A luz da manhã nublada e abafada tinha uma cor de branco sujo, uma luz preguiçosa e desmaiada. Ela iluminava Tiago deitado de bruços na cama ao meu lado, pelado, segurando a ponta do travesseiro e ressonando baixo; foi uma das visões mais lindas que tive em minha vida até ali, parecia um fragmento de sonho que ia se romper a qualquer momento. Memorizei aquela cena: o jeito dele respirar de boca entreaberta, o cabelo liso caindo suavemente por sua testa, as curvas perfeitas daquele corpo que tinha sido meu na vespera... para sempre eu me lembraria daquele instante.
Para nao acordar o cara, me levantei bem devagar, saindo do quarto. Por ter apanhado, e dado pela primeira vez, sentia-me dolorido; a pegada do Tiago era bruta, ele nao tinha pena mesmo. Tinha ate umas marcas roxas no meu quadril e nas coxas, que foi onde ele segurou com força para meter em mim; meu rabo ardia e doia, e entendi entao porque os passivos geralmente nao aguentavam transar no dia seguinte apos uma foda forte.
Voltei do banho me enxugando, entrando outra vez no quarto, fissurado na imagem daquele cara grandao dormindo na minha cama. Que bunda era aquela? Perfeita, bem redonda, branca, dava de lavada em muito passivo por ai; ele tinha que me deixar meter nela, era minha loucura desde moleque, e nao seria justo so' eu dar. Mas, de repente, pensando se haveria uma proxima vez, meu coraçao se contraiu de duvida. Como a gente ficaria de agora em diante? Afinal, eu tinha me declarado, ele se deixou levar pelo tesao, mas e depois? Talvez nossa amizade tivesse ido pelo ralo por conta de uma gozada.
Depois de vestir rapidamente um calçao, fui para a cozinha onde fiz um cafe' ligeiro, abri uma caixinha de suco e preparei sanduiches de queijo branco; com certeza o doido estava varado de fome, porque eu estava. Comi ali mesmo, nem esperei por ele.
Uma meia hora depois Tiago levantou, se trancou no banheiro sem dizer nada, saiu uns vinte minutos depois e se fechou no seu quarto por pelo menos uma hora. Quando saiu, eu assistia televisao na sala, com o coraçao na mao, mas sem demonstrar; ele pegou cafe' na cozinha e veio para a sala, se sentando no outro sofa' e olhando para o programa esportivo que eu assistia. Sua expressao era sombria, tensa, fechada, uma cara nada amigável. "O gato borralheiro babaca nao vira abobora à meia-noite, vira no dia seguinte, depois que o principe acorda e se dá conta que socou na bunda dele a noite toda", pensei olhando para o cara.
- Tudo bem, Tiago? Quer conversar? _ perguntei com cuidado.
- Nao. Agora nao _ disse ele olhando para a caneca de cafe'; levantou a cabeça e me lançou um olhar severo, se ergueu e se trancou no quarto outra vez.
Tive um medo desgraçado daquele maluco resolver acabar com nossa amizade por causa daquela transa, nao gostava nem de pensar nisso. O clima no apartamento estava insuportavel, um silencio de tumulo, entao me vesti e sai para a casa da Bia. Acabei acordando a coitada; ela ficou muito puta, me xingou um monte.
- Transei com o Tiago _ falei, fazendo ela parar o chilique e me olhar boquiaberta.
- Mas como? Transou mesmo? Voce nao sonhou e veio me contar, ne'? Cacete! _ gritou ela, rindo _ Por isso esta ameaçando chuva! E entao, bicha? Ele fez gostoso? E' pauzudo? Apertadinho?
- Na verdade... ele me comeu _ disse meio sem graça.
- Mas voce nao era so' ativo, criatura?
- Era. Mas com aquele homem eu viro ate um acrobata de circo se for preciso _ falei, respirando fundo _ Foi bom demais, gozei como um puto, foi gostoso pra caralho, Bia. Ele dá show na cama, tem pegada bruta, sabe? Forte e tesudo, assim que ele e'... e tambem nao foi apenas sexo. Agora ele sabe que eu o amo, fui bocudo ontem e acabei falando...
- E ele, veado? Fez o que? Falou o que? _ ela estava histerica _ Conta tudo o que esse macho fez! Vai!
Entao contei, desde o momento em que ele chegou em casa bravo comigo, ate quando se trancou no quarto com a caneca de cafe' na mao, calado, serio e estranho. Perguntei o que Bia achava.
- Ele esta confuso, cara. Pensa bem _ disse ela, falando serio _ Do dia para a noite ele descobre que seu melhor amigo esteve de quatro por ele, e para ele, voces brigam, transam... Como voce acha que tà a cabeça do cara, Daniel? Tà um redemoinho, claro.
- Talvez esteja mesmo... _ falei, encucado.
- Entao. Dá um tempo pra ele. Voce tem medo da amizade de voces acabar, mas nao acredito que isso aconteça. Pode ser que enfrentem uma crise, e pode ser que ele queira repetir o que fizeram...
