Pedreiro Safadão
O projeto de vida dos meus pais sempre foi o de morar numa casa espaçosa cercada por um amplo jardim, onde fosse possível manter uma horta e algumas árvores frutíferas. Algo que remetesse ao clima de interior sem, contudo, abrir mão das facilidades da cidade e, muito menos, distanciar-se demasiadamente do trabalho do meu pai e das universidades onde eu e meus dois irmãos estudávamos. Depois de quase um ano de procura eles acabaram encontrando o que queriam. Uma área com quase cinco mil metros quadrados, com ligeiro aclive, num condomínio nos arredores de São Paulo, onde predominava um trecho quase intocado de mata atlântica, no topo de um talude natural donde se podia avistar o horizonte quase sem interferências. No extenso condomínio predominavam residências de alto padrão, que se mantinham isoladas e indevassadas devido ao tamanho dos lotes. Nosso futuro endereço não distava mais do que oito quilômetros da empresa onde meu pai era o diretor executivo, e cerca de cinquenta minutos de carro da USP, onde eu cursava o primeiro ano de administração.
Outro meio ano se passou entre o estudo, o detalhamento e, as modificações que eles fizeram em parceria com o arquiteto. Num agosto frio e de garoa quase constante se iniciaram as obras com uma rápida terraplanagem e a sondagem do terreno. Enquanto uma empresa cuidava dessa etapa, a equipe de funcionários da construtora responsável pela execução da obra começou a erguer um galpão provisório, que serviria de alojamento para um ou dois funcionários, que passariam a residir no local e, um depósito, para a guarda dos materiais.
A casa, propriamente dita, só teve suas obras iniciadas em meados de setembro, quando a primavera já começava a encher as árvores do condomínio com uma explosão de cores em suas copas. O cargo do meu pai o impedia de ir visitar a obra com a frequência necessária para acompanhar sua evolução. Meus dois irmãos mais velhos estavam hiperatarefados, o mais velho cuidado de sua pós-graduação, e o do meio terminando o último ano da faculdade e encarando um estágio de meio período numa multinacional. Portanto, me delegaram a função de ir checar a obra diariamente após a faculdade, e meus pais se incumbiriam de uma visita mais prolongada, junto com o arquiteto e o engenheiro chefe da construtora, aos sábados pela manhã. Antes que eu pudesse me revoltar contra esse arranjo o que, de qualquer forma, seria inócuo, meus pais já me despejaram uma porção de conselhos e orientações de como eu deveria conduzir essas visitas. Como caçula não me restava muito que fazer, a não ser, não criar problemas.
Quando essas peregrinações começaram, eu até que não achei as coisas tão ruins como havia imaginado. Um amigo da faculdade, o Sergio, veterano do último ano e, que foi um dos responsáveis pelo meu trote no primeiro dia de aulas, e ainda que, por residir próximo do nosso atual apartamento, revezava a carona comigo, se ofereceu para me acompanhar nessas visitas.
O trote na USP não costuma ser dos mais civilizados. Eu já estava com o cabelo todo repicado, a cara cheia de tinta, o peito e as costas repletos de desenhos e figuras, quando resolveram tirar minhas calças e me deixar, junto com mais duas dezenas de calouros, só de cueca. No meio daquela balburdia toda, não houve quem não reparasse nas minhas coxas grossas e extremamente lisas e, muito menos, naquilo que desde a adolescência, havia se transformado no meu maior motivo de timidez, uma bundona carnuda exageradamente empinada, que preenchia meus jeans e, especialmente, qualquer bermuda ou short, com um volume delicioso que fazia a cabeça das garotas, e enchia os marmanjos de más intenções. Desde aquele dia o Sergio começou a fazer parte dessa trupe alucinada por brincar com aquelas carnes roliças, fosse beliscando-as, fosse alisando-as enquanto falava obscenidades. O que o diferenciava dos outros, e eu demorei quase um semestre até perceber isso, é que ele não só estava interessado nela, como passou a sentir um ciúme pouco disfarçado dos que queriam me bolinar. O primeiro arremedo dessa obstinação aconteceu no próprio dia do trote, quando uns carinhas resolveram me agarrar e enfiar as mãos dentro da cueca para apalpar minhas nádegas in natura. A coisa ficou mal parada quando ele, em minha defesa, começou a desferir golpes de judô nos mais abusadinhos. Eu gostei do seu gesto corajoso e, desde então, com o convívio diário, passei a admirar outras qualidades de sua personalidade, e acabamos nos tornando bons amigos.
Essa amizade ganhou contornos mais íntimos e sólidos durante uma viagem até Fernando de Noronha que fizemos durante a semana da pátria, pouco antes do início das obras da nossa nova casa. Tudo começou quando ele me convidou para conhecer a pousada que um tio dele mantinha em Noronha, durante nossa semana sem aulas devido ao feriadão de 7 de setembro. Era praticamente a única folga que eu experimentei nos últimos tempos, uma vez que havia passado o ano anterior inteiro me preparando para o vestibular. Ao entrar na faculdade no início do ano o verão já havia terminado, e eu perdido a chance de curtir uma praia e ganhar uma corzinha. A pousada do tio dele é uma das mais chiques de Noronha, pelo que fiquei sabendo depois de aportarmos na ilha. Dividimos um bangalô com uma espetacular vista para o mar, que proporcionava alvoreceres e pores do sol inesquecíveis. Era a primeira vez que eu estava em Noronha e o Sergio fez questão de me mostrar cada canto maravilhoso daquele paraíso.
Em poucos dias minha pele muito branca e lisa, herança da ascendência germânica, adquiriu um bronzeado que começou a mexer com o imaginário libidinoso dele. A liberdade da pouca roupa, o vento morno que sopra praticamente o dia todo na ilha, a luminosidade constante do sol, as noites de um céu límpido e coalhado de estrelas quando uma brisa fresca trazida pelo mar embala o sono, deixaram-no ousado e cada dia mais próximo. Na antevéspera de nossa partida, tínhamos surfado quase que o dia todo. Chegamos à pousada com o poente do sol, e fomos avisados por um funcionário da pousada que os hóspedes haviam solicitado a realização de um luau na praia naquela noite e, se estivéssemos dispostos poderíamos nos juntar à festa.
Um jantar bem tropical foi servido sob uma tenda montada na areia da praia junto à pousada. Uma banda tratou de animar o pessoal com um repertório eclético, basicamente casais em lua-de-mel, descolados que podiam se dar ao luxo de viajar fora das temporadas, e estrangeiros curtindo o calor dos trópicos. Passava um pouco da meia noite quando resolvemos voltar ao bangalô, pois queríamos acordar cedo no dia seguinte, o último de nossa estada, para ver as atrações que ainda não tínhamos visto. Disputamos no par ou ímpar quem seria o primeiro a tomar uma ducha antes de cair na cama, e eu venci.
- Não sei por que você não me deixou entrar na ducha junto com você? – disse ele, enquanto eu terminava de me enxugar com a toalha enrolada na cintura.
- Engraçadinho! Você anda muito cheio de ideias ultimamente – retorqui, com um sorriso amarelo.
- Deixe eu ver essa bundinha, deixa; ... Agora que a sunga deve ter deixado uma marca bem gostosa nessas nádegas roliças. – provocou, levantando-se da cadeira onde estava sentado na varanda e caminhando na minha direção com a intenção de tirar a toalha.
- Sai para lá! Vai esfriar essa cabeça debaixo da água fria e me deixe em paz! – esbravejei, quando ele quis arrancar a toalha. – Vai usar essas mãos para tirar esse suor, que você está todo suadão. – emendei.
- Deixa de ser manhoso e me deixe ver essa bundinha. – insistiu. – Vou usar as mãos para bater uma punheta pensando nela, ou melhor, você podia bater uma bronha para mim. – disse rindo, enquanto eu me esquivava de suas investidas.
- Pare de encher o saco! Vai logo para o chuveiro! – berrei, quando ele conseguiu ficar com a toalha nas mãos e seus olhos se arregalaram sobre a minha nudez.
- Olha o escândalo, têm hóspedes nos bangalôs ao lado! – advertiu, divertindo-se com o meu constrangimento, e colocando do dedo sobre os lábios para me mandar baixar o tom da voz.
- Devolve essa toalha, caralho! – falei sério.
- Só se você me deixar dar uma beliscada nessa bundona! – sussurrou malicioso.
- Vai sonhando! Chega dessa brincadeira, vai. Me deixe em paz. – revidei, tentando por fim àquela situação.
- Que falta de solidariedade! – exagerou, lançando a toalha em minha direção.
Achando que ele tinha desistido da sacanagem, me distraí momentaneamente ao voltar a secar os cabelos, quando ele me abraçou pela cintura e lançando o peso de seu corpo sobre o meu me derrubou sobre a cama.
- Largue, cara! Que saco! – protestei indignado.
Mas ele fez uso de sua força, que era muito maior que a minha, e pegou meus pulsos apertando-os contra a cama ao lado da minha cabeça. Nossos rostos ficaram a centímetros um do outro, e ele esfregou seu corpão de 100 quilos no meu, em movimentos insinuantes. Seus olhos se fixaram nos meus e ganharam um brilho predatório. Eu tentava me desvencilhar, mas isso só fazia com que nossos corpos experimentassem um contato maior, e me fizeram sentir sua ereção.
- Vou dar uma joelhada nessa sua ousadia! Estou avisando! – ameacei.
- Você não seria tão maldoso comigo. – disse, confiante. No entanto, ele não pagou para ver. Tratou de enfiar uma de suas pernas entre as minhas e voltou a me encarar.
- Dominado! – revidou vitorioso.
