Eldorado - 02

Um conto erótico de marvo
Categoria: Homossexual
Contém 2244 palavras
Data: 25/04/2015 02:03:36
Assuntos: Gay, Homossexual, Segredos

- Isso será nosso segredinho...

- Isso será nosso segredinho...

- Esse será nosso outro segredinho benzinho...

- Nosso segredinho, só nosso...

Acordei com a camisa grudada no corpo de suor, como se fosse uma segunda pele. O ar estava quente naquela manhã, minha respiração estava acelerada, faziam a meses que aquelas palavras não me assombravam e que essas lembranças não me perturbavam. Ao olhar pela janela, via-se uma manhã, onde o sol já fazia seu trabalho.

Peguei o celular, o relógio marcava 09:27 da manhã, levei as mãos a cabeça no intuito de arrumar meu o cabelo que assim como minhas roupas estavam encharcado de suor, não lembrava que a cidade era tão quente como estava naquela manhã, levantei da cama indo em direção ao banheiro com enorme desejo de nunca mais sair de baixo do chuveiro.

Depois de alguns minutos embaixo da água gelada, já prontamente arrumado e com um cheiro muito mais agradável. Encarei meu reflexo no espelho, a imagem que nele refletia me agradava, é claro que algumas imperfeições que incomodavam, mas nada de muita importância. Nada era como antes.

Filho caçula de um casal de médicos bem-sucedidos de linhagem germânica, ótimo filho, excelente aluno, bonito, um futuro promissor, herdeiro do hospital da cidade e muito mais. Alguns diziam “o garoto perfeito”, outros “só mais um riquinho da cidade”, alguns “destetável” “esnobe” “falso”, mas seus pais acharam o termo perfeito para o classificar: “Exemplar”.

Isso, exatamente isso, eu era o “Garoto Exemplar” da pequena cidade de Eldorado. Só que agora parado em frente ao espelho, nem de longe a imagem refletida se parece com esse tal “Garoto Exemplar”. Dois anos se passaram desde que tudo aconteceu, dois anos que o vento da liberdade soprou em meus ouvidos, três anos desde que todos os segredos vieram à tona, três anos desde que tudo começou, três miseráveis anos desde que descobri que.....

TOC TOC

- Henry – era Helô – posso entrar ?

- Claro – respondi abrindo a porta – A casa é sua, esqueceu?

- Nossa casa no momento – sorriu – só vim avisar que você tem visitas!

- Visitas Helô? Como assim visitas, ninguém sabe que estou aqui!

- É parece que isso não é mais segredo – me olhou preocudada – Vem é importante!

Saímos em direção ao corredor que levava a sala. Visitas? Todos os esforços para que ninguém descobrisse e no primeiro dia, já tinha visitas. Mas quem poderia ser? Ninguém além de Heloisa sabia que estava de volta.

Com o coração apertado seguia em direção ao visitante desconhecido, quando de repente sou interrompido e sinto dois braços me envolverem. Dois braços que eu conhecia muito bem, o abraço que tanto me faziam falta. Seu perfume era forte, seu peito era forte, o sentimento de segurança brotando aos poucos. Assim que o reconheci, apertei ainda mais aquele abraço que tanto desejei.

- Vitorio! – o chamei com rosto enterrado em seu peito

- Não precisa falar nada irmãozinho – me apertou em seus braços – Como eu senti tua falta magrelo.

Seu cheiro era bom, era cheiro de segurança, de irmandade e de paz, tudo que eu precisava no momento, prolongaria o abraço por todo eternidade, mas sabia que não éramos os únicos na sala, ao no separarmos do abraço, observo o sorriso que se forma em seu rosto.

- É bom ter você de volta – ele diz beijando o topo da minha cabeça depois sorrindo.

Viro e me deparo com os dois pares de olhos azuis me encarando, tão inexpressivos. Emilia Dunner e Albert Dunner, meus pais, na minha frente, parados lado a lado, como se não acreditassem que diante dos seus olhos estava o seu tão amado caçula, o seu garoto exemplar. Minha mãe dá um passo vacilante ao meu encontro, fico parado sem saber o que fazer, mais um passo e minhas mãos ficam frias, mais passo e não sei se consigo segurar a lagrima que insiste em cair, quando menos espero, sinto seus braços finos me envolverem com força e soluça com força, enquanto eu tento ser forte.

O abraço durou vários minutos, e foi como se tudo tivesse voltado, quando tudo era resolvido com apenas algumas palavras de conforto e seu abraço.

- Como você está querido? – perguntou passando as mãos no corpo – Tem se alimentado bem? Esta tão magrinho!

- Magrinho? – perguntou meu irmão – Ele está maior que eu mamãe. – respondeu nos abraçando.

- Estou ótimo mãe, estou inteiro, não estou?

