"Bota pra ferver, no caldeirão do amor; Bota pra ferver, a ilusão e a dor; Bota pra ferver, um rio de lágrimas..." (Bota pra ferver, Asa de Águia).
...
Dirigi meticuloso por diversas vias, sem ter a mínima ideia do destino de César. Tempo não seria um problema, estava disposto a tudo. O trânsito estava fluindo normalmente e logo o percebi sinalizando para entrar em um shopping. Diminuí a velocidade, e acompanhei o seu trajeto. Memorizei a área onde estacionou o carro e parei um pouco mais adiante, feliz por ter achado uma vaga próxima.
Mantinha a distância para que não fosse avistado e me desanimei um pouco pelo espaço estar bem cheio. “Definitivamente, esse não é um bom lugar para interpelar alguém”, concluí. Só me restava esperar e torcer para que ele não demorasse ali. Meu oponente percorreu a praça de alimentação, onde abraçou uma pessoa e sentou para lhe fazer companhia. O homem deveria ter a mesma idade e supus ser um amigo qualquer.
Ambos compraram um sanduíche e aproveitei a ocasião para me abastecer também, sempre atento a tudo. A conversa alheia seguia animada e usei o tempo livre para repassar novamente todas as minhas ideias. Nada poderia dar errado. Nesse intervalo, verifiquei algumas mensagens não lidas no celular. Eram de Gustavo:
- “Oi, caiu da cama? Vi o seu recado, tá tudo bem?”.
Sem retorno, enviou outra algum tempo depois:
- “Você acha que vai demorar muito? Precisava conversar um negócio com você...”.
Fiquei pensando no assunto que seria tratado e cheguei a ficar preocupado, mas ele teria que esperar um pouco:
- “Oi Guga. Tô resolvendo alguns problemas e vou chegar um pouco mais tarde hoje, certo? O que houve, algum problema?” – digitei.
Gustavo deu sequência ao papo virtual quase que de imediato:
- “Não, tá tudo bem. Eu fico te aguardando então. Pode ficar sossegado...”.
Perdurei intrigado, mas logo voltei a focar no meu objetivo quando os amigos se levantaram. Dali, os dois passearam olhando vitrines de lojas e, juntos, caminharam para o posto de validação do estacionamento, onde pagaram e deslocaram-se para a garagem. Apressado, repeti o mesmo processo e, avistando o carro de César, notei que teria uma companhia para atrapalhar o meu dia, já que o assento do passageiro agora estava ocupado. “Droga!”.
Continuei a perseguição silenciosa pelas ruas. Para o meu alívio, meu alvo deixou o colega em sua residência, um edifício nas redondezas do ponto de encontro. Ao menos era o que eu imaginava. Tirava fotos a cada instante, sem saber se colhia pistas preciosas ou momentos fúteis do cotidiano do garoto.
De volta aos trilhos, uma boa oportunidade pareceu surgir quando o veículo parou próximo a uma grande casa, numa rua bem tranquila. Manobrei mais atrás, enquanto ele atravessava a pista para adentrar o recinto. O sol já caía se pondo no horizonte, e decidi que seria ali, quando ele saísse do imóvel, onde daria início ao plano. Não podia mais perder tempo.
Aos poucos, algumas pessoas (todos homens de diferentes idades) repetiam o ritual, sempre olhando para os lados antes de entrar no local, como se não quisessem ser flagradas. “Mas que porra é essa?”, estava curioso sobre o estabelecimento. Peguei os óculos e o celular, guardei a mochila no porta-malas do carro e caminhei para o misterioso domicílio. A explicação já estava estampada na porta do espaço, onde uma discreta placa anunciava uma sauna gay.
Surpreendi-me com o nível de desprendimento do integrante da gangue e, contente com a possibilidade de encontra-lo em um estado mais animado (por assim dizer), toquei o interfone – lendo as instruções de um aviso ao lado do nome. O portão destravou, autorizando o meu acesso a uma recepção. Nunca tinha frequentado um lugar similar e não sabia o que encontraria pela frente.