Antes que eu pudesse retrucar, ele aproximou seus lábios dos meus e os apertou contra a minha boca. Seu sabor era envolvente e tinha um gosto de proibido, mas muito gratificante. Parei de me agitar e desfrutei daquela sensação pecaminosa. Ele começou a forçar a língua na minha boca e, sedutoramente, entrelaçava-a com a minha. Suas mãos já não precisavam fazer tanta força para manter seus braços imóveis e, aos poucos, ele foi descendo com elas pelas minhas costas até alcançar as nádegas, que agarrou num aperto firme e voluptuoso. A respiração dele começou a acelerar, junto com a minha. Ele enfiou a cabeça no meu pescoço num ímpeto voraz, e aspirou o perfume da minha pele recém-banhada. As mãos tateavam soberanas, e exploravam cada centímetro dos meus glúteos, que reagiam se contraindo pudicamente e arrepiando a pele alva que os cobre. Pela primeira vez eu senti o tesão se apoderando do meu corpo de uma maneira quase selvagem. De repente, eu queria sentir aquela pele, suada e quente, colada na minha. Eu queria sentir o sabor daquela saliva entrando na minha boca. Eu queria sentir aquele cheiro másculo que ele exalava por todos os poros, como se fosse um almíscar que ele espalhava para deixar claras as suas intenções. Os biquinhos dos meus mamilos denunciaram esses desejos refreados, intumescendo-se e se projetando numa saliência despudorada. Um sorriso de satisfação e luxúria se formou em seu rosto, e ele começou a lamber meus mamilos com avidez carnal. Eles estavam tão sensíveis que, ao sentir a língua áspera dele circundando meus biquinhos, eu soltei um gemido prazeroso e provocante. Ele os lambeu e mordiscou demoradamente, deliciando-se com o tesão que aquilo me causava. Foi o ardil perfeito para desviar minha atenção para aquilo que ele realmente pretendia; enfiar um dedo no meu cuzinho, que durante todo esse tempo continuava à mercê de sua tara. Quando senti aquela invasão abrupta, um grito sufocado saiu da minha garganta e eu travei toda a musculatura da minha pelve num espasmo violento. Era tarde para impedir seu assanhamento, o dedo dele fazia movimentos circulares dentro do meu ânus e me provocava uma concupiscência delirante. Agora era ele quem se esfregava em mim com o tesão a lhe arder de desejo, incendiando seu corpo com uma chama lasciva. A pica, de tão dura, saíra pelo cós da cueca e deixava nas minhas coxas uma viscosidade aquosa de cheiro pungente. O quarto começava a se impregnar daquele aroma viril, arrefecendo meus últimos e tênues movimentos de resistência. Ele puxou minhas pernas na altura dos joelhos e as abriu ao redor de seu corpo; flexionou-as em seguida e deixou minha bunda, devassadamente, empinada para receber o toque de sua virilha. Roçou a jeba enrijecida no meu rego melando-o com o pré-gozo que brotava da cabeçorra descomunal.
- Eu quero você! – sussurrou no meu ouvido, antes de voltar a me beijar cheio de desejo.
Com as duas mãos sobre as nádegas ele as apartou e começou a friccionar a virilha de encontro às profundezas do meu reguinho, onde minhas preguinhas se contraiam descompassadamente denunciando a presença do meu cu virginalmente angustiado. Hábil e certeiro ele apontou a glande intumescida de seu caralho contra aquele orifício exposto e começou a forçar sua penetração. Eu reagia temeroso, contraindo-o protetoramente, o que só fazia aumentar suas necessidades e seu tesão. Quando o cacete distendeu as pregas e perpassou meu esfíncter anal indo se alojar nas minhas entranhas, outro grito assomou meus lábios, mas desta vez, sonoro e gutural. Meu corpo tremia sem controle, como se ondas de frio e calor o percorressem. Quando eu senti o sacão dele batendo contra as nádegas, eu percebi que aquele carinho e aquela vontade de estar ao lado daquele homem enorme, era maior do que eu imaginava. Uma súbita vontade de apertá-lo em meus braços começou a ganhar força, e eu o envolvi deslizando as mãos pelas costas nuas dele. Aquilo que latejava e pulsava dentro de mim, se agitando como uma fera selvagem, era tão enorme e musculoso quanto ele. E, embora doloroso, provocava em mim a melhor sensação que já havia experimentado. Enquanto ele movimentava aquele caralhão num vaivém rítmico e penetrante, eu o apertava com a musculatura anal, querendo que aquele momento se eternizasse no meu corpo. Eu podia sentir a potência e a agressividade do instinto sexual dele me consumindo, mas ao mesmo tempo percebia como ele dava vazão, a gana que estava sentindo, com um cuidado e desvelo para não machucar meu cuzinho castiço. Simultaneamente à sensação de que o cacetão dele estava ficando mais grosso, a pressão e a cadência das estocadas foi aumentando, o que me fazia ganir numa agonia crescente. O calor nas minhas entranhas aumentou tanto que eu comecei a gozar, pouco antes de sentir que meu cuzinho estava sendo inundado pela ejaculação de seu gozo. Um som rouco, vindo do interior de seu peito inflado, ecoou pelo quarto, antes dele começar a esboçar um sorriso abobalhado de satisfação. Eu adorava quando ele dava esse sorriso e, nesse momento, ele adquiriu um significado mais profundo, por eu saber que ele era resultado da minha entrega aos seus caprichos sexuais. Nossos olhares fixaram-se mutuamente, enquanto o frêmito que percorria nossos corpos agitados ia voltando ao normal. Começamos a nos beijar, de inicio com uma suavidade indulgente, que começou a ganhar força até eu sentir a saliva doce e máscula dele se mesclando à minha, que ele devorava como que para eternizar o meu sabor em sua boca. Aquele cheiro dele de eu tanto gostava, e que nunca me fora indiferente ao estarmos próximos, agora estava em mim, impregnado em cada célula do meu corpo, como uma chancela atestando aquela união. Ele demorou a sair de dentro de mim e, quando o fez, deixou o pauzão pesado, ainda gotejando porra, deslizar lentamente para fora do meu cu. Ele viu quando as preguinhas se fecharam abruptamente ao redor do arregaço que o cacete dele havia feito em mim.
- Eu não quis te machucar. – disse, me encarando com doçura. – Mas acho melhor você vir para a ducha comigo. – emendou, quando um filete rubro escorreu do meu rego tingindo a toalha sobre a qual eu estava deitado.
- Não me sinto ferido, ao contrário, nunca me senti tão pleno em toda a minha vida. – respondi, sem saber, até então, que minhas pregas estavam sangrando.
Embora eu não fosse nem um pouco delicado, pequeno ou muito menos leve, ele me tomou em seus braços e me levou até o box do chuveiro. Foi só ali que eu percebi aquele filete vermelho escorrendo por uma das coxas. Corei na hora e timidamente deixei cair o olhar, num constrangimento embaraçoso. Assim que a água da ducha deslizou pelo meu corpo, ele meteu a mão na minha bunda, cheio de malícia e sensualidade, e lavou meu cuzinho. A satisfação por ter infligido ao meu cuzinho o vigoroso rótulo de sua masculinidade estava estampada em sua expressão de felicidade.
- Agora você é meu, todinho meu! – murmurou no meu ouvido, enquanto chupava meu pescoço.
Quando a espuma de banho desceu pelo corpo musculoso e ensaboado dele, ele pegou minha mão e a levou até seu membro, cobrindo-a com a sua, e a fez deslizar pelos pentelhos da virilha. Eu acariciei a jeba e o sacão pesado, enquanto ele gemia e se contorcia de prazer.
- Faz tempo que eu sonho com as carícias dessas mãos suaves. Você merece um prêmio por fazer isso tão bem, sabia? – sussurrou, deixando a malevolência daquele desfrute, massagear seu ego.
- Ah é? E que premio seria esse? – provoquei, apertando carinhosamente suas bolonas.
- Quando voltarmos para a cama, eu vou entregar o seu prêmio. Entrega direta em domicílio, sem direito a devolução! – exclamou endiabrado.
- Hummm ... Acho que vou adorar esse prêmio. – revidei, cheio de tesão. E, aos vinte anos, usufruí maravilhado, numa felicidade contagiante, a entrega da minha virgindade a esse macho querido e tão zeloso.
Comprometendo toda a nossa programação para o último dia em Noronha, só fomos cair, exaustos, no sono, quando o alvorecer começou a infiltrar uma luz preguiçosa pelos vãos das treliças que fechavam os grandes janelões do quarto. Antes disso, um ímpeto e uma necessidade desenfreada dos nossos corpos, clamavam por contato, por afagos, por ele se alojar em mim. Adormeci sentindo a pica dele amolecendo no meu cuzinho esfolado.
No final de novembro, e após uma semana de chuva, as sapatas e o baldrame que formava o alicerce da casa estavam concluídos. Começava a etapa de levantamento das paredes, o que o engenheiro chefe garantiu ser uma etapa relativamente rápida, ao final da qual já se esboçaria o perfil de uma residência. E assim foi. Quando as estruturas para a montagem das vigas que sustentariam a primeira laje estavam em execução minhas idas, sempre acompanhado do Sergio, eram praticamente diárias. Como nossas aulas estavam concentradas no período da manhã, sempre visitávamos a obra no início da tarde, depois de ter almoçado na minha, ou na casa dele.
Numa dessas tardes o Sergio precisou buscar um livro que havia encomendado na livraria Cultura, no Conjunto Nacional, para o trabalho de conclusão de curso. Saímos da faculdade e fomos em direção à avenida Paulista buscar a encomenda. Na volta, ele estava dirigindo o meu carro, uma rotina que começara nem sei bem como, durante o revezamento de carona; mas da qual eu gostava muito, uma vez que não sentia prazer ao volante, especialmente no caótico trânsito paulistano quando, descendo a rua Haddock Lobo resolvemos parar num restaurante para almoçar. O lugar estava lotado, mesmo passando das duas horas da tarde. Nas mesas, quase todas ocupadas por executivos da região, descolados e jovens que perambulavam pelas lojas de grife das ruas do entorno, a conversa rolava animada. Depois de uma pequena espera, conseguimos uma mesa no centro do salão, iluminado por uma claraboia no teto de bambu e visível de qualquer ângulo do restaurante.
- Daqui a pouco eu vou precisar levantar e ver qual é a daqueles babacas da mesa junto ao balcão do bar. Desde que você passou por eles, não tiram o olhar de cima de você, além de ficarem cochichando e dando risadinhas idiotas em nossa direção. – praguejou enquanto aguardávamos a chegada do nosso pedido. E, com aquele mau humor que se formava quando algum carinha ficava me olhando. Uma característica dele que se acentuou depois de nossa vinda de Noronha e, que às vezes me incomodava um pouco.
