Pegamos a estrada ainda de manha, seriam algumas horas de viagem ate Praia Grande, um final de semana de balada, diversao, praia, algo so' nosso.
Foi ideia do Tiago. Um agrado para comemorar meu aniversario de vinte e quatro anos, e seria uma data mais do que especial: hà dez eu conhecia aquele veado, marcando entao minha vida em antes e depois dele, e agora que eu o tinha para mim queria comemorar à altura. Conheciamos Praia Grande, estivemos là uma vez com a galera do colegio, numa viagem de formatura; dividimos o mesmo quarto e, na ocasiao, os meninos nao quiseram ficar conosco nesse quarto, por sermos gays, porem o professor obrigou. Claro que virou confusao, o Tiago acabou batendo nos dois trouxas, e eu ajudei; por essa doideira nos mandaram embora pra casa mais cedo, nem fodemos o Breno, nossa putinha particular da sala que combinou de dar pra gente na viagem. Voltamos furiosos pra casa.
Agora a gente voltava, sem ninguem pra encher nosso saco. Teria uma festa gay numa das praias, e Tiago estava querendo ir. Jà no carro, ele deu um aviso:
- Vai estar cheio de macho là, voce sabe. Muito passivo do rabo guloso, putinhos de todos os tipos. Mas o unico homem que voce vai olhar lá serei eu, viu Daniel?
- Vai tomar no cu, Tiago! _ fiquei irritado _ Eu por acaso sou cego, caralho? Nao pode mais chegar cara nenhum perto de mim que voce se encrespa todo! Tà chato isso. Nao sabia que voce era tao ciumento assim. Nem com o Hugo voce quer que eu fale!
- Aquele moleque quer dar pra voce, olha o jeito que ele te encara _ disse ele, olhando para frente, apertando o volante _ Qualquer hora quebro ele na porrada.
- Deixa de ser vacilao, meu! Compara o teu tamanho com o dele. Vai bater no moleque pra que? Nao to comendo ele mais, nao... Saco! Cara chato!
- Entao porque voce me ama? _ ele me olhou de relance _ Se sou chato...
- Meu problema e' ser idiota, isso sim _ falei, escolhendo no estojo um pen-drive para colocar no som do carro_ O que eu sinto por voce e' forte demais, e o tesao tambem e' forte demais. Essa merda toda e' minha perdiçao.
- Sou teu, voce e' meu, e fim de papo, velho _ ele sorriu de um jeito convencido e sacana.
Coloquei o pen-drive com o som do Pink Floyd e fiquei quieto, olhando pela janela aberta. Às vezes era dificil, aquele cara tinha sobre mim um instinto de posse do qual nunca imaginei que ele fosse capaz; era como me sentir algemado a ele, tinha momentos em que era um saco, mais outras vezes era uma coisa meio dominadora, porque eu queria estar preso assim a ele, eu queria aquela coleira em mim, me dava um tesao desgraçado. "Sou teu macho", ele repetia direto. E era, e como era! Acho que por termos aquela profunda ligaçao de amizade desde novinhos ele tenha decidido que tinha poder sobre mim. Apenas, se me deixasse respirar de vez em quando, estaria tudo perfeito.
Aquele som de maconheiro do Pink Floyd me deu sono, acabei dormindo, nem vi quando chegamos. Acordei com Tiago me chamando baixinho, debruçado sobre mim, beijando minha cara, mordendo minha orelha de leve.
- Dani... Chegamos, cara _ sussurrava, lambendo minha boca.
Abri os olhos, confuso, notando que estavamos no estacionamento da pousada onde ficariamos. Ao nosso lado, um careca numa Parati olhava pra gente com uma cara de espanto. Tiago encarou o sujeito.
- Perdeu as bolas aqui dentro, parceiro? _ falou num tom forte.
O careca fez uma careta, fechou o vidro e ficou mexendo no celular. Tiago segurou meu rosto e me beijou com voracidade; o tarado ja queria sexo, falou em estrearmos a cama da pousada com uma "foda boa". Mal fizemos todo o procedimento na recepçao e em dez minutos já estavamos engalfinhados na cama de casal de lençol barato, fodendo enquanto a brisa marinha e quente entrava no quarto pela janela. Quando ele metia em mim de quatro, agarrava meus cabelos como quem doma uma egua segurando a crina, chegava a doer minha cabeça; queria depois que eu o cavalgasse na poltrona de korino do quarto, de frente para a janela, e eu fiz, admirando a visao de mar cinzento, faiscante de sol, a praia com pontos aglomerados e dispersos de pessoas ao longe, dentro e fora d' agua. Gozei, segurando no encosto da poltrona atras do cara; Tiago recolheu minha porra e passou na minha cara e em meus cabelos, dando risada. Maldito. Me mandou ajoelhar, enfiou o pau duro na minha boca, socou um pouco e urrou, jorrando seu esperma quente e grosso na minha garganta, que acabei tomando, sem escolha. Estavamos suados e marcados, acabamos tomando um banho juntos, entre beijos, pegadas na bunda (minha, e' claro) , no pau, e as tipicas lutinhas ensaboadas de moleques.
