Parte 1
1. (Liz narrando)
Eu já estava atrasada e minha mãe ainda estava se maquiando. Eu odiava quando ela fazia isso. Acordava-me dizendo que já estava pronta e quando eu levantava, ela nem banho haviam tomado ainda. Mas essa é minha mãe, ela sempre fez isso e eu não sei como ainda caio nessas conversinhas dela… Minha mãe é a mulher mais linda desse mundo, não sei por que ela se arruma tanto se não precisa dessas coisas. Acho mesmo que quem precisava dessas maquiagens toda era eu e não ela. Para mim a única coisa que consegui herdar de minha mãe foram os olhos, mesmo todos me falado que sou sua copia quase perfeita.
Enzo: Liz voxê vai memu comigo lá no paqui no sabadu? – Disse meio embolado, meu pequeno irmão que tinha acabado de fazer quarto anos.
Liz: Deixe de ser chato Enzo, você sabe muito bem que quando eu digo que vou é porque eu vou.
Enzo: Ah masi sei lá né? A mamãe sempi diz que vai levar eu nos lugales, masi sempi deixa eu na mão. – Fez bico cruzando os braços em seguida.
Eu ri do jeitinho que ele falou e o abracei de leve. Meu irmão ainda fala meio errado, mas mesmo assim é muito esperto.
Liz: Você sabe que eu não sou igual à mamãe Enzo, você sabe que sou uma menina de palavra! – Sorri para ele.
Enzo: É sim, e é a melhó imã do mundo – Me abraçou meio desajeitado.
Liz: E você o melhor irmãozinho. – Dei um beijo em sua cabeça.
O telefone tocou e lá do quarto minha mãe berrou.
Anahí: Liz se for para mim, diz que já sai! – Berrando.
Atendi ao telefone sem nenhuma vontade e para minha grande surpresa era para mim. Coisa que dificilmente acontecia, ainda mais o telefone de casa.
Liz: Alo!
Sophia: Cadê você Liz Puente?
Liz: Ai amor, sabe como é né?! Minha mãe esta terminando de se arrumar. – Fiz uma pequena pausa. – Porque não ligou para o meu celular?
Sophia: Isso não vem ao caso, mas você precisa vir logo, Juan esta aos prantos aqui!
Liz: Ai meu Deus, mande-o se acalmar que ele também sabe perfeitamente como a estrela Anahí é. Não tem como eu fazer ela se apressar, tento fazer isso há anos e não consigo.
Nesse momento minha mãe apareceu na sala toda apressada, já abrindo a porta e me apressando como se eu que estivesse atrasado tudo.
Anahí: Vamos Liz vamos, já estamos super atrasadas, desliga logo esse telefone. – Com a porta aberta e de mãos dadas com Enzo.
Liz: Calma mãe!
Sophia: Ótimo, a estrela esta pronta! – disse ela do outro lado da linha – Venha o mais rápido possível, beijos, te amo, até daqui a pouco – Disse tudo com muita rapidez e desligou sem nem deixar eu dar tchau.
Eu desliguei o telefone e respirei fundo. Eu amo minha mãe mais que tudo nesse mundo, mas sinceramente às vezes preferia que ela fosse diferente… Primeiro deixamos o Enzo na escolinha e depois fomos direto para a Televisa. Por um lado é bom ter minha mãe trabalhando no mesmo lugar que eu, sempre tem uma carona prontinha para me levar, mas por outro é péssimo, não tenho liberdade e minha mãe demora anos para se arrumar. Mas faz parte né?! Se eu nasci filha de quem sou, algum motivo deve ter. Chegamos a televisa e minha mãe estacionou próximo ao portão principal. Eu desci praticamente correndo para poder chegar o mais rápido possível à gravação, mas minha querida mãe me interrompeu.
Anahí: Liz! – Ela disse saindo do carro e o trancando.
Sophia: Fala mãe. – Dei meia volta a olhando.
Anahí: Se for sair com a Sophia depois da gravação me ligue ok?! Você ainda tem mãe e ainda me deve satisfação. – Vindo na minha direção.