Um cara musculoso sem camisa me aguardava atrás de um balcão. Atrás dele, um imenso painel destrinchava os serviços e valores. Sem pudores (ou pelo menos tentando), avisei que era a minha primeira vez e ele começou a me explicar o funcionamento da casa. A sauna possuía uma extensa programação, sendo os fins de semana os dias mais concorridos. Os diversos ambientes permitiam uma experiência mais relaxante ou picante, a depender do desejo do cliente. A única regra comum a todos eles era estar pelado, de posse apenas de uma toalha e um par de sandálias que poderiam ser alugados. Todos os outros pertences eram guardados em armários dentro de um vestiário, e as chaves entregues em pulseiras.
Não conseguia acreditar que estava prestes a me meter em um programa daquele tipo, mas persisti. Nada contra os frequentadores, só nunca me imaginei inserido em uma atração visando exclusivamente sexo fácil. Era impossível conceber que alguém estivesse ali apenas para “relaxar”.
Guardei a minha roupa, enrolei a toalha na cintura e deixei os óculos a postos no rosto. Bastava pressionar um botão escondido na armação e ele seria ativado. Tímido, atravessei um salão com um jardim central e comecei a escutar vozes. Algumas sinalizações indicavam a rota das atividades oferecidas. Precisava visitar rapidamente cada uma delas, se não quisesse perder de vista o meu propósito.
“Ele é jovem, não veio aqui só receber um pouco de vapor na cara...”, refleti, escolhendo começar pelos cômodos mais “level hard”. No final, alguns homens mais velhos repousavam ao redor de uma piscina coberta, observando casais que trocavam carícias na água. Sem me intimidar, atravessei a região e subi dois lances de escadas que davam acesso a um novo corredor. Ao longo do trajeto, portas indicavam quartos particulares para quem desejasse mais privacidade, portando anúncios de como proceder se quisesse adquirir um. Não escutei nada que indicasse uma agitação mais expressiva em algum deles.
Decidi não me aventurar no “Dark Room”. Além de não enxergar a sua presença, não queria ser apalpado por desconhecidos. Já bastavam os olhares curiosos e famintos no meu tórax enquanto circulava. Minha empreitada ainda não tivera êxito e me propus a visitar as outras áreas. Subindo mais um andar, me deparei com uma sala com pequenas arquibancadas de madeira nas laterais. A fraca neblina de vapor ressaltava a iluminação vulgar em azul neon. Do lado esquerdo, uma pessoa sentada na última fileira se masturbava apreciando um casal solitário no canto oposto. Apertei os olhos para enxergar melhor e lá estava ele, em pé, fazendo sexo oral com outro jovem agachado à sua frente.
Ensaiei avançar no percurso, mas permaneci estático a poucos metros do ato. De olhos fechados, ele mordia o lábio tentando reprimir o prazer que estava sentindo. Sua mão forçava com astúcia a cabeça que abocanhava a sua pica, como se desejasse querer mais. Quando retomou a visão daquele estranho ambiente, ele me pegou encarando-o.
Fitei-o com determinação, avaliando cada movimento. Em troca, recebi um sorriso sacana, comprovando que ele estava se deleitando com aquela situação. Independente do caráter, era impossível negar a sua beleza. Seu olhar extasiado percorria analisando o meu corpo, fazendo a sua boca carnuda me chamar:
- Quer participar da brincadeira?
“Calma cara, a gente só quer fazer uma brincadeira com você...”, o incidente voltou a me assombrar. Precisava ser frio e levar a situação adiante. Dificilmente uma circunstância melhor surgiria. Tentando não transparecer o nervosismo, andei em sua direção, acionando a câmera nos óculos. Submisso e concentrado na atividade, o seu acompanhante não se importou com a minha presença. César me puxou pela cintura, alisando as minhas costas:
- Quer que ele te chupe também?
- Prefiro exclusividade – o palpitar acelerado do coração quase atropelou a minha fala improvisada.
- Pra ser exclusivo tem que valer a pena – ele desceu a mão pelo meu dorso.
Tinha que aceitar que não era Augusto que estava ali. O meu disfarce fazia parte de algo muito maior, caso contrário já teria partido para a agressão.
- Aí você tem que pagar pra ver – desafiei.
Ele sorriu e logo depois inclinou a cabeça para trás, gemendo:
- Isso, mais rápido... – puxou a cabeça do seu par com rigidez.
