CAPÍTULO 1
O que me aconteceu faz pouco mais de um ano eu acho, então vou contar pra vocês.
Eu me levantei pela manhã, tomei um banho quente, pois estava muito frio, tinha geado durante a madrugada, e todo o jardim estava branco. Iria com minha mãe conhecer o jornal onde ela trabalhava, sempre Amei tanto ler, acho que herdei isso da minha mãe, que escrevia contos infantis. Ela me disse que sairíamos cedo, às sete da manhã.
Sete horas eu já estava pronto, arrumado, vestindo uma calça, que imitava os recostes de uma social, uma camisa cinza, um sapatênis, um sobretudo de lã e meu cachecol favorito, era verde com cinza.
Corri até o McDonald's que ficava a uma quadra de casa, e comprei um capuchino pra ir tomando. Quando voltei, ela já estava na porta me esperando, louca, pois sumi sem avisar.
— Tá querendo me enfartar, em menino. — Disse em tom de brincadeira — Não suma assim sem avisar, ou vou acabar deixando você! — Falou, estampando aquele lindo sorriso que ela tinha.
— Desculpe! — Disse a ela — Nem brinque em me deixar aqui! — Disse rindo também.
A viajem não era longa, demoraria mais ou menos uns 20 minutos para chegar.
Estávamos contando piadas no trajeto, eu sempre me achei muito engraçado, embora achasse mais do que eu realmente era, mas ela sempre ria das minhas piadas.
Até que eu fiz uma daquelas piadas de toc-toc. Tudo ficou branco. E, a partir daí não me lembro de mais nada.
Tudo o que sabia era que acordei em quarto, branco e iluminado por lâmpadas, a janela deixava a vista uma bela imagem do por-do-sol. As nuvens tinham uma cor alaranjada, misturadas com rosa, que dividiam a luz do sol, com a escuridão da noite.
Eu me sentia muito bem, apenas cansado, e um pouco confuso, minha cabeça tentava assimilar o que estava acontecendo. O aparelho ao meu lado, fazia um bip irritante, e eu apenas queria desligar aquilo, tirei os tubos do meu nariz, e da minha boca, e arranquei a agulha presa em minha mão com uma tala e esparadrapos.
Senti a dor da agulha saindo, e também uma dor tremenda em meu pulso. Não aguentei e gritei.
— Aí! Caralho. Que merda!
Quase em sincronia com meu grito, irrompeu a porta uma enfermeira, dizendo para eu parar e voltar a me deitar. Enquanto outra que vinha logo atrás dela disse.
— Vou chamar o Dr. Marcos, agora! — disse se apressando novamente porta a fora. — Não deixe ele se levantar!
— Fique deitado, Felipe. — Disse a doce enfermeira enquanto eu ainda tentava me levantar. — O doutor já vai vir te examinar e...
— Não acredito, finalmente! — Era meu pai, interrompendo a enfermeira e adentrando com violência no quarto. — Meu filho, cheguei a pensar que não acordaria mais. — Disse ele enquanto me apertava, num abraço e deixava lágrimas caírem sobre o lençol. — Estou tão feliz, tão feliz!
— Pai, você tá me machucando. — Disse, já não aguentando mais ser esmagado por aquele urso. — O que aconteceu? Cadê a mamãe?
A expressão dele explicou tudo e eu entendi.
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Depois de muito conversa, tudo foi esclarecido. Eu sofri um acidente de carro com minha mãe no dia em que saímos. Nós dois ficamos em coma por um tempo, mas ela não resistiu, e se foi.
Eu fiquei em coma por onze meses, mas não tive ferimentos graves. O caminhão acertou o lado do motorista, mesmo tentando frear o impacto foi inevitável.
Chorei muito naquele dia, com certeza, Mais do que chorei minha vida inteira. Depois de todo o choro, perguntei de André para meu pai, André era meio que um namorado, mas meu pai o conhecia apenas como “um Amigo”. Ele disse que nas primeiras semanas André estava sempre ali, mas depois foi indo cada vez menos, até sua ultima visita que tinha sido a mais ou menos duas semanas, quando ele apareceu com um garoto loiro que meu pai não conhecia, mas chutou ser o namorado dele. Sim, meu pai sempre desconfiou de André, sempre me perguntava se ele era gay, e eu sempre respondia algo do tipo “porque o senhor mesmo não pergunta pra ele?”. Fiquei muito triste em ouvir aquilo, novamente cai no choro.