FODER, FODER E FODER MUITO...

Um conto erótico de Ehros Tomasini
Categoria: Heterossexual
Contém 4007 palavras
Data: 27/06/2015 10:32:37
Última revisão: 27/06/2015 10:36:35
Assuntos: Anal, Heterossexual, Oral

COM O DIABO NO COURO – Parte Final

Agora me lembro perfeitamente. Até então, dividi minhas memórias com as de um demônio. Há pouco tempo, não sabia mais quem era eu, sucumbindo aos prazeres da criatura. Mas eu mereci tal castigo.

Meu nome é Astor Bernadino. No próximo mês, irei completar 96 anos de idade. Tive uma deformidade física que me fez amargar uma vida de rancores contra Deus. Nasci corcunda e terrivelmente feio. Sem nunca ter conseguido sequer uma única namorada, entretive-me em multiplicar a pequena quantia em dinheiro deixada de herança por meus pais em um considerável patrimônio financeiro. Por mais de meio século fui agiota, dos mais respeitados. Mas esse respeito não significava que eu fosse um homem bom. Aproveitei-me da miséria de muita gente para ganhar mais dinheiro. Muitas vezes de forma desonesta. Até que um dia uma pobre mulher apareceu-me com um bebê nos braços, pedindo-me um crédito para um tratamento de saúde para a criança. O feto se desenvolvera mal e a menina nascera com uma deformidade cerebral. Era sua única filha e ela queria salvá-la a qualquer custo. Pedi-lhe garantias para um pequeno empréstimo e ela ficou de voltar outro dia. Reapareceu com um velho livro escrito em um estranho idioma e uma joia rubra enorme. O rubi valia muito dinheiro, mas eu o avaliei em míseros trocados. Fiquei com a joia como garantia de ela me pagar certa quantia todo mês, apostando que a pobre não iria conseguir cumprir com o trato, perdendo assim a posse da pedra. Incrivelmente, ela cumpria sempre o combinado, trazendo a parcela devida de forma fiel. Mesmo quando eu aumentava absurdamente os juros.

Desde quando avistei o rubi pela primeira vez, a pedra exerceu um enorme fascínio em mim. Passei a ter sonhos estranhos, cada vez mais frequentes. Fui ficando cada dia mais ganancioso e avarento. Mas o que me incomodava mais era aquela vontade de copular, copular, copular sempre. Aí, certo dia, estava assistindo o jornal televisivo quando vi a notícia de que a família de um velho doente e em coma procurava uma mulher que cuidava dele como enfermeira. Ela havia desaparecido levando o enorme rubi e alguns pertences do enfermo. Mostraram a foto e eu logo a reconheci como a que empenhara a pedra preciosa comigo. Esperei ela vir me pagar, como fazia todo fim de mês, e ameacei entregá-la à polícia. Ela apavorou-se, pois estava com a filha hospitalizada para tratamento e não podia ser presa. Negociei sexo em troca do meu silêncio. Ela topou, apesar de eu sentir a sua aversão por mim por conta da minha deformidade. Dispensei todos os meus empregados da casa, naquela noite, e eu mesmo preparei meu quarto para recebê-la.

Eu nunca havia visto uma mulher nua, a não ser em filmes pornôs. Nunca dei muito valor a sexo, antes de conhecê-la. Disse-me que se chamava Astrid, como a mãe, e que sua filha teria a mesma denominação. Uma mulher em cada grupo de familiares seu tinha o mesmo nome, mas ela não sabia bem por que. Isso não me interessava nem um pouco. No entanto, eu desejava aquela mulher com todo o meu ser. Encontramo-nos em minha residência, um enorme casarão num dos bairros mais nobres da cidade, mas bem afastada das demais casas. Conforme o combinado, ela passaria o dia com a filha internada e à noite dormiria comigo. Aquela foi a nossa primeira noite juntos. Quando ela tirou a roupa e se aproximou da minha cama, eu estava muito excitado, apesar dos meus 76 anos de idade. Era a minha iniciação ao sexo, mas ela fez pouco de mim. Ficou me humilhando o tempo todo por causa da minha deformidade. Então, eu sempre broxava. Não tive nada além de um ensaio de felação, ainda assim tendo de aguentar todos os resmungos de repugnância dela. Por isso não consegui ter uma ereção satisfatória.

