadeira.
Empurrei o seu corpo para o sofá, ficando por cima dele, e iniciamos uma nova sessão de beijos quentes.
...
Acordei pelado no meu quarto ao lado do ruivo, com uma leve dor de cabeça. Olhei o celular e já passavam das oito da manhã. “Maldito vinho”. Rodrigo ainda dormia pesadamente. Joguei uma água no rosto, liguei o laptop e comecei a organizar algumas peças publicitárias que tinha criado. Salvei em um pen drive, vesti uma roupa simples e deixei um recado na cama de que iria a uma gráfica rápida. Para quem não entende muito bem o meio publicitário, é muito comum que os profissionais de criação (redatores e diretores de arte) levem os seus trabalhos mais relevantes em entrevistas de emprego. Mais do que um simples currículo, um bom portfólio é a prova da sua capacidade criativa e pode abrir muitas portas.
A gráfica que sempre frequento estava bem movimentada e acabei perdendo um par de horas fazendo algumas impressões. Com o processo concluído, voltei para casa com uma fome fora do normal. Assim que abrir a porta, escutei risadas vindas da cozinha e antes que pudesse concluir qualquer coisa, ouvi a voz do Rodrigo:
- Luciano, é você?
Anunciei a minha chegada e ele complementou:
- Chegou uma visita aqui...
“Visita?”, estranhei. Segui para a cozinha rapidamente, quando escutei uma voz familiar:
- Garanto que ele nem tomou café da manhã ainda...
- Mãe? - fiquei sem reação e o calor que senti denunciava o quanto o meu rosto devia estar vermelho – Quando você chegou?
- Agorinha – ela parou de fritar os ovos e veio me dar um rápido abraço – Fui no mercadinho da esquina com Rodrigo comprar algumas coisas. Pra variar, a geladeira estava vazia.
- Mas você não avisou nada, poderia ter comprado algo...
- Ah, deixe de bobagem – ela me interrompeu – Eu sabia que se falasse você insistiria para não vir. Você sabe que eu fico preocupada – ela voltou ao que estava fazendo - Rodrigo, você pode colocar a mesa para mim, por favor?
- Claro, Dona Catarina – ele seguiu com uma alegria complacente em direção à sala, achando graça da situação.
- Ah... Mãe, esse é o Rodrigo – minha timidez chegou a níveis alarmantes – Ele é...
- Sim, sim, já nos apresentamos, fique tranquilo - ela despejou os ovos numa bandeja, pegou a cesta de pães e caminhou para a mesa – Traga o suco que está na geladeira e venha sentar com a gente.
Bebi um copo d’água para recobrar a consciência, fiz o que ela me pediu e segui ao encontro dos dois.
- Resolveu tudo lá na gráfica? – Rodrigo quebrou o silêncio.
- Acho que sim. Não tenho certeza se colocarei todas as peças no portfólio.
- Vamos te ajudar, fique tranquilo – minha mãe me olhou, sorridente.
Não conseguia acreditar que era assim que eles estavam se conhecendo.
- Deu tudo certo com a viagem para a França? – ela questionou.
- Deu sim, obrigado. De hoje a quinze estarei embarcando.
- Que maravilha. Aproveite!
- Valeu mãe.
- Vai passar o fim de semana aqui em casa, Rodrigo?
- Se não for incomodar a senhora, sim. Vim devolver o meu apartamento e ajudar o Luciano a se preparar para possíveis entrevistas.
- Meu filho, deixe eu te explicar uma coisa: a senhora está no céu. E nunca será incômodo nenhum ter você aqui.
Terminamos de comer e Rodrigo me ajudou a retirar os pratos, enquanto minha mãe levava uma pequena mala de mão para o seu antigo quarto.
- Por favor, diga que você já estava vestido... – comecei a lavar os copos rapidamente.
- Hum, a porta estava fechada e tinha um aviso preso.
- Hein? Eu não deixei...
- Vocês tem alguma programação? – minha mãe interrompeu novamente.
- Eu só preciso resolver essas burocracias da minha mudança, Dona Catarina. Depois estou livre. A senhora deseja fazer algo?
