O tempo foi passando e a verdade é que eu não fiz muito. Nesse tempo, minha vida se resumiu a trabalho, casa e universidade. Nas horas vagas eu me preocupava sobre o que iria fazer da minha vida, porque em tese meu contrato terminava no fim de março. Trabalhei no carnaval normalmente, com atividades dobradas. Alta estação, neh? Enfim... Foi complicado. Chegava em casa literalmente acabada. Mal tive tempo pra sofrer com o fim do meu relacionamento. Numa dessas noites, larguei no meu horário habitual. Sai do trabalho, fui pra parada de ônibus, coloquei meus fones. 3 bairros pra frente, desci numa avenida movimentada, para fazer uma troca de ônibus. Estava super cansada. O ônibus parou uns 10m antes da parada. Desci e me dirigi até lá para esperar o próximo. Mesmo estando sem óculos, de longe eu a vi. Era ela. Depois de anos sem nos vermos, a vida me colocava cara a cara com essa menina mais uma vez: Luana.
Ok, bora lá fazer um parêntese pra explicar a história da Luana.
Eu conheci a Luana quando eu tinha uns 16 anos, num acampamento da igreja. Até então eu nem sonhava que iria me envolver com mulheres, mas aquela menina me atraia de um jeito doido. Ela era completamente oposta a mim. Eu nunca fui de estar no centro das atenções. Nunca gostei também. Coisa de tímido, talvez. Se eu chegava atrasada num canto, entrava pelos fundos, pra não chamar atenção. Não faço alardes, não falo alto. Observo mais do que profiro palavras. Ela era inversa. Liderou o acampamento inteiro, cheia de energia e criatividade. Dividimos o palco algumas vezes, tocamos algumas coisas juntas. Ela era sensacional. Qual era o problema dela? Ela me esnobava de uma forma absurda. Providenciei tudo que ela precisou para as atividades do acampamento. Nenhum agradecimento de volta. E eu? Como uma tontinha, encantada pela menina. Ela era mais velha. Na época deveria ter uns 25 anos. Na maior parte das vezes, eu me relacionava com pessoas mais velhas e ninguém acreditava que eu tinha 16. Mostrar meu RG era coisa comum. A Luana me perturbou o acampamento inteiro. Na última noite, era clássico nosso não dormir. Alguém contou pra ela que eu morria de medo de rãs, e ela foi à caça de uma para me atormentar. Passei boa parte da noite correndo dessa menina, até que a vi entrar no meu alojamento. Fiquei na espreita quase 1h, e o sono começou a me vencer. Quando entrei, a vi deitada no meu colchão. Estava dormindo. Fiquei sem saber o que fazer, eu não teria coragem de acordá-la. Embora soubesse que se fosse ao contrário, ela secaria o colchão de ar e me deixaria dormir no chão. Com cuidado, deitei ao seu lado (era um colchão de casal). Me movimentei muito sutilmente, pra ela não acordar. Fiquei sentindo seu perfume, imaginando coisas das quais nem eu sabia ao certo. Acordei com um barulho, e quando abri os olhos todo mundo já estava fechando suas malas para ir embora. Ela não estava mais lá. Já do lado de fora, a vi colocar as malas no ônibus. Sentei num banco de longe e fiquei observando. Abraçou todo mundo, deu beijo em todo mundo. Deixou-me por último.
Lu: Valeu branquela! (Estendeu a mão)
Apertei a mão dela.
Eu: Tranquilo. Boa viagem.
Ela subiu no ônibus. Não fiquei pra ver eles saírem. Fui resolver umas coisas e quando voltei ela havia descido outra vez. Dessa vez, me abraçou. Um abraço frio. Tentei transmitir calor, mas aquela mulher era uma pedra de gelo.
Mantivemos contato, quer dizer: EU mantive contato. Escrevia SMS sempre, às vezes ligava. Ela sempre estava fazendo algo, e dizia secamente: “Hey, to ocupada, viu? Tchau!”. Então parei de ligar e de escrever. Certa vez, num domingo pela manhã, era umas 8h. Acordei com meu celular tocando.
