Eu ando com meus sapatos de cadarços mal amarrados, camisa branca, com uma grande foto do Lou Reed estampada na frente e um jeans desbotado pela frequência do uso. A noite é estressante, eu fico a espera de uma abordagem, em ruas escuras, quase úmidas pelo calor exalado das pessoas que fodem ao meu redor ;algumas baratas andam pelo chão, procurando uma vala pra se esconderem, talvez a podridão do ambiente incomode elas, eu também queria sair dali.
Um homem gordo e alto estava dando de quatro em pouco mais de dez metros de distância, eu sentia o cheiro, eu ouvia os gritos (era o único rompimento de silêncio), o calor daqueles corpos me trazia a terrível verdade de que eu fazia parte daquilo, como testemunha, mas fazia. Eu queria que alguém me tirasse dali num rompante, depois me apagasse a memória daqueles dois. Tive ânsia, mas a garganta travava, eu não queria chamar atenção. Olhei mais atentamente para os dois, vi que se formava um aglomerado, uns homens se alisavam e colocavam seus paus pra fora, para que o passivo chupasse enquanto estivesse levando pau.
Fui me envolvendo com a cena, minha mente foi até lá, até o grupo. Ela se satisfazia em ver, em presenciar algo terrivelmente sujo e imoral. A imoralidade dava um tesão ímpar, singular e que ia aumentando com desenvolvimento da transa. Eu já não queria mais ir embora, queria apenas observar aquilo sob uma vala, escondido, como as baratas faziam. Percebi que as baratas eram adeptas ao voyeurismo, e que ela conhecia cada frequentado assíduo, que viam tudo, se deliciavam escondidas e gozava vendo-os, os homens ali eram mero estimulo visual a favor do tesão delas (ou de um voyeur humano).
Fui me aproximando, indo pra um canto mais próximo à sombra da parede, um rato passou entre os meu pés, senti um frio e tive uma leve arritmia. Não pelo rato em si, mas pelo susto, em todo caso, o rato era o que se podia denominar como assustador, ele era uma grande ratazana de esgoto de cor marrom escuro e com um rabo grande. Onde eu estava ninguém me veria, de repente me senti olhando entre a fechadura, vendo uma cena imoral, o fato de me imaginar atrás de uma porta me fez pensar que nem Deus poderia me ver apreciando tamanha imoralidade.
Eu queria ver mais, ouvir mais, eu enfatizava na mente tudo que via e ouvia, os palavrões, os gemidos, as estocadas, isso se tornou meu “pleasure guilty”, os homens se alternavam para comer o passivo, metiam de todo jeito, e passivo tinha de parar o boquete para poder gritar, mas aí logo o puxavam pelos cabelos e metiam a rola em sua boca; o passivo parecia sofrer fisicamente, ele engasgava, cerrava os olhos, mas estava adorando. Essa cena era tão repugnante! Mas era essa repugnância que me tinha passado a me excitar, ele estava aquém de um esgoto, tinha se posto como tal, e ainda curtia aquilo, o que era inadmissível (o que se traduzia em uma sensação de tesão).
Um dos ativos gozou na boca do faminto passivo, que cuspiu em seguida, recebendo como punição uma bicuda na barriga, pensei, “fudeu, agora a porra ficou séria”, mas fiquei perplexo quando vi o passivo lambendo o chão pra recolher a porra cuspida, “isso é sério?!”, depois ele deve ter engolido. Os que não gozaram mais em sua boca, devem tê-lo feito no cu, no final eu presenciei uma das piores coisas que vi na vida: o passivo se deitou no chão, em decúbito dorsal, um dos caras, o que parecia ser mais novo (deveria ter entre vinte e cindo anos), se agaixou em cima de sua barriga e começou a cagar, fez um cocô preto e grande cujo cheiro dava pra sentir de longe, como se estivesse a centímetros de distância (o que não era o caso); não aguentei e vomitei no chão. Jurei que nunca mais retornaria para a esses lugares, me julguei um menino mau, pego em flagrante cometendo uma travessura, meu vômito foi como uma repreensão do meu corpo ao que eu estava fazendo, era a repreensão da consciência em sintoma.
Voltei pra casa, tomei um longo banho, acabei com meio litro de conhaque e dormi, teria que acordar e ter um dia normal, como se nada tivesse acontecido, como se eu não tivesse visto nada, o mundo não te deixa se recuperar para voltar as atividades normais, você tem que continuar andando, com motivos para parar ou não, caso contrário você não sobrevive. Porque a verdade é que sobrevivemos.
Com todo esse desgosto eu me surpreendi, eu pensei que após sobreviver ao Alberto eu passaria incólume a tudo, esse incômodo me fez ver que eu ainda era capaz de sentir alguma coisa, mas será que eu seria capaz de sobreviver de novo?