Nem preciso dizer que comecei a ficar excitado com o espetáculo voyeur, qualquer ser humano ficaria. Exibido, meu interesse principal alcançou o meu pescoço e puxou-me para um beijo. O volume dos seus lábios era realmente assombroso e parecia engolir a minha boca, caçando a minha língua. Segurei a sua mão, que tentava arrancar a minha toalha a todo custo. Ofegante, ele se desvencilhou do meu corpo, retirou o falo da boca do desconhecido e começou a se masturbar alvoroçado. Segurando com força o cabelo do receptor, gozou arfando alto, sujando o rosto do outro com jatos espessos de esperma. O seu abdome contraía velozmente e eu assistia a tudo sem dizer uma palavra. O jovem ajoelhado parecia cansado e César insistia em lambuzar as últimas gotas do orgasmo na bochecha do garoto, que tentava se limpar com a toalha.
- Beleza, vamos nessa – deu uma última chacoalhada na rola e me puxou pela mão, sem ao menos ajudar o seu parceiro a se levantar.
Entrei na jogada, e saímos da sala azul ainda sem rumo. Precisava pensar rápido num jeito de tirar ele dali, se quisesse colocar em prática tudo o que imaginei. Ainda no corredor, apertou com rispidez o meu bumbum, algo que já estava me irritando:
- Espera, qual o seu nome? – indaguei.
- Diogo – mentiu – E o seu?
- Alessandro.
Fiquei aguardando algum raciocínio de sua parte, mas ele não assimilou a informação com o nome ao qual tinha conversado há alguns dias. Teria que ser o mais direto possível na minha abordagem.
- Parece que alguém ficou bem animado com o que viu – disse olhando para o volume formado sob a minha toalha – Quer tomar uma ducha comigo?
Concordei, ainda sem encontrar uma solução na mente. Atrás dos lockers, diversos chuveiros contornavam um espaço aberto com alguns assentos no meio, onde os indivíduos deixavam as vestimentas enquanto se banhavam. Escorados na parede, dois homens gemiam despudoradamente durante o coito, sem se incomodar com a nossa presença. “Ele não vai sair daqui sem transar, você precisa atiçar ele...”, disse a mim mesmo.
Meu adversário abriu a torneira e ficou me esperando. Respirei fundo e me livrei do tecido que me cobria, deixando-o em cima do balcão. Acerquei-me ao seu encontro, enquanto ele analisava com admiração o meu membro endurecido. Unimo-nos em um novo beijo, deixando a água molhar os nossos rostos. Ansioso, ele me virou, abraçando-me por trás. Era visivelmente mais alto que ele, e o seu pau não tinha contato por completo com as minhas nádegas, obrigando-o a elevar os pés para se esfregar nas minhas polpas. Ri em pensamento do seu desespero em me alcançar.
- Que bundinha deliciosa você tem... – ele mordiscava a minha lombar – Abre ela pra mim? – pediu dissimulado.
O resvalar do seu pênis na minha coxa estava começando a me importunar. Resolvi apostar mais alto:
- Diogo... – girei para afronta-lo – Eu nunca fiz isso.
- Você é virgem? – seus olhos se arregalaram.
Levei as suas mãos ao meu derrière, reforçando a ideia:
- Aqui sim.
Seu semblante se equiparava a uma criança ganhando um pirulito. Uma chance única se abriu, e ele parecia estar disposto a tudo:
- Eu prometo que faço com jeitinho.
- Não é isso... – relutei – É esse clima daqui. Tenho vergonha, não vou conseguir assim.
- Eu pego um quarto lá em cima pra gente, você vai gostar.
- Eu acho meio nojento – insisti – Desculpe, talvez seja melhor eu ir embora, não sei por que eu vim aqui.
Afastei-me da água, deixando-o pensativo. Continuei de costas e comecei a me enxugar lentamente, dando especial atenção à retaguarda ainda exposta ao meu algoz. Prestes a me distanciar, escutei uma última cartada:
- Eu tenho um lugar pra gente ir – alardeou me alcançando – Aí a gente pode ter mais intimidade, o que acha?
Suspirei aliviado. Era a hora do tudo ou nada.
...
Já tinha escurecido e César pediu para eu seguir o seu carro, sem suspeitar que eu já estivesse fazendo isso durante boa parte do dia. Inacreditavelmente, começamos a nos aproximar do seu prédio. Imaginava que iríamos a um motel ou um beco deserto, nunca cogitei estar na toca do leão. “Parece que alguém tirou a sorte grande...”, celebrei. Na entrada, apertou um interfone ao lado da garagem e conversou brevemente com o porteiro, solicitando a minha liberação.
