-Eu me amo - respondi- e é por me amar que eu não vou ficar me submetendo a tais situações..Ele me encarou com um olhar de decepção.
-Eu já esperava por isso - ele tinha um sorriso irônico - vai fazer o que agora? Vai perdoar o papai? Vai voltar a ter a vida de riquinho? Vai pedir por Carlos te comer a força de novo? Eu não resisti, dei um tapa bem dado em sua cara.
-Chega! Eu gritei - não me faça odia-lo, eu vou pro Rio e não a nada que você possa fazer que me impeça. Só me matando. Ele me olhava com ódio, abriu a porta e antes de sair e disse.
-Quem sabe eu faça isso! Mais eu não vou deixar você ficar longe de mim. Disse isso e foi embora. Pela primeira vez eu não chorei, pensei em tudo o que me havia ocorrido, e se realmente rever meus pais, voltar pra casa seria o melhor. Eu tinha vindo pra São Paulo pra esquecer o mal que tinha me acontecido, e agora voltava pior do que antes. Os dias se passavam e eu estava irredutível na minha decisão, Machado tentava de todas as maneiras me convencer a ficar, mal deixava ele me tocar, brigavamos sempre. Numa noite eu estava arrumando minhas malas, eu viajaria no outro dia.
-Você realmente vai?
-Sim! Eu tremia, rever Carlos me causava calafrios, mas eu estava voltando diferente, não ia permitir que ele me fizesse mal novamente - viajarei amanhã, o vôo está marcado para as nove.
-E você volta no fim do mês, não é? Machado tinha uma feição triste, mas ao mesmo tempo um olhar de ódio.
-Não sei! Talvez sim. Eu falava de costas arrumando minha mala.
-Você deve ta muito feliz né? Vai rever o Carlos..
-Por favor! Eu me virei e o olhei - não começa com isso de novo.
-Ta certo..agora eu não posso falar mas nada.. Ele disse em tom irônico.
-Não! Se não for algo produtivo é melhor você ficar de boca fechada. Como eu havia mudado, eu não era mas aquele garoto submisso, agora eu tinha uma voz.
-Quando foi que você ficou assim tão valente?
-No dia em que você me bateu. Na mesma hora sua feição mudou, seu olhar agora era de tristeza.
-Já pedi pra você esquecer isso. Eu tava fora de mim.
-Pra você é muito fácil falar. Mais eu nunca vou esquecer - nesse instante eu comecei a chorar - você me marcou pra sempre. Eu levantei o braço e mostrei a cicatriz dos pontos que eu tinha levado.
-Por favor! Ele me abraçou - me perdoa, não vai embora, fica comigo.
-Não põe a mão em mim - eu o empurrei - eu já disse pra você não me tocar. Eu vou e pronto. Ele abriu a porta do quarto e deu um murro na parede. Antes de sair se virou e me disse.
-Você vai sim! Mais você vai voltar no final do mês, senão eu vou pro Rio e te trago a força.
-Você não seria capaz! Eu olhei no fundo dos seus olhos e quase pude enxergar sua alma.
-Paga pra ver! Eu quero você aqui no final do mês, senão você já sabe. Bateu a porta e foi embora. Eu ainda não tinha certeza do que ia me acontecer, não sabia se ia ou não ficar no Rio, de como seria a conversa com meu pai e como seria o reencontro com Carlos.
Finalmente amanheceu, eu já estava pronto pra ir ao aeroporto, iria sozinho pois Machado não me levaria. Mamãe disse que me buscaria, finalmente embarquei no avião, meu coração parecia que ia sair pela boca. Cheguei no Rio, fiquei esperando minha mãe na sala de embarque, de repente meu celular toca.
-Mãe cadê você? já cheguei!
-Filho infelizmente eu não vou poder ir te buscar, mas mandei uma pessoa no meu lugar. Ela riu.
-E quem é mãe? Eu estava muito curioso.
-É uma surpresa! Dito isso ela desligou.
Era ele. Só podia ser ele, tinha que ser meu pai, eu estava muito nervoso, ainda estava magoado, mas eu amava muito meu pai e estava disposto a perdoa-lo e superar tudo. De repente eu o avisto, meu coração dispara e o nervosismo toma conta de mim, realmente não era minha mãe, muito menos meu pai. Um filme passou na minha cabeça e eu vivi tudo aquilo novamente. Ele estava ali, parado diante de mim.
-Como foi a viagem?
-Você veio fazer o que aqui Carlos? Eu estava com ódio mas tenho que confessar que ele continuava lindo.