- Você mudou tanto filho – segurou meu rosto – mas é você mesmo, nem acreditei no que meus olhos viram, você está, tão lindo.

- Ele mudou mãe – meu irmão interrompeu – pessoas mudam, crescem...

- Eu sei, eu sei , só que nem parece o mesmo que saiu daqui qua...

- O que você veio fazer aqui – ate aquele exato momento tinha esquecido que meu pai estava na sala – Achava que não tinha nada aqui nessa cidade que te interessava – dizia com sua voz tão imponente.

- Pai, já conversamos sobre isso – interrompeu mais uma vez meu irmão.

- NÃO ME INTERROMPA VITTORIO – seu grito foi agudo e ecoou pela sala –SÉRIO MESMO GAROTO? DEPOIS DE TUDO QUE VOCÊ FEZ, VOLTA COMO SE TUDO ESTIVESSE BEM – gritava cada vez mais alto – VOCÊ ESTRAGOU TUDO, VOCÊ – apontava o dedo em minha direção – ENTÃO RESOLVA ISSO SOZINHO.

- Pai eu posso explicar – falava enquanto ele andava de um lado pra outro na sala – Eu só quero um tempo pra organizar as coisas.

- E quem disse que eu quero explicações? – perguntou – Te disse que se você saísse da minha casa, deixaria de ser meu filho, isso ainda está valendo – disse friamente.

Tudo que eu tinha planejado estava indo por água abaixo naquela manhã quente de domingo, conversar com os meus pais era das ultimas coisas a se fazer, precisa de tempo pra reformular tudo o que ia dizer, precisa ser exato, sem furos, sem hesitações. Mas tudo saiu do controle. Meu pai me encarava furioso de um lado da sala, minha mãe segurava minha mão como forma de me confortar e meu irmão atrás de mim como um guarda-costas. Precisava ser convincente, escolher as palavras certas, essa a tarefa mais difícil trazer meus pais para os meu lado.

- Eu sei que eu sou a ultima pessoa que você quer falar, mas eu preciso que você me ouça – mais convincente, dizia minha mente – Precisa entender meus motivos – lagrimas rolavam pelo meu rosto – eu pensava cada minuto em voltar quando estava lá – minhas palavras me enjoavam – pai, por favor!

- Albert – disse minha mãe – seja um pouco racional, daqui a pouco a noticia de que ele está de volta se espalha, o que não vão falar ao descobrir que ele está morando aqui, que não deixamos voltar para casa!

Meu pai me encarava, e algo me dizia que ele sabia de algo, é isso, ele sabia de algo e isso me causava medo.

- Você faz o que quiser Emilia, a casa é sua – se dirigiu a porta, mas antes de sair me encarou - Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo – virou e foi embora.

Meu pai sabia, não sei como, mas sabia! Não sei quais as partes, ou o que, mas depois de tudo isso, tinha certeza que ele sabia de algo. Teria que ter cuidado dobrado.

- Ele me odeia – desabafei no sofá – tudo que eu falar não vai adiantar, a senhora viu o jeito que ele me olhou?

- Só dê um tempo a ele querido – aconselhou-me – ele está de cabeça quente, daqui a pouco está melhor. Vitorio, pegue as coisas do seu irmão no quarto, arrume e traga, ele vai voltar conosco pra casa.

- Claro – disse e desapareceu no corredor.

- Poderia te cercar de todas as formas e te encher de perguntas, mas não sei fazer isso, então vou ser direta, porque você voltou?

- Mãe, não quero falar disso aqui, podemos ter essa conversa outro dia.

- Claro que podemos, mas não ache que você vai escapar de responder uma a uma as minhas perguntas.

- Não irei fugir, e falar em pergunta, como vocês souberam que eu estava aqui.

- Seu pai apareceu em casa e disse que precisamos sair e nos trouxe aqui, não sei quem o avisou.

- Cara que mala pesada – interrompeu meu irmão a chegar na sala – mas está tudo aqui! Vamos?

- Espera! Olha mãe, não sei se posso fazer isso, digo, voltar pra casa, papai não me quer por lá.

- A casa é minha Henry, posso fazer o que eu quiser! Você já escapou de mim uma vez, e eu não vou deixar você fazer isso de novo! Leve a mala para o carro Vitorio, e nos espere lá. – meu irmão saiu nos deixando a sós – Sei que você não é mais um garotinho, não posso passar a mão na sua cabeça sempre, mas eu te conheço, aconteceu algo e por isso que você voltou e está precisando de ajuda, sou sua mãe e vou lhe ajudar.

3 anos atrás

- Dá F5 nessa porra de novo – dizia Nick nervoso – Não é possível, eles avisaram que o resultado ia sair 18:00 é já são 18:06.

- Calma amor – passava a mão em suas costas, enquanto mais uma vez o F5 no notebook – essas coisas são assim mesmo, demoram, e relaxa você vai passar!