- Nada disso! Trate de ficar na sua. Não vai me arrumar um escândalo aqui dentro. – falei determinado, e lançando um olhar de soslaio para os dois trintões bem apessoados, um de terno e gravata, que havia pendurado o paletó no espaldar da cadeira; e o outro, de jeans preto e camisa esporte listrada com as mangas enroladas até os cotovelos.
- Então é bom eles pararem, coisa que eu não estou conseguindo ver! – continuou furioso.
- Distraia-se com outra coisa, e esqueça-os! – exclamei. Tentando não rir da sua cara zangada, e das bufadas que ele dava.
Mal eu acabara de pronunciar esse conselho, o cara de jeans vem caminhando em direção a nossa mesa, com o olhar fixo em mim. Comecei a sentir um agito se apoderando do meu peito e fechei a cara.
- Oi, desculpe te incomodar, mas eu sou gerente de uma agência de modelos, e seu perfil chamou minha atenção, assim que te vi entrando. Aliás, a nossa. Aquele é um cliente nosso que também se interessou por você. – disse, num tom cordial e profissional. – Você já fotografou alguma vez? – perguntou.
- Não, nunca! – respondi desconfiado, sob o olhar de protesto do Sergio.
- Não gostaria de experimentar? Eu garanto que você vai se surpreender. Você tem tudo e, algo a mais, que um modelo precisa. Sinceramente, é difícil encontrar alguém assim, praticamente pronto. – continuou, enquanto me encarava com mais perspicácia.
- Ele já disse que não, cara! – vociferou o Sergio, enciumado.
- O que você faz atualmente? – perguntou o cara, sem dar importância à intervenção do Sergio.
- Eu sou estudante de administração, e não tenho tempo. Me desculpe, mas valeu! – retruquei com um sorriso tímido.
- Olhe, eu vou te deixar o meu cartão. Pense um pouco no assunto. Pode ser uma coisa bem divertida e render uma boa grana. No seu caso eu até já teria um cliente interessado, que é aquele, para uma campanha de cuecas. E como também atuamos em desfiles de moda, posso descolar uma confecção rapidinho. Você já começa com tudo! – disse, entusiasmado.
- Valeu, ... Fabricio! Mas como eu disse, acho meio impossível no momento. De qualquer forma obrigadão! – respondi, lendo o nome estampado no cartão.
- Você não quer me deixar o número do seu celular? Quem sabe eu possa te convencer numa outra hora? – insistiu.
- Cara, eu acho que você é surdo! Ele não te disse que não está a fim? – irrompeu Sergio, levantando-se da cadeira num gesto agressivo.
- Por favor, Sergio! Ele só está fazendo o trabalho dele. – implorei, sob o olhar curioso das mesas ao redor.
- Cara, acalme-se! Não é fácil encontrar alguém como seu amigo, e eu sei que ele pode se sair muito bem nesse trabalho, por isso da minha insistência. – retorquiu o cara, não se intimidando com a postura do Sergio, o que o deixou ainda mais furioso.
- OK, vamos encerar essa conversa. Aqui você tem o número do meu celular, outra hora a gente conversa, está bem? – disse, enquanto anotava o número num guardanapo de papel.
- OK, até mais! – exclamou, se afastando.
- Você não podia ter feito isso! O cara estava te passando uma cantada e você caiu feito um pato. – esbravejou o Sergio, dando um soco na mesa.
- Estão todos nos olhando. Por favor, pare e se acalme. O cara é um profissional e está resolvendo um negócio. – falei, tentando acalmá-lo.
- Eu até sei no que ele é profissional! – retrucou espumando de raiva.
- Você acaba de dizer para todo o restaurante que eu sou viado. Trate de engolir rapidamente o que está no seu prato e vamos sair daqui. – disse, tentando controlar minha raiva e manter a pose diante daquela plateia focada na nossa mesa.
- Como assim? A culpa agora é minha? – revidou
- Se você continuar esticando esse assunto eu vou me levantar e sair daqui. – ameacei.
Discutimos o caminho todo até a obra e depois até em casa. Eu tentava fazê-lo enxergar o erro que havia cometido, me expondo como se eu fosse propriedade dele, e dando bandeira de que rolava alguma coisa entre a gente. Mas o seu ciúme não o deixava ver a situação com clareza e a teimosia continuou. Para me deixar menos furioso, começou a me encher de dengos e gentilezas nos dias que se seguiram. Eu gostava demais dele para não perdoá-lo, e no terceiro depois do incidente, ele se sentiu satisfeito com um longo e demorado beijo que trocamos quando ele me deixou em casa depois da visita à obra.
- Se você estiver a fim de fazer aquelas fotos, ligue para o cara. Mas, eu vou te acompanhar. – disse, entregando os pontos; e com aquela cara de quem faz uma concessão pelo filho ter sido obediente.
Agora o número de funcionários que a construtora colocou na obra havia aumentado, cerca de vinte e cinco pessoas, entre pedreiros e ajudantes se moviam pelo canteiro. O esqueleto erguido já deixava ver o contorno suntuoso da casa. As aulas na faculdade terminaram e estávamos em plenas férias. Depois dos festejos de final de ano, meu pai me incumbiu de mais tarefas relacionadas com a construção, e eu via meu verão sendo partilhado pelas idas até a casa de praia, onde aproveitava para pegar umas ondas, e depósitos de material de construção, home centers e por aí vai. A cerimônia de colação de grau do Sergio era outro evento que estava ocupando parte do meu tempo, pois ele quis que eu o acompanhasse até a loja de trajes a rigor onde mandara confeccionar o terno da formatura e o smoking do baile.
O mestre de obras trouxe dois pedreiros, sobrinhos seus, do interior de Pernambuco, para reforçar a mão-de-obra. Ambos deviam estar com uns trinta e poucos anos e moviam seus corpos musculosos, conseguidos na lida com o trabalho pesado, com uma agilidade felina. Um deles, chamado Emerson, ficou morando no alojamento para cuidar do lugar nos finais de semana.
Num domingo pela manhã meu pai me mandou deixar na obra uns croquis, que haviam sido alterados pelo arquiteto, pois no dia seguinte o mestre de obras precisava das referências contidas neles. Cheguei lá pouco antes da hora do almoço e só encontrei o Emerson. Ele devia ter acordado há pouco e ainda estava com cara de sono. Saiu do alojamento num short curto, no qual o zíper estava meio aberto, e onde ele estava com a mão atolada dando um trato no cacete que não escondia suas proporções debaixo daquele pano. Longe de se intimidar com a minha presença e com os disfarçados olhares que eu lançava para aquela verga, ele continuava a massageá-la com uma sensualidade provocadora. Quem começou a se sentir constrangido fui eu, e até gaguejei ao lhe explicar o motivo da minha presença em pleno domingo. Aquilo parecia diverti-lo, tanto que explicitou os movimentos da mão para chamar ainda mais a minha atenção para aquela região de seu corpo. Estimulado pelo toque contínuo, o caralhão começou a enrijecer e logo a cabeçorra arroxeada saiu por uma das pernas do short. Eu engoli em seco, perdi o rumo do que estava falando.
- Gostou? – perguntou, interrompendo o transe no qual eu havia mergulhado.
- O que? ... Como? – balbuciei confuso.
- Eu perguntei se você gostou do que está vendo? – repetiu, calmamente com um sorriso irônico.
- Eu hã, ... eu não sei do que você está falando. – gaguejei, procurando me recompor.
- Quer experimentar se ele não é melhor do que o do seu machinho? – disse, petulante.
- Você perdeu a noção das coisas, cara? Qual é a sua? – indaguei, tentando me impor.
- Aposto que ela vai te deixar mais satisfeito do que a daquele machinho! – exclamou arrogante.
- Se toca, cara! Que folga é essa? Não sou seu amiguinho para você ter esse tipo de conversa. – retruquei, irritado.
- Mas pode ser, é só você querer. Ele está doidinho para foder essa bundona gulosa. – respondeu, colocando aquela jeba imensa completamente para fora do short.
- Cara, seus dias nesse emprego estão contados. Pode ter certeza disso. – revidei, desconcertado pela visão daquele membro.
- Quem não está entendendo o nosso papo é você, o putinha! – disse, aproximando-se de mim e agarrando meus cabelos com a mão livre.
- Aí. O que você pensa que está fazendo? – gritei, sentindo ele quase arrancando meus cabelos.
- Ajoelha aí, putinha! – ordenou, forçando minha cabeça para baixo, e empurrando-a com força contra sua virilha peluda. – Abre e boca e dá um trato no meu cacete! Qualquer gracinha e você vai se arrepender de não ter feito um boquete com bastante carinho. – ameaçou.
Assim que meu rosto afundou naqueles pentelhos grossos, eu senti um cheiro quente e denso invadindo minhas narinas. Quanto mais eu arfava mais aquele aroma moscado me subjugava. Ele esfregou a pica no meu rosto e logo ela começou a babar abundantemente. Ele ordenou mais uma vez, com gana, que eu abrisse a boca. Confuso e sem saber como reagir, eu passei os lábios sobre a glande úmida e brilhante e comecei a chupá-la. Ele urrava enquanto movia a pica que ia endurecendo na minha boca de maneira impressionante. Pouco depois aquela verga não cabia mais na minha boca e ele, segurando firmemente minha cabeça, começou a estocar e foder minha garganta.
- Isso mauricinho viado, chupa meu cacete. Lambe e engole o melzinho que é todinho seu. – gemia, deixando o ar escapar entre os dentes cerrados.
O sabor salgado e fortemente amendoado daquele caralho tinha a constância de um macho viril. Eu engolia minha própria saliva temperada com esse sabor e comecei a sentir engulhos aflorando na minha garganta.
- Nada de vomitar, sua putinha! Não está acostumado a chupar um caralho de macho? Seu machinho não faz você mamar a caceta dele? – perguntou, enquanto se contorcia no prazer da minha boca trabalhando. – Eu vi vocês dois esses dias dando uns amassos depois daquelas árvores. Ele não tirava a mãozona curiosa dessa sua bundinha carnuda, e você beijava aquele galalau cheiro de carinho para dar. Aposto que depois que vocês saíram daqui, ele meteu o caralho nesse cuzinho tesudo. – disse, revelador.
