Um amor de infância - capitulo 36

Um conto erótico de LuisMagalhães
Categoria: Homossexual
Contém 2225 palavras
Data: 29/06/2015 22:05:15

... continuou o serviço e pôs as mãos sobre o curativo. Puxou-o e então viu-se o impossível: não havia ferimento. Apenas uma marca mais clara do que a cor da pele, em formato linear, comprida e fina: o local da cicatriz. Os olhos dos dois se cruzaram e retornaram ao local. Aquilo era inexplicável...

Nada.

Era isso que havia lá: nada.

A sala estava em silêncio e, sem perceber, Diego havia conseguido encontrar o fraco pulso de Adam. Mas isso era o de menos importância naquele momento. O mais importante era saber porque o corpo de Adam não apresentava nenhum sinal de ferimentos, sendo que ele saíra da sala de cirurgia a apenas cinco horas. Os dois (Tomás e Diego) continuavam a olhar, atônitos, para o local onde deveria estar uma cicatriz suja de sangue e que agora estava perfeitamente natural. Perfeitamente anormal. Passaram-se quinze segundos desde que o doutor tirou a bandagem.

- O que é isso? – perguntou Tomás, calma e serenamente para Diego, mas sem diminuir a surpresa, o susto e a incompreensão na voz.

- Você quer dizer o que não é isso, na verdade... – Diego não olhara para ele. Apenas observava a marca clara na pele.

- Você entendeu perfeitamente o que eu quis dizer... – Tomás disse, mas, apesar de parecer aborrecido ou impaciente, estava tranquilo.

- Entender eu entendi, mas não aceitei essa hipótese na minha mente...

Houve uma pausa repleta de silencio e Diego retomou a fala.

- Isso é, cientificamente, impossível...

- Mas então como você explica isso?

- Eu nem sei como chamar “isso” ...

- Acho que o certo seria “milagre” ...

- É o mais correto a usar no momento mesmo, mas temos que nos preocupar com ele agora e não em como “isso” aconteceu.

Os dois retomaram a tentativa de reanimá-lo, mas de nada funcionou. O sangramento do nariz foi contido e Adam parecia estar fora de perigo. Por enquanto. Ajeitaram seu corpo na cama e Diego saiu da sala na tentativa de encontrar algum remédio que impedisse alguma hemorragia interna. Tomás ficou sozinho com Adam inconsciente em uma cama, num quarto fechado e sem câmeras. Sozinhos kkkkkkkkk. (Besteira minha).

Tomás segurou na mão de Adam e sentiu o quão suave era ela: parecia mãos de recém-nascido. Sua pele estava linda e a imagem de seu corpo definido não saia de sua cabeça. Como alguém pode se transformar assim tão de repente? Agora, com Dan inconsciente, ele podia analisar ele de um modo mais sereno, com mais calma. Ele estava mais bonito do que antes, isso era algo incrivelmente óbvio. Mas sua feição estava saudável, como um rosto de paciente pós cirurgia nunca estaria. Ele tinha feito alguma coisa, ele só poderia ter tomado alguma coisa. Tomado droga.

As possíveis coisas que podiam ter acontecido para que aquilo acontece eram poucas e algumas pouco prováveis. Mas de qualquer modo, as respostas não abalavam Tomás pois ele não acreditava que Dan pudesse ser ator de tais ações. Só uma coisa muito anormal e imprevisível, inevitável, poderia estar acontecendo para que isso se concretiza-se, mas não se sabia o que era. Desse modo, Tomás continuou olhando Adam deitado e desacordado, esperando o socorro de Diego. Algum tempo depois o médico volta, abre a porta, vê Tomás de costas, sentado próximo a cama e reafirma:

- Senhor... – disse para Tom, que se virou rapidamente – O estoque de bolsas de sangue do tipo AB ainda está completamente vazio. O que devemos fazer?

Tomás abaixou a vista um pouco e pensou na situação. Não tinha como resolver isso. Era o sangue mais raro. Depois de alguns segundos um gemido vindo da cama chama a atenção dos dois, que viram-se para vê-lo. Dan abre os olhos.

- Como você está se sentindo? – pergunta Tomás.

- Não muito bem. Pelo o que vi, pelo que ouvi, não tem meu tipo de sangue para repor.

Os dois trocam olhares e Diego se aproxima da cama, sentando ao lado de Tomás.

- Olha Dan, eu vou ser sincero com você. Você é forte. Passou por experiências que muitas pessoas já passaram. Não eu e nem o senhor Tomás. Mas a maioria das pessoas que passaram por isso não está mais viva e você está. Por isso você é forte. Mas ninguém vive sem sangue e o seu é pouco nesse momento. Se ficar sem uma reposição de sangue, baseado pelo seu histórico de sobrevivência, você pode ficar bem. Mas são hipóteses.

- Tudo bem, eu faço um esforço – tentei fazer uma graça, mas o clima não estava pra piadas.