Subimos uma rampa e, com a mão para fora da janela, indicou onde eu deveria parar. Peguei minha mochila, tranquei o veículo e entramos no elevador.
- Você mora aqui? – indaguei já sabendo a resposta.
- Com os meus pais, mas fica tranquilo, eles estão viajando.
“Que tipo de pessoa leva um desconhecido para casa no primeiro encontro?”, avaliei a ingenuidade dele, duvidando que ele estivesse mesmo sozinho. Mas estava. Desconfiei de outras pretensões da sua parte. O apartamento era enorme, com uma sala bastante ampla. Algumas fotos no aparador atrás de um sofá denotava que era filho único.
- Quer beber alguma coisa? – se mostrou receptivo.
“É sua, trouxe pra você”, relembrei a sua estratégia com a cerveja dentro do bloco.
- Não, valeu – agradeci prevenido.
- Vamos lá pro quarto então, é mais sossegado.
Caminhei acompanhando-o e logo estávamos em um cômodo também espaçoso. Olhei de soslaio uma escrivaninha e um criado-mudo ao lado da cama, analisando como deixar tudo preparado.
- Posso ir no banheiro rapidinho? – pedi gentilmente.
- Claro, fica ali ao lado do guarda-roupa – apontou.
Entrei rapidamente, sem esconder a ansiedade. Troquei o cartão de memória dos óculos para não correr o risco de ter a gravação interrompida e liguei a câmera dentro da bagagem. “É melhor deixar na escrivaninha”, deduzi. Olhei-me no espelho, encarando sério o reflexo. “Você vai até o fim”, me ordenei.
Voltei ao aposento e, como o planejado, deixei a mochila na mesa, apontando para a direção certa. Afoito, o antagonista já me esperava na cama, só de cueca. Tentava raciocinar com agilidade. Estava na casa dele e esse trunfo poderia me render dados mais úteis:
- Estou sem crédito para ligações e preciso avisar à minha mãe que vou chegar mais tarde – prossegui – Desculpa perguntar, mas tem wi-fi aqui?
- Claro, tem sim – ele não se preocupou com o pedido inofensivo.
Após encontrar a rede e digitar a senha ditada por ele, acionei um programa salvo no celular para rastrear o IP que estava sendo utilizado no endereço. Deixei o aparelho ao lado do equipamento, completando a operação. Estava tudo dando tão certo, que receei ser surpreendido por algum contratempo a qualquer momento.
- Tira a roupa, vem cá – ele pediu sem nenhuma sutileza.
Com calma, comecei a me despir, notando com mais clareza alguns detalhes do seu corpo. César tinha os braços mais definidos e poucos pelos no abdome trabalhado, ao contrário das coxas torneadas. Seu olhar parecia querer me devorar a qualquer preço.
Prestes a me livrar da última peça, ele me reprimiu:
- Espera, tira a cueca devagar, de costas pra mim...
“Filho da puta...”, resmunguei em silêncio, aceitando a pose reveladora.
- Caralho, você tem uma bunda linda... – escutei o espanto, completando a solicitação.
- Você já deu pra algum cara? – perguntei curioso.
- Não, não curto, só meto – seu linguajar realçava um estilo mais truculento - Mas sua primeira vez será inesquecível, eu garanto.
- É, a sua também – sorri.
- Eu não sou mais virgem – disse com um ar de desdém, tirando a sua cueca – Vem, me chupa um pouco.
- Só mais uma coisa – pedi, voltando à minha sacola.
Tinha descartado contar a história da nossa conversa virtual e do encontro frustrado pela minha ausência. Retirei um nécessaire e já deixei alguns itens a postos, ainda sem saber se chegaria a utiliza-los. Em seguida, deixei as algemas e o distintivo visíveis. O espetáculo estava prestes a começar.
- Cara, minha pica tá babando. Vem logo – rogou alisando o órgão.
- Tudo em seu tempo César, calminha... – comecei a colocar a minha personalidade a prova.
- Como é? – disse surpreso - De onde você tirou esse nome?
- Vamos dizer que eu sei muito mais do que você imagina.
- Mas que porra é essa? – ele levantou-se em tom agressivo, partindo para cima de mim – Saia da minha casa agora!
Antes que ele chegasse às via de fato, segurei os seus punhos, empurrando-o na cama:
- Cala a boca e fica aí quieto!
