Acordei do lado dele. Abri os olhos aos poucos, ainda estava com bastante sono. Percebi aqueles olhos lindos me encarando. Retribui com um sorriso.
Pobrezinho, não tinha dimensão do que nos aconteceria, infelizmente. Eu não diria nada a ele, não até o momento. Ele não entenderia, e é claro que ele iria entender qualquer versão dos fatos que os pais deles o dissessem para acreditar.
Era uma causa ganhar. Eu sairia perdendo. Se eu pudesse, eu o tiraria do ninho de cobras que ele vive. Mas e depois? O que eu iria fazer? Duas crianças fugindo por ai? Sem casa, sem dinheiro, sem comida?
- Tia Milena te chamou pra almoçar.
- Porquê não me acordou?
- Porquê eu tava te olhando...
Abri a boca, mas não consegui dizer nada.
- Quando foi que a gente virou amigão assim?
- Haha, nem eu lembro mais... - menti.
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O dia passou furtivamente, mas, para minha infelicidade o pai de Oliver iria buscá-lo. Interessante, não?
Aproveitei cada segundo do dia com ele, como se fosse o nosso último. Fiz coisas que eu nunca me imaginaria fazendo. Até pescar a gente pescou...
- Vamos catar acerola?
- Eu não vou querer, mas eu te ajudo a pegar.
Bem, ser alto tem suas vantagens. Depois de catar as acerolas, o menino devorou tudo, parecia que estava passando fome. Que besta, até comendo eu achava aquele garoto lindo.
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Eu deitei na rede para descansar. Qualquer outro dia eu queria distância do meu primo, mas hoje, eu queria aproveitar cada segundo.
Bastou eu pensar nele e ele apareceu. Com sua tremenda audácia já foi se jogando em cima de mim. E ficamos assim por um longo período de tempo. Sua cabeça repousava em meu peito, e eu o abraçava enquanto fazia cafuné em sua orelha.
Eu estava sorrindo feito um bobo. Cada segundo daquele, cada pequeno gesto me fazia tão bem. Só sua presença já me completava.
Coloquei meu celular pra tocar algumas músicas. Precisava afastar todos os pensamentos do que poderia ocorrer. Eu sentia que estava próximo. Era inevitável negar. Dessa vez, minha intuição não seria ignorada, não para o meu bem.
Dentre as músicas tocadas, as mensagens subliminares começaram a soar furtivamente...
[Nicki Minaj - Your Love]
"Shawty Imma only tell you this once, you're the illest. | Querido, eu só irei te dizer uma vez, você é o melhor"
Sempre e para sempre.
"And for your lovin' Imma Die Hard like Bruce Willis | E pelo seu amor eu serei Duro de Matar como o Bruce Willis"
Lutaria, com todas as minhas forças...
"You got spark, you, you got spunk | Você tem um brilho, você tem virilidade"
Unicamente, apenas você, primo...
"You, you got something all the girls want | Você tem uma coisa que todas as garotas precisam"
Não sou uma garota, mas eu preciso disso...
"You're like a candy store and I'm a toddler. | Você é como uma loja de doces e eu uma criança"
Eu simplesmente sou viciado em qualquer coisa que tenha você...
"You got me wantin' more and mo mo more and | Você me faz querer cada vez mais e mais do..."
Muito, muito mais...
"Your love, your love | Seu amor, seu amor"
Único.
"Your love, your love | Seu amor, seu amor"
Puro.
"Your love, your love | Seu amor, seu amor"
Ingênuo.
"Your love, your love | Seu amor, seu amor"
Apenas pra mim.
"Find me in the dark | Me encontre no escuro..."
Eu estarei lá, é só você ne chamar...
"I'll be in the stars | Eu estarei nas estrelas..."
Você sabe, aquele lugar, onde perdíamos horas olhando as estrelas...
"Find me in your heart | Me encontre em seu coração..."
Se nosso sentimento for recíproco você encontrará...
"I'm in need of your love | Eu preciso do seu amor..."
Preciso mais que tudo, meu baixinho...
[Nicki Minaj - Save Me]
"I drove for miles just to find you and find myself" | "Eu dirigi por quilômetros só pra te encontrar e me encontrar"
Minha cidade natal, meus amigos, minhas raízes. Nada me completava, depois que eu o encontrei, eu achei sentido para continuar...
"All these screams all these voices in my head | Todos esses gritos, todas essas vozes em minha cabeça"
Meus pensamentos, estranhos, iníquos. Sempre havia um conflito interno, não suportava mais...
"You gave me strength, gave me hope for a lifetime | Você me deu força, me deu esperança para uma vida inteira"
Força. Isso que ele me proporcionara. Esperança. Era o que eu mais almejava para nós...
"I never was satisfied | Eu nunca estava satisfeito"
Nunca. Cada segundo perto dele, cada dia com ele não era o suficiente. Mas, eu não podia tê-lo só para mim...
"This time won't you save me | Dessa vez você não vai me salvar?"
Ele me salvaria, com certeza...
"This time won't you save me | Dessa vez você não vai me salvar?"
Mas e nossas vidas? Somos tão jovens para sofrer tanto assim...
"Baby I can feel myself giving up, giving up | Baby, eu posso me sentir desistindo, desistindo"
Eu poderia prosseguir com aquilo, eu seria forte, por ele...
"This time won't you save me | Dessa vez você não vai me salvar?"
Mas, ele não. Eu tinha medo do que acontecesse com ele...
"This time won't you save me | Dessa vez você não vai me salvar?"
A resposta, seria não...
