Nada Vai Nos Separar VII

Um conto erótico de Irish
Categoria: Homossexual
Contém 1374 palavras
Data: 04/05/2015 17:51:18

Entre fevereiro e março de 1993, o calor foi abrasador, pior do que nos meses anteriores. Traziamos o ventilador para o quarto e, na cama, enquanto Marquinhos assistia à novela, eu examinava mais um dificil processo que me chegara às maos.

- Porque voce faz isso, hein? _ disse ele com um arzinho cinico, quando levantei para pegar caneta e o bloco de papel na escrivaninha _ Sabe que eu fico louquinho quando voce esta assim, so' de cueca branca e oculos.

Desligou a TV e foi logo tirando aquele calçao curto e vermelho que usava, sem cueca.

- Vem cà, vem _ chamou, empurrando a colcha fina com os pes.

- Amor, eu ainda preciso ler isso tudo... _ falei meio paralisado, olhando para ele e sentindo minha cueca apertada na frente.

- Voce trabalha demais. Vem cà relaxar um pouquinho, vem...

O fundo da primeira gavetinha do criado mudo era sempre repleta de preservativos, e aquele fogoso safado era quem colocava em mim, de um jeito lento e sensual que ele tinha elaborado, sempre apos uma chupada fenomenal. Para mim, alem de ser um sexo enormemente prazeroso, ia alem disso, era sagrado por ser com ele, o cara que eu amava, por quem seria capaz de dar minha propria vida. Sempre me parecera incrivel, sublime, mesmo naquela nossa primeira vez que ele chamou de "sexo ruim". Dizia as vezes que eu transava mal no inicio, e que aprendera com ele. "Uma vadia", dissera Bruno grosseiramente, certa vez. Porque? Pelo fato de adorar engolir esporro? Por ficar doidinho com o beijo grego que eu adorava fazer nele, com uma gula de fanatico, de viciado no corpo branquinho e perfeito dele, aquela bunda redondinha que marcava o jeans, e que os caras ficavam olhando na boate, mas que era so' minha?... Por cavalgar e chupar como se fosse sempre a ultima vez? Por ter uma libido exuberante, linda como ele proprio? Ele poderia ser uma vadiazinha na cama, mas apenas para mim. "Mete, Alex! Forte, caramba! Fode forte! ", ele dizia entre gemidos. Fato era que, na cama, ele virava um diabo insaciavel, e confesso que eu quase nao dava conta; ele me deixava como um trapo algumas vezes, e ainda cansava alem do que deveria, apesar de sorrir satisfeito.

- Nossa! Acho que vou dormir assim mesmo _ disse ele fechando os olhos, banhado em suor _ Mal consigo me erguer da cama...

- Vai tomar um banho, sim. Vem, eu te ajudo _ levantei-me ainda tropego e o puxei da cama _ Deixe de preguiça.

- Gostoso _ ele pendurou-se ao meu pescoço, rindo _ Eu queria era mais...

- Nao, nao. Olha so', esta exausto _ falei, levando o carinha meio arrastado ate o banheiro; abri o chuveiro _ Apaga esse fogo, moleque. Se eu fizer seu gosto, e' a noite toda... Voce tem que descansar, poxa.

Depois daquele banho, ele mal vestiu outro shorts e já caiu na cama, quebrado daquela canseira pos-sexo. Ainda precisei terminar de ler uma parte do processo, interrompido por aquele safadinho, mas tambem estava bem cansado, ele tinha esgotado minhas forças. Marquinhos sempre gostou da coisa "forte", quase selvagem, e eu fazia sua vontade, mesmo preferindo um sexo mais lento e romantico. "Sexo pauleira, de homens", dizia ele, enquanto eu sempre sonhava em fazer amor na praia, sob á luz de estrelas, entre declaraçoes apaixonadas, uma poesia corporal para louvar meu amor a ele. "Que cafona, Alex!", ele ria quando eu contava sobre meus devaneios. "Eu faço sexo, voce faz amor. Mas assim mesmo a gente se ama e se encaixa direitinho. E na hora, gozamos igual, nao e'?", completava ele, rindo. Nunca fui passivo com meu anjo, que tinha a sua preferencia sexual bem delineada, e nunca me pediu para mudar. Apenas duas vezes fui passivo em relaçoes sexuais anteriores, com Bruno e depois com Zeca, em duas noites de loucura que passamos na casa de praia dos pais de Tony, em Ilhabela, quase dois anos antes de conhecermos o Marquinhos. Foi no outono: Tony levou um garoto bonitinho e virgem, do predio dele, na intençao de traçar o carinha naquele final de semana. Na primeira noite, bebado, com uma carreira de cocaina girando na cabeça, acabei transando com Bruno, que no outro dia contou ao Zeca; este, atiçado, tambem acabou me levando pra cama na outra noite, contando com minha embriaguez novamente. Ambos eram brutos, completamente ativos, e nao foi uma experiencia boa, embora por eu estar chapado, tenha me recordado dela apenas por flashes. Eles devem ter contado tambem ao Tony, mas ao que parece ele nao se mostrou interessado; estava fissurado no garoto virgem, ficava trancado com ele no quarto por horas. Nao era todo dia que ele encontrava um moleque bonito, virgem e disposto para foder. Enfim, Bruno e Zeca tentaram repetir a dose comigo outras vezes, mas fiz jogo duro, estava arrependido, envergonhado, nao tinha gostado de transar com eles; desistiram, claro, indo caçar outra novidade. Nem com Beto, que foi meu primeiro namorado, fiz o passivo. Nao gostei, realmente, e pretendia nunca mais repetir.