- A minha vida não é da sua conta, e você não tem o direito de fazer o que está fazendo comigo. – retruquei, tomando folego.
- Quem mandou parar de mamar? Chupa meu cacete, chupa viadinho! – ordenou, com um safanão nos meus cabelos, que ele continuava a manter em sua mão.
Pouco depois ele firmou as pernas bem abertas e contraiu os quadris, ao mesmo tempo em que empurrava minha cabeça de encontro a sua virilha. A porra começou a entrar na garganta em jatos e eu precisei engolir para não me sufocar. Meus lábios ficaram lambuzados com aquele esperma viscoso de sabor amadeirado e cheiro intenso.
- Engole tudo. Nada de desperdiçar a minha porra. Lambe meu dedo aqui, lambe. Tem bastante leitinho para te deixar ainda mais gostoso. – grunhiu, em êxtase. Um violento bofetão atingiu o lado esquerdo do meu rosto e, depois, ele apertou sua boca contra a minha, num beijo carnal e permissivo, enquanto aspirava, inebriado, o perfume cítrico que a pele do meu pescoço emanava em lufadas sutis.
Eu o repelia espalmando minhas mãos contra seu peito peludo, mas ele tinha força suficiente para me neutralizar e dar vazão a sua tara. Eu percebi que me ter sob seu jugo aumentava sua satisfação e lhe dava mais tesão. À medida que ele agarrava meu corpo, e travava uma luta contra a minha resistência, a posse desse corpo de contornos eróticos instigava sua fantasia. Ele sabia que pelos próprios méritos jamais poderia se fartar em algo tão inacessível para sua condição, e o caráter desvirtuado o impelia a alcançar seu desejo pela predação selvagem, pela violência.
Aos poucos ele me arrastou ao longo dos curtos passos que nos separavam da entrada do alojamento. Lá dentro suas mãos já apalpavam minhas nádegas nuas, depois dele ter arriado minha bermuda até quase os joelhos. Nessa condição ficava cada vez mais difícil mover minhas pernas para acertar-lhe um chute nas partes pudendas.
- Calminho! Agora você vai conhecer um macho de verdade, viadinho do caralho. – grunhiu, antes de desferir outro bofetão no meu rosto, com o intuito de me intimidar. Avançando, em seguida, contra os meus mamilos e cravando neles toda a sua necessidade carnal.
Com uma gravata que sufocava minha respiração, ele me atirou contra uma pilha de sacos de cimento que chegavam quase à altura da minha cintura, num dos cantos do barracão. Com um chute em cada uma das minhas pernas ele me obrigou a apartá-las, o que fez minha bunda se empinar sensualmente. A pele imaculadamente lisa e bronzeada dos meus glúteos fartos tinha o contorno lascivo da marca que a sunga havia deixado. Ao esfregar suas mãos calejadas sobre a alvura que rodeava meu rego, a pica dele saltou para fora do short com a braguilha escancarada; rija, bruta, revestida de grossas veias salientes, ávida para se alojar naquele antro acolhedor. Quando ele conseguiu visualizar as preguinhas rosadas do meu cu, os últimos resquícios de racionalidade o abandonaram. Ele se ajoelhou atrás de mim e enfiou a cara nas profundezas do meu rego, e começou a fazer movimentos circulares com a língua sobre as minhas pregas anais. Além de sentir os pelos grossos da barba dele pinicando minhas nádegas, uma sensação libertina passou a fazer meu cuzinho se contorcer em agonia. Foi como se todas as minhas energias, toda a minha sensibilidade e toda minha capacidade tátil migrassem para o meu cu. Eu soltei um gemido refreado pelo temor.
- Está sentindo tesão no cuzinho, não é meu putinho? – falou com tremura na voz, enquanto se deliciava com as contrações involuntárias das quais meus músculos anais padeciam. – Já, já eu vou dar o alento que esse rabinho em brasa está precisando. – emendou, antes de investir novamente contra aquela fenda reptadora.
Quando ele se colocou de pé atrás de mim, mantendo uma das mãos comprimindo meu tórax contra os sacos de cimento, e as pernas bem abertas apertando minhas coxas, eu virei o rosto em sua direção, e constatei, aterrorizado, um brilho devasso e delituoso em seu olhar insensível. O caralhão reto e completamente duro apontava como um dardo para cima, enquanto o sacão ingurgitado balançava viripotente entre aquelas coxas peludas. Com um movimento brusco dos quadris contra as minhas nádegas ele meteu a pica no meu cuzinho. Um grito lancinante encheu aquelas paredes de madeira com o meu repúdio sofrido. Embora o tamanho e a constituição daquele cacete não fossem insignificantes, estavam muito aquém da morfologia avantajada da rola do Sergio, mas a investida truculenta e irracional do Emerson dilacerou minhas pregas e penetrou em mim como uma seta danosa. O cuzinho estava completamente ocluído pelos esfíncteres espásticos, quando foi vilipendiado pela imersão abrupta daquele caralhão. Sem nenhum cuidado ou reserva, ele estocava minhas entranhas com fúria descomunal, deleitando-se com o meu tormento e minha impotência em reagir a sua investida. Eu gania feito uma cadela ultrajada, quando seu rosto se iluminou com riso sarcástico.
- É disso que você gosta, não é sua cadelinha? Sente meu cacete nesse cuzinho apertado da porra. Caralho como você é gostoso moleque! – gemia com os dentes cerrados, deixando escapar o ar que vinha de seus pulmões. – Rebola para o seu macho. Vamos, rebola essa bundinha, viado. – ordenou, esbofeteando mais uma vez o meu rosto esmagado contra o saco de cimento.
- Você vai se arrepender disso, pode ter certeza. – blefei entre lágrimas, como se aquilo aliviasse a dor que eu estava sentindo, tanto no cu, quanto na alma.
- Ficou valente, foi sua putinha? – vociferou, estocando a pica, profundamente, na minha ampola retal. - Você vai acabar gostando tanto desse macho aqui que vai pedir para eu te foder outra vez. – acrescentou convencido.
Eu comecei a soluçar convulsivamente quando ouvi o urro de prazer dele retumbando no ar, sentia o corpo todo retesado e dolorido, especialmente a pelve que era trespassada por uma cólica insuportável. Quando consegui ficar de pé, do meu cu pingava porra e sangue, que se espalhava em gotas úmidas sobre a madeira do assoalho. O cacetão dele estava à meia bomba, e algumas gotas de porra ainda saiam pelo orifício da glande arroxeada. Ele me encarava desafiador e impávido. Uma expressão triunfal observava meu estado fragilizado.
- É bom você ficar bem caladinho. Se eu souber que você deu com a língua nos dentes, vou levar um lero com uns manos da comunidade, meus brothers, e vamos dar um prejuízo em você, alguém da sua família ou naquele seu machinho. Estamos entendidos? – ameaçou.
Eu caminhei até o carro com dificuldade, parecia que minhas entranhas se escoariam pelo rombo que eu sentia no cuzinho, se não o travasse. A umidade pegajosa do Emerson estava aderida em mim, e eu sentia seu cheiro impregnado nas minhas carnes. Chegando em casa, tirei a cueca ensanguentada e me enfiei debaixo do chuveiro, ensaboei o corpo e esfreguei minha pele marcada por equimoses ao redor dos mamilos, como se aquilo me deixasse livre da presença daquele homem. Sentia um ódio profundo por aquele ser desprezível, e um nó travando minha garganta. Passei o restante do dia arquitetando uma maneira de partilhar meu calvário com a família, sem que isso levasse a reações extremadas que colocassem em risco a segurança de todos nós; pois que aquele sujeito era um criminoso não restava dúvida, apenas me faltava avaliar até que extremos ele podia chegar ao se sentir acuado. Envolver a polícia seria me expor a uma condição vexatória sem resultados.
- Eduardinho, aquele seu amigo da faculdade está no telefone. – disse a Jussara, depois de bater por diversas vezes na porta do meu quarto e me tirar daqueles pensamentos insanos. – Você está bem? Está com uma cara estranha. Você não me ouviu interfonando para o ramal do seu quarto? – perguntou, alarmada com o estado em que me encontrou.
- Não, não ouvi, desculpe. Diga a ele que eu saí, e que você não sabe para onde eu fui. – respondi, sem coragem de encará-la.
- Está tudo bem com você? Você me parece bastante esquisito. – insistiu, pois conhecia desde a muito a minha personalidade brincalhona e alegre.
- Está, obrigado. – devolvi, num quase murmúrio.
Minutos depois meu celular começou a tocar sobre a mesa de cabeceira. Quando finalmente ele silenciou, a tela assinalava três ligações não respondidas e a entrada de duas novas mensagens, todas do Sergio.
Só percebi que estava sozinho em casa ao cair da noite. Não tinha comido nada o dia inteiro desde o café da manhã, e estava com sede, por isso fui até a cozinha. A casa estava às escuras e a única luminosidade vinha da rua. Cada passo provocava uma onda dolorida que se propagava por toda pélvis. Os goles de água gelada desceram pela minha garganta aliviando aquele ardor que a mantinha seca. Eu não tinha ideia de onde o restante da família estava, e aquele silêncio aumentou o sentimento de solidão que eu sentia no peito.
Na manhã seguinte, pouco antes das sete meu celular voltou a tocar com insistência. Acordei assustado com o toque dos acordes de ‘Blame’ do Calvin Harris, era a quarta ligação do Sergio naquela manhã.
- Onde foi que você se meteu? Estou te ligando desde ontem à noite. – disse, com sua voz grave soando preocupada.
- Oi, que horas são? Ainda é madrugada. – resmunguei atordoado.
- Eu sei que é cedo, mas não consigo falar com você. Esqueceu que tínhamos combinado de ir ao aniversário do Rodrigo? Tentei te ligar ontem à tarde para combinar o horário que eu passaria aí, mas a Jussara me disse que não sabia onde você estava. Onde você foi? – perguntou angustiado.
