(Bernardo)
-Como ele descobriu seu endereço?
Lucas me perguntou meio ofegante pelo esforço que estava fazendo nos braços. Ele tinha ouvido todo meu relato calado do dia que o Victor invadiu meu apartamento depois da formatura.
-Não sei. – Dei um tempo pra respirar
- E o que ele queria?
-Me dar os parabéns – Lucas me olhou com um olhar de quem não acreditava no que eu estava falando.
-Só aconteceu isso? Você quer que eu acredite que ele foi à sua casa só pra te parabenizar pelo diploma? Depois de tudo que vocês passaram? Não sou trouxa Bernardo.
-Ele me beijou... - Confessei derrotado
-E você vai cair nessa de novo? Ele tá noivo agora.
-Eu sei. Só que eu não pude evitar.
Aquela boca. Aquele corpo. Tudo era demais pra mim, não conseguia ver um defeito sequer nele. Mesmo que ás vezes, quando ainda estávamos juntos, eu o criticasse por cada vez mais estar se enchendo de tatuagens, eu ficava fascinado cada vez que ele tirava a camisa e as exibia. Tinha me rendido a sua obsessão e feito uma junto com ele, era o dia, o mês e o ano em que nos vimos pela primeira vez. Tínhamos feito uma tatuagem de casal, embora agora não fossemos mais um.
-Sabe o que você precisa? Sair, conhecer gente nova, faz quanto tempo que você não sai com ninguém? Quando foi a ultima vez que você teve uma boa transa? – Lucas parou pra me olhar. Voltei pra mais uma série de exercícios no braço.
Uma boa transa, de verdade, não tenho desde que eu terminei com o Victor. Pensei, mas resolvi não falar. Porra, o sexo era foda. Tive que me concentrar pra não me machucar.
-Heey faz algumas semanas que meu lance com a Priscila acabou, não estou tão na seca assim. – Menti. Aquilo não tinha dado em nada.
-Não parece, pra estar ressuscitando mortos... Olha a sua volta Bêh, veja quantas pessoas tem aqui, não é possível que nenhuma delas seja suficientemente interessante pra você. Aproveita que academia é um bom lugar pra se paquerar.
Percebi que ele teve o total cuidado de falar pessoas, e não especificar homens ou mulheres. Aquele meu término tinha me deixado confuso sobre tudo, saí com algumas meninas, mas não ousei chegar perto de um homem naquele período. Uma idéia que me parecia estúpida, mas queria que o Outro fosse o único em minha vida. Só não sabia quanto tempo iria agüentar com aquilo.
Fiz o que ele mandou e observei o local, estávamos na academia que ele costuma freqüentar. Tinha me matriculado á alguns dias e combinei com ele de que a partir dali nós iríamos juntos. Ele, claro, deu a maior força. Iria cuidar do corpo já que a mente estava podre. Inúmeras pessoas faziam seus exercícios alheias aquela nossa conversa ali, muitas eram bonitas e atraentes aos olhos, mas eu precisava de muito mais que um rostinho bonito.
-Não vou paquerar ninguém aqui. Tá todo mundo suado.
Falei e ele deu risada do meu comentário. Lucas vinha sendo um cara muito maneiro nesses últimos meses, só nessas horas que a gente vê quem é amigo de verdade. Vivia me arrastando pro lugares em que ia, suportava horas e horas dos meus relatos e me dava muitos conselhos, mas que eu nem sempre seguia.
Nosso personal apareceu pra nos orientar e eu percebi que ele sorria demais pra nós dois. Ele era moreno, alto, cabelos raspados e muito musculoso. Olhei pra ele e só consegui pensar nas coisas que ele deixava de fazer pra ficar na academia se definindo, pra que tudo isso? Ele auxiliou o Lucas a ficar na posição correta e depois veio até mim. Observou como eu estava fazendo por alguns instantes, elogiou e foi embora.
-Qual seu tipo de homem? – Lucas me perguntou assim que ele saiu.
-Não tenho um tipo. – Respondi, mas a verdade é que eu ainda não tinha parado pra pensar em qual seria meu tipo favorito.
-Qual é... Todo mundo tem um tipo.
-Tá bom. Meu tipo favorito é loiro, alto, olhos castanhos e tem que ser forte. - Tinha acabado de descrevê-lo só pra o zoar e desviar daquele assunto.
As cinco da tarde estacionei meu carro em frente á casa dos meus pais, deixei o Lucas em casa e fui pra lá sem nem tomar banho, não queria ter que ir pra minha casa e ficar sozinho naquele momento. Minha mãe me recebeu com um enorme sorriso no rosto, parando pra pensar, nem sabia a quanto tempo tinha ficado ser ir lá.
-Oi mãe.
-Bernardo! Que alegria... Vem sentar aqui.
Algo no tom de voz dela me fez arrepender de ter ido até lá. Sabia que ela iria perguntar o que estava acontecendo, me criticar, ou dar palpites sobre minha vida. Talvez os três juntos. Deitei no sofá e esperei que a enxurrada de coisas viessem. E logo veio:
-Bêh, o que tá acontecendo? Estou preocupada com você, seu pai disse que você não aparece mais com freqüência na empresa.
-Não pergunte se realmente não quer saber.
-Eu quero saber, eu sou sua mãe. É por causa dele? O que aconteceu entre vocês dois?
-O nome dele é Victor, você sabe, e a gente terminou faz um tempo. – Respondi sem vontade de entrar naquele assunto.
- E por isso você tá assim? Não come direito, não se diverte, não trabalha mais? Você tá parecendo um zumbi, nas atitudes e na aparência também.
-Mãe, entende, nós fazíamos tudo juntos, foi algo forte... Daí de uma hora pra outra tudo isso acaba. Qual ia ser a sua reação diante disso? – Perguntei pra ela
-Você o amava tanto assim?
