Que filho da mãe, quem ele pensa que é? Parece que não é só o meu Gaydar que tá com problemas não. Eu achando que o cara era bom moço, me enganei feio. Uma mão dele estava no meu braço e a outra segurando o meu outro ombro. Aquilo na verdade não era um beijo, tava mais pra um selinho forçado. Acho que ele estava mais tentando me calar do que me beijar. No mais, mantive a boca fechada. Com o braço que estava mais livre o empurrei com toda a minha força. Ele não se moveu muito, mas foi o suficiente para que ele desgrudasse de mim.
G: TU TA MALUCO? – Falei ríspido.
A: TU PODE SE CALAR UM MINUTO? – Falou de forma grave.
Fiquei até um pouco surpreso com o tom que ele usou. Acho que se passaram alguns segundos de silêncio enquanto eu o fitava nos olhos. Não dava pra decifrar nada do que se passava na cabeça dele, mas por fora deu para notar que ele estava um pouco agitado, confuso? Respirei fundo e resolvi falar alguma coisa ou a gente passaria o dia inteiro ali, com certeza o cérebro dele bugou. Eu ia xingar ele, mas ver um cara daquele tamanho todo desconcertado e até um pouco sem jeito me deu dó.
G: Pronto mestre, posso falar agora?
A: Se for pra gente conversar de forma civilizada vo...
G: Ainda bem, pensei que teria que reiniciar. – Acho que pensei alto demais.
A: O quê?
G: Nada. Então, tô calmo, calado, esperando uma explicação. Fala logo, antes que a gente resolva isso no braço. – Falei sério.
A: HAHAHAHAHAHAHAHA. Além de marrento é burro também?
G: OI? – A essa altura do campeonato a dó já tinha ido embora faz tempo.
A: Ah, não dá uma de trouxa, você sabe bem quem que ia ganhar se a gente fosse resolver isso no braço. – Ele falou em um tom confiante.
G: Até parece, desde quando gordura é sinônimo de força? – Falei empurrando o meu indicador contra a sua barriga, ele contorceu o tronco e solto um riso, acho que sentiu cócegas – Já ouviu falar que quanto mais alto maior é a queda?
A: Quer mesmo resolver isso no braço? – Ele falou sério.
G: Cara, eu já falei que não quero encren...
A: Iiiih, vai amarelar? – Falou em deboche.
Fiquei muito puto, me aproximei dele. Apenas alguns centímetros nos separava.
G: André, não me provoca que você não me conhece. - Falei com cara fechada.
A: A ideia foi sua manezão.
G: Babaca!
A: Xinga vai. – Ou tô maluco ou ele falou em um tom meio safado? – Agora assim, se eu ganhar, escolho o prêmio que quero levar pra casa? – Ele falou em tom provocante.
G: An? Não viaja!
A: Qual foi esquentadinho, já que é pra brigar, vamos deixar isso mais interessante.
Agora quem bugou fui eu. Cadê o bom moço? Cadê o tímido? Safado, o André? Ãn? Nem sei mais do quê que eu tava falando.
G: Ninguém vai brigar aqui. Aliás, não muda de assunto não, quem tem que se explicar é você, que palhaçada foi essa? Melhor, não explica nada não, vou pra casa, firmeza?
Me virei pra ir embora, mas ele resolveu falar.
A: Porra, qual o seu problema?
G: O meu problema? – Me virei pra ele – O seu problema né?
A: Ah Gabriel, deixa de ser ridículo. Vamos só esclarecer as coisas. – Ele falou se aproximando.
A: Tentei me aproximar de você na academia, recebo patada. Te trago num açaí bacana e depois te chamo pra sair e você vem com cinco pedras na mão? E não vem da uma de que ficou puto porque eu te beijei não, até porque esse beijo tirou minha dúvida e você curte cara também, ent...
G: Que bela maneira de chamar alguém pra sair né?
A: Nossa, a dama quer um buquê e que eu...
G: Vai se fuder!
A: Ah velho, vou nessa, até mais.
Não sei o que me deu, mas acho que agi meio sem pensar.
G: Oow, André! – Falei em tom mais alto para que ele me ouvisse.