- E' o que mais quero... Mas nao sei, nao _ suspirei _ Ele querer transar agora e' uma coisa, e' momento de tesao, descarregar a porra acumulada, mas amar? Duvido, Bia. Queria muito que acontecesse, porem nao acredito.
- Que falta de esperança e' essa, hein? _ ela deu um tapa no meu braço _ Pode parar. Voce nao chegou ate aqui pra duvidar, nao. Olha pra voce: um cara gato, malhado, gostoso, gente fina, responsavel, honesto... O que mais o Tiago iria querer? Aquelas bichas idiotas que ele andava comendo? Aqueles moleques playboys que vivem de sunguinha no Instagram? E' isso, Daniel? Porque se for, me desculpe, mas esse cara e' um trouxa e nao te merece.
Fiquei com aquela conversa na cabeça. Bia estava certa, se Tiago nao me quisesse o problema nao seria eu, e sim ele, suas opçoes de vida, seus conflitos, seus sentimentos. O que eu poderia ter feito, ainda que tarde, eu fiz. Ele meteu em mim, gozou igual um touro, mas se quisesse me tratar como um veado de uma noite, paciencia. Eu ficaria puto da vida, claro, mas nao poderia fazer mais nada. Aquele filho da puta que decidisse, porque eu jà tinha meu sentimento pronto e resolvido fazia tempo.
Assim, um pouco mais preparado graças à conversa com Bia, nao fiquei tao surpreso ao chegar em casa e encontrar o Tiago segurando sua mochila, pronto para sair.
- Estava te esperando _ falou logo que entrei, ainda com aquela cara seria de cedo _ Vou passar o final de semana na casa da minha mae. Queria so' te avisar...
Se levantou, a ponto de sair. Ajeitou o bone' e me olhou. Fiquei um pouco puto com aquele jeito extremo dele levar as coisas.
- Voce nao acha melhor a gente conversar logo? _ falei, irritado _ Acha que esta sendo fácil pra mim? Vivi sufocando isso por quase dez anos, e botar pra fora, agora, chega a ser ate doloroso, cara...
- Daniel, eu nao to com cabeça para discutir isso no momento. Me entenda, velho _ disse ele, um tanto exaltado _ Parece ser facil, nao e'? Os dois gays, juntos, e' so' trepar dia e noite e fim de papo. Nao e', porra! Eu nao sei o que pensar sobre voce, sobre mim, sobre a gente. Nao sei de nada! Quero um tempo pra pensar, por a cabeça no lugar. Respeita isso, meu.
Claro que eu entendia, claro que eu ia respeitar. So' Deus sabia o que estava passando na cabeça dele no momento.
- Tudo bem _ sussurrei, observando ele por a mochila no ombro, me olhar sem um sorriso sequer, e sair.
Lenta e amarga. Assim foi aquela tarde de sabado. Ficou insuportavel no começo da noite, com o silencio do apartamento, o calor, minha cabeça que fervia de tanto pensar; telefonei para Hugo, combinando de encontrar com ele na boate que costumavamos frequentar. O moleque aceitou todo alegrinho, dava ate gosto de ouvir a empolgaçao dele ao telefone. Na boate repleta de gays dos mais variados estilos, fiquei com o garoto outra vez; ele marcou em cima, nao me deixou solto para caçar outros caras. Aquilo estava quase que virando um caso fixo, alheio a minha vontade.
Algum filho da puta passou uma bala ao moleque, ele trincou nos dentes e me deu um pedaço. O efeito era menor, claro, mas a alegria artificial que chegou foi muito boa, minha cabeça ficou leve, nenhum problema parecia me afetar. Hugo ria e me beijava, apertando meu pau no meio da pista de dança. Nao sei como aconteceu, porem quando me dei conta já estavamos em casa e aquele taradinho cavalgava minha pica na sala, ambos suados demais, com uma sede doida. Ele sentou em mim sem camisinha mesmo, moleque louco da porra; quando percebi isso, gozei fora dele. Fomos para o quarto e lá soquei em tudo quanto era buraco daquele puto, por varias vezes imaginando que metia no Tiago e que ele gemia de tesao pedindo vara.
- Goza na minha cara _ pediu Hugo, se ajoelhando na cama _ Sou sua puta, sua cadela...
Fiquei maluco ouvindo isso, e me punhetando num frenesi, lavei a cara dele de porra branca e quente. Ainda um pouco alto pela meia bala que tomei, achei engraçado que um jato de esporro tenha ficado grudado no queixo dele, pendurado num cai-nao-cai viscoso, tipo um creme de cabelo de marca ordinaria. Hugo resolveu esse probleminha passando o dedo no esperma e lambendo. Estava sendo uma noite louca e idiota, mas que amortecia meus problemas, me tirava de orbita alguns instantes, me fazendo esquecer, dormir e sonhar com um ceu tao estrelado que parecia ser artificial. Eu voava enquanto minha mao apertava algo quente e macio; quando acordei, vi que era a bundinha gostosa do Hugo. Durante a noite o moleque se aninhara em meus braços, me apertando, dormindo com a cabeça em meu peito. Ainda estava apaixonado, e eu tambem acordei apaixonado, mais do que nunca, mas nao por ele.
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Valeu, gente! :)
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