Ele quis almoçar num restaurante de frutos do mar, onde nos fartamos de moqueca e bolinhos de siri. Umas meninas numa mesa ficaram olhando pra gente, querendo flertar, e Tiago que sempre foi grosseiro com assedio feminino fez cara feia para elas; quando saimos, fez questao de segurar na minha mao para que todos vissem. Fiquei tenso, claro, para a maioria daqueles heteros idiotas eramos um espetaculo de circo, alguns olhares eram de indignaçao. No calçadao nao segurei a barra, e soltei a mao dele.
- Ei! _ ele reclamou, pegando outra vez minha mao, segurando com força _ Deixa, porra.
- Caralho, Tiago. A gente nem namora pra fazer isso _ falei irritado.
- Nao namora? _ ele pareceu surpreso _ E preciso pedir? Somos duas bichas frescas, por acaso? Quer uma alianca, Daniel? Caramba, soco no teu rabo toda noite, te beijo, te curto pra cacete... claro que a gente tà namorando, seu tonto! Voce e' meu! Namoramos, sim, e nao quero voce aceso pra cima desses veadinhos, nao.
Bom, uma palavra apenas teria acabado com todas as minhas duvidas. Aquele era o jeito dele comigo, bem diferente do que foi com Lu, já era de se esperar. Fiquei feliz pra caramba: namorando o cara que eu amava, que amei desde moleque. Porra! Era tudo o que eu queria.
- Voce e' bobo? _ ele sorria, me olhando _ A gente e' macho, nao precisa dessa frescura toda, nao. A fase do "deixar rolar" jà era. To te curtindo de verdade. Jà te admirava como amigo, como parceiro, agora gosto de voce como homem, porra. Tà indo devagarinho, mas to adorando, cara, voce tà me fazendo bem feliz.
E', fiquei meio bobo, mesmo. Olhava o mar cintilante de sol e sorria comigo, sem acreditar. Tantas pessoas ali, alegres, se divertindo... Nenhuma delas estava mais feliz do que eu, era fato.
- Te amo demais, seu puto _ falei, abraçando o cara pelos ombros, apoiando a cabeça nele, sorrindo e seguindo pelo calçadao, sem me importar se olhavam ou nao.
Passeamos por diversas lojas, pelo shopping, tomamos agua de coco e andamos pela areia, ainda sem querer nadar. Numa lojinha da Hering, Tiago comprou para mim uma camiseta polo verde-agua, linda demais, e para ele comprei um bone' cor grafite, jà que ele nao curtia cores chamativas. Voltamos para a pousada, dormimos por umas duas horas e nos preparamos para a festa que começaria às seis horas, numa area fechada longe dali.
Quando chegamos a coisa jà fervia, o DJ era fera, mandava bem no eletronico hipnotizante. Muitos caras já dançavam com copos de cerveja e garrafinhas de ice nas maos; aquilo seria uma tentaçao, tanta bunda disposta, atoladas em sunguinhas que deixavam a gente louco. Tive que disfarçar ou o cara ficaria bravo comigo.
Como ainda era horario de verao, dava pra ver o sol se pondo enquanto a galera dançava; o mar tinha uma cor de rosa-alaranjado com o sol descendo no horizonte. Na agua, muitos caras se banhavam, curtiam o som là de dentro ou estavam atracados aos amassos com seus pares. Perto das sete horas o dia ainda estava claro, e a festa fervia. Tiago tomava um ice atras do outro, enquanto fiquei na cerveja, dançando perto dele, usando uma sunga escura jà que ele nao me deixou vestir a branca; a dele era mais comportada, azul-marinho da Speedo, mas assim mesmo muita bicha ficava secando o volume do cara. Toda hora ele me beijava na boca, marcando territorio, olhando feio pra quem ficava encarando a gente ou comentando ao passar por nos: "que delicia! quero entrar no meio". Quando eu ia ao banheiro, ele me seguia, e quase discutiamos por isso.
- Tem muito veado safado aqui. Nao vou dar bobeira, nao _ ele dizia.
Tinha era muita bunda gostosa, isso sim. Vàrias vezes ele me flagrava olhando um rabo grande que passava; acabava me dando um peteleco na cabeça.
- Tome tento, Daniel _ dizia, com uma expressao seria; cara ciumento do caralho, dava vontade de meter a porrada nele.
Um moleque de sunga verde, um tesaozinho, estava vendendo bala e pinos de coca pra geral. Veio oferecer pra gente e Tiago ficou puto.
- Enfie essa merda no cu! _ exclamou _ Drogado filho da puta.
