O relógio marca 21h34. Além daquela janela, os grilos cantam, os gafanhotos comem as flores do quintal e desconhecidos se beijam. O som insurdecedor do silêncio vindo da tão gigante cama em que a menina tenta dormir à causa arrepios. Vira para a direita, se mexe. O calor do seu corpo se dissipa pelo lençol gelado. Se encolhe, como uma criança assustada. Nem mesmo a escuridão do quarto ofusca seus olhos grandes, redondos e acesos na imensidão. Seus pés estão gelados e as bochechas vermelhas. Pensamentos passam como flashes em sua cabeça. Sente medo. Aflição. O coração dispara, como se fugisse de algo, numa última tentativa de escapar do inevitável. Suas pernas se contraem. Respiração ofegante. Lábios entreabertos. Os dedos entrelassam-se com o lençol branco. O corpo contraí. Enfim, para de lutar contra sí mesma e aperta a camisa azul contra seu peito, ao mesmo instante em que a mão escorre pelo corpo. O semblante Dele fica fixo em sua mente. Lembranças tão fortes e vivas à rodeiam que ela parece conseguir ver aqueles olhos vazios encarando-na. Parece conseguir ouvir a respiração calma em seu ouvido. Sentir a mão quente que passa pelo seu corpo, gelado. Ela está lá novamente, envolta na penumbra daqueles beijos. Consegue ver. Consegue sentir. Não há som algum além dos suspiros. Os olhares se cruzam. Os lábios se encontram. O corpo estremesse. Sem maior esforço, ele invade seu mundo. Um mar de sensações inunda seu corpo. As bochechas queimam e a pele arde. A mão pesa e seus lábios mordem o lençol. Movimentos entram em sincronia. Gostas de suor escorrem pelas costas e acabam nos quadris. Olhos reviram. Os corpos gritam e escorrem. Ela desaba. Sente-se cair sobre ele. Num ultimo esforço aperta forte o peito contra o dele. Por um instante ela não sente mais medo. Por um instante toda a aflição passa. Ela se aninha em seus braços. Involuntariamente, sua boca se abre, e numa voz falha, as estúpidas palavras "Eu Te Amo" quebram o silêncio do quarto. As luzes mudam. Ela se mexe. Em vão procura o corpo dele na cama.
Então acorda, banhada em suor.