Quando que eu imaginaria que o negocio entre a gente ficaria serio assim? Mas estava, era real, e era muito bom. Completamos quatro meses de namoro no outono, ele me levou ao Hopi Hari, nos divertimos à beça, lanchamos, namoramos em publico, ligando o "foda-se" para aquele bando de heteros que ficavam nos olhando. Um grupo de meninas passou por nos, falando aquele tipico "que desperdicio!", mas o Tiago nao encrencou, estava feliz demais, e a minha satisfaçao em fazer dele um cara feliz nao tinha preço. Foi uma tarde fria e linda, uma das melhores da minha vida.
Todo mundo já sabia que a gente namorava, nossos pais, amigos, colegas de trabalho. Achei esquisito que quase ninguem tenha ficado surpreso com aquela noticia, pareciam apenas esperar por ela qualquer dia. Nos apoiaram, a mae dele, por exemplo, sempre gostou de mim, dizia que era hora do Tiago "assentar a poeira e parar de pular de galho em galho". Quem nao gostou muito dessa novidade foi o Hugo, que soube dela de minha boca, num dia em que ele quis me chupar no vestiario da academia; se trancou numa das cabines de banho e ficou chorando baixinho, pude ouvir do lado de fora da porta; fiquei com muita pena dele, mas o que eu poderia fazer? Depois disso ele pediu pra sair da academia, e deixei de ve-lo por um bom tempo.
Bia torcia pelo meu namoro, mas o avaliava com frieza. Ela sabia de tudo o que eu vivia com Tiago, os melhores e os piores momentos, e falava comigo sobre o insuportavel ciume dele.
- Ele e' dominador com voce, Dani _ dizia ela _ Nao apenas no sexo, mas em todo o resto. Colocou redea curta em voce, e pelo visto, voce nao so' deixou como gostou...
- Esse jeito dele às vezes me dà um puta tesao, Bia...
- Tà... _ ela me olhava, ajeitando o colarinho de minha camisa polo _ Voce curte? Ok. Mas ate que ponto isso e' saudàvel?
- Como assim?
- E' que isso esta virando um càrcere amoroso, saca? Qualquer hora esse cara e' bem capaz de fazer uma besteira grande por causa de ciumes, e ai... Bem, mas torço para que isso nao aconteça. Voces dois sao lindos juntos.
Seria verdade? Diziam que o amor cega e enlouquece, mas eu me sentia tao feliz, nao queria mudar. O que era uma droga eram os ciumes do Tiago, isso sim incomodava. Ele marcava em cima, me pegava no trabalho todo dia, sempre alerta, querendo saber de cada passo meu durante o dia, se fizera alguma amizade, se encontrara algum conhecido, e sempre acabavamos discutindo ferozmente por essa vigilancia toda; o cara olhava meu ceular direto, isso me indignava. O que aquele idiota pensava? Que estava levando chifres de mim? Claro que os carinhas que andei comendo no ultimo ano me mandavam mensagens vez ou outra, mas eu nao respondia. Mesmo assim Tiago as lia e ficava louco, queria saber quem era, quando eu tinha comido, queria bater no carinha dono da mensagem, ficava putissimo, saia chutando portas e tudo. Cara pirado, babaca. De tanto me infernizar, troquei meu chip de celular, desativei meu whatsapp e exclui meu Instagram, jà que varias bichinhas me seguiam e me cantavam descaradamente, principalmente nas fotos em que eu estava de sunga.