Um bipe soou do bolso de Diego e ele se levantou, pegando rapidamente um celular do bolso da calça. Ao ler algo que parecia uma mensagem, seus olhos arregalaram-se e ele respirou fundo olhando para Tom. Esse parecia saber sobre o que se tratava, mas não acreditava. Digo assentiu com a cabeça mesmo sem ninguém dizer nada.

- Isso mesmo. É ela – uma pausa – Bárbara está morrendo.

A mãe do Tom?

Silêncio.

************************************

Eu tinha escutado bem. A mãe de Tomás estava morrendo naquele exato momento.

- Como é seu quadro? – perguntou Tomás.

- Temos que ir. Ela não passa de hoje, infelizmente.

- Então vamos – disse Tom e se levantaram.

- Esperem! – eles me olharam ao mesmo tempo.

- Nem pense nisso! – Tomás me advertiu logo de primeira.

- Não tem o que pensar Tom – eu estava certo e ele sabia, por isso não reagiu – A única pessoa que pode ajudar sua mãe está na sua frente e pronto para ajuda-la.

- Você não pode fazer isso... E a Ali?

- A confio a você.

- Dan...

Diego se intrometeu na conversa.

- Escuta aqui Dan. Há poucos dias você levou um tiro à queima roupa. Foi sequestrado e amarrado. Foi encontrado. Sofreu alguns ferimentos inesperados no percurso de recuperação. Recuperou-se e poucos dias depois foi sequestrado de novo. Caiu de um penhasco dentro de um carro. Foi perfurado no abdômen por um galho seco. Foi jogado no mato e rolou por alguns metros, onde parou e desmaiou, dormindo por um dia inteiro na água da chuva incessante, sangrando, até ser encontrado. Passou por uma cirurgia muito perigosa e, pós-cirurgia, já desmaiou umas três vezes. Seu nível de sangue está baixo e é um tipo muito raro. Não pode perder mais nada. Não tem condições alguma de doar seu sangue.

- Muito menos de trocá-lo com o da minha mãe, que está infectado e não pode ser doado – disse Tom.

- Não estou pedindo que troque o sangue da sua mãe pelo meu. Estou mandando você colocar o meu nas veias dela.

- Mas isso nunca! – disse Diego – É loucura!

- Eu quero fazer pelo menos uma coisa na minha vida por você – disse a Tom – Então me deixe fazer isso.

- Mas...

- Mas nós precisamos ir para a sala da sua mãe agora. Rápido!

************************************

Os dois empurraram minha cama pelas alas do hospital, já que eu não conseguia andar. O clima estava de grande tensão. Eu estava entregando minha vida nas mãos de Tomás para que ele reanimasse sua mãe. Ele se recusava a aceitar tal ação, mas ele não tinha escolha. Certamente sua mãe diria: “Deixe-me morrer, sou velha e seu amigo ainda é jovem e tem muito o que viver”. Mas eu estava pronto. Estava pronto pra me sacrificar por Tom, pelo amor insubstituível da minha vida, mesmo que em segredo. Ele nunca soube desse meu amor por ele, mesmo com todas as brincadeiras que eu fazia com ele, com todas as insinuações estranhas. Eu nunca contei a ele, mas ele deveria ter percebido que eu era assim e nunca me desprezou. Por isso gosto tanto dele. Mas a angustia de viver sem seu amor era pouco se comparado com a perda total dele, de como ele se afastaria após a morte de sua mãe. E isso era muito para mim. Morreria por ela. Morreria por ele.

Entramos na sala de cirurgia e os ajudantes médicos já me colocaram em posição de operação. Eles provavelmente já sabiam o que iriam acontecer. Me sedaram aos poucos e ligaram os instrumentos detalhistas da operação. Eu estava em uma sala branca, com traços azuis-claros e uma luz forte que deixava tudo claro. Em certo ponto da parede, quase que toda a parede era substituída por uma placa de vidro a prova de som e transparente. Possivelmente para pessoas que quisessem assistir ao momento. Posicionaram minha maca próxima a maca de onde estava Bárbara e me transferiram para ela. Bárbara estava lá. Fazia tempo que não a via, desde antes de me separar de Tomás na minha infância. Ela estava com uma cara de conservada, mas a doença tinha deixado traços terríveis em sua face e pele. Ela estava como uma velhinha à beira da morte, uma situação que deixaria qualquer filho com um aperto no coração.

Uma mãe com o tipo sanguíneo mais raro do mundo tem uma doença terminal no sangue e certamente irá morrer se não trocar seu sangue. Mas por ele ser raro não há fornecimento dele e isso é uma coisa que um filho odiaria passar e Tomás estava passando por isso, mas ele tinha a mim.

Os ajudantes acabaram de me arrumar e se afastaram um pouco de mim. Em poucos minutos aconteceria, estavam dando um minuto de silencio a minha morte futura. Tomás entrou pela porta da sala, mas não estava vestido adequadamente para ajudar o médico. Estava normal. Veio em minha direção e se abaixou próximo a minha cabeça. Seu olhar era tenro. Era claro que ele queria falar alguma coisa, mas não tinha ideia de como começar.

- Não diga nada – antecipei – Não precisa dizer nada.

