Ele foi chegando mais perto novamente. Coloquei uma mão em seu peito.
G: Calma aê. Vem comigo
Ele sorriu de forma safada. Não sei se todo mundo aqui sabe como são os Shoppings. Existe um submundo por trás das lojas. Conheci graças à Lari. Antes dela trabalhar lá, eu achava que os vendedores entravam e saíam pela porta que os clientes também usam, mas não. Não sei também se é algo só do shopping daqui, mas enfim. Sabe aquelas portas que quando você passa desatento nem nota elas? Geralmente elas ficam nos corredores longos que interligam os blocos do shopping, nos mesmos corredores onde ficam os banheiros. Quando você entra nessas portas existem corredores imensos com várias portas escuras gigantes com apenas um olho mágico, uma campainha e o número da loja (210, 211, 212). Lá é bem assustador. Os vendedores entram por lá com roupa normal e vestem a farda e entram na loja. As mercadorias também passam por lá. A maioria dos seguranças achavam que eu trabalhava com a Lari, isso porque eu vivia entrando por lá pra levar algum lanche pra ela ou algo assim...Depois da escada em caracol, que dá acesso ao depósito, tem um pequeno corredor pequeno que dá pra uma espécie de cozinha (que só tem pia, mesa um banco e um micro-ondas) e no final tem a porta que dá pra o corredor de portas das outras lojas.
Sim, ele saiu apenas de calça. Fui conduzindo ele. Abri a porta e adentramos o corredor. Coloquei o saco de areia na porta pra evitar que ela fechasse, isso porque ela só abre por dentro. Ele imediatamente me beijou ferozmente. Quase fechando a porta. Mas esse beijo não durou quase nada perto do outro, isso porque...
G: Me larga seu babaca!
Empurrei ele. Ele me olhou com uma cara de espanto. Não parecia entender bem o que se passava.
B: Ah, já sei curte ser domado né? Cara assim você vai me deixar maluco.
Ele apertou aquele pacote de cueca branca que saltava da calça. Veio se aproximando mais uma vez...
G: NÃO VIAJA! Te trouxe aqui porque não podia falar nada dentro da loja. Não quero prejudicar a minha amiga.
Ele parou baixou a cabeça. Respirou pesado e cruzou os braços. A pele dele parecia que ia rasgar pela pressão que os músculos faziam embaixo dela. Me fitou profundamente.
G: Olha, só vou te falar mais essa vez, não encosta em mim! Não quero saber de você com amizade com a Lari também.
Falei mesmo. Não estava gostando nada dessa amizade. Isso era ciúmes da Lari? Mas eu nunca tive ciúmes dela, nem com os namorados/namoradas. Mas era dela, só podia ser. Não desse babaca. Me virei pra voltar pra loja. Ele mais uma vez segura no meu braço.
B: Puta que pariu. Dá pra parar de ser infantil? Para de fugir de mim. Tu tá só se enganando. Porque a gente não fica numa boa? Vamo se curtir, deixa de basbaquice.
Fiquei o encarando atônito.
B: Qual é? Vai dizer que não tava curtindo? Vai mentir na minha cara? Porque você não me engana. Melhor nem precisa falar.
Ele me encarou, baixou os olhos em direção ao meu pau e deu uma apalpada. É galera no mínimo eu tava meia bomba, rs.
B: Isso aqui já responde tudo!
Nessa hora fiquei puto! Puxei meu braço e fechei a porta. Deixei ele trancado lá no corredor. Descalço e sem camisa. Quando estava passando pelo caixa, onde a Lari terminava de passar o cartão do casal.
L: Cadê o Bruno? Que cara é essa?
Nem respondi. Fui pra praça de alimentação. Precisava esfriar a cabeça. Pode até parecer que eu estava querendo fazer doce ou sendo imaturo, mas poxa, nada disso nunca tinha acontecido comigo. Minha cabeça estava a mil. Eu sabia que tinha curtido, como o idiota mesmo falou, se eu não tivesse curtido meu pau não estava tentando rasgar meu short, né? Sempre curti um sexo mais hard, mas porra, aquele cara ali tentando me dominar me deu um puta tesão (claro que essas conclusões só tirei hoje). A partir daqui não sei como ele saiu de lá, mas acredito que a Lari deve ter ajudado ele. Fui pra o Montana Grill, paguei dois chopp’s de 700ml e uma batata frita. Quase virei o primeiro, tomando tudo de uma vez. A quantidade de líquido que bebi junto com o nervosismo me deu ânsia de vomito, mas segurei a barra, sentei em uma mesa e fiquei esperando a batata.
[Celular] Larissa Chamando...
G: Que?
L: Onde você tá?
G: Na praça. Largou aí?
