Cap.28 (FINAL)
Não acreditei quando o vi. Como ele estava diferente. Havia deixado a barba crescer, estava mais velho. Sim, em 5 anos, ele estava totalmente diferente. Agora carregava um olhar sofrido, como se tivesse sido esmagado durante todo esse tempo. Já não tinha o mesmo charme de antes, e nem demostrava em algum momento que voltaria a ter.
- Júnior ? Você ainda está no Rio ?
- Óbvio que sim, eu ainda não terminei a faculdade !- falei, olhando aquela figura que eu só pude reconhecer pelos olhos - nossa, como você mudou !
- A vida está me cobrando os meus pecados, Júnior !- ainda não havia caido a ficha que aquele era o Carlos que havia estado na república comigo a um tempo atrás- ei, a gente pode ir tomar um café, sei lá.
- E porquê eu faria isso ?
- Apenas pra conversar, já que eu nunca mais tive notícias suas - pensei bastante, e decidi que se ainda havia algo a ser dito depois daqueles 6 anos, aquele era o momento.
- Tudo bem. Vamos a praia então !
TEMPO DEPOIS
- Eu só quero que você saiba que eu não sou mais o mesmo garoto de anos atrás. Agora eu já tenho 25 anos, Carlos. E mais, eu sou casado !- falei, mostrando a aliança que estava no meu dedo.
- Eu sei. E eu também sou !
- Sério ? - no momento não acreditei que um homem como ele iria se casar.
- Humrum. Na verdade eu fui meio que obrigado a casar. A uns 5 anos atrás eu estava muito extressado, o consultório estava me extressando demais. E então numa noite de amor, ela acabou engravidando. Dai já viu né, pressão de lá, pressão de cá, nos casamos.
- Nossa !- fiquei de queixo caído- eu esperava de tudo, menos te ver como pai de família.
- É, mas foi assim que eu terminei Junior. Trabalhando muito, morando no Leblon, casado, com um garotinho no colo.
- Que ótima vida ein Carlos.
- Pra falar a verdade eu não gosto muito não. Gosto do meu filho, morro por ele, mas... Você sempre teve razão, Júnior. Eu sempre fui um covarde e nunca tive coragem de me assumir e dizer a verdade do que sou. Não que eu não goste de mulher, mas eu sei que sempre vou sentir atração pelos dois.
- Então, foi assim que você terminou. Com uma vida monótona, longe do que você realmente gosta.
- Isso mesmo Júnior.
- E os outros ?
- O pessoal da República ? Bem, Juliano voltou pra sua cidade natal. Luciano ainda mora aqui no Rio, trabalha numa grande companhia como Engenheiro. O Jader... Bem... Ele não deu certo na faculdade e... Soube que ele faz programa pra sobreviver ! - nossa. Esse foi castigado !- e os outros eu não sei Júnior.
- Aqui se faz, aqui se paga !
- Do que você está falando ?
- Do Jader. Ele desestruturou toda a nossa relação, as minhas amizades, e no final acabou assim. Que ironia !
- É verdade ! Bem, pra falar a verdade eu nunca esqueci da gente, Júnior- ele se aproximou.
- Mas eu esqueci Carlos !- fui mais um pouco pra longe - eu agora, apenas me dedico ao Leandro e a minha faculdade. Ele é o meu amor agora !
- Continua o mesmo - ele riu - então não tem mesmo chance de a gente voltar um dia ?
- Nenhuma. Primeiro, você já é casado e tem até filho, e eu sou casado, e não te amo mais ! O maximo que podemos ser é colegas, nem amigos, pois eu ainda não te perdoei por aquela covardia.
- Mas o que você precisa pra entender que eu fui obrigado a fazer aquilo ?
- Mas sem nem lutar ? Que tipo de amor é esse Carlos ? O Leandro também não era assumido, e mesmo assim ele ficou comigo, tomou coragem e disse a todos. Você não teve coragem nem pra segurar um dia de namoro. Imagine se eu tivesse ficado mais tempo com você ? Como seria ? Me largaria pelo primeiro que aparecesse.
- Eu nunca faria isso !
- Faria sim, você faria pois você nunca teve coragem pra nada Carlos. Nem pra se casar você teve.
- Não me julgue !- fiquei olhando para os seus olhos.
- Eu vejo que nem colegas podendo ser. Tchau Carlos !
- Júnior ?
- O quê ?
- Podemos ao menos manter contato ? Ao contrário do que você você pensa, eu te admiro muito !
- Não sei Carlos. Quem sabe ! Eu não sei nem se vou continuar aqui no Rio. Tudo depende de Deus !
Esse encontro com Carlos não me marcou. Não me esclareceu nada, pois eu acredito que já não havia mais dúvidas. Apenas fez confirmar o que eu já sabia. Que a pessoa certa pra mim é, e sempre foi o Leandro. Minha história com Carlos, acaba aqui.
