4 ANOS ATRAS
- O que você está fazendo? – perguntava ele, enquanto o empurrava para dentro da cabine do banheiro da nossa escola – Serio que quer fazer isso aqui?
- E você não quer? – respondi sorrindo, enquanto ele me lançava um olhar reprovador – Ah qual é Nick, vai dizer que nunca se imaginou fazendo isso!
- Dentro de um banheiro? Não mesmo! E para de tentar tirar minhas calças!
- Vamos Nicki – pedi implorando – Sei que você quer também, deixe de ser certinho pelo próximos 10 minutos, vai! – pedi me ajoelhando e baixando suas calças – garanto que você não vai se arrepender!
- AHHHH, tudo bem, você venceu! Sempre vence, mas só 10 minutos estamos perdendo aula de biologia!
- Não se preocupe, vou ter uma aula prática de anatomia humana! E tente não gemer muito alto, estamos no banheiro não se esqueça!
- AHHHHHHHHHH, caralho! – gemeu assim que abocanhei seu membro!
DIAS ATUAIS
Foi como se uma tempestade de lembranças me atingisse no exato momento em que passei em frente á minha escola antiga escola, dentre varias lembranças, as mais especiais e excitantes foram com um certo garoto dos olhos verdes brilhantes e de sorriso idiota!
Mas isso não importa mais!!
Dentro da taxi observava minha cidade, tinha esquecido de como fica bonita nessa época do ano, nesse momento ela nada me lembra da pequena cidade que deixei para trás há dois anos!
Vamos falar da minha pequena e pacata cidade! Tão pequena que chega ser irritante, tão pequena que não ficaria surpreso se metade da cidade fossem parentes!
Tão pacata, que os principais eventos são os encontros que o querido prefeito marcava em sua enorme mansão, encontros de sorrisos forçados, de falsas preocupações, falsos elogios!
Cada “Como você esta querido?” era acompanhado de um olhar inquisidor, de um sorriso falso! AHHHHHHH, como eu odeio essas pessoas, mas nunca poderia dizer isso, tinha que responder como o mesmo sorriso falso “Estou ótimo! E você?” .
Nada podia estragar a “harmonia” da nossa bela cidade, a melhor qualidade de vida era nossa, dentre todos as outras cidades do estado! Ótimos hospitais, as melhores escolas, o menor índice de violência e muito mais! Tudo isso era o orgulho da população, e faziam de tudo pra preservar nossa preciosa cidade!
Tudo era perfeito ali, quase tudo!
99,99999% era perfeito, menos EU!
- Algum problema? – perguntei ao taxista ao perceber que me olhava pelo retrovisor do taxi!
- Você não é o filho dos Dunner?
- Não! Você deve estar se confundindo com alguém!
- Não estou não – e virou e me encarou enquanto parávamos no sinal – impossível confundir você! É você sim, o garoto dos livros! O garoEu não sou ninguém – respondi o interrompendo – Ficaria muito grato se continuássemos a viagem sem tocar nesse assunto!
- Então é você mesmo! – respondeu sorrindo.
Continuamos a viajem sem muitas delongas! ARGGG, cidade pequena, todo mundo conhecia todo mundo! Nesse exato momento, estamos passando pela grande igreja da cidade, perto da praça principal! Me aproximei mais da janela ao perceber que havia certa movimentação na igreja!
- O que está acontecendo?
- Casamento da filha mais nova dos Ditcum! Hoje é o grande dia da junção das familias Bragança e Ditcum – respondeu ironicamente!
- Um dos filhos do prefeito está casando? Por acaso é o Nico...
- Nicolas? Não se preocupe não é ele, é o Gustavo! – respondeu continuando a corrida – ficou preocupado caso fosse ele? – fez uma pausa e me encarou mais uma vez – ahh, e não me faça essa cara! Todo mundo sabe.
- Todo mundo sabe? Kkkkkkkkkkkkk, ninguém sabe de nada, por que não existe nada!
- Vai por mim, essas pessoas sabem, só fingem que não! Hipócritas sendo hipócritas. E chegamos, são – olhou o taxímetro – R$ 68,00 reais!