-Eu vim te buscar! Ele tinha a cara mais sinica do mundo.
-Eu poderia ir de táxi. Poderia não, eu vou. Eu disse e fui andando, ele me puxou pelo braço.
-Me mandaram de buscar e te levar pra casa. É isso que eu vou fazer. Eu não disse nada, somente o acompanhei e entrei no carro. Fomos o caminho todo em silêncio, ele me olhava de rabo de olho e eu o tempo todo olhando pra frente.
Finalmente chegamos ao prédio. Não tinha coragem de entrar, me virei e olhei o mar, que saudade, ali era meu refúgio, de onde eu tirava minhas forças, ali eu me reunia com Leda e Rodrigo pra conversarmos e desabafar. Estava parado em frente a porta de casa, Carlos abriu a porta e entramos. Minha casa continuava a mesma, nada havia mudado, somente as cortinas. De repente mamãe desce as escadas correndo e me abraça, não falamos nada, só choramos, Carlos se retirou da sala e meu pai entrou.
-Oi Diego!
-Oi pai! Nos olhamos por uns segundos e logo ele me abraçou, choramos como duas crianças, que saudade do meu pai, que saudade de me sentir em casa.
-Me perdoa filho! O Carlos contou a verdade, ele disse que inventou toda aquela história, que era tudo mentira dele. Eu fui estúpido em ter te tratado daquela maneira, em ter te colocado pra fora de casa. Carlos não tinha contado toda a verdade, ele não contou que me violentou e nem que eu era gay, e eu não iria contar também. Não agora.
-Ta tudo bem pai! Já passou, vamos passar uma borracha em tudo. O que importa é que nos amamos. Só isso. E Stella mãe? Cadê?
-A filho! Stella voltou pra Bahia, foi cuidar de uma irmã doente. Você não quer ir pro seu quarto descansar? Eu e seu pai temos que sair agora mas voltamos para juntarmos juntos e conversarmos. Fiz que sim com a cabeça. Foi estranho esse reencontro com os meus pais, achei que seria mais emocionante, igual novela sabe, mas não.
Meu quarto não havia mudado nada, estava do mesmo jeito que eu deixei, entrei no meu banheiro e tomei um bom banho, acho que o banho mais demorado da minha vida. Estava saindo do banheiro secando o cabelo com uma toalha e Carlos estava lá, sentado na minha cama.
-Sai daqui agora! Eu falei indo em direção a porta.
-Nem adianta! Eu tranquei e a chave ta comigo e também não adianta gritar, não tem ninguém em casa.
-O que você quer? Já não chega o mal que você me fez? Eu passei coisas horríveis, tudo por sua culpa. Eu estava disposto a falar tudo o que estava engasgado.
-Nós nem conversamos - ele se levantou - você foi embora e eu nem vi. Nem tive a chance de falar com você.
-O que você queria falar? Queria me estuprar de novo?
-Olha só, não vem com essa! Você também teve culpa. A gente trepa a noite toda e de manhã você vem dizer que não quer mais. Nenhum homem ia aguentar isso.
-Nada justifica você ter feito o que fez! Eu gritei - você foi um canalha, você não presta, entrou na nossa família assim do nada, fingindo ser bom moço, e na primeira oportunidade mostra quem é! Até sua mãe sabe quem você é. Não é atoa que a vagabunda arranjou um macho rico foi embora e te deixou pra trás. Ele tinha fogo nos olhos, fechou o punho, estava pronto pra me bater.
-Nem pense nisso! eu gritei.
-Você ta me tirando do sério. Ele passou a mão nos cabelos.
-E você tirou minha vida, me destruiu, tirou tudo que era meu. Falei olhando em seus olhos, eu tremia por dentro, mas por fora parecia uma rocha.
-Você ta muito nervosinho, ta precisando de uma coisinha pra ficar calmo. Ele disse se aproximando.
-Não encosta em mim! Eu o empurrei.
-Já te comi a força uma vez, a segunda não vai ser problema nenhum. Ele segurou meu braço.
-Só que dessa vez você não sai impune.
-Vai fazer o que? Contar pra todo mundo? Ele riu.
-Conto sim! Por quê não? Já perdi tanta coisa..mas uma menos uma não faz diferença. Eu sou capaz de tudo. Ele riu de novo.
-Capaz até de matar?
-E por quê não? Peguei um abridor de cartas que estava em cima da minha escrivaninha e apontei pra ele com um sorriso diabólico.
-Experimenta encostar em mim!
Continua..