Bem, posso dizer que o dia anterior foi cheio, porém estupendamente cheio do meu novo vício, felicidade. Ele também, né? *risos*
Domingo de manhã fomos na missa. Eu odeio missas. Vou porque a minha família me obriga. Acho que o gay que vai a missa é meio que masoquista (menos Marquinhos, ele é exceção), ou nunca estudou o cristianismo a finco. Marquinhos foi junto. Ele estava num tom tão sério. Nós nos sentamos distantes da minha família, perto dos instrumentos musicais e da banda. O padre falou falou e eu fingi que prestava atenção. Eu normalmente faço questão de demonstrar que odeio religião. Mas aquele dia era diferente, quem estava rezando não carregava consigo um batalhão de preconceitos. Esses sim são demônios, pois ferem muita gente.
Só que eu acho que fazia tempo que Marquinhos não ia na igreja. Ele as vezes me perguntava o porque de algumas coisas do rito em si. Eu claro, respondi-as de forma objetiva.
Depois da missa meus pais elogiaram a fé do meu novo amigo.
--- Lucas, olha o Marcos, homem de fé. Garanto que tua falta de fé é uma das razões de você não conseguir arranjar alguém!”
Odiei esse comentário da minha mãe.
Depois dessa fomos para uma outra praça, que fica próxima a igreja, lá encontramos meu priminho Igor empinando uma pipa feita de sacolas plásticas. Só que a pipa não subia.
Eu e Marquinhos fomos lá ver ele. Eu disse:
---Ela não tá subindo por que é feita de sacola, né Igor? Tu tem que comprar uma.
Marquinhos me repreendeu, olhando pra mim:
---Que que cê sabe de empinar pipa, hein, nerdinho? - disse ele.
---A mesma coisa que você, ao operar chaves – disse a ele, mostrando a língua.
---Enquanto cê lia papeis eu empinava pipas de papel e sacolas, tá querendo ensinar o padre a rezar a missa? - disse ele, meio que rindo.
---Então tá senhor, vamos ver a aerodinâmica da coisa.
Ele centrou os palitos e passou uma cola branca que Igor trazia consigo. A pipa voltou a voar, só que dessa vez não desestabilizava.
---Chupa!!! vai!!! -ele disse sorrindo, se vangloriando.
----Cuidado que eu chupo mesmo – disse eu, baixinho.
Fomos pra minha casa de a pé. As pessoas estavam fazendo filas para entrar na única farmácia aberta. Estavam indo se pesar, comprimente uns conhecidos e segui andando, não sei porque as pessoas não cumprimentavam ele. Fomos almoçar na casa de minha avó.
Eu preparei uma caipirinha. Só que faltava pinga, eu definitivamente, não iria fazer com conhaque. Então eu fui buscar uma Jamel lá em casa. Ele quis ir comigo.
--- Mas cara, a minha casa é uma quadra daqui.
---Eu vou Luquinhas, já tá decidido!!!!
---Tá bom então.
Acho que ele não queria ficar para não ter que ficar pagando de moralista na mesa, tipo, eu garanto que ao sair, minha família iria encher ele de perguntas e, invariavelmente, ele teria que mentir. Conversamos sobre o dia de ontem, ele falou umas frases amorosas pra mim.
Preparamos a caipira e voltamos para o churrasco. Rezamos, almoçamos. Daí minha mãe falou:
---Lucas, a Clarisse, filha do tio Julio, vai vir passar uns tempos aqui em casa. O colégio dela entrou em greve e por isso ela vai vir pra cá.
Eu lembrei, “ahhhh aquela menininha que eu e os meus outros primos atormentávamos e roubávamos o diário”. A coitada sofria na nossa mão. Uns primos meus chegavam a cantar ela, mas éramos apenas crianças. Partíamos o pequeno coraçãozinho dela.
–- Ela vai chegar aqui amanhã, e você vai ser o responsável por entrosa-la na turma de vocês.
Eu pensei, nossa mãe, tá por fora, hein? Turma? Éramos só eu e o Marquinhos. Então eu pensei novamente, “tomara que a coitada não seja um empecilho. Acho que não, bobinha do jeito que ele é”.