Marcamos para a próxima noite, quando tive novamente de dispensar os empregados da casa logo à tardinha, mas ela chegou chorando com a filha nos braços. Retirara-a furtivamente do hospital, pois alguém havia telefonado para a polícia denunciando-a. Eu mesmo havia feito isso, querendo forçá-la a ficar de vez comigo, na minha casa. Ela percebeu minha culpa e revoltou-se contra mim. Trouxera o restante do dinheiro que me devia. Quis a joia de volta, mas eu me neguei a devolvê-la. Então ela largou a filha sobre a cama, pegou um velho livro e começou a proferir umas palavras desconexas, em um idioma estranho. A joia, que eu havia trancado dentro do cofre incrivelmente atravessou o aço e flutuou até a sua mão. Não querendo perder a pedra preciosa, lancei-me sobre Astrid e tentei me apossar do rubi a qualquer custo. Engalfinhamo-nos em uma luta feroz, sem que eu soubesse de onde estava vindo tamanha força para um velho deformado de quase oitenta anos. Aí aquela joia soltou uma repentina luz rubra intensa, em forma de relâmpagos, e acho que perdi o juízo. Apertei sua garganta fortemente, com as duas mãos, querendo fazê-la parar de proferir aquelas palavras de mau augúrio. Ela bateu com a pedra fortemente em minha cabeça. Lembro-me de ter havido uma explosão de luz rubra e perdi os sentidos.

Quando despertei, ouvi o choro intermitente da criança jogada sobre a cama. Apavorei-me ao perceber que a mãe jazia morta no chão da minha sala. Uma voz em minha cabeça me dizia para dar um sumiço no corpo e se livrar do bebê. Imediatamente, joguei-o num amontoado de lixo que havia a três quarteirões de minha residência, fazendo tudo para não ser visto. Deixei junto à criança o velho livro que achava não ter nenhum valor. O corpo da pobre enfermeira me deu mais trabalho para me livrar dele. Por conta de minha deformidade, não consegui carregá-lo até o enorme quintal da minha residência. Naquele momento, desejei com todas as minhas forças ter um corpo perfeito e atlético. Foi quando aquela voz em meu juízo me disse que eu tinha direito a realizar três desejos.

Quase sem pensar, quis ter um corpo sempre jovem e sem nenhuma deformidade ou doença. A voz pediu para que eu forjasse mentalmente uma aparência para mim. Pego de surpresa, pensei em uma bela imagem de Cristo que adornava minha sala, pintada em um quadro enorme. Foi quando senti uma dor incomensurável. Meus ossos começaram a mudar por dentro das minhas carnes e aquilo doeu demais. Não sei quanto tempo aguentei. Mas quando a dor parou, senti que meu corpo havia se transformado. Corri para diante de um espelho e o que vi me fez duvidar da minha sanidade. Lá estava minha imagem refletida: bela e imponente, como eu sempre gostaria de ser. No entanto, junto com essa mudança, veio-me a insaciável vontade de copular. Meu pênis estava ereto, pulsante a ponto de doer. Olhei para o corpo da enfermeira estendido no chão e arranquei suas vestes com violência, tamanha a urgência que eu sentia em foder. Abri as pernas da defunta e saciei todos os meus instintos. Primeiro, segurei sua mão em meu pênis e fiz com que me masturbasse. Depois usei sua boceta e seu ânus, e só parei quando me deu um bem-estar indescritível. No entanto, ao invés de quedar exausto, como normalmente o macho faz depois de copular, senti enorme vigor. Sim, parecia como se tivesse uns vinte anos, mas eu sabia que já era um septuagenário. Fitei-me de novo no espelho e meus olhos estavam rubros, sem nenhum sinal da retina. No entanto, o dia já estava para amanhecer e eu precisava me livrar do cadáver.

