Fiquei deitado na rede do lado de fora, aquele ventinho gostoso que batia, refrescava até alma. Meus pensamentos estavam a mil, queria poder achar uma resposta pra todos os meus questionamentos. Eu estava tão concentrado que nem vi a hora que ele se jogou em cima de mim.
- Quer me matar de susto é infeliz? - gritei enquanto ele fazia uma cara de decepção. - Não precisa ficar magoado, só me assustei.
Nos abraçamos e ficamos um tempinho assim, quando eu estava junto dele o céu poderia desabar e nada mais me importaria.
Comecei a sentir uma leve câimbra pelo braço devido nossa posição. Será que já fazia muito tempo que estávamos assim? A resposta era positiva. Mas estava tão bom... Nada estragaria aquele momento.
Bem, minha concepção de nada estava incorreta. Ao ouvir um barulho de uma moto se aproximando, Oliver saiu de perto de mim, e eu fiquei lá, sem entender. Quando eu tomei posse da situação eu compreendi o ocorrido, seu pai havia chegado.
- Primo? Que cicatrizes são essas em você? - perguntei o observando. Ele estava de camisa e com um short curto, dava pra perceber de longe algumas marcas.
- Não é nada, é os arames e os matos que deixam assim. - respondeu ele, bem sem graça por sinal.
Eu não acreditei naquilo obviamente, não, qualquer idiota no mundo aceitaria aquelas desculpas, mas eu não. Absolutamente não.
O buraco era muito mais profundo do que eu imaginava.
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O dia estava realmente maravilhoso, quando me bateu uma vontade de mijar eu quase entrava em casa e procurava um banheiro, mas depois eu me recordei que estava na "roça" e o banheiro era ao ar livre.
- Vou comer alguma coisa, você quer? - perguntou ele.
- Não, valeu. Ainda estou cheio do almoço.
Ele demorou lá dentro, e eu aproveitei pra me aliviar no meio do mato. Enquanto eu estava mijando eu ouço algumas pegadas e quando eu percebo, lá está ele. Quando ele vê que eu o vi me observando ele ficou mais branco que um papel.
Não queria que as coisas fossem rápidas demais, só que ele era muito mais safado do que eu imaginava. Era capaz de ter mais experiência que eu no assunto.
Ele voltou pra casa, não tínhamos dito uma palavra sequer um ao outro. Aproveitei que eu já estava por lá para dar uma averiguada no ambiente.
Realmente, era lindo demais. Tudo ali me deixava admirado. Sai andando pela propriedade. Passei pelo galinheiro, pelo estábulo, e alguns outros lugares que eu nem imagino pra que serviam.
Como o terreno era íngreme, fui descendo sem rumo, afim de explorar o local. Lá em baixo, me deparei com uma linda corredeira, várias pedras, uma maior que a outra, junto com várias árvores secas. A noite, daria um belo cenário de filme de terror, mas mesmo assim eu achava lindo.
Sem nada melhor para fazer, acabei fixando por lá mesmo, deitado em uma das pedras maiores, observando as nuvens, e pensando.
- Oh mãe, onde é que ta meu primo!? - disse Oliver gritando de longe.
- Deixa o menino respirar, vai ficar nesse grude o dia todo é? - respondeu ela.
Continuei ali, pensando. Eu acho que penso mais que converto oxigênio em gás carbônico.
Passei um bom tempo de olhos fechados, apenas curtindo o momento, o local, cada segundo de paz ali era precioso para mim. Porém, minha solidão durou pouco. Abri meus olhos, e o vi descendo em minha direção.
- Nossa, quanto grude. Desse jeito o amor acaba logo logo. - murmurei.
Pela cara que ele fez, não entendeu o que eu falei, ou não quis entender.
- Onde você estava?
- Estava por aí, conhecendo os lugares. E gostei mais daqui, aproveitei pra ficar um pouco.
- E porque eu te chamava e você não respondia?
