COM O DIABO NO COURO - Segunda Parte
As mulheres do oriente não são submissas como pensa o mundo ocidental. Elas pensam, estudam e opinam muito nas decisões tomadas em família. Minha mãe, Fatmeh Jo, é uma mulher determinada e consegue sempre o que quer de meu pai, Charif, seu halewa Charif.
"Nós mulheres somos o pescoço, e eles, a cabeça". Dizia a mim enquanto eu dirigia rumo a nosso encontro semanal de mulheres no restaurante TARAAB.
Foi ideia de minha irmã mais velha, Jamile, que as mulheres da comunidade se reunissem para dançarem umas para as outras, e também para elas mesmas. Formamos assim um grupo de encontros às segundas-feiras, e desenvolvemos nossas performances entre irmãs e amigas, sem a presença de homens. Celebramos, desta forma, nossa espiritualidade e a força feminina.
Os encontros são realizados às segundas, pois é a única tarde em que eu não ministro aulas particulares de português e que Marian, uma das participantes, não trabalha na livraria. Mas nesta, em especial, eu estava visivelmente cansada. Não havia dormido quase nada na noite anterior, perturbada pelo sonho deliciosamente confuso e pelo odor de cânhamo constante em meu apartamento.
Chegamos antes de todas, como de costume. E, enquanto mama Fatmeh arrumava as almofadas, fui ligar o som para receber nossas convidadas.
_ Yallah, Lillu! Vamos começar! Ouvi Jamile entrando rapidamente pelo salão de festas.
Conversamos rapidamente até todas chegarem. Enquanto eu me aquecia, Jamile reclamava do marido que havia chegado de viagem e não lhe trouxera nenhum presente. Depois, cada uma das mulheres, uma à sua vez, foi desenvolvendo sua apresentação. Algumas acompanhadas de véus e Snujs (címbalos metálicos tocados nos dedos), outras usando demais elementos, como punhais, lenços ou flores.
Jamile, além de gostar de Raqs El Shammadan (candelabros) e Raqs El Assaya (bengalas), gostava também que eu tocasse o daff (uma espécie de pandeiro) enquanto ela se movimentava de acordo com as batidas, ora sibilando ora tremendo.
Por fim, o encontro sempre era encerrado por mim.
_ Ahlan ua sahlan, Nar, serpente do Nilo!
Diferentemente de minhas apresentações às sextas no restaurante onde eu sempre havia preparado cuidadosamente a coreografia, cheia de movimentos lentos e precisos, em nosso Almeh, eu dançava com a espada sem ensaios prévios, como uma guerreira um tanto graciosa. Iniciava com os movimentos corpóreos claros, unindo quadris e mãos. E quando usava a espada, sempre a arrastava, falsamente preocupada com o peso que teria de levantar. Equilibrava o peso na cabeça, lentamente, fingindo dificuldade, lançando um sorriso de satisfação pelo esforço “tão grande” que fazia. Mesmo as mulheres presentes ficavam hipnotizadas pelos movimentos. Percebia, entre as palmas, alguns olhares de desejo e encantamento.
Indomável, eu lutava com a espada, com destemor, força e individualismo. Éramos somente nós duas, usando a sedução para dominar a fraqueza do ser humano. Remexia, ensimesmada, em minhas curvas. Tocava provocante o sabre, gingando o ventre feito a verdadeira serpente do Nilo, concentrada na música e deixando o corpo movimentar-se. As mãos cruzavam-se sobre a cabeça e os quadris, ritmados, moviam-se instáveis e imprevisíveis, até que a música terminou.
- Zaghareet, zaghareet. Todas despediam-se entusiasmadas, esperando até o próximo encontro.
Enquanto Mama Fatmeh acenava para as últimas mulheres na entrada do restaurante, Jamile e eu fomos até o balcão do bar. Ela preparava nossa bebida favorita, Tequilla Sunrise, e eu contava-lhe sobre o dia-a-dia e as dificuldades de alguns alunos. Notei Jamile dispersa, despejando a primeira dose da tequila no copo:
- Duas, raqsa! Hoje preciso de duas doses...
- O que está acontecendo halewa Lillu?
- Nada de grave. Tenho dormido pouco por estes dias... E quando durmo vêm alguns sonhos perturbadores. Mas não se preocupe, realmente nada grave.
Ah, se ela soubesse que as perturbações tinham sido deliciosamente prazerosas esta madrugada...
Ficamos em silêncio por alguns minutos, até que ela perguntou sobre Selem. Ela sabia sobre nossos desentendimentos. Na verdade Jamile sabia de quase tudo que acontecia em minha vida. Sabia que eu gostava de Selem, desde a infância. Que havia esperado que ele voltasse do Líbano durante o tempo que lá ficou para negociar objetos de seu souk. Que confiei pacientemente porque sempre estive encantada por sua obstinação e inquietude de alma e sabia do meu resguardo. Mas não imaginava que nas últimas semanas ele não insistia mais em fazer amor comigo e que fora esse o verdadeiro motivo da briga.
