Há alguns anos eu estava em uma fase muito ruim da minha vida, pra não dizer desastrosa, na verdade acho que posso dizer isso sim, eu vivia uma fase desastrosa da minha vida, eu não fazia nada dos meus dias, nada que fosse bom o suficiente para ocupar a minha cabeça, nenhuma ocupação, eu não trabalhava, não estudava, não malhava, minha vida era 100% doméstica e isso porque eu me dedicava ao meu relacionamento, meu parceiro não era a favor de eu trabalhar na rua pra ninguém, e eu iludido e apaixonado concordei, na minha cabeça tudo funcionava bem, mas na vida real, nada é tão bonito quanto na nossa cabeça; não é mesmo?
Já estávamos juntos a pouco mais de cinco anos, quando começamos a namorar eu tinha recém-completado 16 anos, era jovem e inexperiente, apesar de ser de uma família de classe media eu conhecia pouca coisa do mundo, e meu parceiro já era homem “formado” tinha 27 anos, era advogado de uma companhia, além de ser um cara viajado e bem articulado, tudo aconteceu muito rápido entre nós dois, quando me dei conta eu 17 anos, havia acabado meu ensino médio, me assumido homossexual e já morava com meu parceiro em seu apartamento, no nosso namoro havia uma relação de autoridade e poder, mas infelizmente isso acontece na maioria dos relacionamentos, não é uma exclusividade de namoros gays.
Desde o primeiro dia juntos, ficou bem entendido que ele me sustentaria, eu poderia ter tudo o que queria, era só uma questão de expressar os meus desejos e na medida do possível ele atenderia tudo o que quisesse, não quero ficar falando sobre o inicio do meu relacionamento, até mesmo porque esse não é o foco da minha historia, posteriormente eu posso voltar aqui e contar a vocês sobre como nos conhecemos, mas primeiro deixa eu me ater aos fatos. Anos atrás eu voltava do shopping center sozinho como de costume, eu havia saído para comprar algumas roupas novas para meu parceiro, vou chamá-lo aqui de João Paulo, ou apenas JP para facilitar.
Como minha agenda estava sempre vazia assim como minha mente e meus dias, eu resolvi ir ao cinema, confesso a vocês que após cinco anos de namoro, o nosso relacionamento tinha dado uma esfriada, pra não dizer congelada. Mal nos víamos, os amigos dele tomavam muito tempo, ate mesmo mais tempo que o trabalho já não saímos tanto como casal, não como era de início tudo tinha ficado chato, monótono, a vida era em preto e branco, quando sai do cinema eu resolvi agradar meu marido passei em uma delicatessen chamada Magrello's (até hoje não me conformo com esse nome) comprei uma torta para comermos juntos e fui pra casa, quando chego no apartamento a porta estava aberta, fui direto a cozinha deixei a torta e fui sentido varanda avisar o JP que havia comprado sobremesa, um pouco antes de chegar o vi conversando com um amigo dele, a conversa era a seguinte…
—João se você não esta contente no seu relacionamento porque não se separa logo do Felipe, acho que seria o melhor para vocês dois.
—Admito que as vezes eu penso mesmo nessa possibilidade, mas se eu o deixar, o que ele fará da vida, legalmente falando eu não tenho obrigações de pagar pensão alimentícia para ele se chegarmos a nos separar, e mesmo que eu pague ele não saberia administrar, afinal ele não sabe fazer nada, a não ser cuidar de uma casa.
—E porque ele não estuda, se tem tanto tempo vago como você diz, ele deveria aplicar melhor e estudar, ingressar na universidade, porque não conversa isso com ele.
—Grande parte da culpa é minha, afinal eu fui muito incisivo com ele quando começamos a namorar eu cobrava muito atenção, e quando começamos a morar juntos então, eu meio que perdi o controle sempre fui muito ciumento.
—Mas ele bem que poderia ter insistido um pouco e se reafirmado como homem, deixa eu perguntar uma coisa JP, você ainda ama o Felipe?
—Sinceramente?! Eu não sei.
Aquela foi a conversa mais dolorosa que eu já tinha ouvido, eu tinha consciência que meu relacionamento não andava lá essas coisas, mas eu não imaginava mesmo que ele estava assim tão ruim, isso eu não fazia ideia, eu sai sem fazer barulho para que eles não vissem que eu estava ali e fui dar uma volta, o JP falando “EU NÃO SEI” ecoava na minha cabeça, sem notar e sem poder controlar eu comecei a chorar, desde o início do nosso namoro, a condição financeira dele melhorou muito, cada um tinha seu carro, não havia problemas com dinheiro, mas não sei se tive participação nesse progresso, a única coisa que eu sabia fazer era desenhar, voltei pra minha casa depois de uma hora na rua, quando voltei, fui a cozinha tomar água, ele já tinha comido metade da torta e havia ido dormir.
Sexo pra gente era coisa muito rara, quase não fazíamos e quando fazíamos não tinha mais aquela chama que tinha antes, ate evitávamos nos olhar, isso é triste, mas infelizmente a única realidade que eu conhecia naquele momento, fiquei acordado e fui para internet não sabia o que fazer apesar da vida ruim que eu levava eu não queria deixar ela, porque ao contrário do JP eu ainda tinha certeza que amava ele, e muito e exatamente por isso eu não queria que tudo terminasse, entrei em salas de bate papo para conversar com alguém que pudesse me ajudar, após muito tentar, eu encontrei um cara de Goias que me disse que algo poderia me ajudar e me indicou um conto erótico pra eu ler, não fez muito sentido na hora, e ele então me disse para desconsiderar o título e começar a ler a história, poderia me ajudar.