L: Daqui 10 min. Como que você prende o Bruno lá fora? Se a gerente chega e vê um cliente naquelas condições eu tô fudida. O quê que tá pegando com vocês?
Realmente, eu não tinha pensado nisso. Claro que a gerente entra por lá também.
G: Desculpa. Tô no montana. Não tá rolando nada. Tô te esperando.
L: Ótimo, não saia daí. Já que você tá falando que não tá rolando nada. Ele vai almoçar com a gente – ela falou um pouco autoritária.
G: Como é que é?
L: Cala a boca Biel, se ele falar qualquer coisa pra gerente eu tô frita e além do mais ele é meu amigo e é uma forma de eu me desculpar com ele pela merda que você fez. Fora que fui eu quem chamou ele pra vir dar uma olhada nas peças. Você sabe que tenho que vender, não é? Então bico fechado.
Desliguei a ligação. As batatas estavam prontas, aproveitei pra comprar mais um chopp, ainda estava bastante tenso e não era obrigado a passar por tudo isso sóbrio. Avistei de longe eles se aproximarem. A Larissa estava de farda, que era toda preta. Não sei se comentei, mas ele é magrinha, branca, baixinha, tem um rosto bonito e cabelos pretos na altura do ombro. A safada tem mesmo um sorriso de vendedora, ela sabia cativar um cliente. Mas minha atenção não foi na Larissa. O bruno estava de camiseta (t-shirt) básica preta e uma calça jeans escura. Não lembro a cor do tênis, o que lembro era da blusa marcando o peitoral e os braços. Quem não os conhecia achava que eles eram amigos de longa data. Conversavam amenidades e davam sorrisos esporádicos. Que parte do fica longe da Larissa ele não entendeu? Porra, mas que andar bacana. Sem preocupação, altivo e imponente. Qual é? Tô maluco? Só o que me faltava prestar atenção em marmanjo desfilando por aí. Vou comer minhas batatas. Me forcei a olhar para aquelas batatas, o fiz com tanto afinco que parecia que um laser ia sair dos meus olhos a qualquer momento. Me recusei a levantar a cabeça e olhar pra eles. Quem ele pensa que é?
L: Começou cedo ein? Dia de folga? – Disse ela se referindo ao Chopp.
G: Pois é. – Falei sem olhar pra eles, ainda estava namorando minhas batatas. Mas qual era a minha? Ciúmes? Vergonha? Medo de admitir o que eu queria? Minha cabeça estava a mil.
B: Vou comprar um pra te acompanhar
O bruno se afastou um pouco pra comprar um chopp.
L: Bom vou pegar um cardápio pra mim.
G: Tá de sacanagem comigo? Larissa eu vou te matar! Vou dar tanto na tua cara que não vai poder sorrir por muitos anos.
L: Que é?
G: Não se faz de doida. Até parece que seu ‘amiguinho’ – fiz cara de desdém – Num contou tudo.
L: Olha, isso é entre vocês dois. Mas quer saber minha opinião? Eu te conheço e não é de hoje Biel, tá na cara que você tá afim...
G: Meu, voc...
B: Posso comer batatinha também.
O Bruno chegou e já meteu a mão na minha batata. Que folgado!
G: Fazer o que né? Fica logo com a porção toda!
B: Qual foi marrento. Toma aqui...
O filho da puta tentou colocar uma batata na minha boca. A Lari sacou que ia dar merda, tomou da mão dele e comeu a batata, em uma tentativa de amenizar a tensão. A gente se levantou depois de uma coisa ou outra que a Larissa e o Bruno conversaram, eu apenas escutava os dois, e fomos no Bonaparte. Eu já sabia o que ia pedir, Salmão ao molho sena, nem era o meu prato preferido, mas eu queria ferrar com a Larissa, ela já sabia que ia pagar. Ela sacou na hora que eu fiz de propósito, isso porque no Bonaparte vende um dos meus pratos favoritos mas pedi o Salmão pelo preço.
Atendente: Pronto, como vai ser a forma de pagamento?
G: Resolve aqui com essa moça, ela vai pagar o de todo mundo.
Saí da frente e dei a vez a Larissa. Ele me olhou com cara de reprovação, mas não questionou. O bruno fez o pedido e fez questão de pagar a conta toda. Depois de muito lenga-lenga e bate-boca ele dividiu a conta com a Lari. Pouco me importava quem ia pagar, só sei que eu não ia.
B: Poxa, vocês vão fazer alguma coisa mais tarde?
L: Só largo às 23h da loja.
G: Cinema.
B: Sério? Qual o filme?
G: Um aí.
B: Faço questão de ir contigo não. Já comprei o meu ingresso. Vou assistir o do Martin Scorsese.
G: Tá de brincadeira comigo! Larissa a gente pode ir no banheiro?