- Não me procurou durante todos estes dias, desde que me levou do TARAAB até meu apartamento... Tenho percebido ele se afastando cada vez mais, Jal...
Fiquei observando o xarope de groselha descer pelo copo, lembrando de nossa última noite juntos. Ele havia segurado em meu pescoço enquanto nos beijávamos no sofá, nossos corações acelerados. Minhas mãos percorriam do pescoço à barriga, até que resvalaram no vão das calças de Selem. Ele, em não me afastando, fez com que eu entendesse ser um sinal positivo. Fui até o quarto e quando retornei me ofereci totalmente nua. No entanto, recebi em troca somente sua rejeição. Foi quando discutimos fervorosamente, mais uma vez, e nos afastamos.
- Lillu? Lembre-se de mama, “somos o pescoço, e eles, a cabeça”. Falamos juntas e caímos na gargalhada.
Continuamos conversando, sobre nossos homens, sobre nós, mas naquele dia também não falei para Jamile do encontro no shopping. Muito menos da visita deliciosamente irreal que havia recebido em casa, durante a madrugada. Até que novamente aquela música voltou a atormentar meus pensamentos:“wish you were here”Eu estava cada dia mais forte. Os desejos sexuais de minhas atuais parceiras, satisfeitos por mim através de sonhos, vinham me revigorando cada vez mais. Já conseguia deixar o corpo em decomposição, ao qual estava preso, e me projetar, invisível, sobre essa estranha cidade. Mas minha memória, ainda prejudicada pelo longo tempo em que estive no limbo, demorava a voltar. Havia também essa atração inexplicável por essa mulher, a quem chamam de Lillu... Sempre que ela se distancia, uma força para mim desconhecida me arrasta ao seu encontro. Por isso, desde que ela saiu de seu apartamento em direção a esse antro de comensais chamado TARAAB, estive sempre perto dela.
Aproveitei para conhecer um pouco mais sobre o lugar aonde vim parar, depois de conjurado. Pude ler a mente de vários humanos. Alguns não gostam do seu próprio país. Vivem comparando-o a outros lugares nórdicos onde estive há tanto tempo... No entanto, lavam as mãos antes de comer, coisa que nunca vi em terras europeias. E tomam banho todos os dias, quando os povos que conheci apenas se lavam nos finais de semana. Também não costumam embrulhar tubérculos fritos, extremamente oleosos, em pedaços de papéis sujos com sua escrita, que eles chamam de jornais. Preciso aprender mais sobre eles. É um povo muito estranho para mim...
Cheguei ao que chamam de restaurante, em minha forma etérea, acompanhando a mulher chamada Lillu e novamente me perdi em lembranças. Todas as suas companheiras vestiam-se de uma forma alheia aos costumes desta terra, mas me lembraram um povo antigo, só não me recordo de quando. Começaram a dançar de uma forma muito sensual, porém não era para me agradar. A que se denomina Jamile tem fixação por bengalas. Será apresentada brevemente ao dragão de cabeça de rubi que sempre levo comigo. Ela também exala sensualidade, mas não da mesma forma da que tem o cheiro de Eva. Seu cheiro é de avareza. Fato claro, quando reclamou do marido que não lhe trouxe um presente. Mulheres assim são mais fáceis de conquistar, e decerto têm um desejo escondido e safado que pode ser comprado com dinheiro. Haverá de ser a minha próxima amante.
No entanto, entretive-me com aquela dança. Sim, era uma dança extremamente erótica, como a convidar seu macho. Treinavam para as núpcias? Seria uma dança de acasalamento, como as que as aldeãs faziam em volta das fogueiras? Ou seria a dança das bruxas, que conseguiu por várias vezes me seduzir em troca de favores pessoais? Era estranho como as que assistiam a dança das outras nutriam um desejo reprimido de copular com elas. Nunca, em nenhum tempo, notei uma atração tão fervorosa entre humanos do mesmo sexo.
Enquanto aquela que se denomina Lillu dançava com sua fixação fálica em forma de sabre, eu me aproximei da que atende pelo nome de Jamile. Queria sentir o odor do seu desejo. Este exalava mais da sua nuca, enquanto ela olhava embevecida a irmã fazer a coreografia sensual com a lâmina. Beijei-a ali, estando em minha forma etérea. Estremeceu e os pelos arrepiaram-se. Desci minhas mãos pelos seus seios. Ela achou que imaginava um macho lhe tocando as intimidades. Olhou em volta para ver se suas companheiras estavam percebendo a sua excitação, sem poder evitar levar a mão ao sexo, por cima das roupas que não condiziam com o povo daquela terra. Apalpou a vulva. Estava, agora, pronta para que eu a fizesse sonhar acordada. Cochichei ao seu ouvido, mas mesmo se tivesse falado alto ninguém teria me ouvido:
- Diga-me qual o teu desejo escondido mais safado...