Eu com voz de sono: Alô!
Luana: Hey, você vai pra viagem que vai ter no sertão?
Eu: Quem é?
Ela: Ai garota, Luana aqui. Aff! Vai ou não?
Eu: Sim, eu vou sim.
Ela: Ah, ok então. Vou dormir com você. Você tem um colchão de casal, neh?
Eu: Sim, tenho
Ela: Então tudo certo. Valeu. Tchau.
Eu: Tá, tchau.
Ela: Hey, pera.
Eu: Sim, aqui.
Ela: Leva teu violão. O meu tá no concerto.
Quase que eu disse: Deseja algo mais, senhora? Caviar? Escargot? Uma xícara de café?
Eu: OK.
Ela desligou e eu fiquei na cama. Nem consegui dormir mais. Cara, que menina doida! Quem ela pensa que é? Liga assim, do nada. Pede mil coisas. Enfim... O dia da viagem chegou. Estava colocando a mala no ônibus, quando ouço alguém se dirigir a mim.
Ela: Bota a minha aí também.
Pensei: Boa noite também, neh? Educação mandou um abraço.
Nem falei nada. Joguei a mala dela lá e fui saindo.
Ela: Trouxe o colchão, neh?
Eu: Trouxe. Fique tranqüila!
Todo mundo fez seus pares de poltronas no ônibus. Não me importei muito, porque em tese, eu iria com ela. Fiquei falando com uns amigos e tal, e deu a hora de irmos. Subi no ônibus, ela estava numa poltrona na janela, do lado do motorista, exatamente no meio do ônibus. Nem atrás, nem na frente. Fui sentar.
Ela: Hey, ta fazendo o que?
Eu: Vou sentar, ora. Que pergunta!
Ela: Essa poltrona é da Dani.
Cara, que ódio. Peguei minhas coisas e fui pra última poltrona, do fundão. Por sorte, uma moça super gente boa sentou ao meu lado, e fomos o caminho todo conversando. A viagem foi tranqüila. Os dias lá também. Ela, claro, sequer se deu o trabalho de encher o colchão de ar, dormiu todos os dias me empurrando pro canto, puxando meu lençol e roncando igual uma capivara engasgada. Mas por que diabos eu ainda me sentia atraída por ela? A viagem acabou, e alguns dias depois era aniversário dela. Fiquei pensando se faria algo, então decidi comprar um livro. Liguei pra ela para saber como faria pra entregá-la. Ela me disse que iria trabalhar o dia todo, e que podíamos nos ver na hora do almoço. Tomei banho, peguei o presente e me dirigi a capital para encontrá-la. Assim que cheguei na rodoviária, liguei pra ela.
Ela: Alô.
Eu: Oi Lu, olha estou aqui e que...
Ela: Eita, então... queria mesmo fala com você. Você se incomoda de nos vermos no terminal de ônibus? Aquele, do centro?
Fiquei sem saber o que dizer.
Ela: É que ônibus pra voltar pro trabalho e meio complicado. Aí achei que esse fosse o melhor jeito.
Eu: Ok.
Disse isso, e desliguei. Cheguei no Terminal Central e fiquei esperando ela ligar. Até que o telefone tocou.
Eu: Oi.
Ela: Olha, fica na primeira parada da esquerda. Meu ponto é lá. Vou estar no ônibus 233.
Eu: OK.
Desliguei e fui pra lá.
Em instantes o ônibus chegou. Ela fez sinal, da JANELA. Pasmem! Ela nem ao menos se deu o trabalho de descer para agradecer.
Me aproximei da janela, estendi o braço com o presente.
Ela: Olha, me desculpa não descer, mas é que...
Nem esperei o final da frase. Me virei de costas e sai andando. Ainda a ouvi gritar, chamando meu nome, mas ignorei. A noite ela me ligou para pedir desculpas. Fui bem seca, e desligamos. Daí pra frente, passei a ignorá-la mesmo. A encontrei um tempo depois em eventos da igreja, mas passava como se nem a conhecesse. Ela sentiu. Veio me chamar algumas vezes, mas eu a tratava como uma completa estranha.
