Acordei por volta de 09:00 h de uma fria manhã de outono americano. A cidade parecia congelar durante a noite e no esquentar do sol a vida era possível existir. Doze anos haviam passado e apesar de ter me tornado um grande Administrador de Empresas desde que terminara a Faculdade no Estado de Michigan, era inegável a saudade que eu tinha de casa... O Estado do Ceara, Brasil.
Eu levantei da cama e após uma rápida higiene, vesti uma bermuda frouxa que adorava e comecei a empacotar algumas coisa que ainda restavam de minha mudança que dentro de dois dias seria despachada para minha nova casa em Fortaleza. Muita coisa havia sido acumulada nesse últimos anos e assim que peguei a pequena foto uma triste lembranças voltou a minha lembrança...
" Você não pode ir embora e me deixar aqui, cara. A gente tinha planejado fazer muita coisa juntos e sem sua ajuda fica quase impossível de seguir... Não vai Guto, por favor cara, não vai...
" Eu nunca quis ir embora e você sabe disso... meus pais querem que eu vá estudar fora.
" Sua mãe quer mesmo é nos separar. Ela nunca me aceitou como um de vocês. Eu sei que sou pobre e morro numa favela cara, mas você sabe que eu sou diferente de muitos que la´estão... Eu escolhi viver e ser grande...
" João Carlos, eu sinto muito cara. Eu devo viajar no máximo em três dias...
" Lembro que quando João Marcos já chorando se aproximou de mim, meu coração acelerou demais e me entreguei ao seu beijo com verdadeira vontade. E foi justamente aí que a coisa toda fedeu de vez... Mamãe abriu a porta do meu quarto já falando um tom mais alto do que o normal...
" Otavio Augusto, posso saber o que...
" A frase nunca foi completada. Ela simplesmente desceu do salto como se diz e partiu pra cima do João Carlos já xingando e acertando um tapa na cara do garoto.
" Saia já daqui seu nojento. O que você fez ao meu filho... Saia... saia daqui ou chamo a polícia... saia...
" Lembro hoje com muita tristeza que no olhar do João Carlos havia mais que tristeza, era como se ele implorasse pra eu ficar... Gostaria muito de saber se ele entendeu o que tive que aceitar de meus pais, principalmente minha mãe ".
Essa foto era uma verdadeira relíquia. Lembro que foi batida no final do campeonato de futebol de salão das escolas particulares e claro fomos os vencedores. Os amigos com certeza havia mudado assim como eu. Raul, Marcelo, Pedro, Guilherme, João Carlos e Eu, Otavio Augusto Nobrega de Castro, que por jogar mal era o reserva imediato do goleiro Marcelo, e a turma me chamava carinhosamente chamado de Guto.
Perder o contato com todos os meus amigos foi o mínimo que aconteceu. Na verdade o plano inicial de D. Maria Walquíria Nobrega de Castro, minha mãe, era fazer com que eu jamais lembrasse de qualquer um dos garotos. O que ela não sabia e muito menos meu pai, o Sr. Luiz Otavio de Medeiros Castro, era que eu mantive uma rica e viva correspondências com cada um deles durante os quatro anos da faculdade e os dois anos da pós graduação... E esses seis anos foram os mais especiais que pude viver. Só que fui descoberto quando estava no último ano da pós graduação pelos meus pais quando de uma visita que me fizeram de surpresa.
Por conta disso terminei rompendo com eles e se já não tivesse um emprego em vista, conseguido inclusive com esforço próprio eu iria estar ferrado. Mesada cortada. Aluguel do apartamento não seria mais pago por eles. Mordomias, nem pensar. Preferi ficar por conta própria a ter que me sujeitar as vontades deles. Eu amava meus pais, principalmente o Sr. Luiz Otavio só que as decepções vividas e vistas me fizeram mudar não só o pensamento em relação a eles, me fizeram mudar também os sentimentos que tinha em relação a eles.
