- Minha nossa, você cresceu. - Disse meu pai abrindo os braços e vindo na minha direção. Recuei e ele parou, um misto de emoções passando por seu rosto. Frustração? Decepção?
- O que houve? Não vai me dar um abraço?
- Tá me zuando ne?
Ele olhou para minha mãe. Pelo visto ele achou mesmo que eu "adoraria" vê-lo. Minutos depois, eu já estava apropriadamente vestido para sair, sai do quarto colocando o celular no bolso e desci para a sala. Meus pais estavam na porta.
- Vamos logo? Falei passando por ele e saindo de casa. Meu pai estava exatamente igual eu me lembrava. Alto, moreno claro como minha mãe, cabelos grisalhos e tinha um sorriso de vendedor de concessionaria. Usava um terno tweed cinza que parecia ter sido feito para ele.
Havia um BMW branco parado na porta da minha casa. Olhei em volta procurando pelo carro dele, mas não havia nenhum outro.
- Gostou? Ele perguntou atras de mim.
- Você é rico agora? Perguntei cruzando os braços.
- Temos muito o que conversar filho.
Revirei os olhos e o segui até o carro. Ele dirigiu em silêncio todo o percurso até um restaurante refinado, no centro da cidade. Acho que não havia muito o que dizer. Eu te abandonei, mas agora tenho grana e quero comprar seu amor não parecia o tipo de coisa fácil de dizer. Acho que todos que trabalhavam no restaurante o conheciam, pois fui forçado a retribuir acenos e sorrisos até nos sentarmos.
- Há quanto tempo está na cidade? Perguntei.
- Apenas alguns dias. Tenho estado ocupado com a questão da mudança e do trabalho, por isso não lhe procurei antes.
- Hum, e porque procurar agora? Afinal, se me lembro bem, você nem mesmo me disse tchal antes de sumir.
Ele me olhou sem graça e desviou o olhar. Pelo visto a verdade incomoda.
- Eu não abandonei você, esse nunca foi o plano.
- E qual foi? Deixar sua mulher criar o filho sozinha?
Meu pai me olhou surpreso por um longo momento. O que ele queria? Que eu chorasse e o abraçasse?
- Sua mãe não lhe contou o que aconteceu?
- Ela não precisou, eu estava lá, lembra? Você fugiu para ficar com outra família.
- Gabriel eu não larguei vocês por outra família, eu só conhece Olivia muito tempo depois.
- Então porque...?
- Vai ter que discutir isso com sua mãe.
Foi tudo o que ele disse sobre aquele assunto. No fim das contas, ele não era um super chato. Conversamos sobre como eu estava indo bem na faculdade (até parece que eu falaria a verdade!), sobre como ele encontrou uma mulher ótima e que tinha um filho dois anos mais velho do que eu. Na verdade, ele conversou e eu fiquei concordando. Ainda não havia passado a raiva que eu sentia.
Mais tarde, eu entrei em casa apresado, faltava apenas algumas horas antes da aula e eu não havia planejado minha apresentação. Eu cursava publicidade, estava no segundo período. Eu e meu grupo tínhamos uma apresentação naquela noite e adivinhem quem nem sem lembra do que o trabalho de tratava?
- Mãe? Chamei, mas não houve resposta, já tinha saído. Que bom, preciso focar no meu trabalho.
***
- Caramba, você detonou Biel... Falou Carlos, um dos meus amigos da faculdade depois que fomos liberados. Apresentação havia sido ótima, graças ao esforço do grupo e meu carisma. Beleza até que serve pra alguma coisa ne?
- Que nada. Falei empurrando ele pra longe de mim.
Carlos tinha cabelos loiros, olhos verdes e era malhado. O pacote tentação que invadia meus sonhos constantemente.
Lisa passou os braços em volta de mim, e eu a abracei de volta. Estávamos junto de Carlos e mais outros dois amigos que se despediram a se afastaram.
- Tá de carro? Perguntei a ela.
- Não, pensei que você estivesse. E agora?
- Eu levo vocês. - disse Carlos. - Não me importo, sério.
- Posso levar você, Gabriel.
Nos três nos viramos para ver Lucas se aproximando, cabisbaixo, com as mãos no bolso, parecendo o garoto mais fofo que eu já conhecera na vida. Um dia ele havia sido mesmo... O que havia acontecido?
As Lembranças da noite passada bateram feito um tijolo na minha cabeça. Eu havia traído ele.
- Não precisa o Carlos... Comecei.
- Vai levar a Lisa para casa, e eu levo você. Lucas completou.
Cruzei os braços irritado, tentar mandar em mim era um hábito dele.
- Lucas, não começa...
- Por favor, me deixa levar você, precisamos conversar. Ele disse se aproximando de mim e segurando minhas mãos. Lisa traíra havia se bandeado pra o lado do Carlos. Ótimos amigos esses que eu tenho.
Meu coração derreteu com o olhar dele.
- Ta bom. Falei seguindo ele até seu carro.
Lucas não soltou minha mão durante o percurso. Não que ele não fosse carinhoso, mas ele ainda era um pouco receoso com demonstrar afetos entre nós dois em público. Talvez tenha superado isso afinal.
Entrei no carro em silêncio, e ele seguiu até uma rua escura, aonde costumávamos vir para dar uns amassos e, às vezes, algo a mais. Hum, talvez eu tenha um fraco por automóveis.
- Ainda esta bravo comigo? Ele perguntou.
- Sinceramente? Nem lembro o porque brigamos.
Lucas piscou algumas vezes.
- Você chamou o Carlos para dormir na sua casa.
- E...?
- Nem eu fui dormir na sua casa Gabriel, e nos namoramos a meses.
- Por isso você sabe como minha mãe é. E Carlos é só um amigo.
- É, eu sei... É só que eu amo você, e não gosto de você passando tempo com nenhum cara bonitão.
- Acha o Carlos bonitão? Perguntei rindo.
- Acabei de dizer que te amo e foi nisso que você prestou atenção?
Foi aí que eu entendi. Lucas ainda não havia dito que me amava. Se fosse algumas semanas atrás, eu morreria agora. Caraca! O cara por quem eu sempre fui apaixonado disse que me ama! Porque eu não queria dizer de volta?
- Eu ouvi. Obrigado. Eu disse me inclinando e beijando seus lábios.
Ele fez careta, mas retribuiu o beijo.
- Não era a resposta que eu queria, mas gostei mesmo assim.
E voltamos a nos beijar, deixando que o corpo falasse por fim.