SCREAAAAMMM

Um conto erótico de Piet
Categoria: Homossexual
Contém 781 palavras
Data: 17/05/2015 17:36:40

Cocaína é como paixão, ela aviva os mortos, mata os vivos, seu mal é se meter no coração, nos enveredando em vínculos que nos despedaçam, para que depois, uma nova carreira junte os cacos de uma aventura anterior. O amor e o vício andam de mãos dadas, se eu sou racional no amor é porque não estou amando, se você regula seu álcool, ele não é necessário.

Eu estava vivendo uma terrível síndrome do pânico, era tudo tão vívido e invasivo que dava medo: as pessoas, os sonhos, meus pensamentos, minhas elucubrações sobre o amor e o sexo. Eu conseguia me prostituir apesar de tudo, eu mandava um daqueles calmantes e me virava. Estava eu, dividindo um quarto com o mesmo michê/ladrão de outrora, era uma vida difícil, mas eu erguia paraísos no ar, pensava em juntar dinheiro e me mandar pra fora do país, ou pegar o dinheiro e abrir um comércio. A agitação já não me agradava, eu estava cansado, tinha corrido por quilômetros numa areia movediça que segurava cada pé que se precipitasse a andar.

As festas tinham o gosto monótono de sempre, um pouco de drogas e sexo. Para quem faz disso estilo de vida, a coisa se torna insípida; não é como ser careta o mês inteiro e tirar um dia pra ser louco. Eu queria voltar a ser bonzinho e voltar a fazer parte da superfície do mundo, mesmo que no fundo eu soubesse, que o meu destino, era voltar para as emoções que são intrínsecas ao submundo. Talvez eu só quisesse umas férias, acho que se tratava de descanso. Até mesmo os vulcões têm suas necessidades de descanso.

Numa tarde qualquer, de temperatura naturalmente escaldante pra época, com pessoas andando como formigas nas ruas e toda essa porcaria prosaica, recebi uma mensagem no whatsapp de um cliente já conhecido, era algo sobre jantar com ele em seu apartamento para comemorar algo. Ele era um cara meio louco, ele fazia rituais do tipo colocar e tirar três pares de meias – alternadamente – e transar com o último par colocado; ele também contava o número de socadas que dava ou levava, não sei se isso foi um modo que ensinaram pra ele para evitar a ejaculação precoce ou se era neurose. Várias vezes eu demandei um esforço enorme para não rir desses rituais, mas agora com as minhas crises de pânico, eu conseguia entendê-lo, talvez ele entrasse em pânico se não fizesse tais rituais bizarros.

Fui à casa dele sem ter tomado nada, nenhum tipo de droga ilícita ou prescritiva. Quando eu entrei por aquela porta fui acolhido com o calor frio que se acolhe a um michê: mãos por todos os lados, tateando e sugando prazer de você, como uma extração de minérios. Eu me sentia um campo de exploração. Sentimentalismos à parte, entrei no jogo, mas comecei a sentir meu coração disparar, senti medo e fiquei totalmente intimidado com a situação, eu não sei explicar, não era um medo muito bem delineado, era difuso, era apenas medo em sua forma bruta. Fiquei paralisado, tentando disfarçar, tinha ainda o medo de que ele percebesse, mas como ele é gato escaldado quando o assunto é “estranheza”, ele percebeu tudo, acabou por me dar um de seus calmantes, que eram basicamente os mesmos que os meus. Mas ele não me deixou relaxar numa boa, não esqueçamos que se trata de clientes, nesse tipo de relação qualquer demonstração de afeto não é genuína, ou ela é monetária ou de ordem hedonista.

Fui levado ao seu quarto, meio sono/lento, SOMMM-NO, um sono hipnótico, como um mantra me envolveu e me levou ao alfa. Eu estava numa cama que parecia ser feita de asas de anjos caídos, mas ainda mais macio era o seu toque, menos perceptível era o seu rosto, ainda mais difusa era a visão do quarto. Ele deu suas estocadas contadas e parecia que aquilo eram movimentos de embalar bebê, ele embalava meu sono. Ele endossava isso ao dizer o quanto eu parecia uma criança, ele dizia também que eu me confundia com o branco dos lençóis da cama, que não havia contraste o suficiente. Divagações de um neurótico.

“Finja que esta trepando com a cama e que ela é viva!”, eu dizia. Depois eu ria até o estômago doer, como um moleque. Dizíamos insanidades um ao outro, nos despíamos da falseabilidade envolvida na escolha de frases coerentes, feitas de modo engenhoso. Não demorou muito e cheguei ao delta, era um estado inevitável dada a situação. Tudo ao redor se dissolveu, para dar lugar ao onírico, contudo foi como ir de um sonho a outro, pois a realidade é só um sonho ou uma sucessividade deles.

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Comentários

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Será que ele vai entrar noutro relacionamento doentio,.dessa vez com esse cara?

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