Nossa, acho que todo o álcool do meu corpo foi embora. Em uma questão de segundos, pude observá-lo melhor (isso porque a parte externa era mais iluminada também). Moreno muito claro, quase um branco bronzeado. Olhos castanhos. Cabelo cortado estilo militar. Peitor...Minha observação foi interrompida quando o vi mexendo os lábios. Ele parecia falar em câmera lenta:
?: B-O-M... – Pareceu que se passou uma eternidade para ele concluir essa palavra.
G: O-olha cara (guaguejei). Não sei o quê que tá pegando, mas... (faltaram as palavras quando ele parou de falar e me encarou). Vê só, me desculpa. Não foi intencional (ele apenas observava sério). Não tô afim de confusão. Só vim me divertir (notei que ele ainda me segurava pelo braço).
Parei de falar. Olhei para o meu braço e o fitei nos olhos. Ele percebeu que eu não tinha gostado daquela atitude. O filho da mãe soltou meu braço mas nem pediu desculpa nem nada, não fez uma expressão se quer, de constrangimento ou algo do tipo, como deu pra notar sou bastante observador (futuro psiquiatra? Talvez), mas não conseguir entender qual que era a dele. Então continuei a falar encarando a total apatia dele. Mesmo com medo, o fitei nos olhos, não deixar que o meu medo emanasse. Já ouviram o ditado que um predador sente o cheiro do medo?
G: Então. Já disse que não quero confusão. Bora fazer assim, você manda lavar a camisa onde você quiser e eu pago a lavagem ou te dou outra camisa.
Notei que ele esticou um pouco o lábio para a direita. Ele sorriu? Tá de deboche? Isso me deixou puto da vida.
G: Ó, eu vim aqui pra me divertir. Minha amiga deve estar preocupada. Tô indo nessa, firmeza? Quando você resolver o que vai ser você fala.
Me virei. Segurou meu braço mais uma vez.
?: Calminha aí ô marrento, já falei quero levar um papo contigo.
G: Ow, primeiro, solta meu braço. Firmeza? Segundo, não é porque você duas vezes o meu tamanho que você pode chegar assim me arrastando por aí ou me segurando. –O filho da puta ainda me segurava- Me larga!
Puxei meu braço, sem muito esforço, ele não estava apertado nem nada. Eu sou muito tranquilo e detesto confusão, mas minha mãe sempre me ensinou a não levar desaforo pra casa. Consigo imaginar claramente ela falando: “se apanhar fora de casa, apanha de novo quando chegar!”. Claro que não saio por ai arrumando encrenca, quem me conhece sabe que não sou disso, mas velho, quando eu tô certo. Aí irmão, vou com tudo. E na minha cabeça, o quê que eu fiz pra esse cara.
?: Beleza. Foi mal por isso. Será que o marrento pode relaxar 2 minutos e levar um papo comigo?
G: Ok
Fechei a cara
G: Fala o quê que tá pegando. Não me chama de marrento, blz?
Ele não conseguiu segurar o sorriso dessa vez.
?: E o marrentinho tem nome?
G: Gabriel. Agora para de enrolação, que tenho que procurar minha amiga.
?: Hum. Primeiro, apesar de você não ter perguntado, me chamo Bruno.
Minha vez de ficar apático. Fiz um gesto com a mão indicando que continuasse a falar.
B: Blz, tá fulo comigo?
G: Qual é a sua?
B: Não pow, queria me desculpar. Fui estúpido com você por conta da bebida. Te xinguei e tudo mais e...
G: Era isso? Que bom que você ta tranquilo. Agora vou indo nessa.
Me segurou pelo braço mais uma vez.
B: Não era só isso não.
Olhei pra o braço dele
B: Foi mal.
Soltou o braço
B: Mas você não coopera. Posso terminar?
Assenti com a cabeça
B: Então. Falei sem pensar. Quando ergui a cabeça pra ver quem tinha sido. Olhei pra ti. Mó cara de assustado (Ele sorriu – Fiz cara feia e ele notou). E depois fiquei te procurando na pista e tudo mais...
Tô ficando maluco ou esse cara tá me queixando (é como a gente fala por aqui, é a mesma coisa de dar em cima). Notei que estávamos próximos de mais. Ele falava uma coisa ou outra, mas nesse devaneio não consegui escutar o que ele falava e pensar ao mesmo tempo. Porra quê que isso? Tem uma mão na minha cintura? Eu estava paralisado, fiquei completamente sem ação. Ele me encarava profundamente. Tem alguma coisa estranha aqui. Estávamos tão próximos que senti o seu hálito. Mão na nuca. E... [continua]