Ele passou a mão pelo meu rosto e essa sensação ele nunca tinha me feito passar. Uma mistura de calor incessante e agradecimento eterno.

- Obrigado por tudo... – ele começou a lacrimar – Por ser a pessoa especial que você é....

Eu não podia acreditar. Tomás Mercer estava, incrível e unicamente, chorando. Chorando pra mim, por mim. Isso valia muito. Ele nunca tinha chorado na minha frente e estava desarmado na minha frente.

- Não chora Tom... – disse eu passando a mão em suas lágrimas e pegando em sua mão (eu estava muito fraco por conta do acidente do carro e também pelos sedativos), mas as lágrimas voltavam a rolar – Você é forte, o mais forte que encontrei e irá superar isso...

- Me prometa... – disse ele tentando parar o choro (estava chorando, mas de um jeito másculo, não sei dizer como) – Prometa pelo menos uma coisa...

- Primeiro me diz o que é.

- Prometa que você vai tentar, vai lutar até o último segundo pra voltar pra Ali, pra seus amigos...

- Mas é claro que eu vou...

- Eu entendo que você quer fazer isso por mim, mas é tão doído aceitar isso...

- Eu sei que você não conseguiria fazer essa escolha... Sua mãe ou seu amigo? Então eu fiz ela por você...

- Mas logo você? Por que você? Por que isso acontece comigo?

- Estou te dando o abraço, o colo da sua mãe de volta... O aconchego e o amor que eu nunca poderia te dar... Em troca quero apenas que você cuide deles, nossos amigos e parentes. Especialmente ela, Alicia. Proteja ela como puder. Só quero isso.

- Farei isso e o que mais eu puder pela sua família. Vou tentar proteja-la como você tentaria. Devo isso a você.

- Eu sei que você fará isso.

Ele apertou minha mão com força e se ergueu de volta, ficando de pé.

- Faça mais uma coisa por mim – pedi – Não sofra por mim. Recupere-se e viva intensamente como você sempre fez.

Ele sorriu e seus olhos brilharam.

- Vou tentar – uma pausa – Sem dúvidas... Você é uma das pessoa mais importante da minha vida. Só perde pra minha mãe, mas tirando ela, você é o mais importante.

Não aguentei aquilo e desabei. Ele soltou minha mão e saiu andando em direção a saída. A porta foi fechada. Ninguém mais poderia entrar. Pude ver, pelo vidro da parede, a sala que ele guardava. Vi que a porta da sala depois do vidro se abria e Alicia entra com uma cara de “não posso acreditar que seja verdade! Não posso acreditar que ele fez isso! ... Ai meu Deus, ele vai fazer isso mesmo!” kkkkk Apesar de tudo, aquilo parecia engraçado. Ela recostou no vidro e começou a chorar, depois gritou e esperneou querendo entrar para me impedir, mas eu não podia ouvi-la, pois era a prova de som. Vi que Vitor entrava na sala e agarrava ela, tentando acalmá-la. Depois Tomás entrou e não disse nada, apenas ficou me olhando nos olhos e eu nos dele. Nada mais importava. Depois eu me virei para Alicia e fiz o gesto com os lábios:

> Eu te amo...

Ela se acalmou, encostando a mão no vidro e fez também em gestos:

> Não faz isso...

Eu sorri e me virei para Tomás. Ele tinha parado de chorar, mas seus olhos estavam vermelhos. Pisquei pra ele com o olho direito e ele sorriu. Vi que o sangue de Bárbara estava sendo passado por uma máquina e limpado, para circular em suas veias enquanto o meu entrasse e não fosse contaminado. Vi o meu sangue sair por um tubo e entrar na mesma máquina.

Depois me entreguei ao cansaço. Dormi e não vi mais nada. Só via o paraíso.

Tomás me esperava no fim de um túnel escuro com um foco de luz clara atrás dele. Era o meu caminho até o outro lado da vida...

O lado bom.

Continua...

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Comentários

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Ouvindo ressuscita-me e lendo esse livro. Como não chorar?!?

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Tão lindo e comovente que fiquei sem palavras, e olha que isso e dificil de acontecer.

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Capítulo perfeito!!! Fico impressionado com essa calma do tomas sendo que ele sabe do amor do dam e nem mesmo retribui, olha o quanto esse garoto já fez por ele., enfim já pode mandar outro capítulo com caráter de urgência, obrigado. De nada.

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Duvido um pouco que o Dan vai morrer, mas vamos lá, próximo por favor!

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Ta ótimo Luiz só não demore a postar Slc amando o conto Tomás fofo demais acho que ele tbm ama o adam só não sabia como agir agora dps dessa ele revela que o ama parabéns autor nota 1000 e Que o bruno morra num acidente de moto e não apareça no hospital para pegar o adam

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Bom demais. O que será que vai acontecer com o Dan?

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Cara esse Tomas nao ve o amor dele? o Adam faz de tudo por ele e ele nada, pelo menos conte que sabe que ele o ama, ah to estressado ja

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Por favor não demora a postar.fiquei com crise de abstinência.

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Se ele morrer eu te mato.

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