"Baby I can feel myself giving up, giving up | Baby, eu posso me sentir desistindo, desistindo"
Será para o nosso bem, eu garanto. Eu não posso vê-lo sofrer. Eu poderia tolerar, aceitar e me acostumar com qualquer coisa, menos isso...
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Eu estava com o coração na mão. Vi de longe o carro do pai de Oliver se aproximar.
Ele saiu ao encontro do pai, correndo. Eles conversaram algo de longe. Quando ele me viu ali, mandou Oliver adiantar que ele estava com pressa pra ir pra casa.
Com certeza, claro que ele estava. Ou será que era minha presença? Sempre soube que ele nunca gostou de mim. E agora, eu tenho mais certeza que ele fará de tudo pra me distanciar de Oliver.
Infelizmente, eu não poderia fazer nada.
***
ULTIMO DIA DO ANO.
.
NO TELEFONE.
{ - Sim, eu voltarei pra casa ainda hoje. }
{ - Não! Nem pense, você vai ficar ai. Vai curtir um pouco, sair com seus amigos. Eu não me importo... }
{ - Você vai passar a virada do ano sozinho? }
{ - Não, Brendha me chamou pra ir pra casa dela. Vários amigos da escola estarão lá. }
Mentira, eu não iria pra casa de ninguém.
{ - Tudo bem. Mas tem certeza que não quer que eu volte? }
{ - Nem ouse. Fique ai, aproveite. Amanhã você volta. }
{ - Pronto. Então tudo bem. Agora mudando de assunto, desde que você voltou de Rubinho você tá meio... estranho. Aconteceu alguma coisa? }
{ - Não que eu saiba... }
{ - Eu estava no telefone com Mirinha. Ela disse que ficou chateada, porquê você foi pra lá sem avisar e o marido dela não gostou. }
{ - E aquele infeliz gosta de alguém? E outra eu nem fui pra casa dela. Eu estava na casa de Rubinho. Eu iria apenas passar lá se Oliver tivesse em casa. }
{ - Pois é. Eu falei isso a ela. Você nem tinha intenção de pisar na casa dela. Não entendi o porquê disso. }
{ - Sabe como é esse povo que bebe. Cisma até com o que não existe. Agora, eles que se explodam. Nunca mais eu coloco meus pés lá. }
{ - E tem outra, ela disse que ele falou que não aprovava essa sua amizade com Oliver }
{ - E ele tem de aprovar alguma coisa? }
{ - Pois é. Ele ainda confessou que não saberia o que faria com Oliver se vocês continuassem juntos por aí. }
O ápice da situação. Uma dor no meu peito começou a se formar depois do que minha mãe me falou.
{ - Sabe porquê ele não gosta de nos ver juntos? Porquê eu sou uma pessoa justa, humilde, quero o bem de todos. Se eu fosse uma pessoa ordinária, briguenta, e que compartilhasse um copo de cerveja com ele eu seria aceito? Ah, faça me o favor... }
Estava controlando o choro. Eu poderia desabar a qualquer momento.
{ - Pois é meu filho. Acontece. Agora o jeito é você esquecer de vez a existência deles. Vai pra casa de Brendha, relaxa um pouco. Quem sabe pode ser até um fardo que deus esteja tirando de sua vida. }
{ - Tudo bem mãe, já está anoitecendo. Vou me arrumar pra ir em Brendha, fica bem. Qualquer coisa me liga. }
{ - Te amo bebê, beijo. }
{ - Tchau. Também te amo. }
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Outro choque de realidade. Aquilo definitivamente não seria um futuro pra mim. Oliver, esse sim seria a causa de meu sofrimento.
Ele não me fez nada, mas só na condição de amar ele e não ter a aprovação de sua família me deixava mal só de imaginar.
Todas aquelas cicatrizes, não tenho um pingo de dúvidas que era seu pai. Pai não, um monstro. Enquanto eu quisesse o bem de meu baixinho, eu teria de me afastar dele. Nossa união, mesmo que fosse apenas amizade o faria mal. De um jeito ou de outro seu pai saberia que andávamos juntos por aí, e não perdoaria meu primo. Ele iria apanhar feito uma mala velha, mas eu tinha certeza de que ele não deixaria nada abalar o que nós tínhamos, mas, eu teria de ser forte.
Pelo bem dele, eu sacrificaria esse amor. Amor o qual eu poderia dar minha vida para manter. Amor que me faria sacrificar tudo de bom que eu tinha dentro de mim.
Chorei, não chorei um pouco. Eu chorei muito. Não lembro quantas horas eu fiquei debaixo de minhas cobertas, agarrado em meu travesseiro pedindo para que tudo aquilo fosse um pesadelo, mas infelizmente não era.
Fogos de artificio explodiam no céu.
Virei o ano chorando. Meus olhos estavam doendo, alertando que não havia mais uma lágrima sequer.
Fui no banheiro, pude ver a minha verdadeira situação. Eu estava acabado. Vermelho que nem um tomate, meu nariz estava inchado e meus olhos pareciam duas crateras de tão fundos. Conseguiram me destruir, matar tudo de bom que tinha dentro de mim.
Eu jurei ser forte. Não por mim, mas por ele. Não seria fácil vê-lo, e não poder tocá-lo. Não seria fácil ouvir sua voz, e não poder responder. Seria difícil tê-lo perto de mim, e não poder mais o acolher em meus braços. Mas isso tudo era por ele, tudo seria por ele. Eu sofreria por ele.
- FELIZ ANO NOVO. - desejei a minha infeliz imagem refletida no espelho.
***
Não sei se consegui transparecer tamanha emoção. Mas, eu mesmo chorei lembrando dessa passagem.
Podem se acalmar, mais lágrimas irão rolar ainda. :'(