Seus olhos brilharam intensamente olhando para a dança da irmã. Sua alma saiu do seu corpo e pegou-me pela mão, levando-me para um tempo vívido em sua memória. Paramos na frente de uma porta que pertencia a um velho casarão. Ela empurrou a madeira, que rangeu estridente. Deitada numa cama, uma ninfeta dormia um sono pesado. Vestida apenas com uma camiseta branca, que parecia enorme para o tamanho miúdo, estava Lillu com seus dezenove anos. Tinha o polegar enfiado na boca, como se fosse uma chupeta. Jamile me confessou ter inveja do corpo formoso da irmã, e que sentia uma enorme atração por seus seios pequenos e empinados, além das pernas compridas e roliças. Mas nunca venceu o temor de confessar-se a ela. Garanti-lhe que a pequena não iria se acordar, mesmo se sofresse estupro. Jamile titubeou, mas balançou negativamente a cabeça. Não teria coragem. Mas me pediu algo que também tinha fixação...
Então, fiz seu marido adentrar o quarto. Caminhou até a cama onde Lillu dormia e levantou um pouco a sua camisa de malha leve e folgadona, que ela fazia de camisola. Os dentes do macho brilharam no escuro, satisfeito por perceber a ninfeta sem calcinha. Abriu suas pernas, sem se preocupar se ela iria acordar ou não. Arriou o calção de tecido sedoso que vestia e colocou o pênis já ereto para fora. Segurou-o com uma das mãos, roçando a glande na abertura da vagina da jovem Lillu. Esta abriu mais as pernas, com um sorriso safado no rosto, mas sem abrir os olhos. A outra mão do garanhão cobriu um dos seios empinados da moça, enquanto ela acariciava o outro em êxtase.
Ele apontou a cabeçorra do pau e enfiou devagar na xaninha depilada. Ela gemeu, pedindo que o fizesse mais carinhosamente, num ronronar dengoso, pois ainda era virgem. Nagib nem ligou para suas lamúrias: enfiou de vez o cacete duro até o fim, retirando-o bem devagar, todo manchado de sangue. A ninfeta começou a chorar. Estava doendo. Ele enfiou de novo, dessa vez bem lentamente. Ela tremia de dor e prazer ao mesmo tempo. Então ele ficou socando aquele cacete enorme, cada vez mais aumentando a velocidade dos movimentos, enquanto a jovem Lillu se contorcia de gozo. De repente, ela flexionou os joelhos e o empurrou, com as pernas, de cima dela. Em seguida, suspendeu os pés, bem alto, e abriu-se mostrando a vulva ensangüentada. Ele apoiou as pernas da jovem nos ombros dele e enfiou de novo o membro, só que desta vez entre as nádegas dela...
Jamile, preocupada de que a irmã não iria agüentar tamanha vara, correu em socorro dela. Puxou Nagib, seu marido, de cima de Lillu e abocanhou o seu pau sujo de sangue. Ele retirou o pênis de dentro da boca dela e ficou esfregando em seu rosto, até não sobrar nem um vestígio do líquido rubro. Depois a deixou aplacar sua gula de esperma. Mas Jamile queria mais. Atirou-se ao seu pescoço e colou em sua boca, enquanto o abraçava com as pernas. Sentiu a “bengala” do seu homem tocar-lhe a bunda. Roçou na glande até perceber que ela invadia seu buraquinho. Então saciou, com o marido copulando de pé, sua fome de sexo.
Deixei que Jamile me trouxesse de volta ao tempo presente, quando Lillu ainda fazia sua apresentação no TARAAB.
Tentei ajudar a senhora de meu fascínio com o peso da espada, aparentemente manejada com esforço, abraçando-a em minha forma etérea, por trás, e suspendendo com ela a empunhadura, mas percebi que apenas fingia não poder sustentar seu fardo. Então voltei para perto de Jamile a ali permaneci, notando que pouco depois, enquanto servia as duas doses de Tequila Sunrise, tinha as mãos trêmulas. Mas a irmã não percebeu.
Para disfarçar a excitação que ainda sentia, desviou a conversa perguntando por Selem. Lillu, ao ouvir o nome do namorado, ficou com os biquinhos dos seios eriçados. Pressenti, então, que novamente nossa noite seria longa...
FIM DA SEGUNDA PARTE
Escrito por Ehros Tomasini e Diana Aventino