TEMPO DEPOIS
Havia chegado o dia. O dia da minha formatura, ou melhor da nossa formatura. Eu e Leandro iriamos nos tornar médicos no mesmo dia. Estavamos muito animados e ao mesmo tempo nervosos. Foi bastante trabalho. 6 anos de muita luta, estudo e batalha. Mas enfim, os nossos sonhos estavam se aproximando. Logo, nós teríamos o diploma e poderiamos pregar na parede e mostrar a todos que enfim eramos médicos. Meu pai havia vindo de Manaus para a festa.
TEMPO ANTES
- PAI !!!- gritei quando o vi depois de todo aquele tempo. Ele não havia mudado nada. Continuava o mesmo homem amoroso e cuidadoso de sempre.
- Júnior, meu filho !!!!- adorei sentir aquele abraço de novo- como Você está diferente filho !
- Você não mudou nada pai !- enfim, 6 anos de saudades mortas- como eu estava com saudades !- uma lágrima escorreu.
- Eu também estava filho !- ficamos diversos minutos abraçados, até nos separarmos - meu filho, você já vai se formar !
- Já pai !
TEMPOS ATUAIS
Sim, eu havia pensado diversas vezes naquele dia. Como sera que meu coração estaria ? Como meu eu reagiria ? Sim, eu estava ansioso e ao mesmo tempo com medo. Mas uma coisa eu garanto. Nenhum pensamento passou perto da minha real sensação no primeiro minuto que eu abri o olho naquele dia. A ficha não caía !
- Eu não consigo acreditar !- ouvi Leandro falar, ao sair do banheiro.
- Nem eu ! Não consigo acreditar que depois de tanto estudo a gente conseguiu.
- Passou mais rápido do que eu imaginava.
- É verdade !- eu e Leandro ficamos pensando. Era um dia de festa, de êxtase e de paixão para gente. Um marco inesquecível na nossa vida. Este sim, era um marco ! Estávamos prestes a nos formar.
TEMPO DEPOIS
- Como estou ?- perguntei, me olhando com a beca no espelho.
- Ótimo, a beca ficou perfeita em você ! E eu ?- ele ainda não tinha acertado colocar o chapéu( não sei o nome daquilo !)
- Deixa eu colocar isso pra você - nos olhamos - pronto ! Um formando perfeito !- nos olhamos no espelho - você não sabe como eu tô feliz por esse momento ter chegado.
- E eu ? Tô tremendo ! Nossa formatura chegou, Leandro !
Logo meu pai apareceu.
- Vamos gente, o táxi chegou ?
- Já ? Tô rezando pra eu não desmaiar na hora de receber o cano !
- Vai não amor, Você vai ver, nós vamos estar lindos e maravilhosos nessa formatura !- somente com o abraço de Leandro consegui relaxar um pouco. Eu estava realmente nervoso.
TEMPO DEPOIS
Haviam muitas pessoas na frente daquele auditório. Todos formandos. Todos compartilhando do mesmo sentimento que eu. Todos extremamente nervosos . Todos esperando que o tempo passasse rápido e logo pudesse pôr as mãos no diploma, e gritar EU SOU MÉDICO !
TEMPO DEPOIS
- AAAAAA- quem dava esse grito era Carla - nos vamos nos formar, meninos !
- Eu nem acredito !- falei, a abraçando. A coragem estava a mil, e nosso medo havia sumido.
- Como deu trabalho pessoal !
- Muito - ouvi Leandro falar - cheguei a ter pesadelo tendo que aprender tudo o quanto é osso - rimos.
- E Citologia ? Eu tive pesadelos também !
- Esse curso foi incrível galera !- ouvi ela falar - vai ficar pra história !
- Com certeza. Mas depois de tanta luta, ESTAMOS AQUI !!!- foi uma gritaria geral, todos estavam super animados para se formarem e poderem gritar.
TEMPO DEPOIS
- Leandro, pode vir - era hora de irmos buscar nossos diplomas lá em cima. Diversas pessoas já haviam passado por ali, mais ele me chamou mais atenção. Só eu sabia o quanto eu e Leandro lutamos para estar ali, pra tirar boas notas, para passar com louvor em todas as materias. Quanto suor tivermos que derramar, quantos neurônios usados, cada força utilizada ! Foi sofrido, mas naquele momento, olhando para aquele palco, eu pude ver a nossa recompensa. Um diploma ! Um título de médico ! A chance de poder gritar e dizer, EU VENCI ! Leandro lagrimou. Vi as lágrimas dele assim que ele botou as mãos naquele papel. Eram lágrimas de alegria, tendo o seu esforço recompensado.
- Júnior, pode vir - eu tremia. Agora era a minha vez, o meu momento. A hora de eu ter meu diploma havia chegado. Subindo lentamente aquela escada, pude ver todos os importantes da minha vida. Meu pai, com os olhos cheios de lágrimas. Leandro, idem. Todos os meus colegas. E caminhando para aquele palco, eu lembrei de cada esforço feito por mim no curso. Cada noite que eu tive que passar em claro. O maldito TCC que me consumiu noites de sono no último ano. Cada prova, cada fala, cada reunião de trabalho. Sim, foi uma batalha. Sim, deu trabalho. E sim, eu consegui ! Eu consegui ! EU SOU MÉDICO !
