Logo que amanheceu, e o domingo chegou com uma bela manhã ensolarada, depois de uma noite chuvosa, eu fui o primeiro a acordar, o Nicolas ainda estava dormindo e eu não queria acordá-lo, então levantei, limpei a sujeira das velas, tomei banho, me vesti e fiz um café da manhã para nós dois.
- Huuum que cheirinho bom Vini, o que está fazendo? - Perguntou Nicolas chegando na cozinha com apenas uma bermuda que eu emprestei, e exibindo aquele belo corpo escultural que eu amava.
- Estou fazendo umas panquecas, isto é..tentando, com umas receitas que peguei na internet, mas nao estão com a cara muito boa….
- o que importa é o gosto, e não a aparência - Nicolas respondeu rindo.
- Haha, você é um besta sabia?
Então Nicolas pigarreou e me disse um tanto corado:
- Vini, o que aconteceu ontem a noite….espero que não estrague nossa amizade..afinal eu ainda gosto de garotas…não sei o que deu em mim...espero que me entenda.
Fiquei um pouco mal ao ouvir aquilo, mas respondi:
- Sem problemas cara! águas passadas..e pode ficar tranquilo que eu não contarei sobre isso a ninguém, e outra, você e eu estávamos em um mal momento e precisavamos nos distrair..foi uma via de mão dupla!
Nicolas riu e brincou:
- Porque você não faz psicologia? você é bom em entender sentimentos.
- Seu bobo!
- Como estáo o seu pescoço?
- nem está doendo, mas provavelmente o Vinicius que era o rapaz mais frígido de toda a faculdade, vai causar com uma coisa dessas no pescoço amanhã..
- Haha. Fiquei muito feliz que tudo se resolveu, você é o melhor amigo que eu já tive Vinicius!
- Que bom ouvir isso, e você o meu Nicolas!
Então rimos e jogamos conversa fora e comemos as panquecas que apesar de feias, estavam ótimas. Como era de se esperar, o chupão que o Nicolas me deu, virou assunto, todos queriam saber quem era o cara que havia feito isso em mim, e como prometi ao Nicolas que eu não contaria nada, mentia e falava que era o Francisco pra todo mundo, exceto pra Rachel que era minha melhor amiga.
- O MEU DEUS VINICIUS! EU NÃO CREIO NISSO - gritava Rachel empolgada.
- Xiiiiu, fale baixo! ninguém pode ouvir isso..
Enquanto eu caminhava com a Rachel para o portão de saída da faculdade, eu contava o que havia acontecido no sábado a noite.
- Meu Deus amigo, estou em choque! e doeu muito?
- Posso dizer que no começo é horrivel, mas quando eu pensava que era o Nicolas me penetrando, a dor se transformava em prazer...
- Que legal Vini! mas fiquei chateada. - dizia Rachel fazendo cara de triste e cruzando os braços.
- Porque amiga?
- Você perdeu a virgindade antes de mim...pelo jeito vou ser a tia velha cheia de gatos, que joga bingo e dá pão pros pombos da pracinha nos fins de semana.
- Deixa de ser dramática amiga - eu dizia rindo.
- Ué Vini, eu tenho 19 anos e nunca toquei no pênis de um cara! e além disso, minha vagina está igual a um porão velho, cheio de teias de aranha..
- Que horror amiga! - exclamei rindo.
- E ele te pediu em namoro?
- Não..
- Porque não? - perguntou assustada - ele tem algum problema?
- Não! na verdade ele não está preparado..parece inseguro, sei lá, e disse que gostava de garotas ainda.
- Típica desculpa de um hétero - dizia Rachel fazendo aspas com os dedos - quando descobre estar gostando de outro garoto...
- Você não presta amiga!
- E estou errada? falando no assunto, o seu príncipe encantado está vindo ai..
Era verdade, o Nicolas estava chegando com um uniforme esportista, acho que ele tinha vindo do futebol, e atraindo olhares como sempre.
- Oi Vini, oi Rachel, sai mais cedo hoje e resolvi dar uma carona pra você...se a Rachel quiser, também será muito bem vinda...
- Eu agradeço Nicolas, mas estou engordando um pouco e prefiro ir andando mesmo..adeusinho! - se despediu Rachel dando uma piscadinha pra mim e saindo de cena.
- Bom, agora só sobrou você..bora?
- Mas Nicolas, eu moro há 10 minutos daqui, eu não preciso de carona.
- Foda-se, vou te levar!
- Tudo bem tigrão, já que insiste...
Então me dei por vencido e aceitei a carona do Nicolas, contei minha história fake sobre o chupão no pescoço e também que eu tinha contado tudo a Rachel. Ele confiava nela, então não via problema algum.
Nos dias que se seguiram, nossa amizade cresceu ainda mais, eu ainda o amava, mas eu o respeitava e não cobrava nada dele.Ahh eu já ia me esquecendo do Francisco, que começou a sair com um outro rapaz lá e me dispensou por celular, foi bem cruel mas eu nem liguei, eu nem gostava dele mesmo, muito gostoso, por muito chato. Como era de se esperar, o stava tudo indo muito bem, até comecei a trabalhar em uma livraria, e Nicolas ia até lá me ver sempre que podia.