- Tudo bem, tome – disse entregando uma nota de cem – não precisa do troco, é pelo serviço de guia turístico – respondi sorrindo!
Cheguei ao meu destino, estou em frente a um sobrado amarelo de dois andares, a rua está vazia, provavelmente todos no casamento! Aperto a campainha da casa da única amiga que fala comigo depois que tudo aconteceu! A porta finalmente se abre e de lá sai uma bela garota, com sua pele branca e seus cabelos pretos, e ela está sorrindo vindo em minha direção!
- Ai meu deus – falou depois de abrir o portão e me abraçar – você voltou, não acredito! – disse gritando – Ai meu deus, vem entra, alguém pode nos ver!
- Helô, muito obrigado mesmo por me deixar ficar aqui com você! – falei deixando minha malas no chão.
- Mi casa é su casa – respondeu sorrindo – E uau, você está lindo senhor tatuagens! São quantos quarenta, cinquentas?
- Não, deixe de ser exagerada! Na verdade nunca contei! – disse olhando minhas tatuagens.
- Você tatuou o braço todo? Não estou vendo sua pele – disse ao pegar meu braço - o que é isso no seu pulso? Isso é marca! Marca de corda – me encarou incrédula – ai deus, foi ele que fez isso!
- Foi sim – respondi envergonhado e olhando as enormes marcas roxas no meu pulso.
- Sinto muito, muito mesmo – sentou no mesmo sofá e segurou minhas mãos – eu me arrependo tanto de ter te apresentado ele!
- Não sinta, isso não é nada! Vamos esquecer – respondi levantando – preciso de um banho! Preciso de uma cama!
- Vem, vou te mostrar o seu quarto – me puxou pelo corredor e abriu uma porta – não é nada luxuoso, mas é tudo que eu posso te oferecer!
- É perfeito, vou tomar um banho e depois conversamos!
- Vai lá, vou fazer um lanche!
Olhei ao meu redor, observando com mais atenção o quarto que me foi reservado, uma grande cama de casal, um pequeno guarda-roupas ao meu lado esquerdo, uma estante na minha frente e ao lado uma porta que deduzir ser o banheiro!
Enquanto a agua caia sobre meu corpo, realmente caiu a ficha de que eu voltei! Voltei pra cidade que eu odeio, voltei pra minha vida pacata e sem graça, e não sei o que vou fazer, nunca me enquadrei aqui e agora que não vou conseguir mesmo!
Encaro a imagem que reflete no espelho do banheiro, nem de longe se parece com a imagem que deixei ao sair da cidade a dois anos atrás. Era magro, sem muita massa muscular, sem graça, sem atrativo algum! Agora não, me tornei mais forte, criei minha identidade, meu braço direito é completamente tatuado, acho até que estou mais alto, meu cabelo cresceu e hoje cultivo sempre uma barba por fazer, tenho alargador na minha orelha esquerda e outras tatuagens espalhadas pelo corpo!
Agora como vou viver em meio à uma cidade que a maioria da população creem que o corpo é o templo do espirito santo, reunião dos jovens na igreja aos sábados e escola bíblica aos domingos! Não que esteja criticando, só não é meu lugar, cidade pequena é um saco!
- Agora sim, novinho em folha – disse ao sentar na cadeira junto a bancada da cozinha – o que temos para comer?
- Sanduiche integral! Tudo bem?
- É pão integral? – perguntei sorrindo
- É sim – respondeu com a boca cheia – então senhor Henry Dunner, quais são seus próximos passos?
- Sabe que eu não sei – respondi – reconquistar meus pais acho que esse é o primeiro e único passo!
- Acho que vai ser fácil – ela sorri – tudo bem vou explicar, é só contar tudo que você passou na capital, tenho certeza que eles iam transformar isso em outro livro – ela sorriu – mais best-seller na lista deles, mas um pra saga do Henry...
- Não termina, sabe que odeio isso, seria no mínimo cômico, o garoto perfeito na capital não tão perfeita assim!
- Então me diz, como que é a capital – perguntou com mesma euforia que eu perguntei pra ele há dois anos atrás.
