Cap.1
"-Você só faz coisa errada menino, presta atenção !- gritava minha mãe, em meu ouvido"
"- Vou te virar do avesso se você não fazer direito o que estou pedindo"
"- Deixe de molengar e estude ! Tem que ser médico igual ao seu pai"
Acho que meus pais não sabem o que é amor. Não sei nem se um dia existiu amor entre eles, pois os vejo brigando de cinco em cinco minutos. As vezes buscava entender porquê Kami-Sama(Deus) havia me dado dois pais tão maus. A única coisa que eles faziam eram brigar comigo. Nunca vinha uma palavra gentil. Nunca vinha um carinho. Era só pressão, pressão e mais pressão.
"- Que nota 7 é essa Saki ? É para isso que estou te criando ? Qual será o filho exemplar que mostraremos para os outros "
Para eles era sempre o exemplo. Eu tinha que estudar, ter boas notas, se comportar bem para assim eles poderem mostrar(ou tentarem) aos outros que eram uma família feliz. Quem são meus pais ? Nada menos que Aiko Yasuko e Takeshi Kazuo. Minha mãe é uma atriz, talvez a mais famosa no Japão. Meu pai, um cantor da banda Nihon, que fazia sucesso em todo o mundo.
Sempre dedicaram sua vida ao trabalho e a imagem deles a frente das câmeras. Sempre ligavam para aparência, para sucesso e para críticas. Quase nunca estavam em casa. Enquanto isso, eu era obrigado a crescer sozinho. Brincava sozinho, sorria sozinho, chorava sozinho. Acho que em nenhuma vez dos meus 16 anos, ouvi um "Filho, Aishiteru(Eu te amo)" deles. Cresci sem nenhum sentimento, mas ao mesmo tempo sentimentalista ao extremo. Sempre fui muito frágil. Não sabia zoar, e não sabia como reagir ao ser zoado. Não sabia nada do mundo. Meus pais só ligavam para mim quando tinha uma entrevista, ou quando queriam que eu fizesse algo. A minha companhia quase sempre eram as empregadas, que mesmo assim não ajudavam em nada. Aos poucos eu fui crescendo, sempre afastado de todo mundo. Aprendi o que é certo e o que é errado sozinho. Ninguém nunca me deu uma lição de moral. Dinheiro não faltava. Mas o que eu mais queria, o carinho dos meus pais, eu não tinha. Isso me fez crescer um garoto fechado e anti social. Que não gostava de pessoas, que não tinha amigos, que mal abria a boca para falar alguma coisa. Acho que acabei desenvolvendo uma espécie de fobia, mas nunca contei a ninguém. Não gostava que as pessoas se aproximassem, nem que me tocassem. Era como se uma aproximação fosse um ataque, e um toque fosse um baque. Meu eu não suportava ficar perto de ninguém. Assim, eu sentava no fundo da sala, longe de todos. Quando ia apresentar trabalhos, ficava afastado do grupo. Na hora do almoço, comia longe de todos. Até na hora da limpeza (No Japão, os jovens a partir dos 6 anos, se não estou enganado, limpam tudo que sujam na escola, incluindo vasos sanitários e outros) , eu só limpava quando não havia ninguém dentro do banheiro. Eu sabia e sentia que isso não era normal, mas também sabia que meus pais não dariam ouvidos, como não dão a nada que eu digo. Diriam que é mais um "charminho" de adolescente e me mandariam estudar. E assim, eu continuava crescendo. O pior, era todo o bullyng que eu sofria. Por ser, reconhecidamente bem parecido com meu pai, que é muito famoso em todo o Japão, vivia sofrendo piadinhas e agressões verbais de todos os garotos. E meu eu não conseguia revidar.
"- Lá vem o Takeshi Jr. - diziam eles, fazendo uma voz afeminada que me deixava mal"
"- Takeshi Jr., vai usar cílios postiços que nem seu pai quando crescer ?- a cada toque deles em mim, eu me fechava ainda mais para as pessoas"
Não conseguia mais me abrir. Era como o ciclo da tulipa, que se fecha com a escuridão. A minha escuridão era a falta de amor. E ela estava cada vez pior, fazendo com que eu me fechasse para o amor, para a amizade e para todos os outros sentimentos cada vez mais. Quem sou eu ? Me chamo Saki Akaike. Tenho 16 anos. Sou apenas um garoto normal e comum que quer ser reconhecido pelos pais como um filho. Moro em Ota, em Tóquio. Tenho tudo o que eu quiser ter. Menos o que eu mais quero, a atenção dos meus pais. Má aparência eu não tenho. Por algum milagre divino, meus pais me deixaram como herança uma genética quase perfeita, que me impedia de engordar e de ter espinhas. Além disso, tenho olhos azuis, um rosto bem afilado, e cabelos bem lisos. Meu corpo é ligeiramente definido, acredito que deva ser por causa do grupo de corrida que pratico na escola. Me olhando no espelho, eu me pergunto se um dia esta situação vai mudar. Se um dia meus pais vão me dar valor. Se um dia eu vou me abrir para as pessoas e ter, enfim, os sentimentos que todos tem normalmente. Será se um dia serei capaz de amar ? Será se um dia perdoarei meus pais por toda a falta de amor ? Buscava respostas para isso.