- Eu vou chamar a polícia e a segurança do prédio – se apressou em alcançar a porta.
- Ela já está aqui – mostrei a insígnia metalizada – Polícia Federal, mais precisamente. Se eu fosse você, não dava mais um passo e facilitava a minha vida...
Ele arregalou os olhos, sentando na cama assustado.
- Quem é você?
- O seu maior pesadelo.
- Que merda é essa? – ele ainda não ligava os pontos.
- Se você resmungar mais alguma coisa, nem vou te dar escolha.
- Do que você tá falando?
- Tô com um mandado de prisão aqui e um carro esperando aí embaixo pra te levar – blefei.
- Eu não fiz nada – disse nervoso, beirando a histeria – Eu vou ligar pra meu pai, vou chamar um advogado.
- Fica quieto, ou posso te algemar agora e você fazer a sua ligação da delegacia – exibi o instrumento com as mãos – Já tem muito tempo que estamos te investigando. Sabemos das suas viagens, dos negócios do seu pai, onde você estuda, com quem anda... E temos provas suficientes do seu envolvimento em casos de estupro, violência e uso de drogas.
César estava atônito, sem saber o que dizer.
- Fui autorizado a fazer uma negociação com você. Já ouviu falar em delação premiada? – o pânico instaurado não permitiu uma resposta da sua parte – Não? Tudo bem, eu explico. Você responde tudo o que eu preciso saber e em troca continua solto. Legal, né?
O olhar perdido parecia estudar as vantagens da proposta:
- Pelo amor de deus, eu juro que não fiz nada – sua voz saía trêmula e eu começava a me divertir com a situação.
- Não me faça perder a paciência. Eu sei o que aconteceu, e o seu depoimento vai comprovar os fatos. Vai responder ou não? – fui incisivo.
Ele parecia resistir, acuado na cama, totalmente pelado. A ereção já tinha ficado no passado. Peguei as algemas e me aproximei com uma cara de poucos amigos.
- Eu respondo, eu respondo! – disse desesperado – Faço o que você quiser, mas não me prenda.
Pela primeira vez, senti um medo genuíno no seu semblante.
- Preste atenção. Eu vou saber se você estiver mentindo. Sugiro que colabore, porque se tentar me enganar, vai sofrer.
- Eu não sei do que você tá falando, mas vou ajudar – ensaiou uma inocência.
“Ele vai negar até a morte”, pensei, “Seja mais ameaçador...”.
- Beleza, fica de quatro na cama.
Seu rosto levantou subitamente, boquiaberto:
- Você não pode fazer isso!
- Pense que sua delação será duplamente premiada. Além de falar, vai se divertir também.
- Cara, não faz isso, não precisa disso – por pouco ele não gagueja uma súplica.
- Aceite os meus termos ou espere um julgamento na penitenciária. O senhor Alberto não vai fica muito contente em ver o filho atrás das grades – resgatei o nome memorizado do dono do veículo – E aí, como faremos?
- Mas eu falei...
- Não teste a minha benevolência, garoto – cortei a sua fala - Eu não vou repetir.
Humilhado, César engatinhou para o centro da cama. Ordenei que viesse para a beirada, englobando o alcance da câmera na mochila. Ele obedeceu. Aquela posição acendeu alguns sinais abaixo da minha cintura, com os quais não podia lutar.
“Bate com ela na cara dele então, pra ele parar de se debater...”.
“Gosta disso, né? De uma boa surra de pica...”.
Os flashes daquele obscuro dia chegavam sem pedir permissão. Coloquei-me à sua frente, segurando-o pelo queixo para que olhasse o meu membro em riste.
- Tá vendo isso aqui? Grande né? Isso é o que você vai ter que aguentar se mentir pra mim.
Segurando a base, golpeei a sua face algumas vezes, fazendo-o apertar os olhos e travar a boca. A sensação de domínio aflorava cada vez mais, elevando a minha excitação. Eu não deveria, mas estava me deleitando com o pavor estampado na sua cara. Peguei a camisinha e encapei meu pau de uma maneira que o obrigasse a visualizar o que teria que enfrentar.
- Vamos começar.
