No período de reclusão eu vi o quão tangível poderia ser a mente; na medida em que sentia as emoções virarem dor física ou comportamento, conseguia senti-lo. Eu tinha resistência psicológica em agir, falar, sorrir, chorar ou fazer algo para além da prostração. A questão era apenas “ser”, não “parecer” – consequência inevitável das nossas ações. Eu não iria falar para me significar pelo discurso, sorrir para dizer tacitamente algo, eu havia enfim, construído um muro inescrutável. Meu amigo tentava me fazer falar e, quanto mais ele tentava, mas ele falava de si e se revelava diante de mim. Ele contava sobre aventuras sexuais com seus amigos na infância, além de sua vontade de casar e o medo de não sair da prostituição no período estipulado – por volta dos vinte e cinco anos – e, uma vez ou outra, contava detalhes de orgias que praticava num sítio de um cliente deputado.
Uma vez amarraram seus braços, colocaram sobre sua cabeça uma arma e, em seguida o fizeram ficar de quatro e trepar com um cachorro. Ele dizia o quanto tinha sido bom, dava detalhes sobre a penetração, como quando o pênis escorregava e saía de dentro dele de forma constante, da afobação do animal e sobre a necessidade de segurá-lo contra si, para que tudo ocorra bem, ou seja, o animal consiga gozar dentro e ficar engatado por um tempo. Depois de narrar seus fetiches, ele explodia em choro, dizendo que era difícil ser ele mesmo e fazer suas vontades e, ao mesmo tempo ter de renegá-las. A culpa, ele julgava ser algo estúpido. Depois eu dava a ele um abraço, até que ele se acalmasse e pudesse dormir; todo o relato era anotado em meu caderno, nas tardes em que eu ficava sozinho eu relia cada um deles, como páginas de um romance.
Um dia as lágrimas pararam de vir, ele finalmente pôde lidar com suas próprias fantasias, derrubar seu velho paradigma. As transas eram relatadas com mais trivialidade, não havia ataques de choro acompanhando-as, eu havia feito o meu papel. Ele não mais se dividia, ele agora “era”; não fingia para si que era o que parecia aos outros, mas o que era em sua metafísica. Voltei a falar, já ele, tornou-se cada vez mais calado, a cada dia nós nos confundíamos com o outro. Ele se tornou taciturno, mais autêntico e emocionalmente denso. Não precisávamos explicar muito ao outro, ou verbalizar um medo ou um desejo, pois havíamos nos tornado espelhos indefectíveis.
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