- Me chame de senhora novamente e iremos rezar na igreja – eles riram juntos – Podemos ir à praia, o que acham?
Não sabia ao certo como lidar com aquela interação familiar. Ainda estava atordoado.
- Hum, seria uma boa ideia, mas eu não trouxe nenhuma roupa de banho.
- Eu garanto que alguma do Luciano vai servir. Vamos amanhã! Não marquem nada.
“Deus do céu, acabe logo com esse fim de semana”, supliquei em pensamento.
...
Passamos boa parte da tarde escolhendo as melhores impressões. Rodrigo olhava tudo com um critério mais técnico e minha mãe opinava o que achava mais criativo. Depois, atualizei um site que mantinha com essas peças. Fazia anos que não o alimentava. Corrigi alguns dados e anexei o novo currículo, era importante para as empresas que me chamassem já tivessem uma ideia prévia do meu trabalho.
Pouco tempo depois, Rodrigo nos deixou para devolver o apartamento. Avisei a ele que iria ficar, mas que poderia ir com o meu carro. Precisava conversar melhor com a minha mãe. Segui para o seu quarto, onde ela descansava enquanto lia um livro.
- Oi, posso falar com você? – Bati na porta me aproximando.
- Claro filho! Entra... – me chamou para a cama.
- Desculpa não ter te avisado sobre isso tudo.
- Isso o que?
- Eu ter voltado com o Rodrigo, ele ter se mudado, vocês se conhecerem assim...
- Que bobagem, Luciano – ela fechou o livro, sentando-se – Fiquei feliz em saber que sua vida pessoal está voltando ao normal. Isso tem que vir em primeiro lugar e me alegra ver que você percebeu isso a tempo. Trabalho nenhum do mundo vale o nosso bem-estar.
- O Rodrigo disse que tinha um aviso na porta...
- Ah, eu só não queria deixa-lo constrangido – ela me cortou – Quando cheguei ele estava dormindo na cama, sem nenhuma roupa. Achei melhor fechar a porta e deixar um aviso para quando acordasse.
- Meu Deus, que pesadelo...
- Pensem pelo lado positivo. Não vi muita coisa, mas já percebi que ele é bonitão.
- Para mãe, você só tá piorando!
- E vocês podem guardar o recado que deixei de recordação, foi um momento único.
Era impossível não acompanhar a sua risada. Antes que a vergonha voltasse a imperar, ela completou.
- Mas me diga, você tá feliz?
Olhei timidamente pra ela:
- Muito, mãe. Acho que finalmente as coisas certas estão começando a acontecer.
- Então, viva! É isso que importa. Vem cá... – e me puxou para um abraço cheio de cafunés.
...
Jantamos em um restaurante italiano, conversando animadamente sobre o que parecia ser o assunto do momento: o nosso namoro. Minha mãe procurava detalhes da vida de Rodrigo, e ele procurava responder calmamente, deixando-a a par de tudo. Na hora de dormir, já estava considerando levar um lençol para me acomodar no sofá, mas ela insistiu que ficássemos os dois no mesmo quarto, afinal todos ali eram adultos. Fechei a porta, encontrando o aviso que ela tinha deixado preso com uma fita adesiva:
- “Bom dia! Sou a mãe do Luciano e estou em casa. Para que ninguém acabe tomando um susto desnecessário, vista-se e encontre-me na cozinha. Se precisar de algo, pode me chamar!”
Olhei para a cara de Rodrigo e começamos a rir:
- Você poderia ter me ligado – retruquei.
- Eu achei que fosse alguma brincadeira sua, juro!
- E o que você fez?
- Pelo sim ou pelo não, me enrolei no lençol e fui para a sala, porque a minha mochila estava lá. Aí vi que era verdade...
Gargalhava ainda mais alto, imaginando a situação.
- Não tem graça, palhaço. Expliquei a ela, pedi desculpas e fui para o banheiro, procurando uma janela para me jogar.
Ainda não tinha recobrado o fôlego.