Um dia eu estava arrumando uns livros nas prateleiras e o Nicolas apareceu ao meu lado de surpresab me assustando.
- Olá senhor Vinicius, gostaria que me recomendasse um livro..
- Nicolas que susto! isso não se faz! e além de tudo, não posso ficar conversando, porque se meu chefe ver eu posso ser demitido. E além do mais, isso aqui é ambiente de leitura e não de conversa.
- Relaxa cara! não vou demorar, só vim lembrá-lo que nessas próximas duas semanas a minha casa é sua..
Olhei sério pra ele e perguntei:
- Então você não bebeu nada nesses últimos dias?
- Estou limpo! sem nenhuma gota de álcool no meu sangue.
- Huum, ok, fechado! agora vá embora, depois conversamos mais.
Eu estava ajudando o Nicolas a parar de beber. Se ele ficasse uma semana pelo menos sem beber nada alcoólico, eu teria que limpar a casa dele por uns dias, e se ele tivesse uma recaída, ele teria que limpar a minha.
O aniversário do Nicolas seria em dois dias, e eu como já havia aprendido corte e costura com minha avó desde pequeno, eu estava tricotando um cachecol preto pra dar a ele de presente, já que preto era sua cor favorita e o inverno estava se aproximando. A campainha tocou e era ele, e eu escondi depressa o presente inacabado e atendi:
- Oi Nicolas, nossa que surpresa, não deveria estar no treino?
Ele parecia sério e então disse:
- Eu só vim para me despedir Vini! vou pra casa da minha família passar meu aniversário lá, e não sei ao certo quando volto, e estou partindo hoje.
- Ok cara! mas me mantenha informado de tudo hein? e a que horas você vai?
- Pode deixar mano! vou agora, eu só queria vir me despedir mesmo..
- Ok, aproveite muito a viagem.
Então nos abraçamos e o Nicolas saiu meio apressado e entrou dentro de seu carro, eu acenei mais uma vez pra ele e ele partiu.
Os dias que se passaram, foram bem estranhos, eu mandava mensagem pro Nicolas e não obtia nenhuma resposta, era sempre em vão, Rachel dizia que talvez ele estava sem créditos, mas eu estava com um mal pressentimento. No dia do seu aniversário, eu havia mandado uma mensagem enorme de aniversário e comentei do presente, e ele só respondeu um “obrigado”. Aquilo estava me incomodando, as mensagens não respondidas, até estava desistindo de enviar e já estava fazendo três semanas que ele não me respondia e sua casa permanecia vazia, então um dia eu recebi uma ligação e era Nicolas, e eu aliviado atendi:
- Nicolas!!! que bom que ligou, como você está? mal vejo a gora de te dar o seu presente de aniversário atrasado…
- Vinicius …pre..preciso te pedir uma coisa..
Ele estava com a vóz trêmula, e ele nunca havia me chamado por Vinicius, me chamava apenas de Vini.
- O que aconteceu cara? - perguntei preocupado.
Eu o ouvi engolir fôlego e pigarrear e por fim falou com uma vóz um pouco embargada de choro:
- Nós não podemos mais ser amigos, preciso que você me deixe em paz e pare de me escrever…e por favor não me ligue de volta!
Ao ouvir aquilo eu fiquei sem reação, só tive tempo de dizer um “mas…” e o ouvir desligar na minha cara, então nessa hora eu desabei a chorar e fiquei sentado no chão chorando por um bom tempo…eu não acreditava no que estava acontecendo, não mesmo. Peguei o cachecol que eu havia feito e joguei fora.
Eu entrei em uma depressão que só Hamlet iria entender, eu não tinha mais vontade de comer ou dormir, eu havia perdido muitas aulas e nem estava ligando se eu pegasse DP ou não. Até mesmo no trabalho eu não estava indo mais. Foi numa tarde de quinta, que Rachel foi em minha casa e começou a me questionar:
- O que está acontecendo com você Vinícius? cruzes, parece que alguém morreu aqui!
- E morreu, minha alma.
Então minha amiga se sentou ao meu lado no sofá e me abraçou e disse:
- Calma amigo, quem perdeu foi ele! ele nem ao menos era gay lembra? aliás, depois daqueles ocorridos, talvez ele esteja...sei lá, confuso..
- Como assim confuso?
- Ah Vinicius, eu não sou lésbica, mas também não sou burra de não entender que quando uma pessoa que se jura hétero, começa a gostar de alguém do mesmo sexo, ela não vai aceitar isso numa boa de primeira. Você mesmo demorou, lembra?
Fazia sentido. Rachel e eu crescemos juntos, decidimos até vir pra mesma faculdade, mas ela cursava engenharia.Ela me conhecia melhor do que ninguêm.
- Ah Rachel! está na hora de cair na real que eu o perdi, ele não me amava como eu o amava, só queria mesmo era sexo.
- Olha amigo, tudo vai ficar bem, mas você tem que seguir em frente...eu te conheço desde a primeira série e você nunca deixou nada e nem ninguém te deixar pra baixo, nem mesmo aqueles valentões que implicavam com você por andar com garotas lembra?
Rimos um pouco e então me levantei, parecia que uma energia positiva havia tomado conta do meu corpo.
- Você tem razão! então eu vou seguir em frente! .
CONTINUA.