Dei a volta na cama, puxando-o ainda mais para a margem do móvel. Alcancei um lubrificante no meu “kit vingança” e inclinei derramando uma fina dose. Não vou mentir, aquela bunda escancarada para mim, com uma leve penugem e curvas apetitosas, me enchia de tesão, mas precisava manter o controle. Os braços de César estremeceram. Seu botão totalmente fechado não escondia a verdade acerca da sua falta de experiência naquele campo.
- O nome Alexandre é familiar para você? – passei o dedo na sua entrada, espalhando o óleo.
- Ele... – ponderou por um instante – Eu tenho um colega com esse nome.
- É só um colega? – parei o dedo indicador no centro, fazendo uma leve pressão.
- Não... – titubeou - Somos amigos de infância.
- Quem mais faz parte?
- Parte do que?
- Não me faça de idiota, moleque. É o último aviso – alertei - Estou falando do esquema de vocês.
Ele permaneceu em silêncio, enquanto eu revirava os olhos.
- Júlio, sim ou não? – inqueri impaciente.
- Sim – sussurrou.
- Cláudio, sim ou não?
- Sim.
- Adriano, sim ou não? – batia com o pau nas suas polpas, cada vez que ele vacilava.
- Sim.
- Tem mais alguém além de vocês?
Ele avaliava os riscos de uma falsa réplica.
- Tem mais alguém além de vocês? – elevei o tom da voz.
- Não, juro que não tem.
- Quantas pessoas vocês já estupraram?
- Eu nunca estuprei...
Antes de concluir, tentei dar uma leve estocada, fazendo-o se jogar na cama em reação imediata.
- Não faz isso, pelo amor de deus – implorava.
- Deita mais uma vez, e o seu castigo será muito maior, não me desafie.
Puxei a cintura dele, fazendo-o voltar à posição original.
- Quantas? Eu quero um número.
- Por favor, não faz isso...
Encostei a cabeça na sua abertura mais uma vez, ameaçando.
- Cinco! – se apressou – Eu acho que foram cinco!
- Você tem ideia de quanto tempo você e cada um dos seus amigos pode ficar preso por causa disso?
- Ninguém foi obrigado a nada, eu juro! Todo mundo queria.
Possesso, enfiei de uma vez, forçando-o contra mim. César deu um grito, desesperado. Segurei com força as suas coxas para que não escapasse. Já não escondia o quão transtornado eu estava.
- Tira, pelo amor de deus, tira!
- Eu não estou te obrigando a nada, certo? Você tem escolha, está fazendo isso porque quer.
Seu ânus se contraía repetidas vezes em apelo, provavelmente piorando a sensação de desconforto para ele.
- Quanto mais você relaxar e colaborar, mais rápido encerraremos – retomei sem pena – Onde foram os atos?
Sentia meus pelos púbicos arranharem a sua pele. Permanecia enterrado nele. Meu inimigo choramingava, receoso com o rumo do interrogatório.
- Como assim? Eu não lembro...
Investi mais duas estocadas, arrancando mais gritos suplicantes da sua boca.
- Imagina quando papai voltar e a vizinhança falar que escutou o filhinho dele gritando e gemendo sem parar... Vai dizer o que? - disse apertando a sua bunda com vontade - Eu tenho a noite toda, acredite. Faz muito tempo que não gozo comendo um cuzinho assim.
Após um breve minuto calado, César percebeu que não tinha para onde fugir, e começou a se abrir.
- O primeiro foi numa festa da turma antiga do Alexandre. Os dois seguintes em eventos da faculdade. O quarto, numa micareta no Rio Grande do Norte. O quinto em Salvador, no carnaval...
Lembrei de Eduardo na mesma hora. “Ele se safou, afinal”, pensei. O esquema da gangue era antigo, pela resposta praguejada de forma sofrida.
- Mas eu não participei de todos, acho que só Alexandre.
- Não tente se justificar para mim, isso não vai diminuir a sua culpa.
Ele voltou a ficar quieto. Os seus braços e pernas bambeavam na cama, esforçando-se para ficarem retos. Meu pau estava pulsando dentro do orifício apertado que se submetia a mim. Estava tentando me controlar ao máximo, precisava sugar tudo dele.
- Como funciona o esquema? – inqueri.
- Não tem nenhum esquema...
Soquei novamente, já perdendo a paciência. A investida foi tão forte, que chegou a ecoar um som alto dos nossos quadris se chocando. Em agonia, César inclinou o corpo e enterrou o rosto no lençol, mantendo apenas a anca elevada.