- Só depois voltei e ela se apresentou, pedindo que eu fizesse companhia nas compras. Sua mãe é muito gente boa.
- É sim... Vem, vamos dormir. Vai ficar aí em pé?
- Eu não trouxe pijama, não esperava visitas. Me empresta um.
- Deixa de besteira, Murilão. A porta tá fechada, pode ficar só de cueca.
Rodrigo se despiu e ficou coberto num canto da cama, totalmente acanhado. Belisquei seu pau de brincadeira e o puxei para mim, abraçando-o.
...
No fim das contas, o nosso domingo foi bastante movimentado. Aproveitamos o dia ensolarado, fomos para a praia cedo e ficamos jogando conversa fora. Rodrigo contou um pouco sobre a sua família e prometeu levar a minha mãe para conhecer Minas Gerais, deixando-a encantada. Almoçamos, passeamos pelo Litoral Norte e no começo da noite, levamos Zé Sarda ao aeroporto. Ele agradeceu a hospitalidade e minha mãe agradeceu a companhia. Se tivesse planejado, não teria sido tão bom.
A semana começava arrastada e tinha tudo para ser bastante entediante. Passei rapidamente na agência para pegar o meu pagamento, dar um oi para o pessoal e acertar os detalhes finais da viagem com Antônio e Bruno, já que só nos encontraríamos novamente na hora do embarque. Marcelo viajaria um dia antes com o meu ex-chefe, e eu iria com o meu colega na manhã seguinte, uma sexta. Ainda preocupada com o meu ócio, minha mãe decidiu passar a semana comigo, o que me pareceu reconfortante.
Na terça, estava pesquisando algumas vagas de emprego, quando percebi duas mensagens na minha caixa de entrada. Eram duas agências respondendo a uma solicitação de entrevista para um cargo na área de redação. Minha euforia inicial deu lugar à indagação ao me dar conta que eram empresas de São Paulo. Uma delas, inclusive, era uma das mais renomadas do país. Estava em choque, e já com o celular em mãos, discando para quem eu imaginava ser o responsável por isso:
- Oi gigante!
- Oi espertinho... – cortei a sua animação.
- O que foi Lu?
- Não sabia que os seus contatos em Salvador moravam em São Paulo...
- Alguém já respondeu? – ele parecia surpreso.
- Rodrigo...
- Ok, espera. Em minha defesa, eu também mandei para contatos de Salvador. Por desencargo, pedi umas indicações pro pessoal daqui e mandei. Quem te respondeu?
Citei os nomes, com ênfase na de grande porte.
- Uau! Sabe o que isso significa, Lu? Que você é foda o suficiente para entrar em qualquer agência. Pense nisso.
- Você jura que não fez isso de propósito? – estava sério.
- Claro que fiz! Fale sério, gigante. Você morando perto do seu namorado, ganhando uma puta grana e tendo reconhecimento profissional. Tudo que eu sempre quis, tudo o que você sempre quis.
Fiquei em silêncio.
-Mas ó... – ele completou – Não quis te forçar a nada não. Se você achar que é melhor não, basta responder agradecendo e declinar da possibilidade, ué!
- Vou pensar sobre e te ligo mais tarde.
- Beleza, vá me avisando se receber mais algum e-mail.
Desliguei, pensativo. Era uma chance, ele estava certo. Não me via morando em outro estado, mas talvez fosse o momento de pensar além. Fiquei remoendo a ideia na minha cabeça e procurei um conselho materno.
- Vamos pelo lado mais prático – ela começou – O que não te faria ir?
- Hum... – analisei por um breve instante – Você, amigos, o vôlei...
- Eu não vou ficar aqui para sempre, então isso não conta. Você já mora só. Os amigos podem entender perfeitamente e o vôlei você pode entrar em um time lá. Agora, o que te faria ir?
- Dinheiro, crescimento... Rodrigo – respondi sem titubear.
- Acho que você já sabe a resposta, certo? Tudo é experiência, Luciano. O apartamento não vai fugir. Se não der certo, você volta.
“Droga...”, não queria, mas concordei com a cabeça.