-Eu ainda amo, e dói saber que esse amor não é suficiente pra gente voltar a ser como era antes.
-O que aconteceu entre vocês dois?
-A relação já não vinha boa á algum tempo, fiz de tudo pra nos aproximarmos, mas parecia que o abismo só aumentava. Eu sei que ele ainda me amava, mas andava tão ocupado com o trabalho e aí quando ficamos juntos só fazíamos cobranças. Cada vez que eu penso que eu deveria ter tentado mais uma vez antes de abandonar tudo, me destrói por dentro.
Desabafei com minha mãe, sabia que ela não gostava desse assunto, mas ela tava ali preocupada comigo. E se ela estava preocupada tinha que ouvir o que estava acontecendo.
- O que te impede de tentar mais uma vez agora?
No fundo eu sabia que tudo o que ela menos queria era que eu tentasse outra vez, ela não suportava a idéia de ter um filho gay. Sempre que podia jogava umas indiretas sobre esse assunto e pedia netos no futuro, mas agora ela estava ali, tentando ter uma conversa sem deixar que o lado mãe intolerante falasse mais alto.
-Ele tá noivo. Agora a senhora entende por que eu não tenho cabeça pra mais nada?
Me doía muito ter que falar essas palavras alto e em bom tom pra outra pessoa, era como se tudo tornasse mais real. Mas também porque ele tinha que ficar noivo? Eu me perguntava isso todos os dias. Namoramos quatro anos e nós nunca havíamos chegado nem perto disso, não que eu quisesse, mas certeza que fazia mais sentido do que esse noivado com aquela mulher. Será que viajar, sair do país, não seria uma boa idéia? Qualquer pessoa normal faria isso. Mas não, ele não.
-Você não pode ficar assim, isso tá te fazendo mal. – Minha mãe voltou a falar
-Eu vou ficar bem. Ninguém nunca morreu de amor. Só me dê algum tempo, ok?– Dei um sorriso amarelo
-Sabe o que ia te ajudar? Voltar a morar aqui, somos só eu e seu pai, mas com certeza é melhor que ficar sozinho.
-Não posso e não quero... Sinto que preciso ficar sozinho, sabe. Ás vezes tenho minhas crises. Acho que não faria bem você e o papai presenciarem tudo isso. Alem do mais, não tenho mais idade pra morar com os papais, né.
Tentei aliviar, mas vi nos rosto dela que aquilo que tinha ouvido fora forte demais. A entendia completamente, não é fácil pra uma mãe ouvir todo aquele sentimento do filho e fingir que nada estava acontecendo. Ainda mais pra ela que não aprovava aquele tipo de vida que eu levava. Não deveria ter falado nada, mas ultimamente não estava dispensando quem queria me ouvir. Talvez fosse hora de um psicólogo. Esse era um tipo de assunto que eu só tinha com o Lucas, ele estava sendo um verdadeiro ponto de equilíbrio, mas eu sabia que enchia o saco. Nem eu me agüentava mais. Sabia que estava ficando deprimente e isso já era um sinal de alerta.
Eu sabia que deveria parar com essas lamentações, melancolias e até mesmo parar de pensar nele de uma vez por todas, mas meses já tinham se passado e eu simplesmente não conseguia. Era difícil explicar em palavras o que eu ainda sentia em relação a tudo, o amava ainda, tinha magoas por ele ter deixado chegar ao ponto que chegou e era nessas horas que minha cabeça entrava em combustão. Mas uma coisa era fato, eu teria que superar, seguir e viver. E rápido!
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Geeeeente, preciso pedir uma coisa a vocês: tenham paciência nesse começo de conto, eu sei que esses capítulo não são muito legais de se ler, mas é preciso até que a história comece a desenrolar. Hoje mesmo eu fui revisar e não agüentei tanta lamentação do Bernardo, e parece que o Victor tá igualzinho... tá foda!!! Eu precisava, nos primeiros capítulos, fazer essa passagem de tempo que foi de uma temporada pra outra, e como eles não estão mais juntos, vem aquele famoso drama. Também precisava apresentar mais alguns personagens, fazer a interação dos principais com eles... etc. (Ex: O Lucas, ele vai ser importante mais pra frente e eu tinha que inseri-lo já). Mas não desistam de nós, logo vai chegar o momento em que as coisas realmente acontecem. Tenham calma.
Obrigada as pessoas que comentaram o primeiro capítulo mesmo depois de eu ter postado o segundo, é muito importante pra mim: lu6454, Ghiar, mary_jane, Kevina
Obrigada também aos que comentaram no segundo:
esperança: Quanto tempo!!! Lembro de você na primeira temporada kk Obrigada por estar acompanhando essa também.
Kevina: Que bom que está gostando, fico feliz, de verdade. Obrigada. Beijos.
Ghiar: Pois é, também acho que o Victor tem que fazer de tudo pra provar esse amor. Mas vamos combinar que com uma noiva grudada nos braços fica meio difícil, né? Kkk Beijos
cintiacenteno: Oh amor, não fica com raiva do Victor não kkkk ele também tá sofrendo ... Bernardo merece o melhor sim, alguém que o ame e o faça feliz. Mas parece que nesse momento ele acha que só o Victor pode lhe dar tudo isso, e sofre por saber que talvez isso não seja mais possível. Vamos aguardar. Beijos.
@Kaahh_sz: Que emoticon triste é esse? Kkkk Não fica triste com o dramalhão dos dois não kkk
Cândido: Também achooooo, tem que correr e correr muito. Antes que seja tarde. Vamos ver se ele vai nos ouvir.
Martines: Poxa, não lembra!? É só clicar no meu nome e irá aparecer. Corre lá e volta aqui kkkk. Beijo.