- Sabia que quem não tem diploma fica numa cela comum na prisão? – divaguei - Já pensou o que é ficar recluso com um monte de gente perigosa, correndo o risco de ser esfaqueado ou currado pelos caras que estão doidos por uma carne nova que nem essa?
- Já disse, não tem esquema nenhum! – a sua voz era abafada pelo colchão.
- Então vocês combinam por telepatia... Sei como é isso – disse com ironia, iniciando um ritmo mais preciso na penetração – Tá ficando bom isso aqui.
Ele se manteve estático, apertando com força o lençol. Resolvi continuar com a tortura psicológica, que parecia funcionar mais do que a física.
- Voltando ao assunto, tem também a vergonha de ter a cara estampada nos jornais, né? Aí a família cai em desgraça, você é deserdado...
- Tem um grupo no celular! – ele interrompeu – A gente se fala pelo celular. Alguém dá a ideia e todos pensam nas possibilidades que podem rolar.
- Hum, entendi. Whatsapp?
- É. Tá satisfeito?
- Não. Quando é o próximo encontro?
- Não tem próximo.
Acelerei as estocadas, já admitindo um tesão indescritível por estar preenchendo totalmente aquele buraco quente.
- Não tem próximo! – insistiu, gritando.
- Prove – falei ofegante.
- Olhe no meu telefone se quiser!
“Boa ideia”, um pingo de lucidez atravessou a loucura que estava praticando naquele momento. Mas na mesma velocidade que chegou, se foi. O bom mocismo desapareceu em definitivo.
- Agora sim estamos falando a mesma língua – segurei a sua cintura com mais força.
- Pronto, agora tira isso de mim...
- Não é você quem dá as ordens por aqui. Garanto que outras cinco pessoas também não tiveram os seus pedidos atendidos, certo?
- Não foi assim, cara – ele não escondia as caretas de dor.
- Ah não? Foi com jeitinho? – comecei a enfiar mais lentamente – Assim fica mais gostoso, né? Dá até pra curtir.
- Para, por favor.
- Vou ser gente boa com você e te dar a chance de aproveitar a foda. Mostra pra mim que está gostando também, bate uma aí.
- Eu não quero...
“Você vai ver o quanto é gostoso, ainda vai pedir mais...”, a voz de Alexandre assoprava no meu ouvido, incentivando-me.
- Achei que você fosse ajudar. É assim que você me agradece por meter no seu rabo e te livrar da cadeia? Bate uma punheta, agora!
Timidamente, ele segurou a pica e começou um lento manuseio, enquanto me contorcia para invadir o seu interior. Estava suado, irritado e irreconhecível. Lembrei-me de um episódio ocorrido há alguns anos e embrenhava-me com força. Auxiliado pelo lubrificante, escorregava com facilidade, propiciando uma velocidade mais excitante.
O ato prosseguiu em total silêncio. Apenas as nossas respirações fortes reinavam no recinto. Fui domado pelos piores instintos, minha mente era banhada por todo tipo de sentimento negativo. Não se tratava de sexo, era uma fúria animal. Segurando os seus ombros, acelerei os movimentos, que produziam ondas na pele a cada impacto e sons que se uniam a alguns gemidos escapulidos, enquanto César seguia se masturbando. Arfando, meti uma última vez com vigor, e a ejaculação fez o meu pênis pulsar freneticamente, enquanto meu corpo extravasava uma potente descarga de adrenalina.
Queria me deitar, tamanha sensação de exaustão, mas precisava permanecer atento a cada gesto do meu oponente. A rápida fricção proporcionada pela velocidade do braço logo fez o seu cu se contrair com força no meu membro, piscando sem parar. Ele queria se livrar do martírio o quanto antes. Sem cerimônias, o interrogado atingiu o orgasmo. Não tive nenhum cuidado ou precaução ao retirar o meu pau de uma vez, expondo a camisinha cheia de esperma e uma grande vermelhidão ao redor do seu ânus lacerado. Rebaixado, ele repousou o corpo na cama.
Tirei o preservativo, dei um nó e entreguei para ele, ordenando que jogasse fora naquele exato instante. A sua face transmitia um semblante de derrota, fraquejando a caminho do banheiro. Aproveitei a sua breve ausência e me vesti. César retornou cabisbaixo, ainda nu, e pedi que sentasse na cama.