Liz: Ok mamãe, você sabe que eu sempre aviso.
Anahí: Mas ontem você não avisou e eu fiquei super preocupada.
Liz: Sim mãe, e eu já lhe pedi desculpas e já falamos sobre isso. Mas agora eu to indo porque estou super atrasada, o Juan vai me queimar viva se eu demorar mais um pouco. – Dei um beijo em seu rosto e disparei Televisa adentro.
É incrível como todo mundo naquele lugar me conhece, até as pessoas que eu não conheço falam comigo como se fossem meus íntimos, sempre achei isso muito engraçado. Eu estava há uma hora e meio atrasada, não é para menos que o Juan assim que me viu já começou a berrar.
Juan: Liz, porque você faz isso comigo garota?! – Me puxando para sentar na cadeira do maquiador.
– Eu já te disse quantas vezes que não posso ficar assim as suas ordens esperando você aparecer! Já se passaram duas horas e a minha equipe esta ai toda parada por sua causa!
Liz: Me desculpa Juan, mas você sabe como é a minha mãe, todos aqui sabem – Fiz uma pausa para o maquiador passar um pouco de pó em meu rosto. – Juro para você que a parti de hoje quando a gravação for pela manhã eu venho sozinha de taxi!
Juan: Então estamos combinados, não quero mais um atraso seu mocinha. – Saiu de perto de mim ainda falando coisas, que por sinal não fiz o menor esforço para entender.
Meu maquiador terminou de me arrumar e logo fui trocar de roupa, as cenas de hoje iriam ser apenas comigo e com Sophia. Nesse seriado eu e Sophia somos como melhores amigas e ao mesmo tempo piores inimigas. É engraçado o jeito que nossos personagens se relacionam… Sempre achei Sophia mais bonita que eu, mas eu sou um pouco suspeita para falar dela né?! Sophia sempre foi a que me defendia quando alguém me chateava, e era ela quem enfrentava os mais velhos quando eles estavam errados e eu certa. Digamos que ela tinha mais coragem que eu quando o assunto era pessoas desconhecidas, já eu era a mente maligna dos planos que fazíamos, eu bolava tudo e ela fazia com a maior naturalidade, digamos que eu sou a ‘má influencia’. Mas eu aprendi muito com ela e podemos dizer que de uns tempos para cá eu tenho me virado muito bem sozinha. Já faz tempo que ela não me defende de alguma coisa, juro que estou até sentindo falta.
Sophia: No mundo da lua de novo GG? – Disse chegando perto de mim.
Liz: Estava pensando em você PP. – A chamei pelo apelido ‘intimo’, ela sempre me chamou de GG e eu sempre a chamei de PP, esses apelidos surgiram quando éramos crianças, eu era maior que ela e sou mais velha também.
Sophia: ‘Eu estou por ai sempre pensando nela’ – Ela cantarolou um pedacinho de uma musica e sorriu gostoso para mim. - Você se atrasou de verdade hoje em!
Liz: Você sabe como minha mãe é! – Eu virei os olhos.
Sophia: Sim eu sei perfeitamente. – Riu de canto.
Liz: Vamos fazer o que… – Eu fui interrompida.
Juan: Vamos vamos vamos! Liz atrasou tudo hoje temos que correr, depois vocês colocam as fofocas em dia meninas, mas agora temos que trabalhar! – Ele disse empurrando a gente.
Eu gosto muito mais de teatro, mas ter a chance de fazer um seriado junto com Sophia é algo muito surreal. Sei que estamos sempre juntas e que somos inseparáveis. Mas poder atuar ao lado dela é gostoso demais. Durante toda a gravação ficamos apenas rindo entre as falas e trocando olhares que só a gente saberia decifrar. Eu amava aquela coisa de ‘quero te agarrar, mas não posso’ era ótimo porque depois estávamos sempre cheias de amor pra dar. As gravações levaram horas, fizemos apenas uma pausa para comer e depois voltamos a trabalhar. Sei que quando conseguimos acabar a tal cena, já esta escurecendo. E mesmo eu tendo vacilado no começo, tendo chegado atrasada, Juan me parabenizou pelo desempenho que tive ao longo do dia.
