Assim que bati a porta da frente de nossa casa comecei a chorar muito. Me bateu um desespero tão grande e totalmente avassalador que jurei pra mim mesmo que se encontrasse com meu Comandante de Companhia, o Capitão Lucena, eu o mataria com o maior prazer de minha vida.
O olhar triste e incrédulo do meu Mozão ao me questionar, até mesmo os palavrões que me disse, tudo aquilo deve ter sido muito difícil pra ele e isso me fez desabar. Entrei no carro e por algum tempo só fiquei lá sentado sem fitar absolutamente nada e após respirar fundo, liguei o carro e segui direto pelas ruas e avenidas da cidade.
Na curva da lagoa da Parangaba, encontrei com meus amigos Souza e Dutra. Pela minha cara eles perceberam o quão difícil devem ter sido as coisas em casa.
_ Afasta Sargento, você não tem a menor condição de dirigir nesse momento... Falou meu amigo Souza já assumindo a direção do meu carro e do meu Mozão.
_ Ele ta mau Souza. O rosto dele... Foi horrível fazer ele sofrer, cara. No dia que você amar alguém verá que a pior coisa durante todo o processo é fazer ela sofrer.
Algum tempo depois o Sargento Souza perguntou:
_ Ele falou quem o ligara? Tocou no meu nome?
_ De jeito nenhum, Souza.Eu bem que gostaria que ele tivesse dito alguma coisa. Só que ele não falou nada, cara.
_ Amigo, por um desse vale a pena lutar. Sabia que teve um momento que foi muito especial e deu pra perceber o quanto que esse garoto te ama, cara?
_ E que momento foi esse? Perguntei depressa.
_ Por duas vezes quando disse a ele que você o estava traindo tentei tocar em suas mãos e ao sentir o meu toque, ele demonstrou um certo nojo ao perceber o meu gesto. E outra, quando disse que estava gostando dele e era por essa razão que estava entregando você, ele m,e chamou de invejoso e me acusou de destruir a paz de vocês.
A tudo isso que acabara de ouvir eu associava a visão de seu rosto enquanto falava comigo na sala de nossa casa e pensei... " Eu juro que jamais tive alguém na minha vida meu Mozão desde o dia que te vi na janela de casa "
O Sd Dutra me falou da ligação que ele fizera na noite de ontem e também foi quem me alertou de que tinha uma pessoa escondida ( meu Mozão, lógico) atrás de um dos carros no estacionamento da academia com certeza ouvindo e vendo todo o desenrolar da cena que a gente combinou. Com o plano começando a dar certo, deixei o Sd Dutra na academia onde ele e o Souza treinavam e fui correr numa pista de corrida próximo a minha casa após avisá-lo que se tudo desse certo eu passaria na academia para pegá-los e iria dormir em sua casa.
J B não era um garoto frágil. Ele era um verdadeiro colosso, só que os últimos acontecimentos e nesse caso senti que o estava traindo, devem ter sido demais pra ele. Enquanto ele pôde se fazer de forte, ele fez. Era visível o tremor nas mãos, que com certeza estavam gelas, o tremor na voz que ele tentava a todo custo controlar, a calma aparente quando todo o seu corpo estava em ebulição e o olhar que sempre me lança de incredulidade, tudo isso deveria estar sendo demais para ele.
Quando saí de casa e fiquei lá parado, pensei que ele choraria muito, só que nada eu ouvi e por diversas vezes quis entrar la e dizer que era tudo invenção... Aí lembrava do que poderia acontecer com ele por minha causa e desistia na hora.
Eu tinha na minha mente o que seu pai havia lhe feito no dia em que descobriu sobre nós, juro que quis matar aquele filho da puta, e prometi a mim mesmo que jamais iria deixar alguém tocar nele daquele jeito de novo. Ele era especial demais. Ele era o melhor de mim, da minha vida, do nosso mundo. Sabe quando alguém tem luz própria e que você, um simples mortal fica feliz só por estar perto? Pois era assim que eu me sentia a seu lado. Ele era o centro de tudo que pudesse vir de mim. Seria capaz de morrer por ele. Enquanto dirigia pelas ruas e avenidas da cidade e chorava lembrando do meu Mozão voltei no passado...Precisamente uma semana antes do dia de hoje...
