- Então você foi chutado? - Perguntou Lisa quando descemos do carro dela na faculdade. Desde a tarde anterior, eu estava tentando falar com Lucas, mas sem sucesso, ele nem queria me ouvir.
- Fui. Da pra acreditar?
- Quer a verdade ou a resposta de amiga?
Fuzilei ela com o olhar e suspirei. O que diabos estava errado comigo? Eu tinha certeza de que queria terminar o namoro a poucos dias e de repente aqui estava eu, sofrendo por Lucas ter rompido comigo. Eu gostava dele, era isso? Que saco hein.
Estávamos nos aproximando de um grupo de amigos da faculdade.
- Não mencione nada disso, tá bom? Sussurrei pra ela.
Lisa me olhou preocupada. Eu parei de andar.
- Já contou pra alguém não foi?
- Só pro Carlos, mas acho que podemos confiar nele. Quer dizer, sabemos que ele é gato.
Eu tive que rir.
- E isso define o que?
- Sei lá, gosto de mencionar e ponto. Vamos.
Nos aproximou e então todos os rostos se voltaram para mim. Ótimo.
- Gabriel, você é o cara que nós queríamos ver. Vai fazer o que no sábado à noite? Perguntou um dos meninos da turma.
- Porque?
- Carol vai fazer uma festinha de aniversário, e eu queria apresentar uma música pra ela.
- E isso tem a ver comigo porque...?
- Porque eu queria que você cantasse. Carlos já disse que vai tocar. Diga sim.
Esse meu amigo era Pedro, ele era fofo, na medida do possível e super apaixonado por Carol. Hum, não custava nada ne?
- Tudo bem, mas vai ficar me devendo. Falei.
- O que quiser seu lindo! Ele pulou em cima de mim e beijou minha bochecha. Sim, todos os meus amigos sabiam de mim, deixou de ser um segredo quando minha mãe disse que já sabia.
Me virei pra Carlos, que segurava uma mochila gigantesca nas costas.
- Vai viajar? Zombei.
Ele passou a mão no cabelo pra tirá-lo da testa e riu, mas depois me encarou sério.
- Tá brincando?
- Ue, não, o que foi?
- Vou ficar com você esse fim de semana. Quer dizer, na sua casa.
Um choque de supresa percorreu meu rosto. Puts, tinha esquecido total disso. Esse foi o motivo da briga com Lucas no outro dia e ele vai ficar... Peraí, ele me chutou, não vai ficar nada.
- Desculpa, esqueci. Mas está você pode vir.
Carlos sorriu e tocou meu braço. Por um segundo juro que ele me olhou da mesma forma Lucas costumava me olhar sempre que estávamos juntos em silêncio. Não consegui evitar, meu rosto já estava vermelho e Meus olhos cheios de água. Carlos me abraçou e nos afastamos um pouco do pessoal. O que diabos estava errado comigo?
- Você gostava dele pra caramba ne?
Olhei pra ele.
- Gostava... Gosto, ah, sei lá. Acho que eu não queria terminar no fim das contas.
- Não fica assim cara, talvez tenha acontecido para o melhor. Ele é babaca, você vai achar coisa melhor.
Eu ri sem humor nenhum.
- Você não entende. Eu trai ele Carlos, bem feito pra mim.
Carlos me encarou sério. Ele conhecia Lucas a mais tempo do que eu, ou seja, sabe tanto quanto eu que ele não merecia o que eu fiz.
- Não precisa ficar calado, pode falar. Eu sei que eu errei, não é segredo.
- Não vou julgar você. Todo mundo erra. E sinceramente, você não vai ficar legal falando sobre o término toda hora. Vamos esquecer isso ok? Pelo menos esse fim de semana.
- Tudo bem. Concordei.
Carlos passou o braço sobre meus ombros e caminhávamos de volta pra a faculdade, mesmo eu sabendo que não conseguiria prestar atenção em nada.
* * *
- Meu quarto é a segunda porta à esquerda e pode tomar banho no meu banheiro. Falei pra Carlos, que se virou suado e correu escada acima. Depois da aula, ele me fez ir assistir ao jogo de futebol dele com os amigos.
Larguei a mochila no chão e me virei para cozinha. Minha mãe estava cozinhando alguma coisa com um cheiro maravilhoso.
- Oi. Falei.
- Que bom que está aqui, pode me passar o sal? Pediu ela.
Me estiquei sobre a bancada e empurrei o frasco de sal para ela. Mesmo aquele cheiro gostoso não despertava meu apetite. Nossa, eu estava triste mesmo.
- Já conversou com seu amigo? Perguntou ela.
Abri a geladeira e peguei uma maçã.
- Ele foi tomar banho. Respondi.
Minha mãe se virou para mim.
- Tomar banho? No seu quarto?
- É mãe, aonde mais séria? O que foi? Perguntei confuso.