- Apareceu um compromisso de última hora. – inventei
- E custava me avisar? E que voz esquisita é essa? – inquiriu desconfiado.
- Ainda não acordei direito. – balbuciei. Eu não suportava a ideia de estar mentindo para ele.
- Estou passando aí, me espere. – sentenciou resoluto.
- Não! – gritei, apressadamente.
- Não, por quê? – O que é que está acontecendo? – sua voz soava cada vez mais aflitiva.
- Tenho que sair agora de manhã. – respondi, amargurado pela sequência de mentiras.
- Aonde você vai, posso ir com você? – insistiu.
- Não, melhor não. Tenho que resolver um assunto. – respondi.
Obviamente aquelas desculpas não o convenceram e cerca de uma hora depois ele estava sentado na sala me esperando.
- O Sergio está lá na sala te esperando. – avisou a Jussara.
- Quem o deixou subir? – perguntei, com certa grosseria.
- Foi o seu pai quem atendeu o interfone antes de sair para o trabalho. – retorquiu, de cara fechada.
- OK, diga a ele que eu já estou indo. – falei, mais brandamente, afinal ela não era culpada pelo meu mau humor.
- Não precisa Jussara, obrigado. Eu já estou aqui. – disse o Sergio, irrompendo no quarto, enquanto ela nos deixava a sós.
- O que é que você está fazendo aqui? – perguntei, zangado.
- Qual é a sua de não me responder e ficar fazendo essa firula toda? – questionou, ultrajado.
- Não é nada. Eu não sou obrigado a ficar dando explicações da minha vida para você. – respondi.
- Que jeito é esse de falar comigo? O que foi que eu fiz de errado? – continuou, sem entender o que estava acontecendo.
- Nada, não foi nada. – retruquei.
- Então por que está me tratando desse jeito? – sua voz e a expressão de seu rosto carregavam uma súplica incompreensível.
- Vamos até a copa, eu ainda não tomei café, você me acompanha? – disse, tentando encerrar aquela situação.
- Não antes de você me explicar o que é que está acontecendo. – proferiu, me enlaçando em seus braços, por trás, e comprimindo, sem querer, meu mamilo ferido.
Soltei um gemido furtivo ao sentir a dor aguda no mamilo. Ele me encarou desconfiado e, sem perder tempo, meteu a mãozona na abertura superior da camisa fazendo os dois primeiros botões saltarem e rolarem pelo chão. Abriu a camisa e fixou o olhar perplexo naquelas manchas violáceas e inchadas que envolviam meu mamilo, onde se distinguiam perfeitamente as marcas de dentadas.
- O que significa isso? Com quem você esteve? Porra, o que foi que você andou fazendo? – ele gritava alucinado.
- Não grite! Não é o que você está pensando, calma. – respondi, tentando fazer com que ninguém ouvisse nossa conversa.
- E o que é que eu estou pensando? Você some quando tínhamos combinado de sair juntos, não responde as minhas ligações, se faz de difícil quando chego aqui, tem o corpo todo marcado por sabe lá que filho da puta, o que é que você quer que eu pense? – continuou, furioso.
- A culpa é sua! – berrei, caindo no choro.
- A culpa é minha? – questionou surpreso, depois de um repentino silêncio, no qual ele não desviava o olhar de cima de mim.
- É sua. Essa mania de ficar me expondo em público. Essas mãos que não conseguem ficar quietas, assim que a gente fica uns instantes sozinhos; que não conseguem ficar longe da minha bunda. Caralho! Só falta você pendurar uma tabuleta em mim escrita ‘viado’. – desabafei, entre as lágrimas que rolavam pelo rosto e a respiração entrecortada daquela acusação.
- Eu não estou entendendo nada! Quer dizer que você sai por aí dando o cu e eu é que sou o culpado? – havia ironia em seu tom de voz.
- Não, eu não saio por aí dando o cu. Eu fui enrabado à força. – protestei, sem conseguir refrear o choro que eclodiu como um vulcão.
- O que é que você está me dizendo? Quem é que te fodeu à força? – ele me pegou pelo braço e me sacudiu aguardando, exigente, uma resposta.
Eu demorei a conseguir soltar as palavras. Quando cheguei ao final da narrativa, já não havia lágrimas nos meus olhos, e eu me sentia seco por dentro. Ele me apertou contra o peito e afagou meus cabelos. Eu sentia o conforto do calor do corpo dele, e um alívio por não estar mais sozinho nessa história. Ele se recostou na cabeceira da minha cama e esticou as pernas, me puxando para junto dele sem me largar um instante sequer.
- Quero que você tire toda a sua roupa. – disse, depois de um longo silêncio, no qual eu permaneci em seus braços.
- Não. Por favor, não. – supliquei
- Não vou fazer nada como você. Eu te amo e jamais faria algo para te machucar, confie em mim. – disse calmamente.
Constrangido e vexado, terminei de tirar a camisa dos ombros e baixei a bermuda e a cueca de uma vez. Ele examinava, incrédulo, o meu corpo de cima abaixo. Além das marcas nos mamilos, vergões arroxeados cobriam minhas nádegas, e a contração dos músculos pélvicos indicava que aquilo que se mantinha tão castamente camuflado no fundo do meu rego, deveria estar mutilado e dolorido. Seu rosto adquiriu uma expressão doída e sombria, os punhos se cerraram e eu vi aquele corpo musculoso e lindo, se transformar num maciço revoltado e feroz.
- Você conversou com os seus pais? Avisou a polícia? – perguntou, enquanto voltava a abraçar meu corpo nu.
- Não, eu não contei nada para ninguém. Ele disse que se eu contasse o que aconteceu colocaria a segurança de todos em risco. – proferi, salientando as ordens do Emerson com as mesmas palavras que ele tinha usado.
- O cacete que ele vai intimidar alguém! – berrou, tomado de um acesso de fúria. – Um filho da puta desses não tem coragem para nada, ameaça para tentar garantir que saia ileso. Se você arrochar um merda desses, ele se borra todo. Isso não vai ficar assim. – continuou, colérico.
- Não faça nada. Ele vai chamar uns capangas e pode sobrevir uma tragédia disso tudo. – adverti.
- Tragédia foi o que aconteceu com você. Eu te garanto que ele não vai ter tanta sorte. – disse, com a certeza de quem sabia solucionar aquela questão.
- Me prometa que não vai fazer nada. Vamos pensar numa saída. Talvez eu converse com os meus pais, eles vão saber que atitude tomar. – ponderei.
- Quem vai me prometer que não vai falar nada com ninguém, por hora, é você. Olhe bem para mim, você entendeu o que eu disse? – perguntou, segurando meus braços e me fazendo encará-lo de frente.
- O que você está pensando? Não estou gostando do seu jeito. – devolvi, preocupado com toda aquela determinação. – Eu acho que preciso procurar um médico, estou sentindo dores e estou machucado. – continuei.
- Claro! É isso mesmo, primeiro precisamos cuidar de você. Eu vou com você. – disse, solidário. – E que médico vamos procurar? – indagou.
- Estou pensando em procurar um proctologista, inicialmente. Dependendo do que ele disser procuro outro, se necessário. Já consultei a relação de especialistas do convênio médico e até já agendei a consulta para o final desta manhã. – disse, mais aliviado por não ter que encarar esta tarefa sozinho.
O proctologista era jovem, certamente não chegara aos quarenta anos ainda. Atlético, cabelos negros e fartos, além de uma barba muito cerrada, que descia pelo pescoço grosso até quase juntar com os grossos pelos do peito que afloravam pela abertura da camisa, tinha um sorriso fácil e caloroso. Trocou algumas frases gentis comigo enquanto me fazia entrar no consultório, e percebendo que o Sergio intentava entrar conosco, pediu-lhe que esperasse do lado de fora. Foi o suficiente para a expressão na face dele adquirir aquele ar petulante e sombrio. Apressei-me a dizer que gostaria que ele ficasse presente. Com um ar minimamente inquisitivo, o médico tomou seu lugar atrás da mesa e nos observou alguns segundos, antes de perguntar pelo motivo da consulta.
Não consegui encará-lo ao expor o motivo de tê-lo procurado. A expressão risonha de sua face desapareceu assim que as minhas palavras, num tom quase sussurrado, chegaram aos seus ouvidos. Um nó ia se formando à medida que meu relato avançava, e eu lutava para que ele não chegasse à minha boca e embaralhasse as minhas palavras. Uma lágrima solitária aflorou no canto do olho esquerdo, e rolou pelo meu rosto antes que eu a pudesse reter.
- Não se aflija tanto, estou aqui para te ajudar. Você foi à polícia, passou por um exame médico com vistas a obter provas judiciais? – começou, de forma acolhedora.
- Não. Não comuniquei o fato para ninguém, além do meu amigo.
- Vou pedir para que você tire as suas roupas e vista isso, depois deite naquela maca, está bem? – sua voz era carinhosa e tranquila.
Encarei o Sergio antes de seguir sua ordem, e ele me acenou afirmativamente com um piscar de olhos. Me despi e coloquei uma espécie de avental quase transparente sobre os ombros, deixando a fenda nas costas completamente aberta. O exame começou pelas manchas arroxeadas ao redor do pescoço, indicando a posição exata onde a mão do Emerson me estrangulara. Depois desceu até o peito rodeado de mordidas e o mamilo, que de tão inchado mais parecia um seio feminino. Ele me tocava com suavidade, sob o olhar atento do Sergio, e me questionava sobre dores ou alguma sensação diferente. Neguei com a cabeça e um som surdo que quase não saía da minha boca.
- Deite de bruços! – pediu. Eu tremia e hesitava ficar naquela posição. – Não tenha receio, eu o ajudo a se virar. – acrescentou, percebendo meu temor.
Ele próprio se espantou com a extensão das equimoses que cobriam minhas nádegas. As marcas das arcadas dentárias do Emerson ainda estavam visíveis no meio do edema negro-violáceo. Apartar minhas nádegas foi dolorido e ele me tranquilizava enquanto as abria com delicadeza.