Carreguei o corpo da enfermeira Astrid nas costas, quase sem nenhum esforço. Enterrei-a no meu próprio quintal, escondida entre os arbustos. Só então tomei um demorado banho, embevecido com o corpo que agora me pertencia. Senti-me como o verdadeiro Narciso. Depois fui dormir, como se nada houvesse acontecido. Foi então que meus sonhos se tornaram cada vez mais loucos. Neles, eu não era eu. Minha mente vagava em tempos distantes onde as mulheres eram muito devassas. Participei de incontáveis bacanais. Senti-me mais revigorado quando acordei. Foi quando percebi que aqueles devaneios eram os resíduos das lembranças de Astaroth, o demônio dos desejos e do sexo. Nos sonhos, ele me dizia que havia sido expulso do Paraíso pelo criador, no início dos tempos, por ter traído Adão, seduzindo Eva e tendo um filho com ela. Achando injusta sua punição, pois Adão lhe era considerado um ser inferior, alguns anjos se rebelaram contra o Senhor, incitados por Lúcifer. Astaroth teve a sua revolta aumentada quando o filho que teve com Eva, Caim, que herdara o seu instinto perverso, matou o irmão e foi banido pelo Criador. Conspirou uma guerra contra os Céus, mas foi lançado ao limbo como punição. Só conseguiu se libertar na Idade Média, através dos sonhos eróticos de donzelas, perseguidas pela Inquisição que as tratava como bruxas. Mas o povo começou a questionar a Igreja, pois as mães dos clérigos também eram acometidas por tais sonhos devassos. Então, um velho padre bruxo ficou incumbido pelo Clero de descobrir o causador dos sonhos. Especializou-se em demonologia e escreveu um livro em uma língua morta sobre as suas descobertas. Conseguiu dominar Astaroth e prendê-lo numa grande pedra preciosa, que simbolizava a cobiça dos homens. O velho padre tornou-se conhecido no mundo cristão como São Bartolomeu.

O livro era quem mantinha o demônio aprisionado e se fosse destruído levaria a criatura junto consigo. Astaroth, no entanto, conseguiu tornar o livro indestrutível graças à ajuda de uma jovem bruxa chamada Astrid. Ela roubou o livro do velho padre e fugiu com ele para terras distantes, a mando do demônio. Longe do livro, ele voltou a se libertar através dos sonhos e até evoluiu seu poder, conseguindo se apossar do corpo e mente de quem tivesse a posse da pedra. O padre morreu de forma misteriosa e a joia se perdeu no esquecimento. As pessoas que a possuíram depois caíram em um coma profundo por não terem também a posse do livro. Até que coincidiu de uma das descendentes da bruxa Astrid, de posse do manual de encantamentos, trabalhar na casa do dono anterior da joia, que vivia de forma vegetativa. Só às vezes é que abria os olhos assustados por um instante, como se tivesse despertado de um pesadelo. Roubou a pedra dele quando notou que estava grávida. É que um dia percebera que o velho estava sempre de cacete duro, apesar de desacordado. Montava sobre ele e satisfazia os próprios desejos sexuais até que se descobriu grávida. O demônio queria fazer a possessão do feto e ela usou um dos encantamentos do livro para impedi-lo. Mas não antes que Astaroth fizesse com que sua filha nascesse com o cérebro atrofiado.

Pouco antes de morrer pelas mãos do agiota, Astrid finalmente compreendeu o legado do seu nome. Para uma Astrid viver, outra precisava morrer. Então, não sabe como, conseguiu se apoderar do corpo do seu bebê. Demorou um pouco para sua mente, agora num cérebro defeituoso, ter plena compreensão da sua sina. Matou pessoas que a adotaram sorvendo sua energia vital, como vinha fazendo desde que conhecera o demônio Astaroth, pois isso lhe dava sobrevida. Aproveitava para ficar com suas pequenas fortunas. Até que, depois de parar de matar usando de bruxarias, pouco a pouco foi se esquecendo de quem era. Então, instalou-se permanentemente no condomínio onde morava e tocou sua vida. Até que os sonhos com o estranho de cabelos longos vestido de negro começaram. A visão da joia rubra na bengala do desconhecido fê-la recordar do trato com o demônio ainda na Idade Média, quando era uma jovem bruxa iniciante. Em troca de pequenos favores, prometeu a Astaroth encontrar sua amada Eva, mas nunca cumprira o prometido.