- Eu estou falando do garoto que estava te esperando na sala de estar e você? Ela disse.
- Que garoto?
- Eu.
Me virei num salto, meu coração palpitando. Na soleira da porta da cozinha estava um Christopher serio. Ele usava uma calça de moletom cinza, uma camiseta preta e chinelos.
- O que está fazendo aqui? Perguntei largando a maçã na bancada.
- Vim conversar. Podemos?
Eu normalmente diria não, mas minha mãe estava me encarando e eu não estava afim de dizer a ela que havia deixando um completo estranho entrar na nossa casa. Hum, pelo menos ela deixou que ele entrasse só na casa, já eu...
Afastei os pensamentos e segui até a varanda.
- Oi. Ele disse por fim.
- O que está fazendo aqui? - Perguntei novamente. - Meu pai mandou você?
- Ah, achei que não tivesse mais pai. Cara, que palhaçada foi aquela com o Tom? Ele ficou arrasado quando você foi embora.
Meu estômago revirou. Christopher chamava meu pai de Tom? Como se eles não fossem padrasto e enteado, e sim amigos da mesma idade? Cruzes.
- Vai passar assim que ele comprar um carro novo. Retruquei.
Christopher olhou dentro dos meus olhos. Nossa, seus olhos eram claros como os meus. Lindos olhos.
- Você não o conhece mesmo. Ele não é o tipo de homem que você está pensando. Ele se preocupa muito com...
- Você e sua mãe. - eu o interrompi. - Eu não estou incluso no pacote.
Minha voz embargada saiu mais magoada do que eu queria e Christopher pareceu perceber. Droga, eu não vou chorar, não vou chorar.
- Sei que tiveram seus momentos, mas ele está tentando reparar e você devia tentar. Ele disse.
- Eu não quero. Minha vida estava bem sem ele, e vai continuar.
Ficamos em silêncio por um tempo. A luz da lua refletia em cada canto despido da pele de Christopher e ele parecia mais sexy do que nunca. Cada molécula minha parecia estar atraída por ele. Serio, eu poderia beijá-lo bem ali.
Fechei os olhos. Minha atitudes impulsivas foi o que me colocou nessa encrenca toda e não vou me deixar ser arrastado de novo.
- Está agindo assim porque a gente transou?
- Fala baixo garoto, minha mãe está aqui do lado. - Eu xinguei. - E não tem nada a ver com você.
Christopher deu um risinho sínico.
- Sei, então porque não para de olhar o meu corpo? Tudo bem, também estou com vontade de pegar você bem aqui.
Eu dei um passo para trás, tentando parecer mais assustado que excitado, mas meu corpo não negava. Respirei fundo.
- Eu não quero. Não foi assim tão bom.
Ele deu um passo à frente e eu recuei de novo.
- É mesmo? Ele disse mordendo o lábio.
- É. Respondi.
Ele avançou e eu tentei recuar, mas bati as costas na parede e tive que parar. Agora estávamos tão próximos que eu sentia a respiração dele sobre meus lábios. Eu queria beijar ele... Peraí, e o Lucas? O meu mundo de sofrimento de um segundo atras? Empurrei Christopher e caminhei pra dentro de casa.
- Diga a seu pai que eu vou ficar bem. Adeus.
- Porque quer que ele diga isso pro pai dele? - perguntou minha mãe entrando na sala. Meu sangue gelou. Merda. Hum, se eu aprendi uma coisa nesses últimos dias é que alguns erros não são perdoados, então melhor eu nem começar a mentir.
- Porque o pai dele é o meu pai também. Respondi.
Christopher enfiou as mãos nos bolsos, parecendo constrangido. Muito bom. Minha mãe por outro lado ficou encarando o garoto de cima a baixo, procurando algum traço do meu pai nele, talvez? Hum, não iria encontrar. Meu pai havia mencionado que o pai de Christopher morava no Canadá.
- Biel, viu aonde coloquei minha mochi...
Quando me virei para Carlos, meu queixo caiu. Ele estava só de toalha e descalço no topo da escada. Algumas gostas de água escorriam por seu abdômen que eu não sabia que era tão definido. Nossa, alguém andou malhando seu me contar.
Christopher me lançou um olhar que eu não consegui decifrar, e minha mãe estourou uma gargalhada. Ela conhecia Carlos a muito tempo, era praticamente da família. Carlos pediu desculpas e correu para meu quarto.
- Eu vou indo nessa. - Resmungou Christopher passando por mim como uma bala.
- Mas já? Perguntou minha mãe, mas o garoto seguiu sem se virar para trás. Tudo bem, essa nem eu entendi. Minha mãe sorria pra mim com as mãos na cintura e um olhar sarcástico.
- Quer me contar algo filho? Perguntou ela rindo.
Revirei os olhos e mostrei língua para ela. Sinceramente, nem eu conseguiria explicar aquilo.