Então passamos a tarde na praça fumando narguilé. Nunca passou pela minha cabeça que um dia eu estaria ali, naquele lugar, fumando aquilo. Algo que eu repudiava totalmente. De noite minha mãe falou:
---Meu Deus menino, vocês não brigam não? Tanto tempo assim, um com o outro?
---Sabe que não, mãe – disse eu, sério.
---E essa merda aí que vocês tavam fumando. Sabia que isso dá câncer.
---Muitas coisas dão câcer, mãe.
---Por hoje chega, vamos ir no encontro de jovens, você vai com a gente.
Eu odiei aquilo, odiei muito. Isso sim era um câncer pra mim. Encontro de jovens. Vai se foder. Só tem velho lá naquela merda. Cantando músicas com três acordes maiores.
Sólinho???? Nada!! Mais um rito apenas para desencargo de consciência. Ali era assim, cada um dos cultos era de uma hora, a longa uma hora. Sabe aquela sensação de banimento quando se joga um jogo de cartas? Era assim que eu me sentia, indo para o cemitério das cartas. O banimento da vida.
Ela ainda me cutucava e falava: “Canta, vai”. Eu cantava, cantava a minha desgraça.
Mas como o inferno na terra é finito, o culto acabou. Então eu fui pra casa cansado. De tanta chatisse. Duas coisas poderiam me livrar desse peso. Uma era Marquinhos a outra era sono mesmo. Eu fui pela menos arriscada. Dormi.
No outro dia fui na aula e me encontrei com Marquinhos. As meninas que antes olhavam com desejo para ele agora desviavam o olhar ou davam risadas. Acho que o povo já tava sabendo do relacionamento de nós dois. Porém uma delas não se tocou. Então eu falei:
---Tira os zóio do MEU macho!
Então ela disse:
--- Esse aí? Esse é machoxoxoxoxoxoxoxoxo – disse, com ênfase de cinismo.
Eu nem liguei, mas ele disse:
--- Senhorita, desculpe, mas você está perdendo o seu tempo.
---Ah, da fruta que eu gosto você chupa até o caroço, então? - disse ela.
---Até o talo, se for preciso – disse ele, num sorriso.
Eu ri mas não demonstrei. Não culpei a garota, ela só estava tentando a sorte. Eu aprendi que, nessa vida, quando o assunto é sorte, tem que atirar pra todos os lados. Então assistimos a aula, ou eu tentei pelo menos. Teoremas que eu sabia de cor e salteado. Definições variadas que eu até já tinha criado minhas próprias. Novamente não prestei atenção. O único teorema que estava interessado era o amor, e a definição era Marquinhos, um axioma pra mim.
Ele ficava enrolando meus cabelos, que antes eram lisos agora ficaram cacheados, de tanto ele enrolar. Então eu falei:
---Tu sabe que pode fazer isso sempre, sempre, sempre que quiser, né?
--- Eu sei, quer dizer... só quando ficarmos velhos que não.
Eu respondi, confuso:
---Por que não?
---Por que do jeito que cê cuida desse cabelo vai ficar careca cedo.
---É mesmo? Me diga o porque então, gênio do vidro de shampoo.
---Tu lava isso todo dia. Num sabe que é só uma vez a cada dois dias não? Tua mãe nunca te ensinou isso não?
--- Então eu posso ser o seu desodorante roll on – eu disse, cheio de graça.
Ele riu meio alto, o que atraiu olhares da professora de Física pra gente.
Eu nem importei, porque o que sentíamos eram mais que algo físico, então era irrelevante.
De repente, no meio da aula de tocou meu celular. Eu olhei na tela era a minha mãe. Eu atendi, pensando que era algo grave.
Então ela disse:
--- Lucas, eu recebi um serviço grande aqui pra fazer e não posso sair daqui agora. Tem como você ir buscar a sua prima Clarisse na rodoviária? Ela deve "tar" mais perdida que cego em tiroteio.
Então eu fui buscar ela. Não levei nenhuma plaquinha hehehe. Acho que só havia umas sete pessoas naquela rodoviária. Mas pode saber, se um desconhecido chegar lá já tá na boca do povo. Eita povo fofoqueiro.
