- Quem é você ? - eu perguntei intrigado, seria ele Edgard,
Ele simplesmente se ajoelhou aos pés de meu colchão e ficou me encarando com um sorriso malicioso
- quem é você e o que quer aqui - repeti
- não sabe quem sou ? - ele riu sarcástico
Fiquei quieto encarando seu rosto que me devorava com os olhos, desconfortável percebendo o modo como eu estava sendo observado me levantei tentado evitar seus olhares, a cela estava trancada e não havia sinal de vida dos meus companheiros de cela, so podia ser Edgard, ele se levantou e ficou de frente a mim seus olhos ainda me observavam mas desta vez da cabeça aos pés
- já terminou ? - pergunte rude ao perceber seus olhares
- quase - ele respondeu com um sorriso de canto de boca
- então se apresse
Ele me ignorou e continuou a me observar ate o momento em que voltou os olhos para meu rosto
- a qualquer instante as luzes do presidio se apagarão e eu não poderei mais vê-lo, quero gravar cada detalhe seu, admirar a pessoa com quem vou passar a noite
- passar a noite, comigo ?
Ele não respondeu nada, apenas me olhava, provavelmente orgulhoso de si mesmo
- eu não vou dormir com você
- claro que vai, e a partir de agora vai dormir comigo sempre que eu pedir, você já é meu !
Pude perceber que ele falava serio, e eu fiquei sem fala, paralisado, assombrado com meus pensamentos, eu precisava mudar, precisava parar de ser fraco, e aquele era o momento perfeito para começar, não ia me render a ele de maneira alguma, e se fosse preciso que eu o matasse, eu o mataria !
- não eu não sou seu, e você erra se pensa que serei submisso - tentei ser firme
Foi anunciado que as luzes se apagariam e segundos depois foi o que aconteceu, a ultima coisa que vi antes que tudo ficasse escuro foi o rosto de Edgard com um sorriso vitorioso como se ansiasse por aquele momento a anos, fiquei atento esperando que ele tentasse se aproximar mas não tentou, teria eu conseguido assusta-lo ?
- fica calmo, não lhe farei mau - escutei a voz perto de mim
- não confio em você - respondi sem saber onde ele estava
Esperei por uma resposta mas não houve, andei em direção meu colchão e quando o achei me sentei nele com as costas encostadas na parede, pude perceber que ele se sentava ao meu lado direito
- se você não quer, não vou te forçar, fique tranquilo
Mesmo estando escuro e eu não conseguisse enxerga-lo sabia que ele me olhava
- não foi isso que você deu a entender quando disse que eu já era seu e que teria que dormir com você sempre que você pedisse - eu fui grosso
- me desculpa, aquilo não foi o que eu pretendia, a verdade é que não sou do tipo que sente prazer desse modo - ele parecia sincero
- então você vai me deixar em paz ? - perguntei duvidoso
- não ! Eu não vou te obrigar a nada mas ainda quero você pra mim
Fiquei calado, mas no fundo me sentia melhor, aquilo já era um começo, ele se levantou e se afastou permitindo que eu ficasse com meu colchão só pra mim para que eu pudesse dormir, esperei uns minutos para ter certeza que ele realmente não pretendia me obrigar a nada então finalmente deixei que minha guarda baixasse e me deitei
- obrigado - indaguei no meio do escuro que envolvia meus olhos, me virei para o outro lado e procurei meu sono
Fui acordado pelo sinal das 6h00 que indicava o café da manha, em seguida um dos guardas passou pelas celas gritando alto para que todos se levantassem, olhei para Edgard e ele já estava de pé, assim que os portões das celas se abriram ele saiu apressado para ficar em frente sua cela e meus companheiros voltaram também apressados, e assim destrocando de lugares. Notei que Rodrigo me encarava sutilmente enquanto eu me levantava para me juntar a eles mas fingi não perceber, fomos todos para o refeitório, a comida era arroz cozido com cenoura, beringela, feijão e salada de tomate peguei meu prato e me dirigi para a mesa na qual eu sentava sempre, enquanto comia fiquei pensando no que havia acontecido ontem quando as luzes apagaram, eu podia jurar que passaria novamente pelo que tinha passado no primeiro dia, estava claro que Edgard não era tudo aquilo que eu imaginava, será que eu o julguei muito rápido ?