Eu e Sophia saímos de lá e fomos direto para a praça de alimentação central, assim que avistamos uma mesa vazia fomos correndo nos sentar. Eu estava bastante cansada e o que mais queria naquele momento era uma boa cama e uma boa companhia para me fazer carinho. Olhei em volta e avistei minha mãe sentada com um monte de gente conversando animadamente.
Liz: Olha lá minha mãe toda animadinha. – Apontei com a cabeça para o local onde ela estava.
Sophia: Ih, minha mãe também esta lá. – Olhou surpresa.
Liz: Aquela outra não é a Maite e os outros não são os integrantes da antiga banda?
Sophia: Sim, e pelo que estou vendo parece uma reunião das ‘antigas’. – Ela riu achando graça do que disse.
Liz: Você falando desse jeito parece até que eles têm mais de setenta anos. – Eu ri imaginando-os de bengala.
Sophia: Pior que pareceu mesmo. – Riu. – Mas é estranho, de vez em quando ouço falar na banda que eles tinham, mas eu não costumo ver minhas mãe assim, conversando com a sua como se fossem intimas, e muito menos com o resto da banda.
Liz: É mesmo, sei que já falamos sobre isso, mas eu ainda me pergunto, nossas mães eram tão amigas, porque será que se distanciaram tanto? Porque será que todos eles se distanciaram tanto?
Sophia: Não sei né?! Acho que a vida faz isso com as pessoas. E olha que eles estão sempre nos mesmos lugares, minha mãe e todo os outros ainda trabalham aqui.
Liz: Tipo o Poncho o pai do Manuel, ele vive fazendo novelas com a minha mãe e mesmo assim ela não tem aquele contato com ele.
Sophia: É eu sei – Ficamos em silencio por um minuto observando eles.
Liz: Mas olha só como eles estão animados, parecem que são amigos de infância e que nunca deixaram de se ver.
Sophia: Ai… Estou tão curiosa para saber o que eles tanto falam.
Liz: Eu não quero saber não. – Me virei para ficar de frente para Sophia. – Porque não resolvemos o que vamos fazer e deixamos eles para lá agora?
Sophia: A não GG, vamos lá vamos! – Fez aquela carinha que eu não consigo resistir. – Eu to super curiosa!
Liz: Eu vou se você prometer que vai dormir lá em casa hoje!
Sophia: Ah eu nem preciso prometer isso né GG? – Pegou em minha mão – Você sabe que eu vou para sua casa com todo prazer.
Liz: Ok, mas prometa!
Liz: Ta GG, eu prometo! – Fez um biquinho lindo no final.
Levantamos e logo os meninos da novela nova se sentaram no nosso lugar. Esse era um dos motivos que não queria ir, ia ser horrível arrumar outro lugar depois. Fomos andando lado a lado cumprimentamos algumas pessoas no caminho e logo chegamos à mesa onde nossas mães estavam. Fiquei até com vergonha de atrapalhar a conversa, pareciam tão eufóricos. Mas Sophia era boa nisso e já chegou falando.
Sophia: Oi mãe – Colocando a mão em seu ombro. – Oi gente!
Todos nos olharam ainda sorrindo, inclusive minha mãe. Fazia tempo que não a via desse jeito tão contente, será que algo de muito bom aconteceu? Eu dei um oi geral e um beijo em minha mãe como de costume. Sophia continuou com as mãos nos ombros de Dulce e eu continuei ao lado dela.
Anahí: Ai ótimo que vocês duas ainda estão aqui…
Dulce: É ótimo mesmo – Completou a frase de minha mãe. – Hoje vocês vão sair conosco!
Sophia: Não vamos não! – Ela disse meio assustada.
Dulce: Vão sim! – Ela disse seria.
Liz: Mas por quê? Não pode ser outro dia não? – Eu resolvi falar.