- Eu não tinha percebido, desculpa. - menti descaradamente.
- Posso ficar com você? - perguntou ele fazendo aquela carinha de gatinho pidão.
- Que escolha eu tenho? - murmurei.
Ele sentou bem próximo de mim, bem próximo mesmo. Sua pele roçando na minha, o seu cheiro, o calor que ele emanava, todo aquele complexo de perfeição, só para mim. Pelo menos até aquele momento.
Entre nós não era necessário horas de conversas, nos entendíamos entre olhares, afetos e pequenos gestos.
Agora eu entendo porquê existem várias pessoas infelizes por aí, e que acabam querendo tomar conta da vida de todos. É falta de um amor na sua vida, algo que a faça esquecer de tudo e todos, algo puro, que renove e revigore a alma.
Em meio aos meus pensamentos acabei soltando um sorriso bobo. Não tinha percebido que ele estava me encarando.
- Do que você ta rindo? - perguntou ele.
- Curiosidade matou o gato!
- Ai ai...
- Ué, não posso mais rir?
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Entrei no quarto de meu primo e fui procurar uma roupa para poder tomar banho, a essa altura do campeonato eu já estava me sentindo fedorento.
- Nossa primo, que legal esse skate - disse ele olhando pro meu cheveiro.
Era uma coisa fútil, super fútil. Mas se ele gostou. Fazer o quê?
- Quer que eu compre um desses pra você?
- Mas deve ser caro, eu não tenho dinheiro.
- Quem disse que você vai pagar, se eu disse eu eu dou eu dou.
- Obrigado! - disse ele enquanto se jogou em cima de mim. Ele me deu um abraço tão apertado que eu achei que iria morrer asfixiado.
Enquanto ele me abraçava, sentia seu pau, quentinho roçando o meu. Quase eu fiquei excitado e me denunciei, mas pelo visto, ele estava bem animadinho.
- Chega né primo, tá me esgoelando! - disse fingindo uma tosse.
Percebi que ele estava sem graça, será que ele não entendia do assunto ainda e estava com vergonha? Ou tinha medo de que eu não gostasse e ficasse magoado com ele?
Depois de ir tomar banho e comer, finalmente eu pude descansar. Aquele dia rendeu. E como de costume, os pensamentos invadiam minha cabeça e encadeavam milhões de duvidas, investir ou não, eis a questão.
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A noite foi tranquila, exceto pelo número absurdo de muriçocas, nunca fui tão chupado em uma noite só em minha vida. Segundo minha prima, as muriçocas fazem a festa quando tem "carne nova no pedaço".
Graças a Deus, o hit da "Muriçoca, soca, soca" não existia naquela época.
Como não haveria aula para mim naquele dia, eu fui com Oliver e a sua mãe pra escola deles. Minha prima era a própria professora dele, então imagina o belo desastre.
- OLIVER, PRESTA ATENÇÃO! - disse ela se exaltando.
Apesar dele ser muito inteligente, quando queria, vivia no mundo da maionese, da mostarda e do ketchup.
No intervalo, eu peguei um livro e comecei a ler para as crianças, tinham na faixa de idade de meu primo, alguns se aproximavam mais de mim, e como sempre fui bastante carinhoso as pegava no colo, fazia cafuné no cabelo, mas com todo o respeito e sem maldade, não sou pedófilo, até porque eu sou de menor ainda.
Enquanto eu lia, eu percebia que meu primo estava bufando de raiva, mas ignorei, passou o resto do dia assim praticamente.
Ele não era casado comigo e eu não devia nada a ele, não compreendia por quê aquilo tudo, sinceramente.
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- Prima, que bicho mordeu Oliver? O que é que ele tem? Desde que a gente voltou ele tá distante, estranho...
- Não liga não, ele é muito ciumento. Daqui a pouco já tá aqui no seu pé de novo. - respondeu a mãe dele.