As correspondências continuaram por certo período até que cessaram de vez. Nunca soube o por quê. Eu mantinha a mania boa de escrever as cinco cartas de uma só vez e em cada uma delas o teor da conversa era diferente.
A sorte é que sempre fui muito econômico e metade do dinheiro mandado por eles era investido em aplicações que fazia num grande Banco do Estado e quando passei a trabalhar pra reforçar a renda, já que tudo estava por minha conta, acabei juntando uma boa quantia em dinheiro. Eu era realmente diferente dos dois parasitas que tinha como irmão... Augusto Cesar e Pedro Augusto. Ambos eram formados na área da Medicina assim como meus pais, dois excepcionais cardiologistas e viviam presos aos dois sem vontades ou mesmo voz. Conseguia sempre ter pena dos meus irmãos...Fracotes.
Guardei a foto após todas essas lembranças, olhei em volta e meu quarto pareceu de repente muito grande. A Empresa na qual trabalhava e chegara ao cargo de Gerente Financeiro havia proposto a minha volta e sem pensar duas vezes, aceitei.
Eu estava atualmente com 29 anos de idade, era alto com quase 1.90 m de altura, a pele que já era branca ficara mais ainda, meu cabelo era extremamente preto e cortado curto, eu tinha feito uma tatuagem gigante nas costas, tinha uns 80 kg de pura massa muscular com teor zero de gordura e por não ter uma vida social muito intensa eu me escondia na academia que ficava próxima ao prédio em que morava.
A culpa por sentir uma algo a mais pelo João Carlos e ser pego por minha mãe me fez ficar muito cauteloso com relação a me mostrar ou não. Apesar de ser um cara sozinho e não deixar ninguém se aproximar muito de mim, eu tinha minhas necessidades e quando viajava de férias eu procurava saciar todas as minhas vontades com outros homens. Jamais tive um relacionamento sério...
Outra lembrança passou rapidamente pela minha mente... " Não fica com ninguém não, Guto "... Outra vez a voz e as palavras que lia nas cartas do João Carlos e me fez falar em voz alta:
_ Desculpa João, não tive como segurar...
Entrei no banheiro e assim que fechei a porta liguei o chuveiro e deixei a água morna escorrer pelo meu corpo até que as lembranças foram pelo ralo.
Três dias após me despedir de alguns amigos e amigas da Empresa em que trabalhava numa festa que me proporcionaram me dirigi a Cidade de Detroit e embarquei de volta para o Brasil. O Voo não seria direto. Fiz escala em São paulo e após dois dias na Capital paulista, peguei um voo doméstico com destino à Fortaleza, lugar de onde jamais voltaria a sair.
A primeira coisa que me fez rir e muito foi sentir o calor abrasador que estava fazendo na Terra da Luz. Pela quantidade de suor que escorria do meu rosto e no corpo também, devia estar fazendo una quarenta e dois graus a sombra... Não me importei. Fui até a área de desembarque, passei pela alfândega sem nenhum problema, peguei minhas três malas, um carro da Empresa já me esperava e após receber ajuda do motorista, parti com destino a um hotel da orla.
" Finalmente Cheguei "... Foi tudo o que pensei enquanto o motorista manobrava o carro e saíamos rapidamente do Aeroporto Internacional Pinto Martins.
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Meus queridos e queridas...
Prontos para mais uma jornada? Sintam-se convidados e bem a vontade para partilhar comigo a história de amor que nosso querido Otavio Augusto Nobrega de Castro voltou pra viver. O passado será novamente visitado e com ele, uma série de acontecimentos que fez com que a vida daqueles cinco garotos mudasse tanto.
Já ansioso pela companhia de cada um de vocês...
Não posso deixar de agradecer a todos pela grande acolhida e dizer mais uma vez que conquistei verdadeiros amigos e amigas pra vida toda.
Um grande abraço... Nando Mota
P.S. fernandovg31@bol.com.br... Esse é o meu e-mail, escrevam me mandando o celular pois quero vê-los todos no Whats App.