Sankofa: o retorno e o recomeço (cap. 7)

Um conto erótico de Mmaah
Categoria: Homossexual
Contém 1679 palavras
Data: 22/05/2015 23:19:03

Os meses passaram mais uma vez, e eu comecei a estagiar. Minha vida virou uma correria. O Pai da Thy estava muito doente, desde que nos conhecemos. Mas em novembro, mês que agora eu narro, a situação dele se agravou mais. Era uma sexta a noite, eu havia estagiado durante o dia e no outro deveria estar lá às 7h da manhã. Logo, acordaria às 4:30, visto que eu morava em outra cidade. Tava super cansada. Cheguei em casa, tomei um banho, jantei e fui deitar. Umas 21h a Thy me chama no whats.

Thy: Mah, tá aí?

Eu: Oi Thy. Aqui.

Ela: Olha, estou indo pra casa (a Thy se mudou pra minha cidade, por conta da universidade), e morava num prédio próximo à minha casa.

Eu: Como assim? Agora? Não tem mais ônibus. Como você vai? O que houve?

Ela: Uma amiga minha está vindo me pegar. Meu pai piorou.

Eu: Entendi. Olha, se acalma.

Ela: Eu tô bem, quer dizer, eu acho. Te dou notícias.

Eu: Tá bom. Bjooo

Ela: Bjoo

Estava tão cansada, que apaguei em minutos. Quando o despertador tocou, às 4:30 da manhã, havia um áudio da Thy, por volta das 00h, e uma chamada. Mas eu sequer havia ouvido o celular tocar, ou sentido ele vibrar. Abri o àudio e uma voz triste e chorosa dizia:

Thy: Mah, eu te liguei, mas você deve está bem cansada mesmo, porque nem ouviu. Liguei pra dizer que Deus levou meu pai essa noite. Estamos bem, ou tentando. Você sabe que em parte todo mundo já estava esperando por isso, mas sempre é difícil. Estou me fingindo de forte pra segurar minha mãe. Agora tô indo em casa, tomar banho e preparar as coisas para o velório.

Não havia jeito pior de despertar. Sentei na cama e fiquei pensando o que iria dizer a ela. Embora a experiência da morte da vó tivesse me ensinado muito, cada situação é única. Realmente não sabia o que dizer. Sabia apenas, que iria lá. Escrevi para o gerente e avisei que um amigo havia falecido e que passaria no velório, para só então seguir para o estágio. Compensaria as horas sem problemas. Ele me respondeu dizendo que eu não me preocupasse. Liguei pra ela e ela atendeu.

Ela: Oi.

Eu: E aí, como tá?

Ela: Tô indo. Tô arrumando os preparativos para o velório.

Eu: Estou indo lhe ver.

Ela: E seu estágio?

Eu: Não se preocupe. Eu me viro.

Ela: Mah, não precisa.

Eu: Não adinta. Eu vou. Só quero mesmo saber onde é.

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Ela me deu as coordenadas e eu me dirigi até lá.

Cheguei por volta das 8h. A vi ainda no estacionamento. Era um lugar daqueles que acontecem vários velórios ao mesmo tempo. Nos abraçamos, dei um beijo na testa dela.

Eu: E aí... como tá?

Ela: Estamos indo.

Sentamos um pouco e ficamos em silêncio. Ela foi me contando devagar como tudo aconteceu, e em suas palavras eu entendia a perfeição de como Deus faz as coisas. Foi uma morte tranquila, e posso dizer até "bonita", se é que tem como. A viúva estava triste, mas não inconsolável. Com a certeza de que os propósitos de Deus são bons, mesmo que a gente não entenda. Conversamos bastante tempo, dei um abraço na mãe dela. Era a primeira vez que éramos apresentadas, na verdade. A ocasião não era boa, mas fazer o que?

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Fiquei umas 2h lá. Na capela do lado, estava acontecendo o velório de uma velhinha que deveria ter uns 80 anos, e mais pra baixo um outro velório, bem mais tumultuado. Vi quando o cortejo desse último saiu. Parecia ser um rapaz jovem. A mãe saiu carregada, os amigos estavam inconsoláveis. Uma cena angustiante. O cortejo seguiu para o cemitério de destino e eu fiquei olhando pra rua. Tinha visão de uma parada de ônibus do outro lado, foi quando observamos uma mulher vindo de lá às pressas. Aproximou-se de nós e discretamente falou que um rapaz que estava lá, de camiseta branca, possuía uma faca, e ela assustada correu para junto de outras pessoas - nós. Vi ele se aproximar do local, e ir em direção à capela onde estava acontecendo o velório do rapaz jovem. Ao chegar lá não encontrou mais ninguém, e saiu aos gritos, dizendo que mataria toda a família do moço. Seguiu sem destino. Todo mundo ficou meio que extasiado e sem entender nada. Se o clima já não tava bom, agora então, estava pior. Decidi que deveria avisar a algum responsável, o que havia acontecido, e me dirigi até a administração do local. Pedi pra falar com algum gerente e saiu um senhor gordo e de óculos, de uma portinha.

Ele: Pois não, moça.

Eu: Bom dia, tudo bem?

Ele: Tudo bem.

Eu: Moço, estou participando de um velório de um amigo meu, ali na última capela e não pude deixar de perceber um individuo que adentrou esse local, em direção à quinta capela. Ao chegar lá, o cortejo já havia saído, no entanto, ele saiu daqui jurando que mataria toda a família, e uma senhora que estava do outro lado da rua, próximo a ele, notou que ele possuía uma faca. Sei que os dados são sigilosos, mas o senhor poderia me fazer a gentileza de informar a família do rapaz, o que aconteceu aqui?

