... - O sangue dele é tipo AB. O puro. Não há estoques desse tipo sanguíneo aqui e nem em estados próximos. Ele não pode fazer transfusão. Vai entrar em lapso disfuncional dos órgãos por falta de sangue...
- O Adam é AB? O puro? – Tomás perguntou, virando-se para Alicia.
- Na verdade, é sim.
- Então você também deve ser.... – disse o doutor.
- Não, eu sou A-. Nossos pais são AB+ e Adam também.
- Droga! – urrou Tomás.
- Ele vai morrer Tom.
- Não! Ele não pode morrer.
- Mas como vamos fazer então? Não há sangue no estoque. É raro demais.
Tomás pensou um pouco.
- Minha mãe.
- O que? Você é louco?
- O que tem a Bárbara? Ela está bem? – interrompeu Ali.
- Sim, está. Não se preocupe... – disse Tomás.
- Não, ela não está bem. Nem um pouco. Está igual ao Adam e vai morrer se não tiver um doador AB+ para ela – interrompeu Diego.
Tomás olhou feio para Diego.
- Sua mãe vai morrer e você quer tirar o sangue dela para dar a um amigo? – perguntou Alicia.
- Não é um amigo. É o Dan!
- Mas é a sua mãe! – disse Diego – Além do mais, ela está com câncer de sangue. Você vai piorar a situação dele também.
Tomás se lembrou do câncer e deixou a última esperança escapar de suas mãos. Expirou e Alicia foi confortá-lo.
- Não há nada que possamos fazer... – disse ela.
Um bipe vindo do relógio de Diego soou no ambiente. Ele olhou para a tela e anunciou:
- É do quarto do Adam. A pressão dele caiu. Vamos.
Os três cortaram os corredores do hospital muito rápido, até chegarem em uma porta: 225. Era o quarto de Dan. Havia um movimento de três paramédicos lá. Eles entraram e Diego se ocupou em medir um remédio na seringa. Tomás e Alicia se aproximaram de Adam, inconsciente.
- Dan? – perguntou Alicia e segurou sua mão – Sou eu, Ali. Estou com o Tomás aqui.
- Oi garotão... – Tomás falou com ele e segurou a outra mão – Fique conosco. Não deixe sua irmã só, não nos deixe só, precisamos de você. Por favor, aguente firme.
Um sorriso no canto da boca de Adam se formou sutilmente. Diego estava injetando um calmante nas suas veias que estabilizaria sua pressão. Pediram que se retirassem da sala e deixassem que fizessem seu trabalho. Eles saíram e os olhos de Tomás estavam perdidos no nada, parecia um sonambulo.
- O que foi Tom? – perguntou Alicia ao ver sua cara.
- Você viu?
- O que?
- Ele sorriu. Quando falamos com ele, quando eu falei com ele.
- Nem percebi.
- Ele está lá. E vai aguentar.
Diego saiu da sala e anunciou:
- Só tem um jeito de tentar salvá-lo. Podemos costurar seus ferimentos e impedir uma hemorragia externa, mas não uma possível interna. As chances de recuperação não são tão boas assim.
- É melhor do que ele ficar assim? – perguntou Alicia.
- Se ele ficar assim, vai morrer. Se fizermos isso ele pode morrer, mas tem chances de viver. Muito poucas, mais tem.
- Então faça – ordenou Tomás.
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NARRADO POR ADAM
Os raios do Sol entraram pela janela e clareavam de um jeito único e lindo aquele quarto com pinceladas de azul e branco. Parecia um quarto dos sonhos. Fora é claro todos os equipamentos médicos. Equipamentos médicos? Eu estava em um hospital?
FLASHBACK
- Você é a pessoa mais especial do mundo e não sabe disso – tinha algo de errado com a palavra “especial”. Ela queria dizer outra coisa.
- Como assim “especial”?
- Você tem a maior arma que um homem pode ter correndo em suas veias e não sabe disso. Mas eu vou lhe ensinar tudo.
- Não quero que você me ensine nada! Não quero você! Tenho nojo de você!
A expressão de Caíque mudou e ele se descontrolou. Virou a face para me ver e o brilho da loucura e insanidade brilhou em seus olhos cor de mel.
- Se eu não posso ter você, ninguém mais pode!
Caíque puxou o volante para a esquerda e o carro saiu da rota da via. Depois, só capotamento e capotamento...
FIM DO FLASHBACK
Eu tinha caído de um penhasco. Caído junto com Caíque. Meu coração disparou, mesmo que inconsciente. Pude sentir o perigo que era estar perto dele. E eu não sabia ao certo se estava seguro, estava perto dele? Eu não tinha aberto os olhos direito. Então resolvi fazê-lo. Abri os olhos lentamente e estava em quarto parecido com o que eu estava a um tempo antes: o quarto de um hospital particular. Percebi uma pessoa no canto da sala, mas minha visão estava embaçada. Que seja Tomás! – pensei. Mas não era. Era um corpo feminino. Alicia – deduzi. Mas não era. Então minha última tentativa era o que eu não queria que fosse. Pensei no nome de modo tão claro que a silhueta dela se desenhou perfeitamente na minha visão. Chris.
- Chris?! – sussurrei fragilmente e o coração ainda batia forte. Odiava ela.
Ela virou-se para me olhar nos olhos. Seus cabelos brancos dançaram no ar e seus olhos azuis me cercaram por todos os cantos. Estava vestida com uma blusa vermelha, calça branca e saltos muito altos pretos. Ela caminhou em minha direção e nos olhávamos ferozmente. Parou ao lado da minha cama e se abaixou. Sorriu.
- Você escapou, seu merda... – ela disse baixo mais cortante – Sua sorte é de outro mundo, só pode – virou de costas.
- Graças a Deus ainda estou vivo.
- Não por muito tempo, meu amor – disse ela virada de costas pra mim.
- Como é?!
- Não se faça de burro! – ela se voltou pra mim – Você ouviu e entendeu muito bem!
- Por que todo esse ódio de mim, Chris? – encarei-a.
- É muito simples: Tomás.
- Não tire conclusões precipitadas sobre nós...
- Conclusões precipitadas? Qual é Adam! Você come ele com os olhos e diz isso pra mim? É ridículo...
- Tomás é meu melhor amigo, Chris.
- Só por que ele não dá liberdade o suficiente, mas se fosse por você, seriam muito mais, não é?
- Não dá liberdade? Isso é o que ele mais faz. Eu me controlo perto dele.
Um tapa.
- Tomás é meu, escutou? Você não vai ganha-lo. Nunca.
E ela saiu em direção a porta. Se não fosse minha fraqueza estrema eu teria espancado ela assim que tive a chance. Sou contra violência gratuita, mas ela me tira do sério! Tentei me sentar na cama e então minha mente surtou: uma escuridão me cercou por todos os lados, minha cabeça parecia pesar uma tonelada, meu corpo estava sem movimento, pesado, insensível. Uma tontura me abraçou fortemente junto com uma dor de cabeça e senti que iria cair da cama. Sentindo isso, tentei me equilibrar e me recostar na cama, mas estava sem controle. Eu iria cair. E bateria a cabeça de ponta. Não podendo fazer nada, deixei que meu corpo me levasse e minha cabeça pesou.
Braços me seguraram e eu me recostei sobre um peitoral definido, me impedindo de cair no chão. O cheiro era de perigo e aventura. Bruno – pensei e então subi a vista embaçada pra ver quem era.
- Tom... – sussurrei e tive um “quase desmaio”.
Continua...