Todo o desenrolar dos acontecimentos até o dia de hoje começaram quando na terceira semana após o término do Curso de Formação de Sargentos fui procurado pelo agora Sargento Souza que me disse:
_ Toma cuidado Gouveia tem alguma coisa estranha acontecendo. Acabei de ouvir o Sub Tenente Nunes falando pro Capitão Lucena no almoxarifado da Companhia que já esta mais do que na hora de jogarem merda no teu ventilador e que você tem que pagar pela surra que deu no Capitão. Pelo que entendi o Lucena falou pro Nunes que nada poderia fazer contra você porque nesse caso ele se ferraria também, aí o Nunes perguntou se algo fosse feito contra alguém que você gostasse... Aí o escroto falou que tinha uma pessoa que atualmente era o seu sol e que poderia ser o alvo que eles provavelmente poderiam atingir... Escuta a gravação que fiz... Após ouvi-la, juro que temi pelo meu Mozão.
_ E agora Souza o que eu faço? Perguntei já com um certo receio. Medo do Lucena eu não tinha, medo do que ele pudesse fazer se decidisse me prejudicar no quartel ele também não teria coragem pois iria junto comigo... meu medo era de que ele fizesse algo de muito sério com meu Mozão e isso eu não aguentaria.
_ Amigo na verdade nem mesmo eu sei o que deve ser feito pra parar aquele maluco e o bando que gravita em torno dele. Bando de viado maluco esses, viu? Cara se alguém não te quer, não força... Se manca e vai ser feliz. Um dia tu encontra, né não? Agora de uma coisa a gente pode ter certeza, como ele não tem mais nada a perder, ele virá pra cima de ti com força total. Parece que o maluco só vê tu na frente dele, sacou?
_ E se eu abrisse o jogo com o Mozão e a gente separasse por um tempo? Claro que seria só fachada até o filho da puta do Capitão ver que eu e ele não estamos mais juntos. que tal?
_ Será que o Capitão cairia nessa farsa? Acho que o melhor era a gente bolar uma situação contra o Capitão e calar a boca dele de uma vez por todas.
_ Ta certo, e como a gente faria isso?
_ Eu posso pedir ao Sd Dutra que nos ajude. Você sabe que eu e ele estamos nos conhecendo melhor depois que o salvei das garras do filho da puta do Lucena e junto com ele a gente pode bolar uma situação pra primeiro te tirar de dentro de casa, depois ele pode fingir um arrependimento por não ter aceitado as propostas do Comandante, a gente grava um flagrante e te livra de uma vez por todas daquele verme. Que tal?
_ Parece ser uma coisa boa. O Sd Dutra estaria disposto a nos ajudar?
Não só pôde como ajudou. Assim que o encontrei no estacionamento e ele me disse que meu Mozão, só podia ser ele a pessoa atrás dos carros, estava na área começamos a colocar o plano em ação.
Parei um pouco com o flashback assim que chegamos na casa do Souza. O Dutra também passaria a noite por lá e antes de ir dormir falei:
_ Dutra obrigado por nos ajudar. Você estará em perigo pois vai ver o leão de perto mas não estará sozinho, beleza? Apertei sua mãos e o abracei.
_Você tá mal né companheiro? Perguntou Souza já me dando um abraço.
_ Tá tão visível assim amigo? Retruquei. Assim que me despedi dos dois lhes desejando uma boa noite, segui pelo corredor de sua casa tenho por companhia a solidão.
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Meus queridos...
Espero não ter despertado a ira de vocês. Era um capítulo necessário a ser escrito, até mesmo por conta do título do conto. Viram só como o Soldado ta mal? E o Mozão? Amar é sofrer ... E muito.
Que a semana seja maravilhosa para cada um de vocês. Beijo nos vossos corações, Nando Mota.