Anahí: Não, tem que ser hoje, vamos todos comemorar! – Ela ainda estava com um leve sorriso no rosto.
Maite: É meninas – Falou contente. - É só hoje. Vamos a um restaurante muito bom e seria ótimo ter a presença de vocês duas, assim como de todos nossos filhos.
Liz: Todos?
Anahí: Todos até o Enzo!
Sophia: Mas eu não quero ir. – Disse quase batendo o pé.
Dulce: Por favor Sophia, sem dar uma de criança mimada! – Ela disse com calma. – É um dia importante para mim, você poderia deixar pelo menos uma vez de fazer algo que quer para poder ir comigo?
Sophia: É tão importante assim? – Ela fez uma carinha de choro.
Dulce: Muito.
Liz: Poderiam pelo menos dizer o que é tão importante?
Christian: Essa eu posso dizer!
Sophia: Então prossiga senhor. – Ela disse num tom de superioridade.
Christian: Depois de anos e anos separados, nós seis vamos voltar!
Sophia: Como assim, aquela banda ridícula chamada Rebelde vai voltar? – Ela disse seria e assustada já eu tive que rir.
Christian: Ah criança não fale isso! Pode ser meio antiquada, mas ridícula não era. – Disse serio. – Mas não, ela não vai voltar. Foi o Pedro que nos chamou para fazer uma novela juntos como os seis protagonistas!
Liz: Nossa, e isso vai juntas vocês? – Eu perguntei confusa.
Sophia: Não sei não, vocês estão juntos desde que se separaram, vocês trabalham aqui desde sempre, estão sempre nas mesmas festas e festivais e mesmo assim não estão juntos de verdade, será que essa novela vai conseguir juntar vocês?
Christopher: Pode ser que sim, pode ser que não – Ele falou pela primeira vez. – E minha querida, quando você crescer mais um pouco acho que vai entender melhor a vida e vai poder nos criticar. Mas agora ainda é uma menina, não entenderia o porquê disso tudo.
Dulce: Exatamente isso. Mas agora que já tem as suas respostas podem ir. – Olhou o relógio.- São cinco e quarenta e sete, as seis e meia me encontre no portão onde te deixei ok, Sophia?
Anahí: Isso serve para você também Liz, as seis e meia lá no carro!
Eu dessa vez resolvi me arrumar mais um pouco. Minha mãe já estava se arrumando há séculos e toda hora vinha ao meu quarto perguntar se estava bonita… Não sei por que ela ainda insiste nisso. Eu resolvi por um vestido, mas qual? Eu nem tinha vestidos bonitos para poder colocar. Então fui ao quarto de minha mãe ver se ela me emprestava algum.
Liz: Mãe?! – Disse entrando no quarto. - Você tem algum vestido que fique legal em mim?
Anahí: Vestido? – Me olhou surpresa.
Liz: Sim mãe, vestido!
Enzo: Masi Liz, voxê não usa vetido! – Disse Enzo da cama de minha mãe.
Liz: Ai gente, não uso, mas quero usar hoje não pode não?
Anahí: Claro que pode minha filhota linda! – Ela disse animada e se levantou da penteadeira.
Liz: Então, tem algum que sirva em mim?
Anahí: Claro que tenho. – Pegou em minha mão. – Venha, vamos escolher. – Me levou até o closet.
Ficamos um bom tempinho escolhendo um vestido que ficasse bem em mim. Pensei até em desistir, mas minha querida mãe conseguiu escolher um legal para mim. Um vestido branco que tinha uma facha logo em baixo de meus seios, tinha pregas e era meio rodado, batia logo acima de meu joelho. Fui ao meu quarto e o coloquei meio atrapalhada. Me maquiei o máximo que pude, soltei meus cabelos o deixando natural e coloquei um scarpin tradicional e vermelho, acho que nunca me arrumei tanto assim só para sair com minha mãe. Mas tinha um motivo de estar bonita daquele jeito, é claro que tinha. Sophia não ia lá para casa mais cedo, mas sem duvidas eu e ela íamos arrumar algo de bom para fazer depois do jantar, quem sabe uma outra festinha?