Foi o mesmo trato que o demônio fez com o velho agiota. Em troca de beleza eterna, luxúria e fortuna fácil, o corcunda reformado teria que encontrar o livro de bruxarias e a mãe do primogênito da criatura. Astor Bernardino levou vinte anos percorrendo vários continentes à procura de Astrid. Aproximava-se de todas as mulheres que tinham esse nome. Procurava em listas telefônicas e as localizava. Tivera que deixar todos os seus bens, pois a mudança radical de aparência o impedia de provar que na verdade era o velho corcunda e feio. Desaparecera misteriosamente da sua residência logo após enterrar o cadáver da enfermeira. Fora denunciado pelos ex-empregados da sua mansão, que ficaram sem seus salários. A polícia descobriu tempos depois os restos enterrados e passou a procurá-lo por assassinato. Então, enviou para seu advogado um documento assinado e firmado dividindo com as famílias que havia arruinado com empréstimos a altos juros toda a sua fortuna. Isso fez com que a polícia suspeitasse mais ainda da sua culpa. Mas já não importava. Ninguém sabia da sua nova aparência e Astaroth o ajudava a se manter financeiramente muito bem, bastando que ele fizesse pequenos feitiços. Até que, continuando suas buscas por Astrid em catálogos telefônicos e afins, encontrou finalmente o livro e a jovem bruxa naquele condomínio.

Então, com a proximidade do livro, sua mente começou a ficar confusa. Os pensamentos de Astaroth pareciam ser seus e vice-versa. Em sua fome de sexo para manter a aparência jovem e bela, alimentando-se dos devaneios eróticos das várias mulheres, conheceu as amigas da bruxa. E uma excitou o demônio, por ter o cheiro de Eva. Mas o demônio estava enganado, na ânsia de reencontrar a amada: o odor que ele sentia era da boceta com cheiro natural de Lillu, já que ela não usava produtos químicos para lavá-la, por conta de uma alergia. Sua vulva tinha quase o mesmo cheiro da vagina de Eva, que nunca conhecera um sabonete. Isso fez o demônio se apossar do corpo de Selem, só para ficar mais perto daquela que achava ser a reencarnação de sua amada. Permitiu-se a dividir a possessão do corpo do rapaz com a bruxa centenária, antes no corpo da filha com deformação cerebral da enfermeira, hoje com vinte anos de idade. Cumprira a promessa com a jovem de cabelos azuis, permitindo a morte do agiota outrora corcunda e decrépito, mas também havia feito um trato com ele de vida, beleza e juventude eterna. Então, fê-lo morrer apenas por um dia. Tempo suficiente para que fosse feito o funeral e as mulheres lhe usassem o corpo para fazer o ritual de ressurreição. A própria Astrid, sem reconhecer no belo defunto seu antigo algoz e assassino, foi responsável por devolver-lhe a vida.

No entanto, quando o demônio se apoderou do seu corpo deitado sobre o esquife, esse assumiu por instantes a sua verdadeira forma: a de um velho de 96 anos, corcunda e com as carnes em degeneração. A dor que sentiu foi tão brutal quanto a que o agiota sentira quando teve seus ossos remodelados sob a carne, e isso enlouqueceu a criatura por um momento. Atacou Astrid, matando-a e permitindo que seu espírito encarnasse no corpo do jovem Selem. Atirou-se sobre Lillu, na sua urgência de saciar seus instintos sexuais acreditando que ela fosse sua amada Eva. Mas, com a pancada recebida na cabeça dada pelo namorado heroico da jovem, separou-se do corpo do agiota. No entanto, apoderou-se imediatamente de Selem, dividindo seu corpo com a essência de Astrid. Dessa forma, deixou livre o corpo do agiota, que voltou à sua forma bela e jovem. Desse modo, Selem estava abduzido pela própria criatura, somou em si a essência de Astrid e ainda possuía a mulher que era a suposta reencarnação de Eva.

Como eu dizia: quando acordei naquela sala e vi os símbolos e o anagrama traçados a giz por todo o ambiente, ainda estava confuso com as lembranças do demônio arraigadas em mim. Vi o corpo da jovem de cabelos azuis caído ao solo, mas não a reconheci de pronto. Em nada lembrava o corpo belo e exuberante da enfermeira, por quem fui obcecado. Os desejos eróticos da evangélica Leila, os sonhos pra lá de eróticos de Diolinda e Dona Conceição estavam vívidos em minha mente. O cheiro de Eva estava forte em minhas narinas e eu a segui até ao shopping e ao TARAAB. Nesse ínterim conheci as suas amigas, todas moradoras do condomínio, que me endeusaram em seus devaneios. Sim. Agora lembro quem sou eu. Elas e todos vizinhos é que, depois do clarão rubro lá na sala, se esqueceram de mim e dos desejos provocados pelo demônio Astaroth. Ele quis assim já que, livre do seu domínio, eu não preciso mais me alimentar de sexo para manter minha forma bela e jovem. Mas a vontade de copular, copular e copular persiste. E nesses vinte anos, não gastei todos os desejos prometidos pela criatura. Então, mantenho o aluguel do apartamento 333. Amanhã cedo, vou visitar minha vizinha, a dona da casa funerária, e jogar todo o meu charme pra cima dela. Ela passou muito tempo desprovida de sexo, como eu. Vou tratar de ser e fazê-la feliz.