TEMPO DEPOIS
- O filme já começou Leandro ?
- Ainda não amor, mas vai já começar- eu e Leandro já estávamos buscando uma forma para exercer nossa profissão. Nos dois queriamos fazer uma especialização, mas por enquanto ainda estávamos descansado depois de 6 anos de estudo 12 horas por dia.
- Esse filme vai ser ótimo- pulei na cama com a pipoca e me aninhei em seus braços. Logo o filme começou. E no mesmo momento que começou, meu celular vibrou- alô ?
- Filho ?
- Oi pai
- Filho, tenho uma coisa pra te contar, mas eu tenho pra mim que você não vai aceitar.
- O quê foi pai ?
- Você sabe da cheia histórica que nós estamos enfrentando aqui no Amazonas não é ?
- Sei sim, por quê ?
- O governo está chamando médicos novatos para ajudá-los numa missão. O salário é ótimo, e temporário, mas você pode ser efetivado.
- Puxa ! Mas trabalhar no interior pai ?
- Ué, você não queria aventura ? Vai ser bom ! O salario é ótimo, e vai ser uma experiencia de cara !
- Quanto é o salario ?- quando ele falou o valor, quase Caio pra trás - tudo isso ?
- E você não vai ter gastos, pois o governo vai te ajudar em tudo ! E ai ?
- Ah pai, eu tenho que conversar com o Leandro
- Conversar comigo o que ?- ele ouviu
- Tá, vou conversar com ele - desliguei o telefone e logo olhei nos olhos dele - Leandro, o governo lá do Amazonas esta oferecendo um ótimo salário pra quem aceitar ir ajudar na cheia histórica.
- Mas temporariamente ?
- Humrum.
- Quanto é o valor ?- quando falei, ele fez a mesma cara que eu - tudo isso Júnior ?
- Por mês. O período vai até agosto. E ai, o que você acha ?
- O ruim é ter que ir pro meio do mato. Mas... Porquê não ? Pode servir como experiencia pra gente, que quase não temos nenhuma.
- Então é isso, vamos ajudar na cheia histórica ?
- Vamos !
TEMPO DEPOIS
- Leandro, deixa que eu vejo esse homem aqui - sim, o trabalho estava sendo um pouco puxado, mas estava sendo bem recompensado. Estávamos em Coari, uma cidade as margens do Rio Solimões - oi senhor.
- Oi doutor !
- O quê o senhor tá sentindo ?
- Eu tô meio tonto, sentindo umas dores de barriga estranhas. O que é ein ?
- Parece infecção. Mas eu vou pedir pra o senhor ir ali naquela barraca e fazer um exame de sangue- olhei o termômetro- não tem febre. Por favor, vá lá e depois retorne aqui.
- Tudo bem doutor ! - e lá foi mais um homem. Mais uma vida que nós estávamos ajudando a prolongar
- Nossa, minhas costas estão doendo !- ouvi Leandro falar
- Agora aguenta, você aceitou vir !- sentei bem ao lado dele.
- Mas se bem que estou adorando isso aqui ! É justamente o que eu imaginei. Ajudar as pessoas !
- Ser feliz, ajudar as pessoas e fazer outra feliz, era isso que você imaginava pra sua vida, Doutor Leandro ?
- Era. Mas falta mais uma, ser pai, Doutor Júnior - RI.
- Mas isso a gente resolve quando pudermos voltar pro Rio, Lindão- dei um beijo nele enquanto a sala estava vazia.
- Sério ?
- Claro que sim.
- Essa era a vida que você imaginava ?
- Quer saber a verdade ? Era. Ter alguém ao meu lado, e poder exercer minha profissão. Era tudo o que eu mais queria desde o começo !- ele olhou nos meus olhos, e logo voltamos a nos beijar.
Depois de ir ao Rio de Janeiro, um garoto extremamente sonhador e sensível se tornou num médico sensato e casado. Foi feliz e voltou ainda mais feliz. Passou por dificuldades, claro. Mas quem não passa ? O importante é que este garoto, ou melhor, este doutor, estava ao lado de quem ele precisava estar. E sim, ele estaria ao lado dele pra sempre. Logo uma criança iria aparecer. Uma criança linda, a cara do casal. Que só fez comprovar ainda mais o amor dos dois. E assim eles foram felizes juntos. E já que o titulo dessa história acabou se tornando sem sentido, vocês, leitores, devem adotar a que vocês acharem melhor, pra minha história com Leandro. Uma história, que devia ser de um jeito, teve seu destino alterado, para que no final, eu, Junior Figueiredo, pudesse ser o homem mais feliz do mundo.
FIM
E ai ??? Gostaram ??? Comentem please. Estou pensando se escrevo uma nova história ou não. Mas ainda estou pensando. Obrigado por lerem desde o início. Eu agradeço cada comentário, cada voto, cada visualização, e peço aos meus leitores que continuem acompanhando as duas outras histórias, O Homem Poderoso e Iniamigos Verdadeiros. E ai, deu #juandro !