Dei mais uma olhada no espelho e sorri para mim, eu estava bonita de verdade. Fui toda contente ao quarto de minha mãe para ver se ela já havia acabado e se ela aprovaria o meu visual de mulher.
Liz: E ai mamãe! – Entrei no quarto sorrindo – Estou bonita? – Dei um girinho para que ela pudesse ver de todos os ângulos.
Anahí: Nossa filha, como você esta linda! Vai ser a mais linda da noite!
Liz: Difícil ser a mais linda quando você esta presente mamãe! – Eu sorri de canto.
Anahí: Para de besteira Liz, você é linda, e é a menina mais linda do mundo!
Enzo: E eu o menino mais lindo! – Sorriu contente.
Anahí: Claro, meus dois filhos são os mais lindos do mundo! – Deu um beijo em meu rosto e pegou na mão de Enzo.
Liz: Ta bom mãe, sé porque você quer. – Eu ri. – Mas você já esta pronta?
Anahí: Acho que sim. – Deu um girinho. – Acha que está bom assim?
Liz: Se ficar mais bonita estraga.
Minha mãe usava uma calça preta colada, uma blusa verde caída no ombro, uma bota de salto preta por cima da calça, e uma bolsa de mão. Seus cabelos estavam soltos e cacheados e sua maquiagem deixava seus olhos ainda maiores. Resumindo, minha mãe estava linda como sempre.
Alguma coisa estava estranha demais naquele dia, minha mãe estava animadíssima e ainda pegamos um taxi ao invés de irmos no nosso carro. Eu até ia perguntar o porquê, mas Enzo fez o favor de perguntar primeiro.
Enzo: Mamãe puque tamus indo de taxi?
Anahí: Porque sim meu filho, porque se a mamãe beber não tem perigo.
Enzo: Ah ta. Masi lá tem blinquedo pá eu blincar? – Sorrindo animadamente.
Liz: Claro que não né Enzo? Lá é um restaurante e não um parquinho.
Enzo: Então va se chatu. – Cruzou os bracinhos e fez bico.
Anahí: Sim, lá é um restaurante, mas tem sim um parquinho meu bebê.
Liz: Desculpa, eu não sabia.
Enzo: É selio mamãe? – Sorriu arregalando os olhos.
Anahí: É claro bebê. – Fez carinho em sua cabeça. – Mas me diga Liz, por qual motivo você se arrumou tanto essa noite? – Antes mesmo de eu conseguir pensar em algo ela respondeu a própria pergunta.- Já sei, é porque o Manuel vai não é?! O filho do Poncho, aquele rapaz bonitinho.
Liz: Claro que não mãe, não fale besteiras. – Eu virei os olhos.
Anahí: Vai Liz, pode falar, você gosta dele e se arrumou toda só para chamar a atenção dele! –Fez uma pequena pausa. – Ai minha filha esta crescendo. – Suspirou.
Liz: Não mãe, eu não me arrumei para ele, não me arrumei para ninguém. Só queria parecer um pouco menos apagada ao seu lado, é só isso.
Essa parte até que era verdade, mas mal sabe ela que me arrumei assim para chamar a atenção e uma mulher. Para chamar atenção de Sophia. E se minha mãe fica sabendo disso, tenho certeza que ela me mata, imagina só, Anahí descobrindo que sua filha é lésbica.
Anahí: Ai Liz, para com isso, eu me sinto muito mal quando você diz essas coisas sabia?
Liz: Não sinta mãe, você não deveria se sentir mal por ser mais linda e melhor que eu. Quem tem que se sentir mal aqui sou eu.
Anahí: Então, é por isso que me sinto mal, porque minha filha querida se sente mal ao meu lado. Isso é horrível sabia? Saber que você não gosta da minha presença.
Liz: Não é que eu não goste, só que eu desapareço ao seu lado.