- O quê ?
- É apenas isso, Saki. Aceite ! - meu pai esbravejava. E mais uma vez eles me deixavam triste. Corri para o quarto e me joguei na cama. As lágrimas mais uma vez vieram aos meus olhos. Me pergunto o que será que eu fiz para eles terem tanta raiva de mim. Comecei a mexer no meu Facebook, para ver se esquecia aquilo, enquanto ouvia algumas músicas lentas e um pouco melancólicas. Foi quando vi aquele anúncio.
" Processo Seletivo para a Escola Ibaraki. Interessados devem se inscrever e prestar um exame que ocorrerá em dezembro. Os aprovados serão integrados a escola "
Aquela era a oportunidade que eu precisava para me ver longe desse mundo ruim e desses dois pais que mais parecem meus inimigos. Ir para um internato, me afastar de tudo e de todos, parecia ser o caminho mais curto para me livrar da energia ruim que esta casa possuía. E foi assim que decidi me inscrever na Escola Ibaraki. Como o próprio nome diz, ela se situa na Prefeitura de Ibaraki (No Japão, as regiões são chamadas de Prefeituras. São ao todo 47), que fica ligeiramente próxima de Tóquio, mas mesmo assim com uma grande distância deles.( Para vocês se situarem, eu diria que a capital da região, Mito, fica na mesma distância que Bragança Paulista e São Paulo) . Eu precisava daquilo. Eu precisava respirar. Eu precisava ficar longe e me sentir em um novo lugar. Um novo desafio. Era assim que eu estava chamando a oportunidade ir para a Escola Ibaraki.
TEMPO DEPOIS
Olhei pela primeira vez para aquele prédio. Era ainda mais lindo que na foto. Pedi ao motorista para me trazer até a escola, para fazer a prova. Meus pais, quando souberam mal olharam na minha cara. "Boa sorte, espero que passe ". Foi apenas isso que eles disseram. Decidi focar apenas naquele lugar, e esquecer deles um pouco. O local era bem bonito. Uma arquitetura bem antiga, com diversas estátuas, lustres e cores que relembram os tempos antigos. Mas de qualquer jeito, era lindo. Era como estar voltando aos tempos dos Samurais (não que eu tenha presenciado) . Muitos garotos estavam ali. Todos focados. Foi naquele instante que eu tive real noção dos muitos concorrentes que eu teria. Seria difícil entrar em Ibaraki. E eu estava tao confiante. Não, eu tinha que entrar. Eu tinha que sair de casa, nem que seja para ir a um internato. Fui até a sala em que realizaria o exame. Ao todo seriam 8 horas de prova, divididas em 4 horas cada. 1 hora de descanso entre as duas teríamos. Não podíamos nos comunicar com ninguém. Me sentei na última mesa da sala, para não ficar muito perto de ninguém. Tirei meus materiais do bolso, coloquei sobre a cadeira. Quando Ergui o olhar, meu coração acelerou. Acelerou com um dos senpais que ali estavam. Eles auxiliaram os professores na realização das provas. Mas aquele era especial. Ele... Ele era incrivelmente bonito. Não conseguia acreditar que alguém tão bonito estava tão perto de mim. Um olhar cerrado, como se fosse fatal. Cabelos castanhos, cor de ouro , bem lisos. Ele usava uma franja que encobria a testa. Tinha olhos castanhos caríssimos. Usava um óculos bem estiloso, nada nerd. Boca perfeita, nariz idem. Corpo lindo, bem definido no uniforme do colégio. Era algo que dava vontade de ficar admirando por minutos seguidos.
- A prova começa agora - o sensei anunciou - boa sorte aos candidatos. Quem desobedecer as regras, está desclassificado - um a um, os senpais entregaram as provas. Para minha tortura, o bonito foi quem me entregou a prova. Ele ficou mais tempo pra me entregar a prova pra mim. Olhei naqueles olhos. Eram tao indecifráveis. Em questão de segundos mil pensamentos vieram em minha cabeça. Como ele seria realmente ? Sera se aquela cara de mal perdurava nos dias normais ? Não consegui encara-lo muito. Fiquei com muita vergonha. Corei. Era novo. Eu não sabia se era gay ou não. Só sabia de uma coisa. Tinha agora mais um motivo para entrar em Ibaraki.
Continua
Gostaram ?? Temática japonesa adolescente EEE... Espero que gostem. Beijos. Comentem ein