Eu fiquei esperando, esperei, esperei... então falei – sozinho -, acho que ela não vem mesmo hoje. Até por que só tinha uma linha de ônibus pra aquele dia, se não tava ali, então não veio. Mas então eu vi uma linda moça, com uma saia de crente, com os cabelos até a cintura, parada com malas, do lado dos banheiros. Pensei “bem, pode ser ela”.
---Com licença, moça. Estou esperando uma garota aqui chamada Clarisse (---sobrenome ocultado---), você a viu por aí?
Então ela sorriu e disse:
---Luquinhas!! Ou melhor, Lucão ahahahaha!!! Nossa, você tá mudado, cara!
Eu, espantado, falei:
--- Cla....ri..se?
---Sim, bobo, quem você pensou que era?
---Você que não, quer dizer... você é que tá mudada, hein?
Fomos de a pé pra casa. Levamos ela para almoçar junto conosco, fora de casa, num restaurante que servia feijoada, muito disputado, chegamos antes para pegar lugar. Minha família chegou lá depois de uns dez minutos. Eu estava achando aquilo um porre. Levei ela para conhecer a casa, o meu quarto, e demos uma volta pela cidade a pé.
A gente foi até um mercadinho comprar um chocolate. Cada um pagou o seu. Ela quis pagar o meu, eu recusei. Ela tirou a carteira da bolsa e eu pude reparar uma Bíblia escondida entre os acessórios de maquiagem, pensei, “devo cuidar com o que vou falar aqui”. E fomos comendo e falando pelas ruas.
---Então Lucas, você ainda não achou ninguém?
---Ninguém, pra você ver – disse eu, desconcertado.
---Ninguém mesmo?
---Nadica.
---Não me diga que você “escolheu esperar”? - ela perguntou.
Eu ri, mas tentei não demonstrar.
---Não é isso, Clarisse. Só não achei a pessoa certa – menti.
--- Não desanima não viu? Deus há de prover a varoa certa.
Eu ri muito, e dessa vez deu pra perceber, e muito. Minha nossa, que termo chulo.
---Que é que foi cara, você é muito estranho, bicho!!
---Nada, é que eu nunca tinha ouvido alguém dizer isso, “varoa” – menti novamente, já tinha ouvido sim, e achava isso ridículo.
Então eu vi Marquinhos chegando correndo da academia pela rua.
Ela olhou meio que “zoiúda pra ele”. Eu fiquei só olhando a reação dela. Então ele chegou e disse:
---E aí parçinha, tá fazendo o que? - disse ele, com olhares meio curiosos para nós dois.
---Ah Marquinhos, essa é a Clarisse, ela veio do Mato Grosso pra cá passar uns tempos, lembra que falamos ontem, no almoço?
---Ahhh tô lembrado – ele deu uma olhada de baixo, parando quase em cima dela (ou melhor, no corpo dela), e logo desviou o olhar, percebendo minha expressão.
Ela estendeu a mão, meio para ele beijar. Que ódio que me deu nesse momento. Juro que se pudesse teria torcido a mão dela. Ele, meio sem jeito apenas apertou a mão dela com um simples aperto de mão. Então ele disse:
---Eu vou passar lá em casa tomar um banho, depois eu vou até a tua casa, cara, beleza?
Eu já estava desacostumado a ser chamado de “cara”, mas devido a situação, né? Então eu assenti e eu e ela fomos pra casa.
Ela já deu uma fuçada na bolsa pra retocar a maquiagem. Acho que ela pensou que estava desarrumada, por isso que ele não quis beijar a mão dela. Então ela disse:
---Bem gatoso esse seu amigo, viu?
---Também acho! - deixei escapar.
---Que? - ela disse. Você também acha?
---Que nem eu ele não é – tentei remendar – que pra você eu sou um tigre, né?
Ela riu. Acho que ela não desconfiou.
CONTINUA.....
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Bem parças, aqui está outro conto. Espero que gostem. Demorei um pouco pra postar porque faço na hora e não tenho a vida boa. Faço faculdade.
ale.blm tão real que chega a me assustar quando escrevo. Valeu pelo apoio, parça.