Henrique e Joao sentaram-se junto a mim, tinham uma expressão de curiosidade, provavelmente estavam loucos para saber o que aconteceu comigo, então começaram dando bom dia e eu retribui
- esta bem ? - perguntou Henrique
- sim, estou e vocês ?
- estamos bem também - Henrique fez uma cara de surpreso, parecia que ele esperava que eu começasse a falar coisas horríveis da noite passada e ficar aterrorizado, enquanto João apenas comia a comida prestando atenção no assunto - aconteceu algo na noite passada que queira nos contar ? - Henrique tentou mais uma vez
- acho que já sabem quem esteve na minha cela não é ? - perguntei
- sim, sabemos
- bom, não aconteceu nada - disse voltando a comer
- nada ? Tudo bem Lucas pode contar para nós, essas coisas por aqui são normais, acontecem em quase todas as celas - ele insistiu
- é serio realmente não aconteceu nada estou falando a verdade, eu disse que não queria e ele foi dormir na outra cama da cela, para ser sincero eu ate que gostei dele
- é meu jovem, parece que ele esta gostando de verdade de você em - disse João apontando o garfo para mim enquanto falava
- isso é serio ? Ele não fez nada ? - Henrique parecia não acreditar - uall que coisa
Henrique abriu um sorriso e automaticamente aquele sorriso me fez sorrir também, voltamos a comer e entre uma garfada e outra notei novamente Rodrigo me espiando, senti vontade de ir ate ele e perguntar o que queria mas preferi ignorar sua existência, embora eu não o culpasse por nada ainda sentia um pouco de vergonha e raiva diante dele, terminei minha comida e fiquei esperando que o sinal tocasse para que eu pudesse ir para a área de trabalho, rodeei o refeitório com os olhos e reparei que Edgard também me olhava, porem com uma expressão safada, que coisa, eu estava começando a me sentir constrangido, baixei os olhos para evitar contato visual e passei a brincar com o garfo, quando olhei de novo para Edgard ele já não me observava mais e sim ao Rodrigo, sua expressão também mudara, agora no lugar de seu sorriso de canto de boca e de seus olhos estreitos jazia uma expressao fulminante
Quando o sinal soou me levantei e fui me direcionando para a lavanderia, comecei meu trabalho e quando peguei a primeira bacia de roupas e forcei meus músculos meus braços se lembraram da dor que sentira no dia anterior e imediatamente voltaram a doer, acho que eu ainda não estava acostumado ao trabalho pesado
- cuidado com essas roupas, são do diretor - um garoto que trabalhava ao meu lado me alertou simpaticamente
- sim, obrigado - dei-lhe um sorriso pequeno e continuei o trabalho
- me chamo Ismael - se apresentou
- sou Lucas
- muito praz...
- psiuu... Menos conversa ae - advertiu um dos guardas sentando em um cadeira de ferro em frente a porta com um radio de pilha no colo e fones de ouvidos
Olhamos um para o outro, Ismael deu uma risada silenciosa e voltamos as nossas obrigações. Continuei meu trabalho pesado num ritmo descontraído e em tão pouco tempo meu corpo já pedia descanso
- tome, deixe estas de molho - Rodrigo estava com uma bacia de calças nas mãos para me entregar
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No momento é só isso galera, obrigado a todos que estão acompanhando: Ru/Ruanito, Binho_20, Esperança, BDSP, Pequerrucha, CintiaCenteno, Ale.blm, M/A, entre outros...