- Vou precisar examinar seu ânus, e gostaria que você me acompanhasse até a sala ao lado, pois preciso que você fique deitado com as pernas abertas. Ele me ajudou a subir numa mesa ginecológica e a apoiar cada uma das pernas num suporte. A dor que eu sentia para manter as pernas abertas subiu pela minha pelve. O médico retirou um espéculo de uma caixa metálica que estava sobre uma mesinha lateral, e se aproximou de mim explicando o procedimento que tencionava fazer e o desconforto que isso ia me causar. Segurei a mão do Sergio e a apertei com força entre a minha.
- Fique calmo e relaxe, se você sentir dor me avise que paro até que possamos concluir o exame, ok? – disse o médico, me encarando com doçura.
Senti quando ele borrifou um spray gelado que umedeceu minhas pregas, antes de começar a enfiar aquele espéculo no meu cu. Uma dor excriciante fez com que me agitasse e instintivamente procurasse juntar minhas pernas. Soltei um gemido e as lágrimas inundaram meus olhos. Aquele instrumento foi entrando em mim, deslizando sobre a mucosa anal esfolada, devassando meu cuzinho sem que eu pudesse rejeitar aquela invasão. Meus gemidos iam se tornando mais estridentes à medida que o espéculo penetrava minha ampola retal e distendia minhas pregas dilaceradas.
- Você está bastante machucado. Houve lacerações, principalmente no seu esfíncter anal interno, e na mucosa do reto. – esclareceu. – Você já havia sido penetrado alguma vez antes disso? – perguntou.
- Sim. Ele é meu namorado e há pouco mais de meio ano venho mantenho relações sexuais com ele. – disse o Sergio, acariciando meu braço.
- Durante a penetração, você estava tenso e contraiu fortemente sua musculatura, quem o seviciou não se preocupou em aguardar que você relaxasse, forçou a penetração te dilacerando. Vamos precisar fazer uma sutura nessas lacerações e também vamos colher material para fazer culturas para blenorragia e clamídia, apesar de você já ter feito uma lavagem retal.
- Eu fiz inúmeras, ... tentando tirar tudo o que aquele sujeito deixou dentro de mim. E, mesmo assim, continuo sangrando e sinto muita dor. – murmurei soluçando.
- Fez bem, o sangramento e a dor provem dessas fissuras. Vamos iniciar seu tratamento imediatamente. Para começar, vou medicá-lo profilaticamente contra doenças sexualmente transmissíveis de origem viral e não viral, e também pedir um sorológico para HIV, e testes laboratoriais para sífilis, hepatites B e C, trychomonas e HPV. Esses exames serão repetidos dentro algum tempo para que você fique tranquilo.
- Apesar dessa penetração forçada, ter lhe causado essas lacerações, você continua muito apertado, e ficará mais ainda quando se recuperar totalmente. – acrescentou, enquanto desvia seu olhar na direção do Sergio.
Ele realizou as suturas, após me anestesiar, enquanto o olhar do Sergio acompanhava zelosamente os movimentos de suas mãos hábeis. Ao nos despedirmos ele me apertou em seus braços e eu puder sentir o calor daquele peito largo. Um franzido acima das sobrancelhas do Sergio era a evidência de uma contrariedade por aquele gesto carinhoso.
O Sergio ficou em casa comigo todo o restante do dia. Estava muito mais calado do que o normal, mas redobrou sua atenção comigo e estava bastante carinhoso. Tanto que, volta e meia, precisava adverti-lo para conter aquelas mãos impacientes que tentavam sorrateiramente tocar minha intimidade. Ele se despediu logo depois do jantar, que naquele dia aconteceu com toda a família reunida à mesa, algo que de uns tempos para cá, vinha acontecendo com menos frequência.
- Pense bem no que você me prometeu. – falei, ao me despedir dele em frente à porta do elevador, e ele me dar um beijo rápido, antes de descer.
- Se cuide, e sonhe comigo! – disse, zombeteiro.
Minha preocupação aumentou com a partida dele. Voltei a ficar pensativo e distraído. Só percebi que meu pai estava me questionando sobre a entrega dos croquis, depois dele tocar no meu ombro e repetir a pergunta pela terceira vez. Por um breve instante pensei contar o que havia acontecido, mas ele já andava tão cheio de problemas, que eu não queria ser o porta-voz de mais um. Além disso, como contar uma coisa dessas? Eu ficaria marcado perante os familiares, como aquele coitado que foi fodido por um marginal.
No dia seguinte uma ligação interrompeu o café da manhã que eu tomava com os meus pais.
- É da construtora, para o senhor. – disse a Jussara, entregando o telefone para o meu pai.
Um arrepio percorreu meu corpo. A expressão sombria do meu pai dava a entender que alguma coisa desagradável estava acontecendo. Tive dificuldade de engolir os últimos goles de café que estavam na minha xícara. Meu coração batia sobressaltado em meu peito. Eu só conseguia ver a imagem do rosto do Sergio na minha mente.
- Vocês não vão acreditar, parece que houve uma invasão no canteiro de obras do condomínio. Aquele tal de Emerson, que ficou de guarda no alojamento, parece que foi espancado, amarrado e empalado com o cabo de uma enxada. Quando o pessoal chegou para trabalhar esta manhã encontraram o cara ainda inconsciente do lado de fora do alojamento. Mas ao que parece nada foi roubado. – revelou meu pai, num tom entre surpreso e indignado.
- E a portaria do condomínio não viu ninguém suspeito entrando ou alguém rondando o terreno? Afinal, eles têm uma ronda circulante! – revoltou-se minha mãe.
- Não. Disseram que o Sergio foi a única pessoa ligada a nós que passou pela portaria. Aliás, o que ele foi fazer lá? Ele não passou o dia todo com você, e saiu daqui depois do jantar? – questionou meu pai, dirigindo-se a mim.
- É que no domingo eu levei aqueles croquis que você me pediu, mas esqueci de pegar as folhas onde você tinha feito umas observações e que estavam encima da mesa do escritório, e ele se prontificou a deixá-las lá antes de ir para casa ontem à noite. – inventei, criando um álibi para o Sergio.
- Você não devia ter pedido isso para ele. Eu dei essa incumbência para você e quero que se responsabilize pelo que lhe é designado. Esse rapaz não precisa fazer um trabalho que é seu. – censurou-me.
- Eu sei. É que não estava me sentindo muito bem ontem, acho que comi alguma coisa que me fez mal. – completei, tentando deixar a justificativa mais plausível.
- Bem! Não faça mais isso. – determinou meu pai.
Sem que o Emerson reaparecesse no trabalho, soubemos depois de alguns dias que ele havia pedido demissão da construtora. Numa conversa que o Sergio teve com o mestre de obras, numa de nossas idas até o canteiro poucas semanas depois, ele assegurou que o sobrinho estava retornando para Pernambuco por problemas familiares. Notei um sorriso sarcástico, que tinha algo de cruel, se formando no contorno dos lábios do Sergio enquanto o mestre de obras falava, e tive a certeza de que de tinha o dedo dele nessa história.
- Foi você, não foi? – perguntei, assim que entramos no carro.
- Eu o que? – questionou cinicamente.
- E se ele resolver se vingar? – questionei preocupado.
- Ele não vai tentar mais nada. – afirmou categórico
- Como você pode ter tanta certeza?
- Por que ele não quer ir para a cadeia e, principalmente, quer continuar vivo.
- Têm horas que eu fico com medo das suas reações. – disse, olhando para o perfil tranquilo dele, dirigindo como se o que eu estava falando não fosse importante.
- Fico triste ao ouvir isso. Pensei que você fosse me agradecer. – sentenciou, desviando rapidamente o olhar na minha direção.
- Eu sou muito grato pelo que você fez. Você sempre se mostrou preocupado comigo, desde o primeiro dia em que nos conhecemos, lembra? Mas, às vezes, você é truculento, como no caso do Fabricio, e você viu, ele foi supergentil e muito profissional quando fui fazer as fotos. Graças a ele estou faturando uma graninha.
- Está bem, eu concordo. No caso do Fabricio eu fiz um mau juízo dele. Só que eu gosto de você, quero cuidar de você, e não consigo ser sempre racional quando percebo que alguém está a fim de você. Não quero perder aquilo que é meu. E muito menos vou admitir que alguém abuse de você e saia ileso. – disse, zangado.
- Eu sou seu? Não sabia! – fingindo-me de tolo. – Mas, falando sério, eu não quero que essa sua preocupação ou cuidado comigo se transforme numa obsessão. E eu amo você, não me interessa estar com mais ninguém. – completei.
- Você o que? – provocou.
- Não quero que sua preocupação ... – comecei a repetir, antes de ele me interromper.
- Não, não .... A outra frase, aquela em que você falou que sente o quê por mim? – a expressão do seu rosto chegava a ser pueril.
- Tonto! Não dá para falar sério com você. – resmunguei, devolvendo-lhe um sorriso tímido.
- Ah, repete ... vai. – suplicou com um muxoxo.
- Eu amo você, muito! – cedi. – Mas, às vezes, não deveria. – emendei ligeiro.
- Ah, que maldade! Só por que eu quero te proteger?
- Não! Por que você toma atitudes que não deve. – censurei.
- Vai me dizer que você gostaria que aquele filho da puta levasse a melhor? Que nada fosse feito contra ele? O desgraçado te fodeu! É um criminoso e precisa ser contido. – indignou-se.
- Mas há outras formas dele pagar pelo que fez. Não precisa ser você a fazer justiça.
- Ah! Está bem! O que você queria? Ir a uma delegacia e denunciá-lo? O que é que seria feito? ... Nada! Como em todos os casos recentes que a mídia apontou. Espancam, violentam e matam qualquer um que julgam ser homossexual, em pleno centro da maior cidade do país. A polícia faz o que? ... E, quando faz, o que é que acontece? Um juiz babaca manda, o filho da puta, fazer trabalho voluntário ou pagar com cestas básicas. Dá uma pena alternativa. ... Agora o espancado, o violentado, ou a família do morto, ficam como nessa história? São os grandes perdedores, os que além de se foderem, ainda precisam passar pelo papel de trouxas! É essa a justiça desse país, é essa a justiça que a sociedade impõe para aquelas minorias que ela tolera, mas no fundo, não aceita de verdade.