...
Na quarta-feira fui a uma entrevista em uma agência próxima a que trabalhava. O ambiente era legal, o salário nem tanto. Fiquei de analisar para retornar novamente. Na quinta, movido pela animação da minha dupla dinâmica, fui para São Paulo, após ter combinado as duas entrevistas respondendo aos e-mails que recebi. Cheguei à noite e Rodrigo não escondia a empolgação. Mostrou-me o local das duas agências, caso eu me perdesse e seguimos para o seu apartamento. Não era tão grande como o de Salvador, mas lhe servia bem. Era impossível esconder a ansiedade e ele fazia de tudo para me tranquilizar.
No dia seguinte, segui para os meus compromissos. A primeira parada me pareceu uma ótima oportunidade. Apesar de toda a formalidade, tinha ótimos clientes e uma boa remuneração. O problema é que era bem longe de tudo que eu conhecia por ali. Ainda assim, demonstrei interesse e eles ficaram de avaliar. A segunda agência, bom, era um verdadeiro paraíso. O tipo de lugar que todo publicitário sonha trabalhar. Fui bem recepcionado no local e a pessoa que me entrevistou fez questão que eu conhecesse toda a empresa. Foi um verdadeiro tour. Apresentei o meu portfólio, contei um pouco da minha experiência e do meu desejo de experimentar novos ares. Responderam-me com total sinceridade que havia dois cargos para o que eu pretendia, mas que outras pessoas ainda seriam entrevistadas. Agradeci, feliz por estar sendo considerado, e voltei ao apartamento de Rodrigo, sem muitas expectativas.
Assim que ele chegou, perguntou curioso sobre o meu dia. Falei das minhas impressões e de como achei as duas empresas interessantes.
- Mas... – ele completou, me fitando.
- Mas... – ri do seu jeito afobado – Eu acho muito difícil que dê em algo. São cargos concorridos, tem muita gente no páreo. Enfim, vou esperar.
Não era o poço da animação, confesso.
- Meu questionamento é: se alguma te chamar, o que você vai fazer?
- Se – dei ênfase ao “se” – alguma responder, eu acho que aceitaria sim. Precisaria alugar um apartamento, pesquisar algumas coisas, mas a remuneração compensa.
- Então acredita, Lu! Vai acontecer, eu tenho certeza.
- Vamos aguardar...
Terminei aproveitando a excursão e passei o fim de semana com ele. Colocamos o papo, o namoro e o sexo em dia. E dessa vez sem interrupções. Os programas turísticos pela cidade poderiam ficar para depois.
...
Uma semana depois:
O dia da viagem chegou e não recebi nenhuma resposta. Meu futuro profissional ainda era uma interrogação. Já tinha deixado o assunto um pouco de lado e planejava retomar as minhas buscas em Salvador, assim que retornasse na segunda-feira. Minha mãe me deixou no aeroporto e me avisou que retornaria para o interior na manhã seguinte, a tempo de participar de alguns eventos familiares. Agradeci por tudo e avisei que ligaria assim que chegasse ao hotel.
Antônio já estava me esperando e, após o check-in, ficamos conversando no portão de embarque:
- E aí Toneco, tudo bem por lá? – procurei desenvolver algum assunto.
- Mais ou menos. Sua vaga ainda não foi preenchida, acredite.
- Sério?
- Aham – balbuciou - Minha dupla vive reclamando da sobrecarga de trabalho. Tem algumas semanas que a gente vive saindo tarde da agência. Bruno também tá bem estressado.
- Nossa, que chato.
- Aliás, ele me confidenciou a conversa que teve com Marcelo. Que cara babaca...
- Olhe os modos, ele é seu chefe – ri.
- Eu sei, mas foi muito desnecessário.
- Deixa essa história pra lá. Já tô em outra – desconversei – Aliás, vai ser bem interessante encontrar o Marcelo nessa viagem.
- E você? Algo em vista já? – ele indagou.
- Ainda não. Recebi algumas propostas, mas nada que me interessasse por enquanto – preferi não falar sobre as possibilidades.