Acho que ficamos sem o que dizer já que depois do que disse fizemos o resto do percurso todo em silencio. Chegamos lá um pouco atrasados como de costume. Todos estavam lá, e eu fui passando o olho um a um, vendo cada pessoa. Christopher e sua filha Pietra que deveria ter uns dez anos. Poncho e seu filho Manuel que tem dezessete. Maite, seu marido Felix e seu filho Silas de dez anos em media. Christian e sua filha Betina que adotou no Brasil que deveria ter a mesma idade de Enzo. E finalmente avistei Dulce, Benedito, Nina e Sophia. É incrível como Sophia estava ainda mais linda do que pela tarde quando a deixei no portão onde Dulce lhe pediu para esperar. Ela estava maravilhosa e minha vontade naquele momento era de agarrá-la e beijá-la ali na frente de todos. Mas mordi o lábio e consegui me controlar. Na televisa nós sempre evitamos contatos físicos e também comentários porque não queremos ser descobertas, então hoje nem se quer a abracei direito, e eu já estou começando a ficar nervosa.
Cumprimentamos a todos e sentamos nos lugares vazios, a mesa era redonda e isso fazia com que ninguém ficasse de fora da conversa. Sentei-me ao lado de Sophia, tenho certeza que ela foi uma das primeiras a chegar e guardou esse lugar para mim.
Era incrível como os assuntos surgiam com tanta rapidez. Eram todos falando ao mesmo tempo sobre o mesmo assunto. Todos riam alto e falavam besteiras, até eu estava participando da conversa como se fosse um jantar em família. Sophia e eu nos acariciávamos por baixo da mesa muitas vezes durante o jantar e aquelas caricias já estavam mais do que enlouquecendo.
Liz: Vamos no banheiro? – Eu disse baixinho ao pé do ouvido de Sophia.
Sophia: Eu estava esperando pelo convite. – Sorriu.
Avisamos que íamos ao banheiro e quase ninguém deu atenção. Foi até engraçado o jeito que corremos para o banheiro feminino, quem olha até pensa que a comida estava uma merda e que estávamos passando mal. Assim que entramos, uma mulher de meia idade estava saindo.
Sophia: Dá uma olhada nas cabines. – Disse ela encostada a porta de saída.
Liz: Ok.
Olhei todas as cabines e não havia ninguém no banheiro. Me virei para Sophia já sentindo meu corpo aquecer, eu sorri maliciosamente, mordi o lábio ainda parada próxima a ultima cabine, ela correspondeu ao sorriso e me chamou sedutoramente com um dedo, que me fez correr para os braços de minha namorada. Nos abraçamos com força, eu pude sentir seu corpo quente fazer um encaixe perfeito no meu, que fez meu coração acelerar, bater ainda mais forte. Nos olhamos por alguns segundos e nos beijamos em seguida. Um beijo com paixão e gosto de aventura. Seus lábios e sua língua eram tão deliciosos que eu sorria de satisfação entre o beijo, sorria por saber que Sophia era somente minha, inteiramente minha… Mas era arriscado demais nos beijar ali num banheiro de um restaurante onde nossas mães se encontravam. Mas o desejo e a vontade sempre falavam mais alto e não tinha como resistir. Minhas mãos apertavam e acariciavam seus seios com vontade aproveitando ao máximo. Nossas línguas se encontravam com muita veracidade e nossas respirações se misturavam de um jeito adorável e feroz ao mesmo tempo. Suas mãos percorriam por minhas pernas e levantavam meu vestido até quase minhas costas… Seus carinhos eram tão deliciosos que me faziam gemer entre os beijos, fazendo com que nossos movimentos ficassem ainda mais tensos…
Mas uma risada alta, estridente e familiar me fez voltar à realidade… Sai de perto de Sophia com tanta pressa que nem tive tempo de dizer nada, corri até a pia abrindo a torneira meio que me tremendo e fiquei ali, lavando as mãos e me olhando no espelho em uma péssima tentativa de disfarçar algo, já que minha namorada continuava imóvel, com uma cara de interrogação tão grande que eu tive vontade de rir, mas antes de mais alguma coisa acontecer, a porta do banheiro se abriu fazendo Sophia sair de trás da mesma, dando passagem.