- Nós vamos passar – me corrigiu – eu e você – me beijou – juntos vamos pra faculdade! Prometemos, você prometeu!

- É claro que vamos, só tenha mais um pouco de calma! Olha a pagina abriu!

Estávamos na casa dele, casa do prefeito vale lembrar, esperávamos o resultado do vestibular. Medicina, tentamos os dois, era algo que ele queria e eu acabei aceitando, era a profissão dos meus pais não sei se era aquilo que eu queria. A verdade é que nada mais fazia sentido, não depois de ontem.

- Você está ouvindo – berrou ao meu lado – Nós passamos amor, passamos!

Passamos, repetia enquanto me abraçava e me levantava do chão, tentei sorrir, parecer feliz, era isso que eu iria fazer daqui pra frente, parecer feliz!

- Você será o medico, mais gato de toda Eldorado – dizia entre beijos – vou ficar com ciúmes.

- Não precisa ficar, tem Doutor Nicolas pra todos – dizia rindo – você ta bem? Nem parece estar feliz com a notícia!

- Estou ótimo! – desconversei – você precisa avisar seus pais, não é mesmo! Se importa de fazer isso sozinho, preciso ir pra casa.

- Combinamos de ficar sozinhos essa tarde, pra comemorar – sorriu malicioso – to com saudades de você.

- Eu sei, mas eu preciso resolver algumas coisas em casa e depois eu volto, preciso avisá-los, que teremos mais um medico na família.

- Tudo bem, vou esperar – me abraçou – temos uma comemoração pra realizar – e me beijou

- Eu te amo – disse colando nossas testas – eu te amo.

Estava morto por dentro e ninguém percebia, meus sorrisos eram falsos, minhas palavras eram falsas. Meu orgulho ferido, minha dignidade despedaçada, as marcas no meu corpo denunciavam que havia algo errado, mas eu não podia falar, pessoas estavam em perigo.

Dias atuais

Enquanto arrumava minhas roupas no closet, colocava cada peça de roupa, como se tivesse colocando cada sonho de volta para seu lugar. Olhava meu quarto observando cada detalhe. Encostei minha testa na parede e depois comecei a socá-la incensáveis vezes até não agüentar mais e desabar no chão.

- AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH – gritei até cansar

- Creio que esses não são gritos de alegria – me assustei com a presença do meu pai.

- Impressão sua papai – encostei a costa na parede e o olhei – e você, creio que não está feliz com a minha volta.

- Não vou entrar nos seus joguinhos, até porque não sei jogá-los!

- Vamos papai, sem rodeios!

- Essa carinha de inocente não me engana mais, você é podre Henry, sabe eu fico me perguntando como você conseguiu me enganar por tanto tempo?

- Talvez porque você seja tão idiota papai! Eu nunca enganei ninguém, você sempre enganou a si próprio, eu não sou o Henry o dos seus livros papai.

- Cada palavra tua, cada gesto, cada expressão agora eu percebo o que você tanto tentou esconder! Você é mau, calculista, mau-caráter, você não tem limites não é mesmo! Deus – levou a cabeça – eu criei um monstro!

-HAHAHAHAHAHAHAHA - o riso ecoou pelo quarto – monstro? Você não sabe do que ta falando!

- Tão mesquinho, tão mimado! VOCÊ TINHA TUDO – berrou – Tudo e estragou porque você fez isso. Eu tenho vergonha de você – agarrou meu pescoço – eu tenho vergonha de você, eu TENHO NOJO DE VOCÊ – cuspiu no meu rosto e saiu me deixando no chão junto aos pedaços da minha dignidade.

Ahhh pai, queria que você soubesse toda verdade!

3 anos atrás

- ME SOLTA, ME LARGA O QUE VOCÊ VAI FAZER!

- Ta com medinho bebe? Cadê aquela tua bravura toda hein?

Não sabia onde estava, tudo era um borrão, tudo que eu conseguia distinguir era o som dos socos e chutes que atingiam meu corpo. Eram socos e mais socos atingindo todo meu corpo, estava deitado agora, em uma poça de sangue, meu sangue!

- Isso - soco – Pra – chute – Você – chute – Aprender – soco – Nunca mais se meter na vida alheia.

Não sentia meu corpo, um dos meus olhos já estavam fechado, minha boca quebrada, sangue e mais sangue.

- Chega, chega,chega – se manifestou o ser que até agora estava sentado em uma poltrona assistindo tudo – Tira a roupa dessa coisa, que agora é minha vez de me divertir.

Ele se aproximou e ficou a me olhar de cima.

-Isso será nosso segredinho...

Esse dia ia ser longo, a tortura continuaria e não sei se conseguiria agüentar, pois se sobreviver, com certeza nunca mais esqueceria o pior dia da minha vida.

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