Dito e certo. Não tardou muito ele já estava no meu pé novamente, mas era um grude tão, tão gostoso, se eu pudesse passaria a eternidade com ele assim.
- Vamos assistir um filme?
- É, pode ser - respondi.
- Tem esse aqui, esse, esse, este aqui, e esse outro. Qual tu quer?
Todos desenhos infantis, não. Aquilo não dava pra mim.
- Coloca esse da vaquinha aí.
O filme rolou um pouco, super entediante. Quando vi todos ali distraídos, sai de fininho de casa para respirar um pouco.
A casa tinha uma laje em uma parte dela, não muito grande, mas ninguém frequentava aquele lugar. Como queria ficar um pouco sozinho, subi e fiquei olhando as estrelas, outra coisa que eu poderia passar a eternidade o fazendo.
"Que milagre, Oliver ainda não veio atrás de mim." - pensei comigo mesmo. Mas meu milagre não tardou muito.
- Oh mãe, cadê meu primo? - perguntou ele de dentro de casa.
- Deixa o menino em paz Oliver. Que coisa!
- É! Deixa meu primo em paz "Olever" - disse Olivia. Ela falava com uma voz nasal, o que fazia tudo que ela falasse soar engraçado.
- Mas cadê ele mãe? Primo, cadê você?
De onde eu estava ouvia atentamente tudo o que conversavam em casa, se falassem mal de mim eu iria ouvir, com certeza.
- PRIMOOOOO! Cadê você???
Ignorei-o. Queria cinco minutos só pra mim. Será que eu não podia ter? Dependendo de Oliver, NÃO.
- O que cê ta fazendo?
- Nada, só queria pensar, sei lá. Espera aí, como você me achou aqui?
Ele não me respondeu.
- Posso ficar com você?
- Claro, a casa é sua!
Achei que ele ia sentar um pouco mais afastado, mas quando eu me dou conta, ele está praticamente em cima de mim.
- Abre as pernas.
- Ahn!?
Ele forçou-me a abrir as pernas e se aninhou ali, bem próximo. Estava com medo de ficar excitado e ele sentir.
Apenas queria curtir cada segundo daquele. Aquela posição me proporcionava sentir o cheiro do seu cabelo, fazer carícias nele, estar próximo a ele. Infelizmente, aquele momento acabou.
- Vocês dois entrem aqui, hora de dormir! - gritou mãe de Oliver.
Descemos, e fomos nos deitar. Olivia já estava no décimo quinto sono, era tão linda dormindo. Mas acordada, nem Jesus dava conta.
Meu primo deitou na mesma cama que eu, não entendi o porque. Não dormimos de imediato, apenas ficamos deitados na cama, enquanto ele jogava Six Guns no meu celular.
- Vou no banheiro. Me espera aí. - eu disse.
Fui na direção que eu achava que era o banheiro, acabei me esbarrando nas cadeiras da cozinha fazendo uma barulheira.
- Onde que liga a luz aqui mesmo? - perguntei.
Ouvi alguns passos e Oliver estava do meu lado, em menos de um segundo. Ele ascendeu a luz, e eu me dirigi ao banheiro.
Fui me aliviar, como estava apertado fechei os olhos e deixei toda o liquido fluir.
Quando abro os olhos, lá está ele, olhando diretamente pro meu pau.
Não sei como ficou minha cara, mas parece que foi indecifrável, tamanho susto o que eu levei.
Ele fez menção de tentar pegá-lo, mas eu estava tão constrangido que nem excitado eu fiquei. Nossa brincadeira rolaria outro dia.
Voltamos pra cama em silêncio, aquele menino me surpreendia a cada de que se passava.
Quando eu menos espero, ele dá um pulo da cama e vai pra dele. Eu realmente percebi o ocorrido quando seu pai entrou dentro de casa. Ele estava bêbado, por sinal.
Mas dai comecei a somar um mais um e percebi o real motivo do meu primo ter me abandonado: Seu Pai.
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