Anahí: O que vocês duas estavam fazendo? – Foi à primeira coisa que minha mãe perguntou ao entrar no banheiro.
Liz: Nada! – Respondi rápido de mais.
Dulce: Sei, então porque estão com essas caras de que estavam fazendo merda? – Dulce entrou logo atrás de minha mãe.
Sophia: Não estávamos fazendo nada eu em! – Me chamou com a mão. – Vamos Liz.
Meu coração estava na boca, imagina só se nossas mães estivessem visto a gente se beijando? Imagina só a merda que ia ser? Graças a Deus e a minha ótima audição conseguimos nos livrar de uma baita dor de cabeça…. Sei que fomos irresponsáveis e que se tivessem nos pegos, a culpa seria toda nossa.
Voltamos para mesa rindo da situação, não levantamos mais depois do ultimo incidente, juro que fiquei com uma pontinha de medo. Minha mãe e Dulce trocaram alguns olhares bem estranhos durante o jantar, é uma pena que não consegui decifrar que tipos de olhares eram aqueles. Finalmente a hora de irmos embora havia chegado. Todos já haviam pagado suas contas e já estávamos do lado de fora do restaurante.
Maite: Então, vamos para onde essa noite gente?
Dulce: Que tal um barzinho com musica ao vivo?
Nina: Ei como assim um barzinho com musa ao vivo? – A irmã de Sophia disse.
Dulce: Um barzinho oras. – Sorriu contente para Nina olhando em seguida para minha mãe. – O que acha Annie?
Anahí: Nossa, ninguém me chama de Annie há anos. – Sorriu. – Mas eu topo sim!
Liz: Ei, como assim topa? Pensei que fossemos para casa!
Sophia: É eu também pensei.
Christian: Não posso, não tenho com quem deixar a Betina! – Ele segurava a menina no colo.
Dulce: Ah, não se preocupe com isso, a Sophia e a Nina podem ficar com ela.
Benedito: É, eu fico com ela Christian. – Disse o marido de Dulce.
Dulce: Como assim amor?
Benedito: Não vou sair com vocês, tenho trabalho amanha cedo, podem ir que eu fico com as crianças. Se quiser eu fico com as outras também, Podem ir todos lá para casa, temos alguns filmes, podemos ver até todos cairem no sono. Eu e as meninas podemos fazer uma cama bem grande na sala e todos dormimos juntos. – Ele disse animado.
Dulce: É serio amor? – Fez uma pausa. – É serio que faria isso por mim?
Benedito: É claro minha flor, por você eu faço tudo! – Eu vi Nina, Sophia e minha mãe torcerem o nariz com a cena melodramática.
Manuel: Opa, então quer dizer que vou dormir na casa de vocês – Ele disse olhando para Nina.
Benedito: Não, você não!
Nina: E porque não? – Ela perguntou incrédula.
Benedito: Porque ele já é um rapaz e não precisa de cuidados.
Nina: Mãe, o Manuel pode dormir lá em casa também?
Dulce: Claro, se for dormir com todos juntos pode sim.
Nina: Obrigada mamãe – Ela falou olhando para Benedito.
Dulce: Então meus amores, podem deixar seus filhos lá em casa que estão em ótimos cuidados.
Maite: Você quer ficar lá na casa da tia Dulce com todos os outros Silas?
Silas: Posso?
Maite: Claro! – Sorriu.
Acabamos todos indo para casa de Sophia. Eu, Enzo, Pietra filha de Christopher, Silas filho de Maite, Betina filha de Christian e Manuel filho de Poncho. Dividimos-nos em três taxis e partimos para a grande casa de Sophia. Eram quase onze da noite e todos nós estávamos elétricos. Na sala de televisão afastamos todos os sofás e pegamos todos os colchões da casa fazendo uma enorme cama. Parecia até uma daquelas festas de pijama que eu e Sophia fazíamos quando éramos pirralhas.