O título era “Conhecendo um macho de verdade” comecei a ler a história, e quando me dei conta o despertado do JP estava tocando, eu passei a noite toda, sentado em frente ao computador lendo aquele relato interessante, enquanto lia a primeira temporada, eu notei que o relacionamento dele batia muito com o meu, tirando algumas partes, era abusivo, reduzia o passivo como pessoa, e existia uma situação de autoridade, e a forma como ele conseguiu lidar com tudo foi meio motivador, quando o despertador do JP se silenciou eu rapidamente desliguei o notebook e fui pra frente da TV, após tomar banho e se arrumar, sem nem se importar e dar uma volta no apartamento para ver se eu estava lá ele veio do quarto e me viu sentado na sala, ensaiou algumas palavras ate que finalmente disse…
–Passou a noite toda ai sentado em frente a TV?
–Sim, fiquei assistindo uma série nova muito interessante acabei me empolgando um pouco com a história, nem me dei conta da hora passando.
–Tudo bem então, Vá dormir, e não se preocupe com a hora que vai acordar eu não virei comer em casa mesmo, acho que farei uma pequena viagem para uma reunião com pessoal de uma unidade do interior do estado, sinta-se à vontade pra dormir o dia todo.
E dessa forma ele saiu de casa me deixando sozinho, sem nem me dar um beijo de bom dia nem nada, não me deu detalhes de qual cidade era nem nada, pra ser sincero eu não me preocupava em ser traído por ele, o que pode parecer muito estranho, eu me preocupava mais com o fato dele me tratar como um móvel da casa, algo que sempre estará ali ate que ele se enjoe e de um fim, voltei a ler a história do rapaz, que no conto se chamava Frederico, e me surpreendia cada vez mais com ele e com seu relato. As vezes parece que a vida faz tudo de caso pensado, não sei se é coincidência, ou se o destino realmente agiu na minha vida, era mês de junho, quando terminei a segunda temporada eu decidi que prestaria vestibular e daria um jeito na minha vida, não permitiria ser trocado por ele.
Eu tinha colocado na cabeça que reconquistaria meu namorado, eu me transformaria em alguém interessante,
alguém com conteúdo e histórias que ele ainda não conhecia mas que adoraria conhecer, peguei o carro e fui dar algumas voltas pela cidade, nas universidades para ver o que me interessava, e o que eu poderia cursar, na verdade eu tinha afinidade com o mesmo seguimento que o autor do conto, como eu adorava desenhar um rumo natural pra mim seria estudar design de moda ou arquitetura, fui na federal, olhei as grades em uma particular que tinha os dois cursos e me informei, me dei conta que sem fazer um cursinho pré-vestibular eu não iria mesmo conseguir passar, então fui e me matriculei em um cursinho e também na Wizard para fazer inglês.
Tudo no mesmo dia para não perder o pique, eu queria além de estudar, conhecer mais pessoas e ter mais experiências de vida, acho que isso é uma coisa meio que natural do ser humano. Né?! Comprei o Material para estudar e voltei para minha casa, louco para contar ao meu parceiro o que tinha decidido para minha vida, no meio do caminho eu recebo um sms dele dizendo que ficaria até a quarta-feira nas reuniões, a única questão era que ele me mandou essa mensagem em uma Sexta-Feira, sendo assim ele ficaria sábado e domingo na cidade, e nem sei se é verdade o que ele me disse, o mais estranho nisso era o fato de eu não estar preocupado, na verdade eu queria mesmo que os dias passassem rápido mas para eu voltar a ser protagonista da minha vida e não apenas o coadjuvante que estava sendo nos últimos cinco anos.
O Único assunto que eu dominava era séries e futilidades, apesar de gay assumido eu não me sentia inserido em um contexto eu me sentia um heteroátomo em meio a todo homogeneidade do grupo, voltando a mensagem do JP, a única coisa que respondi a ele foi –Faça o que quiser JP mas use camisinha eu não quero ser punido pelos seus erros.
Respondi sem pensar muito bem, apenas após enviar eu vi que havia sido sincero demais, mas não tinha outra forma de passar minha mensagem a não ser essa, ele nada respondeu e o assunto ficou por isso mesmo, Bom!? Eu pensei que tinha ficado, no sábado de manhã ele me ligou soltando os cachorros em cima de mim, me disse uma série de coisas que juntas não faziam o menor sentido, disse que jamais me trairia, que era fiel a mim, apesar de o nosso relacionamento ser frio ele ainda conseguia se controlar quando conhecia pessoas mais interessantes que eu na rua, isso mesmo, ele disse exatamente isso. Fiquei cego de raiva, minha vontade era de falar o que pensava mais do que adiantaria culpar ele sobre o que minha vida, ou melhor nossa vida tinha se tornado, a maior parte da culpa era minha, então eu fiquei quieto e ouvi tudo o que ele tinha pra falar, quando terminou desliguei o telefone sem dizer tchau.
Qual meu primeiro pensamento quando desliguei o telefone? –O que o Frederico faria nessa situação? Juro eu pensei isso, então eu me levantei da cama, tomei meu banho seguido de café da manhã, e fui a rua ver o que o dia me reservariaPessoal, sou iniciante, comentários são bem vindos, feedback seria dahora