Fomos interrompidos pelo anúncio de embarque e seguimos para o avião. O voo foi bem cansativo. Antônio apagou, mas eu não conseguia parar de pensar que precisava voltar a trabalhar, e logo. Consegui me distrair com alguns filmes e dormi na metade final da viagem. Fizemos uma breve conexão em Paris e seguimos para Nice, onde um ônibus turístico nos aguardava para Cannes, junto com uma enorme quantidade de visitantes vindos de todo canto do mundo. Apesar de exausto, observava todo o cenário à nossa volta, estava deslumbrado. Quando chegamos ao hotel, a sexta-feira já anoitecia e o saguão estava fervilhando de gente pronta para a balada. Dei o meu passaporte para que averiguassem a reserva e percebi que ficaríamos em quartos separados ao receber duas chaves.
- Acho que alguém vai conseguir ter um momento mais íntimo com o chefe – brinquei com Antônio.
Perguntaram se estávamos ali pelo festival de publicidade e, ao confirmar, recebemos um folheto com a programação completa do evento. Seguimos para os nossos aposentos, que ficavam um ao lado do outro. O hotel era muito bacana, nada luxuoso, mas além das minhas expectativas. Empolguei-me ainda mais ao perceber o quanto o meu quarto era espaçoso. Avisei a Rodrigo e minha mãe sobre a minha chegada, mas não obtive retorno. “A internet deve estar congestionada”, pensei. Segui ao encontro de Antônio e, aproveitando o tempo ainda livre, resolvemos ir ao restaurante do hotel, para em seguida visitar o pavilhão do festival que ficava bem próximo de onde estávamos.
Já alimentados, analisamos a programação e combinamos em quais workshops faríamos inscrições. Alguns brasileiros que estavam no saguão deram a dica de aproveitar que ainda estavam acontecendo palestras e fazer logo o credenciamento do evento. Muitas pessoas chegariam ao sábado pela manhã, e a movimentação seria grande. Acatamos a ideia.
O local do festival era imenso e eu não conseguia esconder a felicidade de estar ali. Recebemos crachás com os nossos nomes e identificação, ficamos passeando pelo local fazendo um breve reconhecimento e resolvemos voltar para o hotel. Os restaurantes nas ruas estavam cheios e a noite parecia bem animada, mas o cansaço estava falando mais alto.
...
Na manhã seguinte, Antônio bateu cedo na minha porta, me chamando para o café da manhã. Arrumei-me rapidamente e desci ainda sonolento. Bruno estava sentado em uma mesa com Marcelo e acenou. Cumprimentei ambos, apesar da receptividade fria do dono da agência, e comecei a olhar o entorno em busca de uma mesa vazia. Bruno insistiu para que sentássemos juntos e acabei me dando por vencido. Ficamos conversando alguns minutos e comecei a notar meu ex-chefe bastante inquieto, perdendo a cor no rosto. Não entendi o que estava acontecendo, até sentir uma mão no meu ombro:
- Bom dia, senhores! Posso me sentar com vocês?
Precisei me certificar de que aquela voz grossa realmente vinha da montanha ruiva que estava atrás de mim, deixando todos sem reação.
(continua)
...
Oi pessoal! Lá vamos nós com mais um capítulo saindo direto do forno! Docinho, adoro as suas mensagens, obrigado pela torcida constante! MrLuc, nossa, que mente fértil hein (hehehe)? KaduNascimento, vontade não faltou, mas acredite, respondi à altura! Talys e GatoPEBR, obrigado pelos comentários sempre elogiosos! Irish, o fiel leitor que comenta desde o início (rs), valeu pelo incentivo! Plutão, mais uma vez obrigado pela leitura assídua! Guigo1, pois é, trabalho é algo que você precisa nutrir, e gostar, senão é um fardo! Respondendo à sua pergunta, o meu e-mail (caso alguém também deseje trocar uma ideia) é peu_lu@outlook.com! Mais uma vez, agradeço demais todos os votos e comentários. O apoio de vocês é fundamental. Até o próximo capítulo! Abração!