Acordei no meio da madrugada, eu estava assustado, aquela não era minha cela e nem minha cama, alguém desceu da parte de cima e colocou a mão em meu rosto
- calma, esta tudo bem, você esta comigo agora
era a voz de Edgard, seu toque era suave e tranquilizador
- o que eu estou fazendo aqui ?
- eu consegui que você viesse para minha cela a partir de agora vai ser sua cela também
- onde esta o Vinicius ? - perguntei preocupado
- não pense nisso agora Lucas, apenas tente dormir esta bem ?! - ele me deitou devagar na cama e me deu um beijo na testa, eu estava muito exaltado, não tinha condições de eu me manter deitado logo eu já estava sentado na cama novamente
- Edgard por favor me diga se ele esta bem ? - insisti
- Lucas, ele esta morto !
- morto ? Isso significa que eu realmente matei ele ? - meus olhos se encheram de lagrimas e eu não consegui conte-las
- você não o matou Lucas, Pablo sim - ele tentava me confortar
- afinal, quem eram aqueles homens ?
- eram da mesma cela que Vinicius, o fim que Vinicius teve já era esperado por todos dentro do presidio, ele vivia apanhando e muitas vezes nem conseguia andar
- mas por que ninguém nunca fez nada para ajuda-lo ? - perguntei confuso
- temos uma regra aqui na cadeia: se você esta protegendo alguém ou tendo relações com esta pessoa nenhum outro prisioneiro pode tentar ficar com essa pessoa, o protegido passa a ser somente do protetor e se a regra for quebrada então é direito do protetor reivindicar uma briga, e eu já tenho duas lutas para reivindicar, não vou deixar nada barato
Neste momento pensei em Rodrigo, Edgard reivindicaria uma luta com ele ?
- Edgard, de quem você esta falando ? - eu temia a resposta
- não se faça de desentendido Lucas, isso não combina com você
Aquilo me deu uma pontada de raiva e ao mesmo tempo de medo e vergonha
- tente descansar, o sinal ira tocar em poucas horas - Edgard subiu a sua cama de volta e ficou em silencio, eu não conseguia parar de pensar em Vinicius, a cena dele caído no chão ensangüentado ocupava toda minha cabeça
No horário da refeição sai de minha cela e espiei o local onde Vinicius estava estirado, ainda havia marcas de sangue seco eu não podia acreditar que aquilo havia acontecido, a contagem teve inicio e eu só conseguia olhar para aquele local miserável ate mesmo seguindo para o refeitório eu só olhava aquele maldito lugar
- ei, esta melhor ? - Henrique passou o braço pela minhas costas, seus olhos estavam vermelhos, ele também deve te sentido muito a perda do amigo
- acho que sim - tentei não demostrar muito o quanto eu estava chocado
- eu observei você quando foi levado para a mesa de Gregory garoto - disse Joao surgindo ao lado de Henrique - foi uma atitude muito corajosa
Eu não sabia se eu havia feito certo, não estava orgulhoso de mim mesmo, peguei um prato de comida mas não comi, nem sequer me dei ao trabalho de olhar o que era, olhei para a mesa de Gregory e não encontrei Pablo, estavam apenas ele, Naim e um garoto que parecia assustado, o filho da mãe já havia achado um para substituir Vinicius, quanto a Pablo devia estar na solitária, fiquei sentado todo o tempo até que enfim o sinal de trabalho soou, me levantei para ir ate a lavanderia mas Edgard me puxou
- você não trabalha mais na lavanderia - disse passando o braço pela minha cintura e me encaminhando para outra direção - agora trabalha na cozinha, um emprego bem mais leve e menos cansativo
- isso é ótimo, obrigado - respondi um tanto cabisbaixo tentando parecer mais entusiasmado
- eu vou lhe ensinar tudo o que precisar saber esta bem - ele beijou minha testa enquanto andávamos
Edgard me ajudou a fazer o macarrão e a salada de maionese o restante foi outros presidiários que se encarregaram de fazer, quando terminamos a comida fiquei sentado em uma cadeira comendo meu almoço adiantado
- você terá de levantar as 05h00 para que quando os presidiários levantem a comida já esteja pronta pode ser ?
- claro, sem problemas
- então beleza fique aqui, vou resolver uns problemas
Edgard se levantou e saiu da cozinha, neste momento me lembrei que talvez ele podia estar indo atras de Rodrigo, sai da cadeira em um pulo e fui seguindo ele a uma distancia considerável, mas ele não seguia para a lavanderia e sim para um caminho que eu jamais tinha passado, chegamos então a um campo onde se encontrava uma plantação de tamanho mediana, deduzi que era dali de onde vinha a comida que era preparada na cozinha, havia vários detentos trabalhando, plantando, colhendo e regando sob a supervisão de vários guardas, de longe avistei Henrique e Joao juntos com uma bacia nas mãos colhendo cenouras, Edgard foi pra perto de um policial e parecia negociar algo com o mesmo, os dois caminharam juntos em direção a um presidiário que estava agachado plantando e mandaram que ele se levantasse, aquele era Gregory, os três passaram a vir em minha direção então corri e entrei em uma sala qualquer, o local parecia ser um vestiário de policiais com diversos guarda-roupas de ferro parecidos com aqueles de faculdade, bancos de madeira, um bebedouro e um banheiro mais no fundo, abri uma brecha da porta para ver o que acontecia, Edgard, o policial e Gregory passaram para um corredor vazio, o policial abriu uma porta dando passagem para os dois entrarem e a fechou ficando de vigia do lado de fora, um longo tempo depois Edgard saiu e deu um instante de palavra com o policial depois seguiu voltando para a cozinha o policial entrou dentro do local e trouxe Gregory pelo colarinho para o campo de agricultura novamente, Gregory parecia acabado, totalmente machucado, os dois haviam brigado dentro daquele local e claramente Edgard saiu vitorioso. Quando a passagem já estava livre eu sai e voltei para a cozinha como se não soubesse de nada
- por onde andava ? - Edgard agia naturalmente
- eu tinha ido no banheiro da minha cela, estava muito apertado - acho que não fui muito convincente
- mas por que não usou o banheiro daqui ?
- ah, desculpa, eu não sabia que... aqui tinha um banheiro - minhas mãos estavam tremendo, passei por ele e fui sentar na minha cadeira
- espera um pouco - me virei para ele - como os guardas deixaram que você entrasse em sua cela ? Normalmente eles costumam nos barrar e as vezes ate mesmo nos agredir, depois que saímos das celas só podemos voltar quando da o sinal !
- eu... eu... eu não vi nenhum guarda lá, acho que... que eles devem ter saído um pouco para conversar
- entendo, são todos preguiçosos e arrogantes, vivem fugindo do trabalho - ele se aproximou um pouco e pegou em minhas mãos - você esta bem Lucas ? Esta tremendo parece assustado
- ah... Não, eu estou bem, só com um pouco de frio - dei um sorriso para disfarçar quando ouço o sinal, era hora de descer ao pátio
- vai pro pátio, vou ficar aqui para vigiar o fogo
- sim - me apressei em descer para o pátio antes que ele percebesse algo
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No momento é só galera, obrigado a todos que estão acompanhando e comentando, são vocês que me incentivam a continuar a escrever, espero que gostem Marcos Costas, CintiaCenteno, BDSP, Ale.blm, Esperança, Ru/Ruanito, LipM, Prireis822, M/A, Binho_20, Tozzi, PraQueNome, Humberto_, Lipe*-* e todos que acompanham