Fora esse defeito do ciume, ele era magnifico, um tesao na cama, atencioso quando me via preocupado com alguma coisa, e o melhor amigo que assistia futebol e UFC comigo, comentando, rindo, às vezes chupando meu pescoço devagarinho, para me deixar de pau duro. "Deixa eu meter, Dani?", ele pedia com um sorriso sacana, e eu que nao era de fazer cu doce, deixava, enquanto o futebol rolava. Abria as pernas pra ele igual uma puta, recebendo aquele cacete, gozava igual uma cadela, pedia vara... Nem eu mesmo me reconhecia: se soubesse que dar era bom assim, jà teria experimentado antes. As vezes, no entanto, eu achava que ele exagerava na dominaçao; tapava minha boca com a mao e metia forte, violento mesmo, a cama rangia e estalava, meu rabo doia; um dia o estrado quebrou, nao suportando nosso peso, e apesar dos risos, ele continuou a meteçao no chao mesmo, socando igual cachorro, me segurando com força: era quase um estupro, me arregaçava mesmo, eu xingava mas gozava feito louco. Havia uma certa necessidade idiota dele em se firmar como o macho dominante, talvez por eu ser tao macho quanto ele, e nao uma bichinha ou moleque passivo; era aquela coisa das cavernas que o homem sempre teve em querer se sobressair ao outro, ser o melhor, o alfa; muitas vezes isso me irritava. Num dia em que ele falou em fazer chuva dourada em mim, fiquei putissimo, xinguei aquele filho da puta de tudo quanto foi nome. Ele que fosse mijar em cima da mae dele! Castiguei o cara, fiquei azedo com ele por uma semana, sem querer transar, e Tiago já estava ate meio doido de fissura, ate que me pediu desculpas. Nos reconciliamos transando debaixo do chuveiro, ele veio e me pegou de jeito enquanto eu tomava banho com o celular tocando a pauleira do som do Emperor; ele metia me segurando em seu colo, o sabao fazia nosso corpo escorregar, fiz o cara sentar no chao e cavalguei, segurando no queixo dele, mordendo, beijando, dando pequenos tapas. Ele gozou um punhado de porra grossa, de cheiro forte, deve ter guardado por dias; ficou ate mole, e aproveitei e me punhetei forte, lavando a cara dele de gozo, por vingança, pegando com o dedo e colocando na sua boca, enquanto ele cuspia, puto. "Pra voce nunca mais falar de mijar em mim, vagabundo", disse, indo terminar meu banho, deixando o otàrio no chao, todo gozado. Geralmente ele so' me punhetava, e as vezes nem isso, mas nunca chupava, todo fresco; comprou mesmo um masturbador de borracha, pela internet, e o negocio imitava um cu cor-de-rosa dentro de um tipo de copo grande e preto, com tampa. Ele mesmo me masturbava com aquele troço, me beijando, chupando e mordendo meus mamilos e pescoço; era legal, porem um cuzinho de verdade seria muito melhor. Tambem comprou cuecas jockstraps da Andrew Christian, e eu me sentia um ator pornografico da Falcon Studios usando aquilo; ele pirava ao me ver daquele jeito, ficava de pau duro na hora, queria meter logo, todo tarado. Era bacana, mas quando me enfezei, sentindo-me um passivo sem vergonha vestindo aquela merda, deixei de usar, as cuecas ficaram encostadas no fundo da gaveta, e eu com um desejo doido que o Tiago usasse isso algum dia, pra mim, so' pra mim; caralho, eu ate sonhava que linguava o cu dele, acordava todo melado, ate imaginava o gostinho.. Como um bom ativo que se descobriu versatil, minha fissura em meter nele nao passava nunca; porem, era inutil: Tiago nao iria me dar a bunda, definitivamente, ele nem gostava de falar sobre o assunto, ficava furioso; numa noite, enquanto ele metia em mim, tentei enfiar o dedo no cu dele e acabei ganhando um tapa na cara, nao muito forte, e que me deu um tesao da porra.
- Nao e' pra mexer ai, safado! _ falou, me virando de quatro e metendo forte, para me castigar.
Dizia-se por ai que algumas pessoas tem vocaçao para serem dominadas, jogam o orgulho de lado, grande parte do amor-proprio, e por amor ou dependencia sentimental, embarcam numa relaçao opressora onde talvez nao hajam vitimas ou algozes, mas apenas pessoas que se submetem a viver assim, recolhendo algum prazer nisso. Talvez fosse isso que estivesse acontecendo comigo, o meu carcere eram os braços musculosos do Tiago, seu vigor sexual, sua presença, coisas que eram fundamentais para mim. Mas so' fui perceber que a situaçao era estranha e extrema numa noite de quarta-feira, em julho.
Tiago jà tinha visto algumas vezes o carinha que entrou na academia, e o qual eu treinava. Um universitàrio playboy, gato, carinha de safado; chamava-se Nicolas. Tinha uma bunda gostosa e, percebendo que às vezes eu a olhava, fazia questao de exibi-la, me pedindo para ajudà-lo nos exercicios para assim, esfregar a bunda no meu volume. Caralho... Bati algumas punhetas, tarado naquele rabo, mas ali era area proibida, eu tinha um verdadeiro leao furioso em casa. Tiago nao demorou a notar a safadeza do tal de Nicolas, pois quando ele chegava para me pegar na academia, as vezes tinha que esperar o final do meu turno. No momento em que eu treinava o carinha, tentando me esquivar dos toques "acidentais" dele em meu pau, percebi o Tiago com uma cara feia pra caramba, de braços cruzados perto da recepçao. Fez um gesto rapido, simulando um soco na palma da mao aberta, apontando para o Nicolas; fiquei tenso. Se aquele cara arrumasse encrenca no meu local de trabalho, eu seria demitido com certeza. Dei um jeito de deixar a Mariana, a outra personal, treinar o Nicolas e pedi para sair mais cedo; nem tomei banho, sai apressado, entrando no carro do cara e vestindo meu moletom, pois esfriava. Logo ele entrou, serio, deu partida no veiculo e saimos.