EPÍLOGO

“Vênus Urânia, Sol, num poente agoníaco. Ilusão dos sentidos, flor de espuma. Lótus de volúpia, os olhos do zodíaco. Astro do sonho a mergulhar na bruma. Bruxa cruel, de olhos do infortúnio! Toda de neve, a cordilheira linha de finos rutílos punhais, cordilheira da morte, val da morte, para imortais”

DARIO VELOSO

Nós a ajudamos a descer do carro, tomando cuidado para não prender as saias de seda que adornavam seus quadris, nem desprender as flores que enfeitavam seus cabelos, agora azuis, penteados em cachos presos no alto da cabeça. Lillu estava linda, esbanjando encantos. E falava animadamente agradecendo por termos esperado todas as horas transcorridas enquanto arrumava-se para a apresentação de despedidas no TAARAB.

Quase tudo havia voltado ao normal. No condomínio, após ter sido descoberto no apartamento 333 o corpo desfalecido de Astrid, este foi encaminhado ao hospital, encontrando-se em estado de coma vegetativo. Novamente o encantamento inicial das deformações de seu cérebro infantil havia voltado e seu corpo encontra-se incapaz de responder ao ambiente, graças principalmente à ausência de sua consciência.

Diolinda retirara o féretro e os demais objetos, imaginando que Astrid os pegara às escondidas, já que eram amigas intimas e esta tinha livre acesso em sua casa. Decerto pegou as chaves da funerária e trouxe para o condomínio os artefatos tentando desenvolver outra de suas malucas feitiçarias que acabou lhe golpeando fortemente. Quanto ao seu câncer, os médicos ficaram admirados por não haver quaisquer sinais dele em vários exames posteriores. Ela estava curada!

Lillu contornou o carro para cumprimentar alguns dos convidados que chegavam conosco. Eram Dona Conceição com o vizinho Seu Geraldo e Leila, as vizinhas que, agora, inexplicavelmente para elas, haviam-se tornado amigas inseparáveis. Até a costureira evangélica fora convencida a acompanhar a apresentação. Lillu, descobrindo os dotes de bordadeira da mulher, a indicou para as demais dançarinas e fez com que a clientela de Leila aumentasse. Assim a fizera prometer que iria ao TAARAB para observar os trajes e se distrair um pouco, explicando que lá não cometíamos nenhum ato pecaminoso. Seguíamos, nós todos, também os preceitos de Alá.

Diolinda foi única que não veio ao restaurante. Desistiu de ultima hora, avisando Lillu que estava constipada e não poderia comparecer. Mas mandou alguns bombons desculpando-se e ao mesmo tempo agradecendo o convite. Porém nós, enquanto estávamos no pátio esperando Lillu descer, vimos seus dois funcionários chegando ao edifício. Por certo estavam ali para cumprir “horas-extras”.

Quanto ao agora belo velho Astor que está morando no apartamento 333, algumas das mulheres do edifício têm admirado sua beleza, porém ainda não conseguiu saciar seus afoitos desejos. Soubemos, ouvindo conversas das agora amigas vizinhas, que ao tentar conquistar Dona Diolinda, ele recebeu um belo dum chega pra lá. É que a dona da funerária tornou-se uma patroa exemplar, pagando todas as horas-extras dos dois funcionários com muito zelo e afinco. Muuuuuuuuuuito afinco.

No restaurante, nos dirigimos para onde estava seu Charif, acomodado em pufes vermelhos ao lado da esposa Fatmeh jo, fumando um nargile de maçãs e falando sobre os planos dos mujahedins. As mulheres dançarinas não estavam no recinto e Lillu tinha se juntado a elas em outro salão.