- Eu sei disso. Concordo com seu ponto de vista. O que me preocupa, é você tomando a justiça em suas mãos. E se o cara reagisse? Te fizesse qualquer mal? A gente sabe que está lidando com um bandido. Eu também temo por você. – expliquei.
- Você sabe que a justiça é representada por uma balança, como símbolo de equivalência; a pena para o crime deve ser proporcional ao peso moral do crime. Eu te pergunto? Nesse país a justiça é feita assim? ... Claro que não! O sujeito estupra, mata, faz o escambau a quatro, e qual é a pena? Três anos depois de ter matado, está livre. Alguns meses depois de estuprar está tomando sol na praia. Para outros delitos menores, nem se fala; o sujeito é condenado a pena alternativa que, no fundo, ninguém inspeciona e acaba sendo a liberdade sem punição. E tem mais. A justiça também é representada pela cegueira, como símbolo de imparcialidade, ou seja, não se olha a cara, as decisões se tomam segundo uma sabedoria interior. Outra inverdade em se tratando de Brasil, pois aqui o pobrezinho comete um crime e vira um coitado que a justiça não pune devidamente; um rico aplica um golpe e seus advogados provam por A mais B que ele sofre de problemas mentais. O resultado é que todos se safam e a bandalheira continua. É ou não é?
- Está certo! Você tem razão em muito do que disse, mesmo assim eu prefiro que você não se exponha. Quero um namorado vivo e livre! – sentenciei.
- Quer dizer que eu sou seu namorado? Então valeu cada porrada que eu dei naquele filho da puta. – disse rindo e colocando um dos braços ao redor dos meus ombros.
- Preste atenção no trânsito, olhe para frente! – aconselhei.
- E o que é que eu faço com essa vontade que eu estou de te agarrar e te encher de beijos?
- Segura sua onda! – respondi, fazendo beicinho.
- Explica isso para ele aqui em baixo! – a voz maliciosa e rouca tentando me seduzir, juntamente com aquele volume que ia aumentando seu contorno dentro do jeans.
- Nem comece! – adverti.
- Você sabe judiar de mim. Deveria ser proibido existir um cara tão bonito e gostoso como você, é como mostrar um sorvete para uma criança e não deixá-la tomar. – protestou, inconformado.
- Será que um dia você ainda vai querer provar desse sorvete, depois de tudo o que me aconteceu. – murmurei baixinho.
- Eu sempre vou te querer! O que aquele canalha fez com você não tirou nem diminuiu o tesão que eu sinto por você. Não vejo a hora de você superar esse trauma e estar em condições de me receber, de receber todo o meu amor e a minha tara. – disse, após fazer uma manobra abrupta para estacionar o carro junto à calçada, e conversar comigo sem ter que se preocupar com o fluxo do tráfego. – Você sabe que eu sou tarado por você, não sabe? – continuou, segurando meu rosto entre as mãos, e me encarando com um olhar aquilino.
- Eu tinha essa certeza antes do Emerson me foder, mas agora há momentos em que eu não sei se você vai continuar gostando do meu cuzinho. – sussurrei.
- Tire essa bobagem da sua cabeça. Quando você melhorar tudo vai ser como antes, você ouviu o que o proctologista disse, apesar das lacerações você é muito apertadinho. E, ele nem faz ideia do quão apertadinho quando essas fissuras não estão aí. – sua voz voltou a ganhar aquele tom malicioso e pornográfico que permeava suas conversas quando estava comigo entre quatro paredes.
Março fora um mês particularmente seco. O engenheiro responsável pela obra estava contente pelo fato daquela expressão, de que as águas de março fecham o verão, não terem atrasado seu cronograma. Já fazia quase dois meses que as aulas da faculdade recomeçaram, e eu me sentia mais solitário sem a companhia diária do Sergio, revezando a carona comigo, mas eu ainda contava com ele nas visitas à obra. Porém, poucos meses depois também isso não foi mais possível, pois ele conseguira seu primeiro emprego, e nossos encontros se limitaram a algumas horas duas noites durante a semana. Embora passássemos o final de semana praticamente inteiro juntos, ou na casa dele ou na minha. Eu continuava a fazer o acompanhamento que o proctologista recomendara, e que estava previsto durar pelo menos um ano, período no qual eu teria que refazer os exames laboratoriais pelo menos umas duas ou três vezes. Eu saí aliviado da consulta que aconteceu após o primeiro trimestre do ocorrido, quando ele me comunicou o resultado negativo para as doenças sexualmente transmissíveis. Meu cuzinho já estava completamente cicatrizado desde a consulta anterior. Essa foi a primeira consulta na qual o Sergio não estava presente, pois o agendamento coincidira com a entrevista de emprego dele.
- Vamos fazer mais uma anuscopia, só para verificar se está tudo em ordem. Algumas lesões do HPV podem surgir depois de algum tempo. – disse o médico, no mesmo instante em que acenava com a cabeça para a enfermeira que, imediatamente, começou a fazer os preparativos para o exame.
Desta vez eu não contava com a mão protetora do Sergio, e quando o anuscópio começou a me distender as pregas eu cravei os dedos encravando-os no lençol que cobria a mesa de exames. Ajoelhado e de quatro, com as pernas bem abertas, eu gemia enquanto ele movimentava o retoscópio rígido dentro do meu cuzinho. Quando o procedimento terminou, meu corpo todo tremia, e eu só consegui descer da mesa com a ajuda do médico. Por um breve instante, enquanto ele me ajudava a ficar de pé, e eu apoiava minhas mãos sobre seus bíceps enrijecidos abaixo do jaleco, eu tive a nítida impressão de sentir que ele experimentava um tesão que procurava disfarçar. Algo me dizia que aquela estranha disposição do tecido do jaleco tinha uma forte ligação com o que ele estava sentindo, e que, sem aquele jaleco, seu estado priápico estaria desvendado. Tentei espantar esse pensamento impudico enquanto voltava para casa, mas as minhas necessidades clamavam mais alto, motivadas pela falta que eu sentia do Sergio.
O resguardo que eu havia me imposto foi muito além daquele recomendado pelo médico. Primeiro, por que eu não me encontrava em condições de enfrentar o caralhão grosso do Sergio enquanto o fantasma daquelas fissuras não desaparecesse. Segundo, por que eu temia ter contraído alguma doença daquele crápula, e precisava ter a certeza de que isso não tinha acontecido. E, terceiro, por que eu ainda não conseguira readquirir aquela confiança psicológica que me permitisse me entregar à premência sexual dele. Mas estava completando cinco meses desde aquele domingo trágico, e eu não percebia no Sergio nenhuma intenção de fazer sexo comigo. Ultimamente eu acordava à noite, agitado e com a nuca úmida de suor, quando tinha os sonhos interrompidos enquanto transava com ele. Em sonho eu chegava a sentir meu tesão por ele me levando à loucura, enquanto sentia sua rola latejando nas entranhas. Será que ele não me quer mais? Eu me sentia como um vaso que se espatifara no chão, e que teve seus pedaços colados. Estava novamente inteiro, mas as trincas entre os cacos colados estavam lá, testemunhas do remendo.
- Você anda muito calado ultimamente. O que está acontecendo? – perguntou, numa madrugada em que voltávamos de uma balada.
- Estou com um monte de trabalhos da faculdade. – respondi.
- Você sempre tirou isso de letra. Eu sei que tem alguma coisa mais séria. O que foi que o médico te disse na última consulta? – insistiu.
- Nada. Ou melhor, que está tudo bem. – retruquei.
- Você está me escondendo alguma coisa? Está tudo bem mesmo? – seu tom de voz se tornou duro e inquisitivo.
- Não estou escondendo nada. Eu já disse que está tudo bem. – respondi áspero.
- Então por que você está assim? Esquisito. – continuou.
- Por que você acha que estou esquisito? E, por que perguntou da consulta? Você acha que eu peguei alguma coisa daquele sujeito? – desabafei, tentando descobrir a razão dele não ter me procurado mais.
- Por que, os exames mostraram alguma coisa? – perguntou, enfático.
- Não! – disse, exaltado. – Eu não estou mais inteiro como você queria, não é? – as últimas palavras já saíram entrecortadas pelo choro.
- De onde você tirou essa ideia? Estou me controlando há meses para não pressioná-lo com a minha vontade de comer esse teu cuzinho, e você me vem com essa de não estar mais inteiro. Que bobagem é essa? – vociferou zangado.
- É que eu pensei que você não sentia mais o mesmo por mim depois daquilo. – murmurei.
- Pois pensou errado! – exaltou-se. – Estou respeitando os seus limites, mesmo tendo que fazer todo tipo de concessões. Inclusive a de ficar só na punheta. – disse, mais condescendente.
- Você não merecia passar por isso. Eu sei como você é fogoso e cheio das necessidades. – falei, acariciando a coxa dele enquanto dirigia.
- É bom você ir tirando essa mão daí, não consigo dirigir e me concentrar nessa sua mão suave tão perto do meu cacete. – seu bom humor estava de volta, junto com um brilho predador no olhar arguto.
- Que caminho é esse que você está tomando? – indaguei, ao constatar que ele não estava na rota que nos levaria até a casa dele ou a minha.
- Já está mais do que na hora de você voltar a ser meu, não acha? – a safadeza transbordando junto com as palavras.
- Nunca deixei de ser seu! – afirmei. – Mas confesso que estou sentindo muita falta de você. – provoquei.
- Ah é? Pois não vai sentir mais. – disse, ao acessar a entrada de um motel que ficava no caminho da casa dele.
Senti uma agitação tomando conta do meu corpo. Aquela cara de ‘vou te devorar’ me excitava a ponto de sentir o cuzinho se contorcer de tesão. Era a primeira vez que eu entrava num motel, o olhar curioso percorrendo cada detalhe da suíte, e a imaginação rolando solta, me faziam sentir um revolucionário dando vazão a seus desejos, ou um depravado libertino, satisfazendo seus caprichos aguçados por aquele antro de luxúria.
- No que está pensando? – questionou, enquanto trancava a porta e acendia as luzes que iam deixando o clima mais sensual.