- Quanto veado que se oferece pra voce, hein Daniel? _ disse ele com sarcasmo.
- Eu nao fiz nada, voce viu. Aquele moleque foi quem ficou se insinuando... _ falei, nervoso.
- Vou e' quebrar ele inteiro _ resmungou Tiago.
- Nao no meu trabalho, caramba! _ disse, exaltado _ Nao vou ser demitido por causa de ciumes seus!
Ele nao respondeu, sequer me olhou. Seguimos em silencio, num clima pessimo, e quando cheguei fui logo tomar um banho, esperando que a raiva dele passasse e aquele assunto fosse esquecido. Mas ao voltar à sala, ele ainda parecia bem irritado, me encarou e disse:
- Nao quero mais que voce treine aquele puto.
- Eu nao posso decidir isso, e nem voce _ respondi, com raiva dele _ Aliàs, Tiago, voce acha mesmo que pode mandar em mim, na minha vida, caralho?
- Eu mando, sim! Voce e' meu! _ exclamou, furioso, chegando perto de mim e me encarando.
- Manda o cacete! Nao sou sua propriedade, faço o que quero! Nao e' porque a gente namora que deve ser assim, cara... Tem que haver confiança, respeito, espaço. Quando a gente era amigo, voce nao era assim, agora, como namorado, parece às vezes um maluco obsessivo, nao me deixa nem respirar... As vezes isso me enche o saco!
- Porque enche? Voce diz que me ama, mas queria era continuar fodendo os veados por ai, ne'? _ disse ele, entredentes _ Eu nao quero te perder, porra.
- Mas quem disse que voce vai? _ fitei-o, chocado _ Se eu te amo, seu otàrio! Se quisesse te cornear, teria feito faz tempo, porque por mais que voce vigie, oportunidades nao me faltam, sabia?
- Me corneia que eu te quebro, moleque! _ esbravejou ele, apertando meu braço, vermelho de odio _ Seu filho da puta!
- Me larga, caralho! _ tentei me soltar mas ele segurou meus dois braços, me batendo na parede com tudo, minha cabeça ate rodou de tanto que doeu _ Desgraçado!
Me soltei e vibrei um murro em cheio na cara dele, num impulso. Ele recuou, perplexo, cambaleando e se firmando em pe'. Me encarou sem acreditar, rilhou os dentes e avançou furioso para mim, com um soco que me jogou de volta contra a parede, me fazendo escorregar ate o chao, sem equilibrio. Minha boca ardia como se tivessem passado uma navalha dentro dela, e me curvei, cuspindo sangue quase que puro no chao, esfregando o labio cortado com a mao, deixando um rastro de sangue.
- Dani, desculpa... _ ele veio para junto de mim, aflito, segurando meu rosto com cuidado _ Tà doendo muito?
Olhei para seu rosto, tentando com todas as forças nao odià-lo, procurando compreender porque as coisas tinham que ser assim. Quando vi, já chorava e ele me abraçava, pedindo desculpas, me apertando com desespero; sujei de sangue e saliva o ombro dele, sua blusa de moletom branco da GAP. Ele me olhou, beijou meu rosto, lambeu minhas lagrimas e o sangue que saia sem parar do corte na minha boca.
- Porque voce me trata assim? _ sussurrei, na boca dele _ Eu te amo tanto...
- Me perdoa, me perdoa... _ ele murmurava, fungando num choro seco, sem làgrimas.
Ele mesmo me fez um curativo, e o corte, apesar de profundo, parou de sangrar apos uns minutos. Seu arrependimento era visivel, porem nao atenuava minha màgoa com ele. Quando o cara foi para o banho, ainda bem preocupado comigo, entrei no meu quarto e coloquei algumas roupas na mochila; peguei carteira, capacete, desliguei o telefone, e escrevi um bilhete para ele: "Fui passar a noite na casa da Bia. Agora quem precisa de um tempo sou eu, respeite isso por favor. •Com o amor (que ainda resta) _ Daniel."
Lá embaixo, no saguao, peguei minha moto, saindo num frio do caralho. O termometro da rua registrava oito graus. "E', Daniel... A gente nao devia ter brincado disso, nao. Deveria era ter ficado bem quietinho no nosso canto... Mas nao! Era uma loucura por esse homem! Tà ai. Metemos a mao em merda, ne'? E agora, porra? "
- Agora acho que nao quero mais _ sussurrei comigo.
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Thanks, galera! :)
Opinem.