Por fim, ouvimos o som do ghazal que abria o início das danças. Muitas participaram, algumas dançaram juntas, outras sós com seus objetos de acompanhamento, mas como de costume coube a ela, nossa halewa Lillu, encerrar as apresentações.

Toda vez que olhávamos seu rosto, que sentíamos seu cheiro, o coração de nosso corpo batia com força e saúde. Desta vez a batida foi mais acelerada do que seu ritmo embriagado de costume. Ainda não havíamos assistido os três juntos, a sua dança. Ela é realmente uma mulher singular. Não é bruxa, não é Eva, mas absolutamente é endemoniada quando dança.

- Ahlan ua sahlan, Nar, serpente do Nilo!

Embalados pelas lembranças de nossas ultimas noites desejamos aquele corpo como nunca havíamos desejado nenhum outro. Talvez os centímetros que nos separavam durante a dança afrodisíaca fossem indutores a esse louco querer. Ou talvez fossem as imagens sexuais que ainda ressoavam dentro da nossa cabeça. Agora éramos os três, dependentes dela, da outra dimensão que havíamos criado, como se ela fosse água a banhar, a envolver e invadir o corpo em que estávamos. E apesar de ser confuso carregar três pensamentos ao mesmo tempo, agora tínhamos um mesmo norte: Lillu.

Observamos suas curvas provocantes, que agora são o nosso esconderijo. Os pés descalços firmados no solo, em movimentos suaves, fluídicos, sensuais. Percebe-se que é livre; independente ao dançar e uma parte de nós descobriu que não é Eva, falta-lhe algo, talvez a submissão, mas será nosso destino até a morte deste corpo em que estamos.

Descobrimos isto no dia em que ela disse-nos, toda individualista, estar de viagem marcada ao Oriente. Ela, estudante das línguas pátria, tendo o português e o libanês como especialização, havia conseguido finalmente uma bolsa de estudos em Beirute e partiria assim que ficassem prontos seus documentos. Nós, que agora éramos três em um só corpo, não poderíamos deixá-la partir só. Então dissemos sem consenso nenhum, que partiríamos juntos, usando a justificativa de que Selem conhecia a cidade como ninguém.

A testa crispou durante o instante em que Lillu se aproximou das amigas do condomínio. Será que algum dia ela se lembrará de tudo o que aconteceu? Saberá que somos nós três, Selem, Astrid e Astaroth? Porém, ao vê-la retornando nosso corpo sorriu, pois sorrimos os três. Seus músculos esguios do braço aproximaram-se de nossa face, os olhos inteligentes entraram em nossas almas, com toda sua luxúria feminina. Foi então que ainda dançando ela cantou para nós:

- Com Lillu qualquer dia será sexta-feira e qualquer hora meia noite!

Antes que fosse encontrado o corpo em coma da maluca Astrid, Astor teve o cuidado de dar um sumiço definitivo no seu livro de bruxarias. Quando o retirou debaixo do seu corpo desnudo, caído sobre os riscos a giz formando cabalas, percebeu que ele estava totalmente em branco. Separou suas folhas ao meio, confirmando assim que ele não era mais indestrutível, como o demônio o deixara com a ajuda da bruxa. Estava definitivamente acabado o seu domínio sobre o velho outrora agiota. Ficou com a pedra, claro, e a negociou numa casa de penhores. O dinheiro adquirido o possibilitava a viver uma vida abastada. No entanto, ele foi acometido pouco tempo depois de priapismo, uma condição médica geralmente dolorosa e potencialmente danosa na qual o pênis ereto não retorna ao seu estado flácido, apesar da ausência de estimulação física e psicológica. Passaria a viver em tratamento médico constante.

Quanto ao velho livro de bruxarias, agora apartado ao meio e em branco, ainda teria muitas aventuras para contar. Uma parte dele foi encontrada numa estranha loja de vendas de livros usados, com uma velha e surrada capa de couro, inscrito sobre ela em letras douradas: Os Contos de Mona. Mas isso já é outra história que pode ser lida na escrivaninha de Ehros Tomasini, cujo primeiro capítulo traz o título O Livro em Branco...

FIM DA SÉRIE

Escrito por Ehros Tomasini e Diana Aventino.

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Comentários

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Não vou te dar nota alguma desta vez. Por favor, volte para seus contos regulares, este foi muito esquisito. Sem nota.

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Nossa história muito boa deixa qialquer um com muito tesao

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