- No que as paredes deste prostíbulo de luxo já presenciaram. Não consigo deixar de me sentir um devasso. – minha cara ainda tinha aquela expressão de novidade, de insólito, e ele se divertiu com isso.
- É isso que me enlouquece em você. Esse seu jeitinho de garotão virgem descobrindo a vida. Há algo de tão ingênuo e instigante nesse seu jeito que não dá para não sentir tesão por você. – disse, vindo enrodilhar seus braços ao redor do meu tronco.
- Você deve me achar um bobinho, não é? Afinal, a maioria dos caras não é virgem aos vinte anos. – observei, me lembrando do dia em que perdi minha virgindade com ele.
- Pelo contrário! Acho isso o maior tesão. E é exatamente esse jeitão que deixa todo mundo doido por você. Extremamente bonito, corpão de dar inveja a qualquer um, bundona carnuda que enlouquece até as mulheres, e faz com que qualquer macho sinta aquela coceira gostosa na cabeça do caralho, só imaginando atolar a estrovenga no meio desses glúteos polpudos e apertadinhos, não dá para não deixar a imaginação voar solta. Uma loucura! – sentenciou, encantado.
- Deixe de ser exagerado! – censurei, mas ao mesmo tempo me sentindo mais confiante, uma sensação que andava escondida desde que o Emerson me fodeu.
- Sou apaixonado por esse seu jeito de homem brincalhão, educado e compenetrado socialmente e, do meninão vulnerável, desprotegido e frágil quando seu cuzinho é maculado entre quatro paredes e seus gemidos demonstram toda a sua sensibilidade. Isso dá um tesão da porra! Fora o carinho e sorriso envolvente que você não consegue esconder. Tem muita garota que não consegue deixar a gente tão tarado, quanto você. – derramou-se.
- Bem, deixar você tarado não é lá muito difícil. Aliás, este é seu estado natural. – falei, jocoso.
- O que é que você quer que eu faça? Eu não tenho culpa se meu pau gosta de tomar um ar. – devolveu arrogante. – Você pode até achar que eu sou um insensível, mas naquele dia em que eu te levei ao proctologista, e ele enfiou aquele espéculo, depois aquele instrumento para examinar seu cuzinho arrombado, e ficou movendo aquilo dentro de você, enquanto você dava aqueles gemidos de dor e apertava minha mão, me deu um puta tesão e uma vontade de te enrabar ali mesmo. – confessou.
- Sádico! Eu estava todo machucado, como você pode ser tão bruto? – disse, perplexo com sua sinceridade.
- É o que eu disse, você ali vulnerável, frágil, gostoso, dá uma puta vontade de proteger, de cuidar, de fazer você dar aqueles gemidos gostosos para a gente. Cacete! Eu não sou de ferro! – desabafou. – Aposto que o médico também não ficou imune àqueles gemidos. – acrescentou desgostoso.
- Olha só nas mãos de que pervertido eu fui cair! – exclamei.
- Um pervertido que é tarado por você, e que está morrendo de saudades dessas preguinhas apertadas e gulosas. – disse, depois do beijo úmido e quente que deixou nos meus lábios.
Esses beijos esfomeados, aquela energia e testosterona que ele transpirava, como um verdadeiro macho no cio, tinham o poder de me desnortear, de provocar um frenesi que percorria minha espinha, e fazia a musculatura da minha pelve se contrair e concentrar todo o calor naquela região. A mão dele entrou pelo cós do meu jeans e firmou a carne rija e morna das minhas nádegas entre seus dedos. Era sublime sentir aquela gana outra vez. Eu o desejei dentro de mim, e meu olhar lânguido demonstrava minha vontade. Procurei por sua boca de sabor intenso e vigoroso, selando meus lábios aos dele, e deixando a saliva viril dele me invadir. Enfiei ambas as mãos por debaixo da camiseta dele e deslizei os dedos sobre os pelos sedosos do seu peito, que arfava com a respiração acelerada. Senti que minha calça e minha cueca desciam pelas coxas, e que seus dedos procuravam pelo meu cuzinho enrugado no fundo do rego apertado. O desejo que percorria meu corpo era tão intenso que eu arrebitei a bunda para franquear o acesso dele ao meu cu. A necessidade que eu tinha dele estava estampada no meu rosto suplicante.
- Tudo isso é saudade de mim? – perguntou, como se estivesse prestes a fazer uma travessura.
- É. Quero você! – sussurrei em sua nuca.
- Eu também quero você! Quero tudo o que é meu, e você é meu. – murmurou, entre os dentes cerrados.
Ele abriu a braguilha e pegando minha mão, enfiou-a em sua virilha. Meus dedos se fecharam ao redor daquele caralho consistente, eu o tirei para fora, e me ajoelhei diante dele. Seus olhos se iluminaram com a devassidão que estava prestes a experimentar, e se fixaram em cada movimento que eu fazia para abocanhar aquela glande suculenta e úmida. Ao comprimir os lábios ao redor daquela jeba, e mover a língua, em círculos, ao redor da cabeçorra que estava na minha boca, ele soltou um bramido rouco de prazer. Eu me sentia poderoso e onipotente ao causar aquele prazer nele, e redobrei meu afinco e minha persistência. O cheiro másculo que vinha do sacão portentoso que balançava diante de mim me instigava. Ele saiu de dentro das calças e abriu mais as pernas, enquanto segurava minha cabeça para garantir que aquele prazer que estava sentindo não fosse interrompido. Meu olhar procurava o dele, enquanto a língua massageava seus testículos ingurgitados. Os quadris dele se contraíram num movimento brusco que voltou a estocar a rola na minha garganta, e ao mesmo tempo em que um gemido gutural saia de sua boca, os jatos de porra enchiam a minha, que ávida e cuidadosamente, deglutia aquele néctar saboroso.
- Tesão do caralho! Que boca carinhosa e sedenta é essa? Lambe o leitinho do teu macho, lambe. – grunhiu satisfeito.
- Você é tão saboroso, senhor Sergio! – exclamei, após deixar aquela verga latejante completamente limpa.
- Sou, é? Tem mais um bocado para você provar. – segredou num quase sussurro.
Eu o acariciava debaixo da espuma densa que havia se formado na superfície da banheira de hidromassagem. Deslizava a ponta dos dedos pela nuca dele e depois beijava o caminho que meus dedos haviam percorrido. A água tépida nos envolvia com turbilhões que fluíam sobre a pele, como se fossem mãos invisíveis a aliciar nossos corpos. Depois que o Sergio acionou o controle remoto que estava ao lado da hidromassagem, a voz doce e sensual de Ella Fritzgerald, ressuscitou as confissões românticas de Moonlight Serenade numa versão remasterizada que saia suavemente pelas saídas de áudio do teto da suíte. Antes que a água da banheira esfriasse totalmente, eu comecei e enxugar os cabelos do Sergio em movimentos delicados e carinhosos. Ele cerrou os olhos e me puxou para junto dele. O pinto dele começou a endurecer assim que tocou minha pele molhada e quente. Eu me deitei na cama e o puxei por cima de mim, beijei-o intensa e demoradamente, antes de enlaçar minhas coxas ao redor de seus flancos e senti-lo distender minhas pregas e me penetrar com aquele falo grosso e urgente. Um ganido escapou entre meu arfar acelerado, e aquela dor aguda e pungente foi se aprofundando no meu ser. A musculatura anal retesada comprimia, num amor transbordante, aquela anatomia descomunal que ele ia inserindo lenta e progressivamente em mim. Eu me senti novamente pleno e recuperado, enquanto afagava suas costas.
- Eu te amo. Amo muito, muito. – gemi, erguendo minhas ancas de encontro a sua virilha, para sentir aquele homem ainda mais dentro de mim.
A luz do alvorecer começava a atravessar as nuvens ainda carregadas de um azul e cinza intensos quando deixamos o motel, do domingo preguiçoso. As avenidas pareciam mais largas devido ao pouco trânsito e, um ou outro atleta de fim de semana, passava correndo pelas calçadas vazias. Aquelas cenas contrastavam com o que eu sentia por dentro. Eu estava preenchido, encharcado, com a essência daquele homem que a pouco fazia parte de mim mesmo, e eu descobri que não saberia mais viver sem ele.
- Eu preciso de você. Não me deixe mais tanto tempo sem poder ter você. – disse, verbalizando o mesmo sentimento que me acometia.
- Não sei o que seria de mim se você não fizesse parte da minha vida. Acho que ela nunca seria tão plena e maravilhosa. – falei, afagando a implantação de seus cabelos na nuca.
- Isso me faz lembrar que precisamos encontrar um lugar só nosso. Não quero mais me privar de ficar com você, de precisar depender de datas, lugares e horários marcados com antecedência. – argumentou.
- Assim que a casa ficar pronta, meus pais vão mobiliar um apartamento, menor do que o que moramos hoje, mas que vai servir justamente para esses momentos em que um lugar mais próximo do centro de São Paulo seja necessário. Podemos usar aquele espaço. – retruquei.
- Quero algo meu, mesmo que pequeno. Agora conto com a grana do meu emprego, dá para ter algo sem luxos, mas aconchegante. Ainda mais se você estiver comigo. – aquelas palavras carregavam uma promessa.
Decorridos dezoito meses daquela primavera que havia enchido de cores as árvores do condomínio, a casa recebeu nossa mudança. Eu ensaiava uma maneira de dizer aos meus pais que aquele quarto cuidadosamente planejado e decorado, não seria ocupado por muito tempo. Que eu decidira morar com o Sergio, e que aquilo significava muito além de uma mera mudança de endereço, que aquilo significava partilhar nosso amor e deixar nossas famílias cientes disso.
Esperamos contestações, negativas enfurecidas, indignações e reprimendas morais, mas nada disso aconteceu. Acho que o espaço que cada um construiu na família do outro, falou mais alto na hora de nos prevenir das dificuldades que talvez fossemos enfrentar. Eu continuo minha faculdade e recebo com frequência propostas para fotografar, desfilar, ou fazer campanhas publicitárias. O Sergio está sendo sondado pelo chefe direto, quanto a um cargo gerencial e, nosso cantinho, reflete cada dia mais, a felicidade que preenche nossas vidas.