Dez e meia da noite. Busquei na cozinha um copo de leite gelado, destampei o frasco do AZT e peguei a dose exata, colocando na mao. Acordei o anjo que resmungou, engolindo o remedio, mal prestando atençao; tomou meio copo de leite e caiu exausto sobre o travesseiro. Fechei a janela e puxei o lençol sobre o corpo dele, abraçando-o por tras, me preparando para dormir.

Em certa noite, Clarice telefonou um pouco brava. Disse que nossa mae estava disposta a me "perdoar" caso eu "mudasse de vida". Fiquei indignado e minha irma acompanhou minha revolta. Seria possivel que nossa mae nunca fosse capaz de me compreender? Desisti nesse momento de qualquer tentativa de fazer ela me aceitar, lavei minhas maos. Ela que procedesse como quisesse.

Alguns dias depois, na rua do escritorio, vi uma florista vendendo vasinhos com amores- perfeitos de varias cores. Gostei dos azuis, eram quase que violetas, e embora custassem caro, comprei um vaso para o meu anjo. Quando o peguei á tarde na editora, entreguei o presente dentro do carro.

- Bom, acho que essas flores falam melhor do que eu, nao? _ disse meio sem jeito, corando, ajeitando os oculos na cara naquela mania que adquiri _ Mas isso e'... pra voce ver, e nunca se esquecer, de que sou um eterno apaixonado seu, sempre, sempre...

Ele sorriu um pouco constrangido, os olhinhos brilhando. No banco de tras do carro, Davi e Renatinho fizeram um "AAAANNNN" em unissono, batendo palmas e rindo.

- Minha menstruaçao ate desceu aqui, Alex _ disse Renatinho.

- Deixe de ser nojenta, bicha! _ falou Davi, horrorizado.

- Mas eu quero um homem assim pra mim! Eu quero e mereço! _ disse o outro, fazendo bico.

Marquinhos riu, mas me encarava ainda. Inclinou-se, ainda com o vasinho nas maos, e me beijou de leve, sussurrando um "eu te amo" na minha boca. Os meninos gritaram de novo, e nao pararam de falar enquanto nao os deixei na rua deles. Marquinhos chegou em casa pronto para um banho, falando em fazermos bifes para o jantar; estava com apetite, sem enjoo, me dando certeza de que sua anemia tinha ido para o espaço. Que bom!

Os amores-perfeitos duraram um tempo no vasinho, Marquinhos cuidava deles corretamente, seguindo as indicaçoes que vieram impressas num cartaozinho junto com a planta. Logo percebi que ele viu naquela flor um tipo de simbolo, cuidando com certo nervosismo da manutençao da vida daquela especie, e para ele era como uma questao de honra que a planta nao morresse. Nao me disse nada, mas eu percebia tudo e me arrependia daquele presente. A vida do amor-perfeito representava a sua, a vigilancia diária era como com a sua saude, e a tensao de manter tudo integro, tambem. Chegava a me dar nos nervos todo um cuidado com uma especie de natureza tao delicada como aquela; temi que ele se decepcionasse com a morte da planta, que numa comparaçao tenebrosa, representaria algo horrivel para ele, uma profecia funesta.

Entretanto, no inverno, a planta floresceu. Duas flores de azul menos intenso, menores do que a primeira florada, mas que bastaram para deixa-lo satisfeito. As flores lembravam a cor dos olhos dele: azul cambiante.

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Valeu! :)

Abraços em todos!

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Comentários

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Sim o sexo entre eles dois eh um reflexo das suas personalidades e vida amorosa. Alex faz a vontade do Marcos, mas os dois se entendem. O Alex naun faz a vontade dele com medo de perde-lo para outros, mas sim pq sabe q o seu amado esta doente e ele faz de tudo para q ele se sinta melhor e satisfeito. O amor-perfeito eh tao efemero, mas eh lindo que nem o amor quase perfeito deles.

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Achei sua escrita algo doce, leve, é o revés da minha. Um ponto em comum que, identifiquei nesse conto, foi a falta de apelação sexual. Quanto ao teor sexual recorrente em muitos contos, particularmente não acho excitante, pois parece que na produção destes, a única coisa levada em conta é a excitação do leitor, então acaba ficando algo forçado e totalmente impessoal. Nada contra a literatura pornográfica, há grandes livros na Literatura, mas quando apela demais a coisa não cumpre o papel que tanto deseja: excitar o leitor.

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Mas [e um pouquinho necessário pra dinâmica do conto. Estou adorando. Acho que todos sonham com algo parecido com isso, claro que sem a parte ruim, mas a relação harmoniosa, o afeto, talvez não tão intenso, mas que seja pelo menos bom assim. Vou deixar registrado: ainda não encontrei, e temo não encontrar. ;-/

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aunnnnnnnnnnnnnnnnquelindo#anjoDesculpeDeMandarSempreTudoJuntinhoAsLetrasMasÉQueMeuTelefoneTaEstragadoATeclaQueSepara...BeijinhoLinda

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Oi! :) * cintiacenteno, que legal que vc gosta. Obgada!* Perley, pois é, em pensar que ainda hoje muitos jovens sao inconsequentes, brincam com a vida... Triste. * Lilo BH, este ficou um pouquinho só mais erotico. Mas é só rs. Valeu! * Ru/Ruanito, é o Alex narrando acontecimentos daquele momento presente, intercalando com lembranças do passado ok? * Quin, vc esta coberto de razao. O Marcos é mais imaturo do que o Alex que teve que, praticamente amadurecer na marra pra cuidar do garoto. O amor que o nerd sente é incondicional esta acima ate mesmo do amor proprio. Observe voce que muitas vezes ele se anula, sobrepoe a vontade do Marquinhos a dele sem nem pensar duas vezes. A frase : fiz a vontade dele", tem se repetido nessa fase da vida deles. Ele é um bobo sim, rs, tadinho. Valeu guri! * Anonimos abraços!

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