Eu, Sophia e Nina subimos para pegar algumas roupas para todos se trocarem. Os menores que eram meu irmão e Betina poderiam ficar só de calcinha e cueca, já os maiores que eram Silas e Pietra poderiam ficar de calcinha, cueca e blusa. Eu, Sophia, Nina e Manuel, poderíamos nos virar como estávamos, mas sem duvidas eu e as meninas iríamos trocar de roupa depois. Ainda mais que deve ter um milhão de roupas minhas aqui. Descemos com algumas mudas de roupas para as crianças. Eu e Sophia vestimos os meninos e Nina vestiu as meninas.
Benedito: Agora que já estão todos arrumados para dormirem, o que querem ver? – Falando próximo a televisão.
Silas: O que temos para ver? – Disse o menino de cabelos lisos e preto.
Nina: Bom, temos vários filmes infantis de quando éramos menores.
Pietra: Sim, mas vocês já são velhas!
Nina: Velha é sua mãe! – Eu tive que rir.
Pietra: Também! – Ela sorriu com maldade nos olhos.
Foi apenas naquele momento que percebi o quando aquela menina era pentelha.
Liz: Bom, porque não vemos ‘Os batutinhas’? – Eu sugeri empolgada.
Silas: ‘Os Batatinhas’? – Ele fez cara de nojo. – Nunca ouvi falar de nenhum filme com batatas!
Liz: Que batata o que moleque! – Todos estavam rindo. – É Batutinhas, com U!
Sophia: Mas porra em Liz, esse filme é tão velho que nem eu lembro de como é!
Liz: A nem vem que a gente adorava ver ok?
Sophia: Sim, mas nós tínhamos uns sete anos naquela época!
Nina: Só você mesmo cara!
Enzo: Vamu vê, ta chuveno hambugue! – Ele disse animado.
Manuel: Esse não dá, pequeno, ainda esta no cinema!
Enzo: Masi eu quelia ve esse!
Liz: Eu te levo para ver no cinema depois. – Sorri e tive mais uma grande idéia. – Que tal vermos Rei Leão?!
Benedito: É, gostei desse!
Nina: Gente! Calem a boca se não vão dar boas idéias, por favor! – Ela disse meio rindo.
Liz: Ai, mas assim também fica difícil, ninguém da idéia nenhuma!
Sophia: Melhor idéia nenhuma do que essas ai que você teve! – Rindo.
Liz: Até você ta zuando com a minha cara? – Eu disse perplexa.
Betina: Queio ver Padinhos Magicus! – Ela falou pulando.
Ficamos discutindo mais um pouco até que ficamos vendo canal de desenho mesmo. Acho que a conversa sobre o que iríamos ver foi tão cansativa que em cerca de meia hora todas as crianças já haviam dormido. Até mesmo o tio Benedito estava cochilando.
Sophia: Benedito, Benedito. – Ela disse baixinho cutucando ele.
Benedito: Oi que foi? – Ele acordou meio assustado. – Aconteceu alguma coisa?
Sophia: Não, só que todos já dormiram, vai para sua cama que a gente fica aqui com eles.
Benedito: Não, acho melhor ficar.
Sophia: Não Benedito, já se passa da uma hora da manha e amanha você acorda cedinho, pode ir que eu Nina, Liz e Manuel tomamos conta deles.
Benedito: Ok, mas fique de olho na sua irmã com esse rapaz, ok?
Sophia: Pode deixar!
Eu ri em pensamento, como é tola a mente dos adultos né?! Eles nunca pensam que podemos ficar com pessoas do mesmo sexo. Sempre tem medo dos meninos junto das meninas. Acho que quando eu tiver meus filhos sempre vou ter esse pensamento de que pessoas podem ou não podem ficar com pessoas do mesmo sexo.
Benedito subiu para seu quarto e fechou a porta, então ficamos só eu Sophia, Nina e Manuel acordados. Desligamos a televisão e partimos para varando. Não queríamos que nenhuma criança acordasse.