- É perfeita – digo – muita coisa acontece ao mesmo tempo, muita gente andando de um lado para outro, vários bares, shoppings e sabe ninguém se importa muito com a vida dos outros como aqui!
- É, imagino! Mas e ele?
- Sabe, quando eu o conheci, achava que ele ia transformar minha vida! Foram tantas promessas! Mas não, foram só belas palavras na boca de alguém tão sujo! – um silencio se formou entre nós – Não vou ficar aqui bancando o coitado, tive 98% de culpa em tudo que aconteceu!
- E agora? – perguntou com seus olhos azuis brilhando – tá pronto pra enfrentar todo mundo? Digo, todos os comentários, todos os olhares, julgamentos a rejeição – pausa – você saiu daqui, sem medir consequências, saiu...saiu como se você fosse um hamster que estava preso e se libertou...
- Mas era assim que eu me sentia Helô – respondi levantando indo a sala – como um animal preso, sem perspectiva de vida, sem uma vida, tudo certinho, era sempre mais do mesmo, ás seis tinha aula, meio dia almoço, seis horas tinha o tão tradicional chá da tarde! Quem toma chá pelo amor de deus – olhando a janela percebi que o casamento já devia ter acabado a rua estava ficando movimentada – Ele apareceu, me apresentou tanta coisa, me deu um sopro de vida, me prometeu tanta coisa – ela me olhava calada – me prometeu mostrar a capital, me mostrar o que tem depois da estrada 76, era a única oportunidade de descobrir a minha identidade, descobrir quem eu sou! Eu só não sabia que isso ia trazer tantas consequências!
2 ANOS ATRAS
Estávamos sentados em cima do capô de um carro no início da estrada 76, ambos um pouco tontos, pelo efeito da cerveja, que nesse ponto já era a sexta? Sétima? Não faço a mínima ideia! Ele saltou do capô, andou alguns metros segurando sua cerveja, parou segundos depois e se virou pra mim, com o mais bonito de todos os sorrisos!
- Tá vendo aquelas luzes lá no final – assenti que sim – lá o inicio da estrada pro paraíso – começou a voltar em direção a mim – E consequentemente, nossa que palavra difícil, é o fim dessa vida sem graça – chegou próximo a mim agarrou meu rosto com as duas mãos – Daqui a dois dia eu saio dessa cidade – confessou beijando minha boca.
- Você não me disse isso – respondi acariciando seu peito desnudo.
- Pois é, surpresa – sorriu – Cansei disso aqui, dessa caretice! – respondeu passando os dedos no meus lábios – Vem comigo – sussurrou – Eu sei que você quer, sei que não aguenta mais isso também, consigo ver nos seus belos olhos azuis!
- Brandon eu não posso...
- Vem comigo – implorou – Vou te mostrar tanta coisa, te ensinar – sorriu – Larga essa cidade, larga teu namorado, teus pais caretas, tua faculdade, essa cidade é podre por dentro! Vem comigo!
- Eu não posso largar tudo assim – respondi – Meus pais, meu irmão, Nicki...
- Ah qual é careta? – perguntou abrindo os braços – Vai me dizer que ama aquele coxinha, fala serio – tomou um gole da sua cerveja - Vai me dizer que eu não sou melhor – perguntou com o mesmo sorriso que eu amava, mas que tinha medo também – meus beijos, meu corpo o nosso sexo – sussurrou - Vou te o mundo que existe no fim dessa estrada, então, vem comigo?
- EU VOU – respondi gritando sentindo todos os meu ossos vibrarem.
- EU VOU- gritei mais uma vez.
- Então, daqui a dois dia vamos sair dessa cidade, vou te levar pra longe daqui, vamos para capital! Vamos ser felizes meu amor, FELIZES – gritou me agarrou e me beijou.
FELIZES, repeti pra mim mesmo, como um mantra para afastar meu medo, daqui a dois dias minha vida ia mudar, vou pra capital descobrir quem eu sou!
Só não sabia o que me espera lá fora, na capital, é não sabia mesmo...