- Preste bem atenção – inclinei-me para encarar o seu rosto - Eu tenho como provar cada passo do seu grupinho – menti – Eu não vou te indiciar, ainda não. Você só vai salvar a sua pele depois que me fornecer todas as informações que eu preciso, entendeu?
Ele assentiu. Pedi o celular e ele desbloqueou o aparelho na minha frente, indicando onde encontraria a conversa. Deslizei rapidamente a tela e verifiquei que ele falava a verdade.
- Você vai agir normalmente, como se nada tivesse acontecido. Vou salvar o número do meu telefone e, diariamente, você vai me mandar o histórico desse diálogo – disse seriamente fitando-o – Repetindo, diariamente! Se você esquecer, desistir, excluir, ou falar qualquer coisa para algum deles, a polícia vai aparecer aqui na sua porta na mesma hora. Estamos combinados?
Novamente, ele concordou. Liguei para o meu número (o do falso perfil, no caso) e salvei na lista de contatos. Iniciei uma conversa virtual particular e entreguei a ele:
- Anda, já pode começar me enviando o de hoje.
Ele parecia nervoso, mas expliquei como proceder, passando todas as instruções. Enquanto completava a tarefa, peguei o meu outro aparelho móvel, que já tinha registrado o IP da residência. Agora seria mais fácil acessar os e-mails e dados pessoais, sem que ele soubesse da intenção. Uma notificação revelava que ele tinha feito o dever de casa.
- Ótimo. Todos os dias, onze da noite, não importa o que vocês conversarem. Se eu te ligar, independente do que esteja fazendo, atenda. E nunca retorne nenhuma ligação minha.
- Tudo bem – permanecia imóvel no quarto.
- Faça tudo direitinho e eu te libero – coloquei a mochila nas costas após a missão cumprida – E sobre o que rolou aqui hoje... Espero que você tenha aprendido a lição. As pessoas que caíram no joguinho cretino de vocês sentiram uma dor muito pior, nunca se esqueça disso.
Abri a porta do quarto e me retirei. No elevador notei que as minhas mãos estavam tremendo. Entrei no carro e manobrei depressa pela garagem. Queria sair dali o mais rápido possível. Acelerei desorientado pelas ruas sem perceber que já estava tarde, estarrecido com os últimos acontecimentos.
Cheguei ao apartamento nervoso, caçando uma garrafa de uísque na sala. Uma luz se acendeu e me assustei com a presença de Gustavo, que trajava um moletom folgado e uma camisa cuja estampa reforçava: “Gentileza gera gentileza”. Esfregando os olhos como se tivesse acabado de acordar, questionou:
- Cara, você tá bem? Aconteceu alguma coisa?
- Agora não... – peguei um copo e caminhei apressado para o quarto.
- Já tava ficando preocupado...
- Gustavo, agora não! – interrompi furioso.
Tranquei-me no quarto e joguei a mochila na cama, bebendo um gole do destilado. Confuso, me despi e fui para o banheiro. Parei esbaforido em frente ao espelho, afrontando o reflexo. Não tinha ideia de quem era aquela pessoa, apenas não era eu.
- Que merda foi que você fez? – pensei em voz alta.
As trevas começaram a pairar sobre mim, sem que soubesse avaliar a gravidade do fato.
(continua)
...
Oi pessoal! Que difícil foi escrever esse capítulo! Sabia que ele seria um divisor de águas na história e com certeza agiria de uma forma diferente, mas precisava me manter firme aos propósitos dos atos de Augusto e a sua forma de pensar. Bom, daqui pra frente teremos uma longa jornada de redescoberta e torço muito para que vocês curtam o desenrolar dos fatos (rs). Dioguinho2015, obrigado pelo elogio! Irish, fico muito feliz por isso! A vingança já está rolando, resta lidar com as consequências! Jeff08, que bom que curtiu o conto anterior! Já não jogo vôlei com a mesma frequência, mas sempre que posso reúno a turma para uma partida! Trager, esse era um capítulo para ser publicado na quarta (ia ser o pipoco do São João, hehehe), mas estava muito, muito pesado! Achei melhor deixa-lo quieto por alguns dias e revisa-lo com mais calma :)! Plutão, será mesmo (ahahahaha)! Drica Telles (VCMEDS), o ruivo também manda beijos. Olha, vou te adiantar que daqui pra frente é só complicação. Prende a respiração e vamos nessa!