B: Vocês vão juntos no ban...
Não esperei ele terminar e arrastei a Lari por toda a praça e alimentação. Ela não falou nada. Até que a gente encontrou uma porta, a qual dava naqueles corredores que já falei antes. Entramos.
G: Fala!
L: O quê?
G: FALA CARALHO! Você acha que eu sou idiota Larissa? Eu sou lento, mas isso ai já tá muito na cara. Primeiro esse escroto me aparece no dia que vou almoçar com você, depois o cinema? Se liga cara, isso aqui não é novela das 8 não e você não é a Gloria Perez. Com toda certeza tem deu dedo aí. É melhor você falar ou eu nunca mais olho na tua cara!
É gente, sou humano, sou cabeça dura, mas só as vezes, hehe. Outro defeito é que sou meio orgulhoso, se eu acho que tô certo. Vou morrer achando e foda-se. A Lari sacou que eu tava falando sério. Então ela abriu o jogo.
L: Tá, eu meio que posso ter falado sem querer...
Fiz cara feia
L: Ok, eu demorei a responder se a gente ia almoçar na sexta ou no sábado porque eu fui confirmar com o Bruno o dia que ele podia...
Cara eu não acreditei. Minha melhor amiga? Como ela pode? Ela não tinha o direito de fazer isso. Eu estava muito confuso em relação ao que rolou e ela ainda me joga essa bomba? Não sei vocês, mas todo esse processo de auto aceitação foi complicado pra mim. Não por preconceito ou algo assim, mas tipo, não dá pra alguém até então hétero, acordar e dizer sou gay. Juro pra vocês, nunca tinha passado pela minha cabeça o interesse por homens, ou eu pelo menos nunca tinha notado. A situação é a mesma de alguém gay, que se relaciona há 30 anos com pessoas do mesmo sexo, acordar e dizer, poxa, sou hétero! Muita informação na minha cabeça.
L: Biel, me escuta! Claro que não fiz isso com intensão de te prejudicar. Eu sou tua brother caralho. Te conheço melhor do que ninguém. Eu sei e você também sabe, que você tá afim. Você só tá com medo. Pow, eu nunca ia deixar algum filho da puta te machucar. Já falei pro Bruno que eu faço ele engolir as próprias bolas se ele fizer alguma cosia contigo. Eu acho o ele um cara bacana de verdade, se você pudesse se ver quando vocês estão perto um do outro, você teria feito o mesmo. E não é possível que tenha preconceito ou algo assim, até porque você foi o que mais me apoiou eu tenho certeza que é só medo. Larga essa marra e dá uma chance pro cara, porque ele tá afim, sem falar que o filho da mãe é gato, se eu curtisse você sabe que a gente ia disputar esse boy.
A gente conversou por alguns minutos, em síntese foi mais ou menos isso daí que a Lari falou. Não dá pra lembrar de tudo, né? Escutei tudo que ela tinha pra dizer. Confessei pra Lari que achava que ele tinha mexido comigo, a vadia ainda disse “Eu já sabia – Fazendo cara desdém”. De qualquer modo, mesmo com a mente um pouco mais limpa eu não estava legal. Terminei a conversa com a Lari e fui pra casa, e não, não me despedi do Bruno. Relacionamentos comigo nunca foram fáceis, mas fazer o que né? Sou eu. Tudo isso foi no sábado. No domingo assisti alguns episódios de Game of Thrones. Refleti, pensei, quebrei a minha cabeça. Tenho esse porém de pensar muito nas consequências das minhas atitudes, mas enfim. Durante a semana me afoguei nos livros e na sexta resolvi enfiar o pé na jaca, comprei uma lasanha congelada (que delícia né a vida de estudante?) e uma garrafa de vinho. Preciso falar que estava “alegre”? Ou talvez nem estivesse, mas gosto de dizer que foi a coragem do álcool.
G: Tá aí?
...
Tomara que esteja!
L: Tô gato, quê que foi?
G: Número
G: Bruno
G: Manda aí
A Larissa sabia que se falasse algo espantaria a minha coragem, mas na primeira oportunidade ela passou na minha cara.
L: CONTATO +5511
Levei a taça à boca, sim eu tinha comprado uma, apesar de estudante curto muito vinho, não dá pra beber em copo de requeijão, né? Rs. Porra mas cadê meu vinho? Garrafa vazia. Eu ouvia alguma música, não lembro o que tocava no notebook. Mas, umas das músicas que sempre estão na minha playlist é: I Hate Everything About You - Three Days Grace (Vamos fingir que é novela das 8 e por pura coincidência era essa música que tocava).
“Only when I stop to think about it
I hate everything about you!
Why do I love you”.
G: Oi
[continua]