Ele parou a alguns metros de mim, cruzou os braços e voltou a me fitar. Fui me aproximando dele a passos lentos e ao mesmo tempo fui pensando no que falar, afinal o que diabos eu estava fazendo? Ele apenas observava.
G: Ah, é que eu não vou saber voltar daqui, será que você podia ir na frente? Pode me deixar na avenida da academia ou onde ficar melhor pra você? – Que merda, o que deu em mim? Não consegui pensar em nada melhor pra falar. Acho que talvez eu queria sair com ele, só que sou burro demais pra admitir.
Ele respirou fundo. Olhou para o chão e me olhou novamente.
A: Tudo bem, você quer que eu te leve até o teu prédio? Se a gente voltar pra academia vai ficar mais longe.
G: Se não for problema pra você...
A: Beleza. – Falou meio seco e voltou a caminhar em direção ao carro.
G: Ah! Tem outra coisa.
A: Fala.
G: Vou na Fabric mais tarde com um pessoal...
A: Sim, quer que eu ensine o caminho de lá também é? – Falou ríspido.
G: Não idiota, é que eu pensei que... – Falei já perdendo a paciência.
A: Pois é, eu sei o que você pensou – Falou me interrompendo – Mas não tô mais afim de sair hoje.
Esse filho da puta tava me dando um fora assim na maior? Porra, fiquei muito puto e ao mesmo tempo com aquele sentimento estranho, sabe como é? De quem perdeu uma oportunidade? Não sei explicar direito o que senti no momento, tipo um misto de ansiedade com tristeza, decepção, não sei. O que eu sei é que minha cabeça ainda não estava totalmente no lugar desde os últimos acontecimentos. Como não tinha muito mais o que falar, eu apenas baixei a cabeça, respirei fundo depois olhei pra ele e forcei o melhor sorriso que poderia dar naquele momento, não sei se consegui fingir que não me importei, mas fiz o melhor que pude.
G: Ah, ok.
A: Segue meu carro beleza?
Entrei no meu carro e fui seguindo ele. Na verdade eu poderia ter me virado e chegado em casa sem ele, mas como eu já tinha inventado essa desculpa pra puxar assunto, tive que ir atrás do carro dele. Após uns 15 minutos dirigindo já estávamos na rua do meu prédio. Ele encostou o carro dele em uma árvore que tem próximo à guarita e me deu passagem pela esquerda. Parei meu carro alinhado com o dele bloqueando a rua e baixei o vidro do lado do passageiro pra poder agradecer. As vezes pode parecer que eu sou meio explosivo, meio burro para relacionamentos, meio marrento, meio babaca, e talvez eu seja mesmo tudo isso, só sei que sou humano e, de fato, acabo agindo no impulso mesmo, mas no fundo sou um cara normal.
G: Brigadão, André.
A: Tranquilo.
Segui com o carro e fiquei parado na frente do portão esperando que ele abrisse totalmente pra poder passar com o carro. Estava meio distraído pensando em tudo, quando de repente o André aparece na janela do passageiro (eu tinha esquecido de subir o vidro depois que o agradeci).
A: Qual o teu apartamento?
G: Caralho – Falei quase saindo correndo do carro – Quer me matar de susto seu idiota?
Ele gargalhava alto vendo o meu surto de pânico. Eu já fui assaltado uma vez dentro do carro, por isso que sou meio noiado com essas aproximações bruscas.
G: Quê? Que você falou?
A: Seu apartamento?
Fiquei parado o fitando nos olhos tentando entender. Nesse meio tempo passaram-se alguns segundos de silêncio. Olhei pra frente, o portão já havia sido aberto, e voltei a fita-lo.
A: Não vou te sequestrar não mané, tô te dando uma última chance.
G: Ah, é o Bloco F Apartamento 401 – Falei no automático – Calma aí, última chance? – Dei um riso de deboche.
A: Você não perde a marra nunca? As 22h passo aqui. – Falou cerrando os lábios.
G: Tudo bem!
Entrei, estacionei o carro e subi pra o meu apartamento. Tomei um banho e me joguei na cama só de toalha. Onde é que eu fui me meter?
[Continua]