Voltando ao ponto onde paramos, rs...
Eu desci do ônibus, linda e branquela (hahahaha). Ah, não posso esquecer que eu havia mudado pacas. Nem parecia mais a menina que ela conheceu aos 16. Estava mais magra, meu cabelo tava beeeeeem maior, e eu tava mais bronzeada (kkkkk’) – Ok, essa última parte é brincadeira. Quando eu a vi, e reconheci, minha vontade foi de cair na risada. Maaaaas, eu fiz melhor: fui esnobe. Fingi que nem a conhecia. Me aproximei da parada, ela me comia com os olhos, literamente.
Ela: Caraaa, não acredito! É você mesmo?
Eu: Oi Luana. Boa noite, tudo bem? (frieza nível hard)
Ela: Tudo ótimo.
Tava na cara que ela tinha saído da igreja, que tinha pegado um monte de meninas. Tava estampado no rosto dela.
Ela: Então... É... Como você ta?
Eu: Estou ótima, obrigada. (Não deixava espaço pra continuar o papo)
Ela: E ta fazendo o que por aqui uma hora dessas?
Eu: Estou voltando do trabalho.
Ela: E ta morando aqui?
Eu: Sim.
Ela: Desde quando?
Eu: Faz um tempo já.
Ela: E a igreja?
Eu: Saí faz bastante tempo.
Ela: Eu também.
Eu: Não me surpreende. Faz muito tempo que eu sabia que isso ia acontecer.
Ela: É... Então!
Peguei meu celular, chequei as mensagens.
Ela: Estou vindo de uma reunião. Trabalho aqui perto.
Eu olhando pro celular: Hum.
Ela: Então, a gente podia ver qualquer dia se num dava...
Eu: Meu ônibus! Preciso ir. Tchau tchau.
Ela: Hey, calma. Esse é meu ônibus também.
Pensei: Droga
Subi no ônibus, sentei do lado de uma senhorinha quase no fim do ônibus, já pra evitar que ela sentasse ao meu lado. Mas não teve jeito. Ela sentou do lado de outro cara, e ficamos lado a lado, no corredor do ônibus, próximas a porta de saída.
Ela: Cara, a vida é muito louca. Depois de anos eu te encontrar assim. E você tá tão... Diferente.
Eu: Pois é.
Ela: Ainda tem Face?
Eu: Sim.
Ela: Acho que devo ter você ainda.
Eu: Não mais. Esqueceu que você me excluiu?
Ela queria morrer de vergonha. E eu me sentia maravilhosamente vingativa (hahahaha – riso maléfico)
Ela: Mas eu vou te adicionar de novo.
Nem respondi. O ônibus foi se aproximando da minha parada, apertei o botão e esperei ele parar.
Ela: Adorei te reencontrar.
Eu: Hum. Tchau tchau.
Esperei o ônibus sair e quase gritei: chupaaaaa (kkkkkkk). Mas me controlei, sou uma mocinha educada, rs...
Cheguei em casa, tomei um banho e abri o Facebook.
Adivinhem quem havia me mandado um convite?
Isso vocês saberão no próximo capítulo, rs...
Gente queria agradecer as meninas do nosso grupo pelo apoio, pelas conversas lesas, por continuarmos lá. Grupo de whats tem prazo de validade, neh? Mas o nosso já tem quase 6 meses, e nos falamos todo dia. Então, obrigada barata, natah, clau, Lê, Nath 02, Geiza, Jess, Mih, Carol, Fepa, Drii, Cíntia e Gabii. Um beijão também pra Lolo, que virou uma amigona pra mim. E tem também a Lola, que volta e meia me manda um e-mail. Beijo pra vc tbm, Lola. Blacklotus, obrigada por continuar acompanhando meus dilemas, rs... O mundo dá muitas voltas mesmo.
Beijo.
Mah
Sankofa!