O moleque quis encrencar com o cara, mas obvio que ele era menor de idade, nem sei como tinha entrado ali, ia dar era problema. Acabou desistindo de discutir e foi oferecer a droga aos outros; a maioria comprava. Continuamos dançando, e dava para ver que pela trilha que levava à mata atras da tenda muitos caras entravam e saiam, fazendo pegaçao. Ah, se eu fosse solteiro! Quantos rabos eu nao foderia numa festa como aquela? Meu recorde tinha sido quatro carinhas, certa vez numa pool party lá em Campinas. Voltei para casa ate com as pernas bambas, de tanto que tinha metido. O Tiago tinha pegado dois ao mesmo tempo, mas ficou satisfeito. Era bom demais!
Eu tentei, juro que tentei fingir que nao vi aquele loirinho gostoso e bundudo me dando mole, mas o Tiago, atento por ainda nao estar bebado, notou e esperou a oportunidade de ouro para agir. O moleque era mais baixo, bem branquinho, olhos azuis, usava sunga vermelha cavadinha; o pirulito na boca so' significava uma coisa: boqueteiro profissional. Ficava me encarando, dançando de costas e se virando pra mim, querendo rola. Comecei a ficar doido de tesao, imaginei um rabinho bem rosadinho, depilado, apertado. "Nao posso, caramba. Sai daqui, moleque! ", eu pensava, tentando nao olhar pra ele. Esperto, o Tiago se afastou um pouco, deixando o moleque agir para assim avaliar minha reaçao. Nao deu outra: o guri jogou o pirulito na areia, avançou para mim e enfiou a lingua na minha boca, apertando meu pau. Afastei, assustado, olhando para ele e para Tiago que, vermelho de odio, chegou agressivo no moleque, virando-o para si e esmurrando a cara dele com tudo. Ele caiu na areia de joelhos, choramingando, segurando o nariz que sangrava.
- Ficou doido, cara? _ gritei com Tiago, chocado _ Quebrou a cara do moleque, porra!
Um carinha chegou para acudir o loirinho, ajudando ele a se levantar.
- Deixa eu ver, Paulinho... Serà que quebrou? Vem cà, tem uma tenda medica ali...
- Essa piranha sai beijando o namorado dos outros, leva porrada mesmo! _ disse Tiago exaltado, tentando se justificar _ Ele que volte aqui pra ver so'!
- Seu covarde! Deveria era dar queixa na policia contra voce _ disse o garoto que socorreu Paulinho.
Muita gente parou para olhar a briga, assustados, observando Tiago com expressoes nada amigaveis. Aquilo me deu uma vergonha dos diabos, resolvi sair dali; me afastei bastante da festa, sentei na areia morna e fiquei olhando o mar. Que cara cabeça-quente! Ele sempre foi assim, mas parece que por minha causa tinha piorado. Por pouco nao nos chamam na policia, e seria uma queixa justa por agressao. Cara louco, velho.
- Vai ficar de ovo virado comigo, agora? _ disse ele, se aproximando, se sentando ao meu lado _ O putinho mereceu. Aprendeu a nunca mais mexer com as coisas dos outros.
Me abraçou, tranquilo, sem arrependimento. A noite fechada estava um pouco encoberta, e ao longe luzes de iates e lanchas eram visiveis, passeando, curtindo a noite litoranea.
- Tiago, eu quero muito que nosso lance de certo, cara _ falei, com a mao no joelho dele _ Eu me esforço para isso, mas e voce?
- Como assim? Que papo e' esse? _ ele me olhou, intrigado.
- Bem, às vezes voce parece ser duas pessoas em uma... O cara legal, parceiro, compreensivo, e' o amigo, o que sempre foi. Mas como namorado e' agressivo, ciumento, quer me dominar...
- Mas voce nao curte? Eu sou assim, Dani _ disse ele, abrindo os braços _ Foi desse cara que voce gostou, com mil qualidades e defeitos. Tà, tem horas que eu tenho um ciume louco de voce, sei lá... uma coisa visceral, sabe? Nunca me senti assim com aquele veado do Lu, mas contigo... Nem eu entendo. E' uma vontade de te ter so' pra mim, guardar voce num lugar secreto e nunca mais deixar voce sair ou me largar, saca? Coisa de doido, ne'?
- Sim, mas... _ suspirei _ Voce poderia nao querer me dominar tanto, cara.
Ele ficou refletindo por um momento, olhando os iates vagarosos ao longe. Esboçou depois um sorrisinho convencido.
- Daniel, quando voce entra na jaula de um leao esta correndo o risco de, no minimo, levar uma dentada, cara _ ele disse, passando os dedos por meus cabelos _ Voce me quis, e eu sou assim. De mais a mais, esse papo besta todo, no final serve pra reafirmar que voce e' meu e sabe disso, nao sabe?
"Sei", eu pensei, ainda olhando os barcos, sentindo os braços dele me envolverem; apoiei a cabeça em seu peito, ouvindo ainda a batida da festa lá atras.
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Thanks a todos! :)