Ele: Mas que horas foi isso?

Eu: Agora.

Ele: Meu Deus, o rapaz dessa capela que você me diz, foi assassinado. A família está inconsolável.

Eu: Não pude deixar de notar.

Ele: Muito obrigada. Eu vou ligar pra ele e pra polícia também.

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Fui ao encontro de Thy, e uns 10min depois ele veio me procurar.

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Ele: Moça, vim lhe comunicar que consegui avisar a família dele. Estavam no cemitério e irão se precaver agora. A polícia está se dirigindo pra lá.

Agradeci e ele se foi. Eu também precisava partir, então dei um abraço na Thy e segui para o meu estágio.

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Após a morte do esposo, a mãe da Thy passou a ficar mais sozinha do que nunca. Afinal, Thy havia se mudado para minha cidade, por conta da universidade.

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Meu estágio estava prestes a acabar, quando o gerente me chamou numa manhã de sábado.

Gerente: Mah, estava pensando aqui... gostei do seu trabalho, você se encaixa bastante na nossa identidade e sei que você também gosta do trabalho. Sentiria sua falta aqui como pessoa, e pela força que você me deu esses dias. O verão está às portas e estou pensando em contratar um funcionário temporário. Nesse sentido, não vejo pessoa melhor que você. O que me diz?

Eu: Cara, que bacana. Ficaria muito feliz. Gosto daqui e gosto do trabalho mesmo.

Ele: Bom, nesse caso, entendo como um sim?

Eu: Rs... Sim.

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Bom, agora teríamos uma questão: eu morava em outra cidade e não poderia gastar todo o meu primeiro salário com passagens, então o jeito seria eu me mudar pra algum lugar. A pergunta era: Pra onde? Contatei uns amigos que moravam em repúblicas, porque seria a melhor relação custo-benefício que eu poderia ter. Eu não poderia, nem teria condições de alugar uma casa só pra mim, naquele momento. Sem contar que até então, era um trabalho temporário (3 meses). Meus pais a princípio acharam a ideia não muito agradável. Mas eu precisava arriscar e tentar voar com minhas próprias asas. Nunca existiu pressão para eu sair de casa, e eu tampouco apressei isso. Porém senti que era uma boa hora. Eu não estava saindo por algum desentendimento, por alguma questão relacionada à minha sexualidade, ou por rebeldia. Eu estava saindo, porque sentia era necessário arcar com minha vida. Aos 23 anos, já me era desconfortável ser sustentada pelos meus pais, embora eu tivesse sido bolsistas pela universidade, eu precisava aprender o valor e a dignidade que o trabalho agrega à nossa vida. Mais do que isso: eu precisava amadurecer. Eu precisava deixar pra trás as coisas de menina e de fato me firmar como mulher. Sim, era isso que eu precisava.

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Meu prazo de mudança estava se esgotando, e eu ainda não havia encontrado lugar para ficar. Numa noite de dezembro, alguns dias antes do Natal, a Thy me ligou.

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Eu: Oi.

Ela: Oi Mah. Tudo bem?

Eu: Oi Thy. Tudo jóia. Como anda as coisas?

Ela: Estão bem, graças a Deus. E aí, já arrumou algum lugar pra ficar?

Eu: Ainda não. Procurei alguns amigos que dividem apartamento, pra saber se tinham vagas, mas tá meio complicado. Estou vendo como vou fazer ainda. Se não tiver jeito, à princípio irei ir e vir todo dia.

Ela: Então, eu conversei com mainha e tipo... Por que você não vem morar aqui?

Eu: Aí? Como assim?

Ela: Mah, eu não moro mais aqui direito. Você sabe. Depois que painho morreu, mainha ficou só. Durante o dia tudo bem, ela trabalha, sai. Mas a noite é complicado. A casa tem 3 quartos: O dela, o meu e uma suíte, que nunca usamos. É meu quarto da bagunça. Por que você não vem morar aqui?

Eu fiquei meio sem saber o que dizer, na verdade. Mas a ideia era boa.

Ela: Sobre você pagar aluguel... eu sei que tu é orgulhosa e não vai querer vir morar de graça.

Eu: Isso é uma certeza.

Ela: Pois é. Eu sei. Mas mainha disse que você pode pagar uma conta então. Tipo... a de luz, sei lá. Você vê.

Eu: Não. Assim não. Eu só aceito se eu pagar aluguel, como eu pagaria em qualquer outro lugar. Geralmente, quem divide apartamento ai na capital, para 3 ou 4 pessoas, paga em média R$xxx. Então seria esse o valor que eu poderia pagar a sua mãe.

Ela: Rs... Tá bom, Mah. Tá ótimo. Ela vai adorar, e eu vou adorar também ter você por perto mais vezes, minha Best "Besta" Friend kkkkkk

Eu: Ha-Ha-Ha. Palhaça, rsGente, por hoje é isso. Desculpem os erros, escrevi na pressa. Logo volto com notícias. Esses dias estão mais corridos pra mim, mas espero não demorar a escrever.

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Beijos

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Mah

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Sankofa

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Comentários

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Seu conto está maravilhoso, como sempre... Me cadastrei aqui só para poder comentá-lo, desde o anterior! Bjs...

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